novembro 26, 2025

Árvore é avó



Imagens: M.E. Ateliê da Fotografia



ÁRVORE É AVÓ 
Hayton Rocha


Vem de São Paulo uma notícia dessas que chegam como vento quente jogando poeira nos olhos: a Prefeitura autorizou o corte de 384 árvores na Avenida Guilherme Dumont Villares, na Vila Sônia. Entre elas, 128 nativas, herdeiras legítimas daquele pedaço de chão que um dia foi sítio do próprio engenheiro Villares. Hoje, o nome virou avenida, empreendimento, promessa de “viver bem” com espaço para quase tudo, menos para raízes.

O terreno, comprado por uma construtora, ganhará quatro torres de nove andares, 708 apartamentos de 30 metros quadrados. Imagino esse tamanho como o espaço vital de um ipê-amarelo antes de aprender a conversar com o Sol. Para compensar o estrago, virão 221 mudas novas, miúdas como desculpa de adulto, além de 2,5 milhões de reais repassados ao Fundo Especial do Meio Ambiente. Dinheiro, afinal, costuma brotar mais rápido que semente.

No tapume da obra, um banner azul proclama o empreendimento, vida “moderna”, “conectada”, “otimizada”. Quase escondido entre galhos que ainda resistem, um cartaz vermelho informa o manejo arbóreo autorizado, como quem pede perdão por um crime inevitável.

A lista de remoções inclui nativas, exóticas, invasoras e até árvores já mortas. A burocracia tem sua própria taxonomia da devastação. Cada tronco com sua etiqueta, sua sentença. E embora a ciência insista que plantas não sentem dor como nós, falta explicar aquele silêncio vegetal que se encolhe quando a motosserra começa a tossir por perto.

Há quem diga que as plantas não sentem, mas respondem. Reagem à luz, à secura, ao som, ao toque. A Mimosa pudica — Dormideira, Não-me-toques — encolhe as folhas feito criança que se esconde atrás da mãe na porta da escola. Para o professor Jack Schultz, plantas são “animais muito lentos”: cheiram, ouvem, veem, se defendem. Competem, dialogam, lutam pela sobrevivência.

Olivier Hamant, cientista francês de fala mansa, lembra que basta um timelapse para enxergar a verdade em sua plenitude: plantas se movem como bichos, só que devagar, com humildade, sem a soberba de querer erguer nove andares.

Foi pensando nisso que me perguntei o que diria Manoel de Barros, pajé das insignificâncias e inventor da sabedoria vegetal. Ele, que tirava poemas de latas amassadas e conversava com rãs sem fazer alarde, certamente ouviria cada tronco cair como se fosse um amigo desmontando devagar. Para ele, as folhas ensinavam a cair sem barulho, e olhos sujos de civilização aprendiam a desejar árvore por dentro. E talvez sorrisse ao notar que, para humanos, sabedoria virou aceitar com naturalidade um condomínio no lugar do talo.

Enquanto eu ainda ruminava essas miudezas, percebi que talvez fosse o caso de consultar não botânicos, engenheiros ou secretários municipais, mas crianças. São elas que realmente entendem de futuro, apenas vivem, e por isso mesmo enxergam mais longe. Talvez só elas tenham autoridade moral para decidir quantas árvores podem tombar sem que o bairro, a cidade, o mundo tombe junto.

Imaginem uma roda de crianças sentadas no chão, aquelas que fazem perguntas impossíveis nas horas mais impróprias. Aposto que resolveriam a equação com mais precisão que qualquer parecer técnico.

O engenheiro, prancheta na mão, perguntaria quantas árvores poderiam derrubar. A menina de rabo de cavalo responderia que nenhuma, porque árvores são como avós que moram de pé. Algum adulto lembraria da necessidade dos apartamentos. Um menino talvez sugerisse fazê-los menores. Outro proporia construir menos. Uma quarta criança, chupando pirulito, lembraria que dá para fazer tudo isso “em outro lugar”. Antes que alguém risse, a mais tímida de todas diria que gente grande acha que árvore é só decoração, que se troca quando atrapalha.

E estaria resolvido. Criança não calcula impacto ambiental. Ela sente. Como planta.

Na impossibilidade de ouvir Manoel de Barros — que já conversa com lesmas celestes em algum quintal infinito —, talvez devêssemos escutar essas criaturas lentas e luminosas: as árvores e as crianças. Ambas guardam conhecimentos que o adulto desaprende. Uma entende de raízes; a outra, de futuro — e de presente.

São Paulo sobreviverá a mais esse corte, como sobreviveu a tantos outros. Mas, se me fosse dado pedir algo, seria simples: antes de derrubarem a próxima árvore, que os adultos esperem um instante — o tempo exato de uma planta se mover num timelapse.

Talvez, nesse intervalo quase imperceptível, a planta diga alguma coisa. E uma criança escute, proteste. Talvez Saramago, sentado ao lado de Manoel de Barros no alpendre da eternidade, lembre sorrindo do que um dia teria escrito por aqui: “tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui.”

49 comentários:

  1. Quando o mundo discute clima, meio ambiente, importância das matas, aumento de temperatura na terra, o prefeito de São Paulo e sua equipe autorizam o abate de árvores para aumento de arrecadação no IPTU. Bem parecido com o que o prefeito de Salvador anda fazendo. Seriam todos negacionistas? Nelza Martins

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    1. Parece só uma licença poética querer um mundo onde as crianças, donas do futuro, detenham o poder sobre o abate ou não de certas árvores. Não é.

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    2. 👏👏👏pura familiaridade no decorrer da discrição textual, sofro junto. 😞

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    3. Como gostei do seu lindo texto ,hoje !!Depois que saí de ALDEIA ,da casa onde recebi vc sua Magdala e tantos amigos , trouxe comigo para o meu canto em BOA VIAGEM ,algumas plantas com quem converso ao alimentá-las diariamente !!Temos um diálogo onde recebo conselhos magníficos !! Acredito que o que acontece com nossas árvores é um crime !!🥵

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  2. É assim involui a humanidade

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  3. José Luiz - A natureza saberá responder à altura tamanha insensibiludade.

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  4. É tão comovente esse lamento que, se fosse dado dele saber à prefeitura que autorizou o corte, talvez mudassem de ideia.
    Eu que não sei a linguagem das árvores, parece que as ouço chorando.

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  5. Caro Hayton,
    Uma crônica poderosa! Você pegou um fato prosaico e doloroso da cidade grande — o inevitável corte de árvores para dar lugar a mais um empreendimento imobiliário — e o transformou em uma meditação sobre memória, soberba humana e o tempo. Não se trata efetivamente de lamentar, mas de questionar a lógica inteira que permite que essa perda seja tratada como um mero cálculo burocrático.
    Muito inteligente a oposição que você estabeleceu. De um lado temos o ritmo frenético e a vaidade humana, expressa no banner azul que promete a vida "moderna", "conectada", "otimizada". Tudo nesse mundo é rápido, eficiente e substituível. A árvore não passa de um obstáculo a ser removido e compensado com o equivalente monetário e mudas miúdas. De outro lado está o tempo da humildade vegetal, evidenciado pela alusão ao timelapse que revela o movimento, a conversa e a luta silenciosa das plantas. Com efeito, a Mimosa pudica (Dormideira) que se encolhe é o contraponto sensível à indiferença da motosserra.
    Ao nomear a árvore como "avó que mora de pé", você foi fundo, atingiu a alma da questão. Uma avó é mais que um recurso; é raiz, história e afeto. Ao cortar a avó, não se perde apenas a sombra, mas se apaga a memória daquele pedaço de chão que um dia foi sítio e não apenas "empreendimento". Muito pertinente o questionamento de como nós, com nossos olhos sujos de civilização, transformamos o valor intrínseco e histórico da vida vegetal em um problema de logística.
    O apelo às crianças era o que faltava para o complemento final. Elas são a esperança de uma sabedoria que o adulto desaprendeu, pois, assim como as plantas, elas sentem e vivem o presente sem a pressa otimizada. A criança não calcula o impacto; ela protesta que a avó não pode ser trocada. É um convite sutil e poético: antes de tomarmos mais uma decisão "eficiente", precisamos nos dar o tempo de uma planta se mover e escutar a voz da criança que ainda reside em nós. Genial. Devemos desacelerar e sentir a vida, as pessoas, as plantas, a terra.
    Parabéns.

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    1. Seu comentário amplifica e ilumina de forma magistral tudo aquilo que eu quis dizer, meu amigo. Obrigado!

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  6. Sentem sim. Cá nas Gerais sabemos. Mal olhado mata samambaias. Chega a visita, comenta: que linda! No outro dia a samambaia amanhece mortinha

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  7. Toda criança tem amizade com uma árvore, a sua preferida. Quanta falta de bom senso em nome do progresso. Além da devastação, pássaros serão despejados do habitat natural, sem "auxílio moradia". Com a concentração de pessoas, mais carros, mais trânsito, mais poluição, mais lixo.

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  8. ADEMAR RAFAEL FERREIRA26 de novembro de 2025 às 07:01

    O poeta Sebastião Dias em uma letra nos diz"....A natureza está pedindo pra ninguém lhe assassinar..." Esse poema foi musicado e gravado por Fagner. O pedido da natureza usando o poeta não foi, é ou será ouvido. Essa crônica serve também como um grito de alerta.

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  9. Roberto Santos Fernandes26 de novembro de 2025 às 07:19

    Esse descaso pelas árvores só tem trazido prejuízos incalculáveis para a humanidade, desequilibrando a natureza, haja vista os últimos acontecimentos: chuvas excessivas ou a falta delas, granizo, tornados, etc.
    O pior de tudo é que num apartamento das dimensões propostas, não se pode ter nem um vaso com algumas planta.
    Parabéns pela crônica!

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  10. O homem precisa buscar uma conexão plena e efetiva com a natureza. O capitalismo selvagem vem adentrando nossas selvas, usando correntes e correntões, arrastando centenas de árvores bicentenárias e a humanidade vai colhendo os resultados desta destruição.
    Sua crônica, nobre Hayton de forma crítica, poética e com doses de melancolia mostra o quanto temos que evoluir para respeitar e conservar a Mãe Natureza.
    crítica melancólica e poética à forma como a sociedade adulta trata a natureza.
    Lembro-me quando passei quase dois anos em Carauari-AM, dentro do pulmão do mundo, onde pude conviver de perto com a grande floresta. Deixo abaixo uma foto que ratifica a necessidade de ouvir as crianças, que possuem a pureza original, para que a preservação possa acontecer.
    Simbora na esperança de um mundo melhor.🤝

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  11. Reflexão muito necessária, meu amigo. Temos diariamente destruído nossas raízes e nosso ambiente, esquecendo que somos humanos; que precisamos de conexões entre nós mesmos e com a natureza que nos criou e embala, como colo de vó.

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  12. “…a força da grana que destrói coisas belas…”, Sampa segue seu roteiro de exclusões.
    Parabéns, abração.
    Gradim.

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  13. Em sua reflexão sensível e aguda sobre o corte de 384 árvores na Avenida Guilherme Dumont Villares, você expõe com rara lucidez a contradição entre um desenvolvimento urbano que se pretende moderno e a preservação de memórias vivas, as árvores como testemunhas e avós do território. Ao evocar a percepção das crianças e a sabedoria vegetal, você não apenas humaniza a discussão ambiental, mas questiona a lógica adulta que substitui raízes por concreto, compensando destruição com mudas e valores monetários. Sua crônica, ao mesmo tempo poética e crítica, nos convida a desacelerar e escutar o silêncio das plantas, lembrando-nos que cada árvore derrubada é uma página de história e futuro que se perde, um ato que, no fim, pode nos envergonhar perante as gerações que herdarão esse mundo simplificado.

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  14. E assim, o "progresso" vira regresso. Aliás, regressso não, porque isto induz o pensar a voltar à base, à raiz. No caso em questão, o progresso tende ao futuro nada.

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  15. Caro Hayton, ando meio emocional e as vezes acho que me emociono à toa, mas não é o caso ao ler sua crônica magistral! O Silencio das Tartarugas, o silencio das árvores, o silêncio dos rios... Quem silencia a criação de Deus não terá perdão, mas quem pagará pelos pecados do "homem da motosserra", e outros homens que destroem a natureza, serão as crianças e seus filhos... Os filhos de nossos filhos poderão herdar uma terra devastada, com um clima violento, talvez " vingativo". Triste. Mas muitos se levantam, pena que, como crianças ainda não tenham poder para deter/humanizar o tal 'progresso". Para desdramatizar e lançar um raio de sol de esperança, temos o exemplo do fotógrafo Sebastião Salgado, que recuperou a floresta atlântica e as nascentes em uma fazenda herdada no interior de Minas. É preciso agir.

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  16. Lindo “protesto”, meu amigo!
    Um grito sensível, que talvez apenas as plantas sejam capazes se ouvir.

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  17. E o verde , movido pela não humana, vai cedendo lugar ao cinza do concreto, sem nenhuma preocupação com os prejuízos ambientais.

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  18. Mais uma excelente crônica, desta vez com a triste notícia sobre a decisão da Prefeitura de São Paulo.
    É preciso muita esperança para continuar acreditando que nosso planeta ainda terá salvação.
    Luiz Andreola

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  19. Alguém já usou a palavra que eu usaria pra descrever a crônica de hoje: magistral!
    Eu, que fui chamado de ecochato e de “greenpeace” em reuniões de executivos do BB por defender a ideia de responsabilidade socioambiental, não vejo palavra melhor pra definir a abordagem do Hayton: poética, irônica, amorosa, ferina, nostálgica, crítica, propositiva, melancólica, necessária!
    Até quando vamos normalizar a destruição do planeta que é nossa casa? Até quando vamos fingir que as enchentes, as secas, os tornados, as chuvas de granizo cada vez mais contundentes são frutos do acaso?
    Já dizia o mestre Gonzaguinha num Grito de Alerta:
    “E assim nossa vida é um rio secando
    As pedras cortando e eu vou perguntando
    Até quando
    São tantas coisinhas miúdas
    Roendo, comendo
    Arrasando aos poucos com o nosso ideal”

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  20. A notícia é tão estarrecedora que achei que fosse "fake news". Pior que fui no "Google" e descobri que é verdade. Pena que o escritor omite o nome dos responsáveis pela chacina, dos donos na construtora até o prefeito da maior cidade do Brasil.

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  21. Simplesmente perfeita a conexão da realidade, tão devastadora, com o lirismo carregado de sentimento e sutilezas.
    Parabéns, mais uma vez, pela escrita.
    Muito profunda como uma raiz e tão singela como toda árvore.

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  22. Crônica profunda, detalhada e ao mesmo tempo suavizada quando introduz o poeta Manoel de Barros no contexto. Bravo!

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  23. Essa crônica magistral tem que chegar aos "burrocratas" que decidem, sem um pingo de constrangimento, o futuro dos seres vivos e das cidades.
    Tem que ser publicada no Instagram e em outras mídias.
    Fazer chegar em todos os prefeitos, secretários, empresários, cidadãos do Brasil e do mundo.

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  24. Tocante, sensível e brutal.

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  25. A especulação imobiliária nas grandes cidades tem sido um problema para o meio ambiente e para a saúde das pessoas que ali vivem. Nunca espere nada de políticos que não têm respeito pela natureza. São Paulo e Salvador são exemplos que envergonham o planeta. Às vezes pergunto pra que secretário ou ministro de meio ambiente. Pra que servem? Ganância não falta pro homem destruidor. Quando não sobrar nada só vai restar chororô.

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  26. É isso Hayton. O desmatamento para levantar novos prédios e a eterna corrida especulativa do mercado imobiliário seguem firme: o dinheiro manda e a natureza vai levando a pior e cada vez mais vai desaparecendo.
    O curioso é que os verdadeiros herdeiros desse caos, as crianças, são justamente as mais lúcidas e sensíveis ao estrago que estamos deixando para elas.
    Vimos isso em plena COP30, quando alguns insistem em tratar o evento com desdém e menor.

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  27. Meu caro Hayton, parabéns pela pertinente crônica.

    Coisas do tipo da notícia de São Paulo, proliferam Brasil afora, não obstante as COP alhures e algures que parecem para inglêsver e devem atender, mesmo, aos bolsos de alguns privilegiados.

    A exemplo de outras plagas brasileiras, tais práticas têm "espaço para quase tudo, menos para raízes" que não visem lucros econômicos.

    Bem aqui pertinho, vizinho de nós, em nossos quintais, debaixo dos nossos lençóis, estamos na espreita para não acontecer a mesma coisa ou pior.

    Creio que tenhas te reprotado a Sampa porque lá, o pedaço de chão já esteja, ou prestes a, a ser cascaviado, revolvido, diferente da nossa linda orla lagunar-maritima, à espera, apenas, da poeira dispersar-se nos olhos das autoridades de Maceió, das Alagoas.

    Refiro-me à negociação do Hotel Jatiuca, que se arrasta, desde 2023, para a construção de edifícios residenciais, similares aos da Vila Sônia paulista.

    Como aqui, de vez em quando se noticia e, de repente, tudo silencia, a preocupação continua, com a preservação da área da Lagoa da Anta, importante cartão-postal maceioense, devido aos riscos de descaracterização da paisagem e do equilíbrio ecológico. Até quando? Aguardemos carta.

    Cartola deve estar se remexendo no túmulo e pedindo para lembrar que, a exemplo das plantas, serão dizimadas, também e naturalmente, as flores, as rosas, pois,

    "As rosas não falam" Simplesmente as rosas exalam
    O perfume que roubam de ti
    Devias vir para ver os meus olhos tristonhos
    E quem sabe sonhamos meus sonhos por fim".

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  28. A resposta a esse absurdo, será dado pela própria natureza!!!

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  29. Sim, todos os seres vivos sentem a dor do mau trato ou de uma morte iminente... Lembro-me de certa ocasião quando um grupo de voluntários decidiu “vestir” determinada pracinha, há muito castigada pelo descaso. Foi um dia de festa, onde crianças, adultos e idosos sonharam em proporcionar uma nova paisagem a esse pedacinho de chão surrado. Cada integrante contribuiu de seu jeito de ver o mundo e, ao final, mais de cinquenta mudas, de várias espécies, foram plantadas. Parecia que o balançar das folhas das novas habitantes quisesse dizer um “muito obrigado” a todos. Mas, antes que o dia seguinte amanhecesse, nenhuma folha continuava a balançar... Como se um petardo devastasse toda aquela forma de vida, restando apenas buracos e terra removida... Assim, como quem prefere o cimento ou o asfalto, personagens noturnos resolveram se vingar, antes que surgissem, da sombra que poderia algum dia existir ou de galhos que abrigariam futuros ninhos de aves. Simplesmente, assim... Tudo fora arrancado na calada da noite... Dizer o quê, de quem tem ciúme da vida? Como entender...?

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  30. Sensacional.
    Também sent a dor de uma árvore sendo cortada.

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  31. E assim caminha a humanidade, em seu destino de auto-destruição, aniquilação. Será que é necessário ser dessa maneira. Aumento populacional, necessidade de novas moradias, não importa a ética, construir em qualquer situação. Valeu a abordagem, concisa e simples.

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  32. Mundo doido. Quão bom seria que pudéssemos materializar esse sonho sonhado por você.
    E se trouxéssemos Saint Exupèry para nos esclarecer o que pensa o Pequeno Príncipe 🤴 🧐
    Fraterno abraço amigo🤝

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  33. Genial sua crônica, Mestre Hayton!

    Não bastasse a ganância do Agronegócio, desmatando as nossas florestas, o mercado imobiliário, na mesma ânsia por gordos lucros, está acabando com as poucas áreas verdes, que ainda existem nas cidades.

    Estou vendo essa mesma situação do Bairro Vila Sônia, ocorrer aqui ao lado da Igreja Nova de Boa Viagem, na Rua João Dias Martins, no Casarão do falecido Rei do Açucar - “Expedito Tenório”, que vai ser demolido e junto vai levar consigo o desmatamento de diversas árvores centenárias. É triste, mas é verdade.

    Fico me perguntando, porque o ser humano é tão insano.

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  34. Claro que sentem dor e vergonha por viverem em um planeta mentiroso e falso, onde humanos se juntam de todo canto da terra para falar de matas, meio ambiente, sustentabilidade!! A ganância é quem comanda !

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  35. Não me canso em repetir, suas crônicas, qualquer que seja o tema abordado - e como você varia!! - , desperta não só entusiasmo, também forte reflexão em nós, seus leitores e admiradores. A prova maior é a quantidade e também a qualidade dos comentários, você desperta até vocações que talvez estivessem adormecidas.
    Essa de hoje aborda um assunto tão significativo, até pra o futuro da humanidade, que deveria ser discutida em cursos de universidades consagradas.
    Efusivos parabéns...

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  36. Crônica deveras emocionante. Agasalha uma lição que, é quase certo, não aprenderemos. Somente os Poetas, as Crianças e os Loucos sabem disso. Além das próprias árvores, é claro.
    Sem dúvida que as árvores e as crianças têm clarividência para decidirem sobre esse assunto. Perfeito.
    A ciência nada sabe sobre essa energia que somente os privilegiados - e são poucos - sentem. Aí entram as crianças e os loucos. Eles carregam uma pureza que os permite essa conexão.
    Talvez os verdadeiros loucos sejam os mentores de tais atrocidades. Mas, espero que não. Loucos têm pureza.
    E o dinheiro, ou dinheirama? o que dizer? além de brotar mais rápido do que a semente, ele se multiplica sem raízes...
    Enfim, a forma mais confortável de se conhecer o machado, é segurando ele pelo cabo.
    Crônica forte. Ótima.
    Valeu!!!
    Mário Nelson.

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  37. Agostinho Torres da Rocha Filho28 de novembro de 2025 às 16:39

    "Criança não calcula impacto ambiental. Ela sente. Como planta." Somente esta frase já resumiria muito bem esta verdadeira obra de arte literária. Se considerarmos, então, que ela foi escrita após exaustivos debates sobre o tema, durante a COP30... Mais oportuna, impossível. Parabéns ao autor e aos leitores que mergulharam no texto e fizeram ótimas reflexões.

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  38. Vejam que triste coincidência. Terei que ser cúmplice e vilão. No prédio onde moro, um Jambeiro, condenado inocente, é culpado por ter sido plantado muito próximo do muro e também por estar ameaçando um reservatório de água, construído depois que ele foi plantado. Terá que ser derrubado.

    Por mim, quem caíria seria o muro. E o reservatório mudaria de lugar. Mas, quem vive sem muros em volta, hoje em dia? E sem água, então?

    Há o risco, sim, de o muro atingir pessoas, se cair. E o carrasco já está com o machado, na mão. Fiquei sem escolhas...

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  39. Embora vendem a mensagem de defensores do bem comum, o que vale é o dinheiro, $$$, ar, árvores 🌳, água, só depois.........

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  40. Me pergunto muitas vezes se, com o atual nível da educação ministrada, alguma mata terá importância daqui uns anos. Afinal invadir já não é pecado... aí juntam-se as construtoras e a coisa descamba. Deus nos salve.

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  42. No filme "Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões", de 1991, que tem dois "Kevin", um como diretor (Kevin Reynolds) e outro como protagonista (Kevin Costner, o "Robin Hood"), aparece uma árvore chamada "Sycamore Gap Tree", próxima da "Muralha de Adriano" (na Inglaterra) que é patrimônio mundial da Unesco. O filme tornou a mais que sesquicentenária árvore famosa e alçada a ponto turístico.

    Passados 31 anos desde o lançamento do filme, duas criaturas às quais recuso atribuir ares humanos, munidas de uma motosserra, puseram fim à "Sycamore Gap Tree". A árvore, majestosamente solitária entre duas pequenas montanhas, agora somente pode ser admirada no filme, em fotos ou vídeos que amantes, turistas e quem a tiver visitado tenham capturado sua beleza.

    Os dois vândalos, bípedes de polegar opositor, foram condenados pela justiça britânica neste ano de 2025. Mas, isso é irrelevante. "Sycamore Gap Tree" não ressuscitará. Ainda que pudesse ser replantada, não seria a mesma e jamais veríamos frondosos galhos no tempo de uma vida humana.

    O mundo chorou a perda de "Sycamore", tal como se pranteia um ente (ou animalzinho) querido. Enchi-me de uma raiva tão profunda quando essa notícia me chegou que me imaginei (como que levado a "O Fantástico Mundo de Bobby") "plantando" os dois assassinos ao chão e "orando" à "Barbárvore" para que enraizasse essas criaturas, de modo que elas pudessem "sentir" a terra e "fluir" pela rede de micélios que une florestas mundo afora, tal como o filme "Avatar" nos mostra de sorte que pudessem lamentar o horror do que fizeram e preservar a natureza, dali adiante.

    Esses dois agiram por maldade pura. Sua intenção era simplesmente praticar o mal. No mundo atual, ditado pelas regras do "mercado", seus operadores agem por interesses mercantilistas, criando oásis de luxo e ostentações, eufemisticamente vendidos aos acumuladores de riqueza para fins, mais das vezes, escusos.

    Não é muita a diferença entre a motosserra dos assassinos da "Sycamore Gap Tree" e a dos que usam o "mercado" como desculpa.

    Quem sabe as crianças tenham melhor sorte.

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