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Fotografia: Dedé Dwight |
Esses dias, do nada — ou do tudo que mora entre o suspiro e o tédio — me veio à cabeça uma antiga namorada do começo dos anos 1970. Lembrei dela não pelo cheiro do perfume ou pela caligrafia nos bilhetes, mas por causa de um número: 3-4426. Quatro algarismos precedidos por um “3” que parecia arrastar os pés. Simples, não? Um número que hoje, se digitado num celular, talvez acione uma central de televendas ou um mototáxi na cidade onde vivo.
Naquele tempo, telefone era artigo de luxo, quase um troféu exposto perto da porta da sala. Na casa dos meus pais, a linha não chegava nem com promessa aos céus. Quando a urgência apertava — uma dor de dente, uma notícia, um amor — eu batia na porta da vizinha, que exibia um orgulho mal disfarçado da linha dela, ou atravessava a rua até a padaria, onde o dono emprestava o aparelho como quem concede um mimo ao filho da cliente mais assídua no caderno de fiado.
Tinha também o orelhão, cinza e solitário, instalado a um quilômetro de casa, no posto de gasolina. Era preciso coragem para encarar o acostamento da avenida larga e sorte para achar fichas, aquelas relíquias metálicas que funcionavam como moedas mágicas. Três delas podiam invocar vozes distantes. Às vezes, dava certo. Às vezes, só dava ocupado. E a fila atrás de você, impaciente, formada por outros personagens tentando escrever seus próprios capítulos nas novelas da vida.
Um dia, a vizinha me chamou no portão:
— Corre aqui, tem ligação pra você!
Fui. Lá estava ela, plantada na sala, fingindo ajeitar a cortina, mas com os ouvidos mais esticados que os varais do quintal. Já sabia — ou pressentia — que se tratava de um namoro em ponto de ebulição. Queria o calor do espetáculo na primeira fila.
Atendi, disse “alô” com aquele nó que dá na garganta quando se tem quinze anos e medo de perder o que mal começou. Do outro lado, silêncio. E então, como num roteiro meloso de novela das sete, soou uma voz:
— Como vai você? Eu preciso saber da sua vida…
Era Roberto Carlos, mensageiro de luxo do adeus, entregando o que minha namorada não teve coragem de dizer. Depois da serenata telefônica, apenas um clic. Fim de chamada. Fim de capítulo de uma breve novela.
Fiz cara de quem só acabara de ouvir uma pesquisa de satisfação da companhia telefônica, agradeci a prestimosidade da vizinha e saí. Como quem esconde o coração no bolso e finge que foi uma ligação sem importância alguma.
Naquela época, telefone era ponto de encontro — e de embate. A linha principal ficava na sala de estar, por onde os fios entravam como raízes buscando a alma da casa. Depois vieram os ramais, e com eles os riscos: alguém podia erguer outro fone e se intrometer na conversa. Às vezes por acidente. Outras, de propósito. Mas quase sempre dava confusão. O anonimato das linhas cruzadas era tentador — e, confesso, vez por outra me rendia à molecagem. Mesmo sabendo que a vida já se encarregava de pregar as suas.
Semana passada, vejam só, me peguei com um pensamento intrusivo desses que chegam sem convite e se instalam feito espinho de peixe na garganta em véspera de festa: e se eu discasse aquele número de novo? Claro, acrescentaria os dígitos da modernidade — DDD, nove, talvez até um código interestelar. Mas e se alguém atendesse? E se fosse a própria voz da memória, perguntando por que demorei tanto a dar sinal de vida?
Fiquei com o dedo suspenso sobre o teclado do celular por alguns segundos, mas não apertei. Porque há números que, se discados, não chamam fora — chamam dentro. Não alcançam outro aparelho. Alcançam a gente.
Cada dia que passa, estou mais convencido de que o passado é um bairro onde a gente até pode voltar pra rever a paisagem, mas não deve tentar morar de novo. Algumas casas ainda estão de pé, mas os moradores se mudaram. Ou desapareceram na poeira do tempo. Ou estão escondidos dentro da gente, ocupando um quartinho com janela aberta pro coração.
E não adianta procurar orelhão. O que mais faz falta, mesmo, é alguém do outro lado da linha querendo ouvir a gente perguntar:
— Como vai você?
Uma história que, em boa parte, combina com as minhas memórias.
ResponderExcluirEm particular me fez lembrar de um tal orelhão da vila de estudantes onde morei que, volta a meia, resolvia funcionar sem fichas.
Era uma fila quilométrica, que varava noite a dentro, com a moçada ligando pra casa, pra namorada, pro namorado; por dois minutos bem controlados por quem aguarda sua vez.
Era uma festa.
Me remeteu foi a um colega do meu primeiro local de trabalho. Quando a Quina acumulada (ainda não existia a Mega-sena) saía pra um único apostador, ele ficava tentando ligações telefônicas com as combinações dos números sorteados pra ver se coincidia com algum telefone do Brasil afora, esperando que alguém o atendesse pra dizer: "Se você jogasse na Quina os números do seu telefone, estaria milionário hoje". Não parece coisa de loucos, daqueles mencionados por Ariano Suassuna?
ResponderExcluirVocê está certo, Silas. Para Suassuna, a "doidice" é uma forma original de romper com a mesmice, de buscar outras verdades por trás das aparências. Ele sempre acreditou que a loucura está diretamente relacionada à capacidade de questionar a realidade, de enxergá-la sob uma lente diferente e, se necessário, "retocá-la". Pra melhor, claro.
ExcluirHá muita sabedoria na loucura, podes crer.
Excluir.
Se até Drummond falando sobre Dom Quixote e Sancho Pança disse "Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou – que doideira – um louco de juízo.
.
É preciso muito juízo para ficar doido.
Chico Oitavo.
ExcluirO Orelhão também faz parte das minhas histórias, e quando as notícias são boas , vale a pena lembrar. As noites frias , ventos, eu fui várias vezes no horário marcado receber a ligação dos sonhos, e quem ouvia era a telefonista, que no outro dia muitos na cidade também sabiam, kkk.
ResponderExcluirEsse meu passado eu moro. Muito bom lembrar do Orelhão.
Com esta bela e Profunda crônica, voei no tempo, vindo à tona as boas recordações em que o coração jamais esqueceu o orelhão. Daí só vem na cabeça, "Memória" de Carlos Drummond de Andrade:
ResponderExcluirAmar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão."
Valeu Hayton. Abraço
Recorrer ao "monstro" itabirano, o maior poeta da Língua Portuguesa, pra comentar uma crônica minha me deixa constrangido e orgulhoso, Oceano. Obrigado por sua generosidade e pelo encaixe drummondiano com que nos brinda.
ExcluirIta lembra Itu, onde lembra grandezas, daí dois gigantes; um de Itabira e outro de Itabaiana, dois gigantes na escrita que eternizam com seus poemas e suas crônicas.
ExcluirSimbora, nobre Hayton. 🤝🎯
2444689 era o número lá de casa e ele permanece na minha memória como se fosse o retrato na parede do Drumond. Diferentemente de outras lembranças, ele não liga mais nada a lugar nenhum, a não ser, talvez, pra algum Eu que esqueci pelos rumos das minhas lembranças, tênue como uma ligação cruzada. Dedé Dwight
ResponderExcluirPreciso registrar, de público, que foi vosmecê, Dedé, que me inspirou a escrever esta crônica ao conversar comigo sobre o assunto objeto de seu comentário acima. Obrigado, amigo, inclusive pela belíssima imagem que ilustra o post de hoje.
ExcluirOrelhão faz falta nos tempos de hoje em que a segurança é precária e o celular virou sonho de consumo de assaltantes. Tivesse os orelhões espalhados na cidade e já não precisaríamos tanto sair com celular. E, se modernizados, nem pra chamar Uber.
ResponderExcluirMas, voltando à crônica, nos fez rebobinar o filme da vida, até vi o telefone preto na sala da casa da minha madrinha, um mais antigo, de manivela, na oficina de meu sogro, em São Félix….. só você mesmo para nos dar esses flashs!!! Nelza Martins
Caro Hayton, mais uma quarta-feira, mais uma bela crônica que me fez, com emoção, voltar ao passado, mas sigo seu conselho: “passado é um bairro onde a gente até pode voltar pra rever a paisagem, mas não deve tentar morar de novo”. Obrigado.
ResponderExcluirParabéns, boas lembranças! Na infância, atender o telefone e o mensageiro dos Correios, quando gritava na porta, eram disputas ferrenhas entre os jovens da família. Francisco Miranda
ResponderExcluirLembro bem qdo esses aparelhos telefônicos era somente da cor preta e qdo chegou os mais modernos da época na cor cinza. E os orelhões eu ia colocando o dedo para verificar se tinha moedas para brincar de par ou ímpar.
ResponderExcluirMaravilha! Bem assim, Hayton, "um quartinho com janela aberta pro coração". É bom não ficar mexendo nos guardados por mera curiosidade. Algo pesado pode desabar em sua cabeça.
ResponderExcluir“ E o tempo se rói
ResponderExcluirCom inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver”
É o tempo amigo. O tempo
Brilhante e oportuno o que você evoca em seu comentário, Isamusa! Aldir Blanc e Nana Caymmi não morreram.
ExcluirLembranças nos levam a viajar pelo tempo e nos trazem recordações. Ficávamos felizes, e ansiosos, quando enchíamos nossos bolsos com fichas e partíamos em busca de um orelhão, desocupado e sem filas, para ligarmos para um ente querido, paquera, namorada, ou, ficar à espera de uma chamada previamente acordada. Lembrei, ainda, da saudosa secretária eletrônica cheia de recados, à nossa espera. Muito bacana lembrar do passado, como passado. Show de crônica.
ResponderExcluirQuanta poesia neste texto! Adorei!! Diniz.
ResponderExcluirOs dois últimos parágrafos deram um sovo em meu pensamento e ne fizeram ir às lonas da vida e do viver. Eles foram escritos para ficarem em grandes outdoors sobre a longevidade, e suas memórias intrusivas. Que sacada genial você nos brindou. Que arte de nos levar juntos, telefonando pra ela, e recebendo o clic. Que maravilhosa sabedoria sobre histórias e ciclos que nem sempre fecharam e que é melhor que seja assim. Amei.
ResponderExcluirUma crônica que nos leva a idade das trevas do medo natural nos primeiros namoros dos anos 1970/1980 e trevas da comunicação telefônica. Nele também fica evidente que algumas coisas não mudam, um exemplo: "As formas utilizadas para ouvir as conversas alheias".
ResponderExcluirEstou sob estado de recuperação do efeito de um AVC sofrido recentemente. O cérebro foi atingido e por isso tem que aguardar a sua recuperação lenta e gradual. Para ler textos, sofre consequências. Vou ter que aguardar o tempo e lutar com efeito positivo. Por isto, receba um grande abraço. Bom dia!
ResponderExcluirSe fôssemos um Benjamin Button, até moraria novamente no mesmo bairro. Um colega nosso, quando surgiu o celular, comprou um "tijolão", e defronte ao bar que estávamos tinha um "orelhão". Ele ficava oferecendo o celular para as pessoas ligarem do seu aparelho. Já não sei dizer se era para exibir a modernidade ou pura cortesia. Só sei que reclamou muito quando chegou a fatura.
ResponderExcluirSabedoria no cuidado em visitar o passado sem cair nas armadilhas de querer revivê-lo! Como sempre, abordagem e texto excelentes!
ResponderExcluirQue lindo e emocionante texto. Ontem mesmo recebi uma mensagem e amor do passado. 31 anos depois. Hoje viúvo. Fiquei feliz e, ao mesmo tempo, triste. Foi a primeira pessoa com quem falei ahora prla manha. Sincronicidade. Agira leio o seu texto que parece que fala dobre mim, e me assusto com esse bairro que podemos revisitar, mas não voltar a morar. Estou reflexiva!
ResponderExcluirO passado ora alegra
ResponderExcluirMas às vezes aperreia
E quando nos incomoda
Não adianta cara feia
Boa lembrança do passado
É quando vejo ao meu lado
O três quatro quatro dois meia.
Pura poesia, Hayton. Às vezes, mesmo sem rima, palavras bem ditas, com sentido profundo, nos entram numa métrica reflexiva. É isso o que seu escrito nos confere. A mágica de revolver a vida, extraindo delas belas páginas escritas tendo como fundo o próprio tempo. Pura poesia!
ResponderExcluirLembrei-me do tempo em que frequentava a central telefônica de Ubaíra-Ba, onde trabalhava o amigo Boy. Qualquer ligação oriunda de outra cidade tinha que passar pela central. Ali, toquei violão, cantei, fiz muita farra e passei muito trote. Na rua em que morava tinha uma senhora que possuia uma linha telefônica e se orgulhava bastante por isso. Certo dia, ligamos para a casa dessa senhora perguntando se o fusca verde da professora Raimunda estava na porta. Imediatamente, dona Gina foi até a janela verificar e nos deu a resposta: " O fusca está na porta, mas não é verde. É amarelo". Daí a gente respondeu: "Será que o fusca amadureceu de ontem pra hoje dona Gina?" E todo mundo caia na risada com exceção de dona Gina que xingava a gente até umas horas. Kkkk
ResponderExcluirBoas lembranças.
ResponderExcluirO mundo só será mais feliz quando entendermos que a vida é uma passagem e que o que se planta, se colhe. Façamos, então, da nossa vida um legado de memórias e de amor, pois o que fomos permanecerá vivo nas entrelinhas dos dias que se foram e nos corações dos que conviveram e convivem conosco.
Crônica espetacular! O passado, não tem como esquecer.
ResponderExcluirZezito
Desta vez sua crônica trouxe um olhar sensível e nostálgico sobre a relação entre memória e identidade, tendo como ponto de partida algo tão simples, mas carregado de significado: um número de telefone da juventude. Ao lembrar-se do contato de uma antiga namoradinha, caro Hayton, você convida o leitor a refletir sobre a força das pequenas lembranças e como certos detalhes aparentemente banais podem se transformar em marcos emocionais duradouros. A lembrança do telefone é mais do que uma sequência de números — é uma chave que abre portas para sensações, aromas, risos e até para aquela timidez adolescente típica dos tempos de primeiras paixões.
ResponderExcluirA metáfora do passado como um bairro é especialmente feliz e poderosa. Ela traduz com poesia e profundidade a forma como revisitamos nossas memórias: reconhecendo nelas algo que permanece, ainda que transformado. Assim como ruas antigas que ganham novas fachadas, as lembranças envelhecem, mas mantêm seus contornos essenciais — uma escola onde estudamos, uma praça onde rimos, ou um número discado com o coração acelerado. É um comentário sutil sobre a fluidez do tempo e a inevitável reconstrução das emoções ao longo da vida.
Por outro lado, só não nos convenceu éde que por trás do número do telefone existiu um nome, muitas emoções e lembranças . Obrigado por compartilhar conosco mais uma pérola literária sua.
Você disse: "... Só não nos convenceu é de que por trás do numero do telefone existiu um nome, muitas emoções e lembranças...".
ExcluirPois acredite, meu caro Izaias! A "antiga namoradinha" a que você se referiu no parágrafo inicial de seu comentário sabia bem o que queria da vida: está até hoje, meio século depois, com o ex-menor aprendiz de bancário que escolheu. Com filhos e netos rindo disso tudo.
Mais uma pérola em forma de crônica!
ResponderExcluirO passado é generoso, nele tudo está resolvido e até a dificuldade é motivo de riso, mas deve ficar lá no lugar dele, quietinho.
Abração,
Gradim.
Mexer no que está quietinho num cantinho remoto de um coração que luta para sobreviver às tentações da modernidade, é, de fato, um exercício instigante e, às vezes, perigoso... Mas, lembrando que, paralelo ao telefone, havia, ainda, cartas, de várias laudas que o "correio" teimava em retardar a entrega. Recordar é reviver emoções boas, ou nem tanto, que alimentam e povoam momentos ímpares em nossas vidas...
ResponderExcluirA crônica não fez um simples relato, mas provocou uma avalanche de ligações para o passado, testemunhado em diversos também belíssimos comentários que dela foram produzidos. Em cada um de nós "caiu a ficha" que nos "ligou" para um passado adormecido e que agora não deu "ocupado", porque atendeu ao chamado e nos fez conjecturar por tantos caminhos.
ResponderExcluirHá algo de profundamente nostálgico em números que já não chamam fora, mas ressoam dentro. A crônica "Linha cruzada com o passado", de Hayton, é um convite a revisitar o bairro do passado, aquele lugar empoeirado pelo tempo, onde as vozes se entrelaçam aos fios de um telefone de disco e a saudade tem som de chamada perdida.
ResponderExcluirO número 3-4426 é mais do que uma sequência de dígitos; é uma chave para um portal íntimo, onde memórias ecoam entre o silêncio de ligações não atendidas e o tilintar metálico das fichas. Em cada volta do disco, a sensação de estar se conectando não apenas com outra linha, mas com uma versão de si mesmo que existiu em outro tempo, em outra casa, em outra vida.
A crônica de Hayton nos lembra que houve um tempo em que telefonar era um ato de coragem, quase um ritual. Era preciso atravessar ruas, pedir favores à vizinha, desafiar o destino do orelhão no posto de gasolina. Cada ligação carregava o peso da espera, o risco do engano e o alívio da voz conhecida do outro lado. E havia o gesto simples, mas carregado de significados, de girar o disco – um movimento circular, quase cíclico, como quem tenta voltar para um lugar que só existe na memória.
Quando o protagonista hesita diante do celular moderno, tentando, por um segundo, recriar a magia daquele número, percebemos que o passado é um bairro onde se pode passear, mas não morar. E como Hayton tão bem coloca, o que mais faz falta não é o som da chamada ou a cadência dos números, mas alguém do outro lado da linha para perguntar: "Como vai você?"
"Linha cruzada com o passado” é um retrato delicado e profundo sobre a transitoriedade das conexões humanas, um lembrete de que algumas linhas não estão mais disponíveis – não porque foram desconectadas, mas porque o tempo nos mudou. O passado, afinal, é uma roupa que já não nos serve. Mas ainda assim, como é bom reencontrá-la de vez em quando, mesmo que só para admirar o seu caimento no espelho da saudade.
Perfeito. Vc é o cara.
ExcluirLindo demais! Um texto perfeito, bordado de boas memórias. Parabéns sempre. Mas, não mexa tanto com o coração da gente, deixei o café esfriando, quando comecei a sentir o gosto gostoso dos sentimentos contido em cada palavra. Obrigada, meu amigo. (Socorro Marcelino)
ResponderExcluirFez-me lembrar o passado. Quaisquer parágrafos lidos levam-me às semelhanças que passaram em algum momento na minha vida.
ResponderExcluirQuando tomei posse no BB (Traipu-AL), tinha acabado de conhecer a minha esposa (há 44 anos). Fazer e/ou receber ligações telefônicas era complicado, a telefonia era precária. Tinha apenas um aparelho na mesa do gerente e três ramais. O gerente fazia o papel da "mulher da cortina". Minha namorada e eu tivemos a feliz ideia de criarmos um código em palavras para falarmos ao telefone e deu tudo certo, nem o gerente e ninguém mais sabia o que falávamos.
Um belo dia, em uma reunião mensal, o gerente, que agora faço questão de revelar o nome, José Pereira de Santana, disse: "pessoal, vocês estão sabendo que esse menino aí o Egmar está falando agora uma língua estranha!? Não consigo mais entender o que ele diz". A turma caiu na risada.
Velhos tempos, belos dias!
O que mais gosto é quando, de certo modo, faço os leitores viajarem a algum ponto do passado. Imagino que cada um deles, a partir das lembranças, façam novas leituras, reflexões, e eventualmente convivam melhor com elas.
ExcluirQue bom que você gostou de mais uma, meu amigo! De quebra, me fez lembrar de meu querido e saudoso amigo José Pereira de Santana.
Hayton, como sempre somos levados a uma viagem ao tempo, fui levado a uma época em que investia em linhas telefônica e depois alugava.
ResponderExcluirE pensar que toda amplitude da comunicação hoje, parece ser mais difícil ouvir, ou se dedicar a saber como vai Você?.
ResponderExcluir"O pretinho sabe tudo"! Era assim que o radialista Arnaldo Souza, que não está mais entre nós, chamava o telefone. Era por ele, que o radialista realizava entrevistas "ao vivo" ou recebia as notícias, que iria divulgar em seu Programa "Disparada" (com direto, na abertura, à voz de Jair Rodrigues: "Prepare o seu coração, para as coisas que eu contar...").
ResponderExcluirA propósito, foi o primeiro aparelho telefônico que eu lembro (se não for falha de memória) ter atendido, quando comecei a "trabalhar" (ou melhor, me divertir), sem exploração do trabalho infantil, na Rádio Imembuy, de Santa Maria (RS), por volta dos dez anos de idade. Eu era co-adjuvante, na apresentação de um programa infantil.
No meu entorno, no bairro onde eu morava, ninguém tinha telefone. Nem parentes, nem vizinhos, nem comerciante. Só haviam "orelhões" e eram vários. Só que eu não tinha para quem ligar.
Nem para namoradas. Eu era tímido demais para tentar um namoro. A primeira que resolveu encarar minha timidez, foi sete anos depois. Foi após um beijo "roubado", em uma Boate de Clube (comuns, na época), porque acreditei que ninguém estava enxergando. Acabei casando com ela, com medo de não ter outra chance... E, até hoje, ela ainda me atura!!! Ainda bem!!!
Show de crônica, Hayton.
ResponderExcluirOs orelhões foram introduzidos no Brasil na década de 1970, e, rapidamente se tornaram parte da paisagem urbana, sendo utilizados por pessoas de todas as idades e classes sociais.
No início, eram usadas fichas para fazer as ligações, que depois foram substituídas por cartões telefônicos.
Apesar de não serem mais utilizados, os orelhões permanecem como um símbolo da história da comunicação em nosso país.
Lógico, teve sua relevância e importância na vida cotidiana do nosso povo. Quantas histórias, foram por eles comunicadas. Mas, como diz o velho ditado, tudo ao seu tempo. Hoje, é peça de Museu.
Perfeita. Como um número de telefone do passado fica na nossa mente. Sigo o Ricardinho, os dois parágrafos finais batem forte no peito. Luis Antonio
ResponderExcluirUma das primeiras namoradas que tive era telefonista (municipal). Naquela época, bastava tirar o telefone do gancho e girar a manivela… depois se ouvia: “qual o número?”. Eu girava a manivela e ao ouvir a voz da namorada, respondia quase em tom de brincadeira: “o teu, gostosa”. Um dia, o ouvido falhou e não percebeu que a voz era outra, a resposta dada para a pessoa errada causou enorme rebuliço. Nunca mais repeti a frase.
ResponderExcluirMais uma crônica extraordinária. Os orelhões azuis eram interestaduais (as fichas eram mais caras). E os vermelhos, locais. Ainda peguei a transição para o orelhão de cartão com créditos, artigo de luxo na época.
ResponderExcluirCaro Hayton,
ResponderExcluirMais uma bela crônica. Todos os leitores da de hoje, creio que sem exceção, fizeram uma viagem por esses tempos...
Eu ia namorar, via Telebahia, na casa de um amigo, lá pelos idos de 1984 e a mãe dele ficava na cozinha, com as antenas ligadas...
Tempos bons, que não voltam mais!
Bom dia Hayton! como sempre um belo texto em uma bela quarta-feira, embora chuvosa na também bela Salvador.
ResponderExcluirÉ muito bom acordar receber o seu texto que, como bem foi dito aqui em um comentário, uma poesia sem rimas. O que importa é que você sabe muito bem como nos fazer sentir inserido nos seus contos: cheios de charmes e encantos. Impossível ser dos anos sessenta e não ter vivido tudo isso. Um confortável abraço cheio de gratidão.
"...Mas qual de nós não carrega no peito
ResponderExcluirUm segredo de amor escondido.
Diga quem nunca levanta de noite
Querendo de volta o perdido (Quem Saberia Perder? - Ivan Lins)
É...todos carregamos no peito um amor juvenil numa paisagem distante. Uma dor que era ruim de tão boa. Visitar sem ir é o jeito doce de encontrar o perdido, e dele extrair o mel que acalenta um pedacinho de nossas vidas vividas. Adorei a crônica.
No início pensei: que ousado esse Hayton! Falar de uma antiga namorada numa crônica tornada pública? Será que ele tem habeas corpus preventivo?
ResponderExcluirAi li o trecho: “Porque há números que, se discados, não chamam fora — chamam dentro. Não alcançam outro aparelho. Alcançam a gente.”
A ficha caiu: só pode ser a dona Magdala a homenageada com esse poema em forma de prosa.
A coragem do escritor foi só de tentar confundir os leitores sobre a eterna namorada a chamando de antiga!
Espetacular o texto!
Minha licença poética (combinada com a outorga uxória) não tem essa amplitude toda que você imaginou. Os boquirrotos costumam perder a língua dormindo 🤣
ExcluirSempre mexendo com os nossos sentimentos, hein!
ResponderExcluirQue bom seria se pudéssemos manter a alma adolescente por todo tempo dentro de nós, aliando a sabedoria e o senso de direção que acumulamos e apuramos ao longo da vida.
Assim como os telefones, bom que continuamos evoluindo ao longo da vida, dentro dos objetivos que nos são oferecidos, uns tocando desenfreadamente em nossos ouvidos, e outros tocando harmoniosamente em almas e corações das pessoas.
Caraca! Tocou um alarme aqui! Quem não teve palpitação diante de um Orelhão não viveu o suficiente (nem na época “certa” 🤣).
ResponderExcluirPrimor de crônica!