novembro 05, 2025

Gaiatos, gatos e gaiolas

GAIATOS, GATOS E GAIOLAS 

Hayton Rocha


Quem nunca acalentou a fantasia oculta de jogar tudo pro alto? Abandonar emprego, família, status e até o cachorro, para embarcar no primeiro navio sem rumo nem passagem de volta. Nessas horas, dois dedos de lucidez sopram ao pé do ouvido: “deixe de estupidez!”. E assim seguimos, firmes e domesticados, olhando o horizonte do convés da rotina, como marinheiros de terra firme que nunca molharam os pés.

Semana passada, com a TV revolvendo lembranças com cheiro de mofo, dei de cara com um documentário sobre os Paralamas do Sucesso. Logo apareceu o velho “Melô do Marinheiro”, hit inocente dos anos 80 que transformou a ideia de conhecer o mundo em piada pronta.

O moleque sonhava desbravar os sete mares e acabou descobrindo que sua função era descascar batatas e esfregar o chão. A cada “Entrei de gaiato no navio (oh!)”, não era difícil perceber o tamanho da cilada. Aventuras? Só no sabão e na vassoura. O sonho dourado virou faxina, como tantos projetos de fuga que prometem liberdade e entregam rotina embrulhada em esforço braçal.

Que atalho curioso entre o sonho e o rodo! É como se a vida dissesse: “Quer voar? Comece esfregando chão!”. E nós, obedientes, seguimos de segunda a sexta, com o fio de esperança de que a liberdade possa estar escondida num feriado prolongado, numa viagem adiada ou até no sábado que nunca chega cedo o bastante.

Foi nesse clima de marinheiro frustrado que, horas depois, li a notícia de que um gato chinês, sem pedir licença, entrou num contêiner e atravessou o mundo. O felino, batizado de Xiao Mao — “gatinho” em mandarim —, saiu da China e aportou em Minnesota após quase 13 mil quilômetros e três semanas trancado entre ferrugem e pó. Parecia Garfield de ressaca — mas vivo o bastante para viralizar nas redes sociais.




Segundo a ONG Pet Haven, ninguém entende como resistiu sem água e comida. Talvez lambendo gotículas de condensação, caçando insetos clandestinos. Uma epopeia darwinista em miniatura. Hoje Xiao Mao participa de um programa de socialização chamado Wallflowers e, para completar o enredo hollywoodiano, se apaixonou por uma oncinha pintada, resgatada numa aldeia indígena, que deixou em pedaços o seu coração, como diria Alceu Valença.

Enquanto lia a história, pensei: nós, humanos, calculamos mil vezes antes de dar um passo fora da linha. Já Xiao Mao, analfabeto de nove vidas, pulou num contêiner errado e acabou conhecendo o outro lado do globo, sem cartão de vacina nem passaporte. Nós desistimos do navio por medo de descascar batatas. Ele entrou sem querer e virou manchete planetária.

Não desejo a ninguém a dieta de ferrugem e insetos que o felino encarou. Mas convenhamos: há algo de invejável nesse acaso que arregaça fronteiras. Quantas vezes deixamos de viver um Singapura ou Xangai particular por temer o balde e a vassoura do convés? Quantos horizontes deixamos para depois, como se o mundo fosse uma vitrine que só podemos olhar de longe? Talvez sejamos nós, não Xiao Mao, os verdadeiros enjaulados. Ele, pelo menos, saiu da gaiola e ganhou uma cara-metade pra chamar de sua.

O curioso é que tanto o marinheiro dos Paralamas quanto o gato chinês embarcaram por engano. Um achou que namoraria sereias e acabou esfregando sujeira. O outro entrou para cochilar e despertou em outro continente. Ambos ilustram, cada um à sua maneira, o abismo entre expectativa e realidade. Só que, enquanto o humano reclama do chão molhado, o bichano sobreviveu ao Pacífico.

Somos menos corajosos que um gato de Guangzhou. Ficamos no porto, cultivando fantasias de liberdade enquanto contamos moedas para a próxima viagem, o próximo celular, o próximo Natal. E, quando arriscamos, é sempre com manual de instruções na mão, para que nada saia do script. Vivemos como se tivéssemos medo de entrar “de gaiato no navio” e, no fundo, é isso que nos condena a nunca sair do cais.

A vida, ironicamente, adora premiar os distraídos. Xiao Mao não sabia para onde ia e justamente por isso chegou tão longe. Nós sabemos demais e, por isso, raramente saímos do lugar.

Seria esse o recado enviesado do destino sobre gaiatos, gatos e gaiolas? Alguns, por descuido ou coragem, rompem as grades e descobrem o mundo. O resto lambe as barras ou afia as garras na própria prisão. Como se a vida fosse apenas batatas por descascar.

51 comentários:

  1. ADEMAR RAFAEL FERREIRA5 de novembro de 2025 às 04:42

    Ler as crônicas de Hayton toda quarta-feira é mais seguro que entrar de "gaiato" no novio e/ou cruzar oceanos sem alimentos. O medo é zero, a coragem mil.

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  2. Dizer a verdade é preciso: quem não lê Hayton, ao menos nas madrugadas de quartas-feiras, pode "entrar de gaiato no navio" da oportunidade de participar das lições que suas crônicas trazem, explícitas ou implícitas, e nos premia garbosamente.
    Aprendi a lê-lo permaneço fiel leitor, mas, acima de tudo, um aluno atencioso, cuidadoso mesmo, para absorver essas lições, por vezes verdadeiras aulas públicas.
    Obrigado, mestre Hayton!
    Fico a "esfregar o chão" das letras, já que "entrei de gaiato no navio" do descobrimento da maestria com que nos permite ter acesso ao que você escreve, aqui e nos livros publicados.
    Por sinal recebi,contem à tardia, seu novo lançamento.
    Ave Palavra!

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  3. Francisco Oitavo P. Fernandes5 de novembro de 2025 às 05:16

    Na "crônica dos Gagás" quem se deu bem foi a onça. Do nada, arranja um gato prá chamar de seu. Nem sereia era e de repente "a litlle cat" aparece na sua vida e na sua aldeia. A vida tem dessas coisas. Ás vezes dá certo quando não se tem planejamento nenhum. Eu, que não sou gato, não sou dado a aventuras não planejadas, não entraria num navio desses nem com mil promessas de uma sereia a bordo. Que o novo casal desfrute das dores e das delícias de viver na América. Que tenha sorte o bichano. Não tá fácil viver ali, notadamente se não se tem lenço e documentos. O rei que comanda a selva por lá não é o rei leão nem é muito chegado a quem desembarca de paraquedas.

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  4. Hayton conseguiu fazer quase um resumo da vida: como conciliar o eu-agora (aquele que tem urgência, quer viver tudo intensamente como se não houvesse amanhã) com o eu-depois (o que é previdente, mede as consequências, se prepara).
    Talvez a dúvida existencial mais importante (viver, a que será que se destina?) seja como harmonizar esses dois eus. Porque talvez um não viva sem o outro; e o outro não sobreviva sem o um.

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  5. Esse relato serve para todos como uma luva.
    Quem nunca sonhou em se aventurar pelo mundo e não se acovardou por ser racional demais, que atire a primeira pedra.

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  6. Bom dia, Hayton! Acordei lendo a sua crônica. Nos faz pensar o quanto nos apegamos à terra firme e, por isso, o quanto talvez tenhamos perdido da vida!

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  7. Estou lendo seu periódico observando os primeiros raios de sol na imensidão do mar. Esse horizonte sempre me provoca e por diversas vezes tentei descrever o mistério do além mar e além sol, mas nas minhas limitações não saio do lugar. Hoje seu texto, rico e genioso como sempre, me tranquilizou, pois há poucos “gatos” que criam coragem e se lançam na aventura de transpor os limites criados. Tanto assim que viram manchete e tão únicos que inspiram geniais escribas. Bom de ler querido amigo.

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  8. Belíssima crônica.
    Além de revelar o passageiro clandestino, ainda fez com maestria o digníssimo papel de alcovitar o amor “proibido” dos felinos.
    Contudo, o que me encantou verdadeiramente, foi a construção que engendrou no meu pensamento, das longas horas que o “velho” Ernest Hemmingway passou no cais mancomunando com os seus neurônios entre ficar ou seguir.
    Vi a sua figura de cabelos grisalhos, barba aparada, boné de marinheiro e acabei reconhecendo a pessoa do meu amigo Hayton no papel de Hemmingway. Só que na varanda do seu apartamento em Maceió, contemplando o belíssimo mar azul e, por prevenção, acorrentado na ferragem da janela. Vai que dá vontade de sair voando 👀

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  9. É sempre um privilégio acordar lendo suas crônicas ,HAYTON . As vezes precisamos nos aventurar nessa vida !!

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  10. “A vida... o que ela quer da gente é coragem", de Guimarães Rosa
    “O que Deus quer é ver a gente
    aprendendo a ser capaz
    de ficar alegre a mais,
    no meio da alegria,
    e inda mais alegre
    ainda no meio da tristeza!
    A vida inventa!
    A gente principia as coisas,
    no não saber por que,
    e desde aí perde o poder de continuação
    porque a vida é mutirão de todos,
    por todos remexida e temperada.
    O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
    que as pessoas não estão sempre iguais,
    ainda não foram terminadas,
    mas que elas vão sempre mudando.
    Afinam ou desafinam. Verdade maior.
    Viver é muito perigoso; e não é não.
    Nem sei explicar estas coisas.
    Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”

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  11. Esse termo " gaiato" foi muito utilizado por um certo senhor, muito sério durante toda sua vida, com relação ao seu 2° filho, que entre fugas e travessuras, vivia a soltar as suas " lorotas".

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  12. Crônica maravilhosa, nos leva a uma viagem de reflexões, “ viagem, o próximo celular, o próximo Natal. E, quando arriscamos, é sempre com manual de instruções na mão, para que nada saia do script. Vivemos como se tivéssemos medo de entrar “de gaiato no navio” e, no fundo, é isso que nos condena a nunca sair do cais.“ como precisamos de libertar dos nossos medos, para ganhar o mundo.

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  13. Hayton, é sempre uma alegria, para nós, leitores assíduos de suas crônicas, termos o privilégio de recebê-las logo cedo às quartas-feiras. Hoje você nos brindou com uma reflexão interessantíssima sobre o dilema perene entre o impulso de fuga e a disciplina da rotina.
    A maneira como você desenha o cenário inicial — a fantasia de "jogar tudo pro alto" sendo imediatamente refreada pela "lucidez" que nos impõe a navalha da realidade — estabelece o tom com precisão cirúrgica. Somos, de fato, "marinheiros de terra firme que nunca molharam os pés".
    O recurso à memória afetiva do "Melô do Marinheiro" é fantástico. Na realidade voce transforma o hit dos anos 80, que era uma canção de jovialidade, em uma alegoria do sonho frustrado. A aventura se reduz a "sabão e vassoura", e o mar prometido se torna a pia de descascar batatas. Que ótima metáfora sobre como as grandes promessas de liberdade, não raro, se convertem em trabalho braçal acompanhado de esforço.
    Contudo, o que mais gostei foi o contraponto que você habilmente introduziu: o gato chinês, Xiao Mao. Enquanto o ser humano se imobiliza na encruzilhada da decisão, o felino, de forma totalmente acidental, realiza o ato de abandono total e viagem sem rumo que o homem apenas sonha. O gato, o "gaiato" involuntário, atravessa continentes na clausura de um contêiner, cumprindo o ideal de aventura na mais completa ausência de consciência e status.
    Então, talvez a verdadeira liberdade só seja alcançável quando desprovida de intenção, planejamento ou, até mesmo, de lucidez. Uma excelente crônica, que nos convida a meditar sobre as nossas próprias gaiolas.

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    1. Excelente comentário. Concordo totalmente

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  14. ...Excelente, caro HAYTON! -
    Enfrentar desafios pode ser algo bem complicado mesmo. Mas, é justamente nesses momentos que encontramos forças que nem sabíamos que tínhamos...
    José Luiz.

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  15. Ai ler a sua história lembrei de uma frase de uma música que sempre me intrigou: “o acaso vai nos proteger” eu como sou super distraída tenho diversas histórias fruto do acaso kkkk. Ótimo texto Hayton. Obrigada por me acrescentar a rede. Denise Vianna

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  16. O gato, Xiao Mao, em sua liberdade de escolher acabou fazendo, sem querer, um longa e solitária viagem. Ele simplesmente vive sua realidade, a humanidade complica a sua, trocando a simplicidade da existência pela complexidade de sentimentos negativos e escolhas que resultam em medos, seguindo a jornada cheios de dúvidas e enfrentando o grande dilema entre o ser e o ter, adotando posturas contrárias ao bom viver.
    Simbora, Hayton. Sigamos firmes e fortes, pois a vida é bela para ser vivida na sua plenitude. 🤝

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  17. Se esse gato chinês fosse criado no Brasil, muito provavelmente adaptariam seu nome, em função do seu espirito aventureiro, porque todas as vezes que ele partisse para um novo destino, era mais fácil se despedir com um "Xao Miao".
    Excelente crônica para nos relembrar de quantas vezes tivemos vontade de "desabotoar alguns botões" para nos sentirmos mais leves, mas logo em seguida nos lembramos que eles também servem para nos proteger.

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  18. Quando somos jovens, carregamos dentro de nós " o moleque sonhador" pronto para enfrentar os sete mares e descobrir o mundo. Com o passar dos anos, porém, vamos preferindo um porto seguro — ainda que seja para descascar batatas.

    Hayton, mais uma vez, suas crônicas nos levam a navegar pelo tempo, despertando lembranças, ideias e pensamentos que julgávamos adormecidos. Excelente crônica, parabéns

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  19. A crônica me fez lembrar da única lembrança de sacoleiro que fiz.
    Aos 21 anos saí com um colega da turma de medicina e fui pra Salvador lavar a alma, como se dizia. Sem dinheiro, sem lenço! Logo fomos pro mercado modelo e comprei uma sacola tipo hippie e continuamos a exploração em Salvador.
    Aventura para quem nunca tinha abandonado o navio. Valeu a experiência!

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  20. Essa é daquelas q nos faz pensar. Sensacional. Quantas vezes entramos de gaiato no navio. A primeira escola, o primeiro amor, o trabalho, as mudanças de cidade, de departamento, de diretoria e a aposentadoria. Quantos pisos tivemos q limpar. No final nem a vassoura restou. Luis Antonio

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  21. Maravilha de crônica. Parabéns.

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  22. Em tempos de guerra, esse GAiaTO chinês viaja de graça, entra nos USA sonegando as sobretaxas, arruma logo uma parceira nativa para ter Green Card e conquista seguidores sociais. Com esse roteiro do Hayton, logo estará na Netflix estrelando Aventuras sem fronteiras.

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  23. Navegar numa nau sem rumo, clandestinamente, sem destino, não sei se por fuga ou busca do novo, somente tendo sete vidas para a travessia dos sete mares. Agora vamos aguardar as crônicas de Xiao relatando o espírito aventureiro e o "clima" que pintou com a oncinha no balanço das marés.

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  24. Ter o privilégio em receber, ler suas crônicas, traz sempre uma ótima reflexão para a vida que queremos ter. Um texto envolvente, da melhor qualidade.

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  25. Ao ler esta crônica lembrei de um novo amigo que hj mora embarcado, já entrou de gaiato algumas vezes mas conseguiu o seu sonho de liberdade. Acabou de kançar seu livro: A velejada na Kabbalá/Honaj J Caticci.

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  26. Gostei de seu comentário e me deu saudades deste tempo. Abração carinhoso. Dayse lanzac

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  27. A vida é um eterno convite à aventura, mas muitos preferem ficar no casulo, esperando que o vento traga oportunidades prontas e embaladas.
    O verdadeiro desafio está em romper esse conforto, abrir as asas e se lançar no desconhecido: Viajar, conhecer novos ares, enfrentar o inesperado…
    Tudo isso, claro, exige coragem, curiosidade e, principalmente, vontade de viver além do previsível.
    Quem se arrisca descobre que o mundo não é tão assustador quanto parece - e que nada, absolutamente nada, é de graça ou cai do céu (a não ser titica de pombo, chuva e, de vez em quando, sorte). O resto vem com movimento.

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  28. Que beleza de crônica, Hayton. Sair da zona de conforto, talvez, seja o grande desafio para desbravarmos fronteiras e vivenciarmos o "novo". Lembremos do ditado popular "o cavalo selado só passa uma vez", que indica que as oportunidades devem ser aproveitadas naquele momento. Não me refiro a uma única oportunidade, mas à ideia de que precisamos estar preparados para aproveitar o momento e agir. O ditado indica que não devemos permitir que o medo ou a insegurança nos paralisem.

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  29. Agostinho Torres da Rocha Filho5 de novembro de 2025 às 10:03

    Bendito seja Deus que nos dá asas para voar quando nos falta chão. Espetáculo de crônica! O texto nos convida, de forma muito inteligente e criativa, a uma reflexão sobre os limites do ser humano. Que Deus nos conceda coragem, fé e determinação para que possamos voar cada vez mais alto.

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  30. Já levo a vida “por aí” há seis anos, sem arrependimentos. Vez ou outra alguém me questiona como faço pra “programar as viagens”. Alguns não acreditam, mas a resposta é que não tem roteiro, apenas um “norte” que, muitas vezes é para o Sul (da Patagônia). 💙

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  31. Verdade poucos tem coragem de arriscar mudar o destino, quase sempre acomodamos nossas vidas ao cotidiano. Parabéns Mestre,

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  32. Realmente, "quem nunca acalentou a fantasia oculta de jogar tudo pro alto?", pensar ou "sonhar" essa fantasia talvez seja mais comum do que imaginamos, notadamente nos momentos de tensão, de perdas ou até por vislumbrar algo melhor.
    O bom dessa crônica é "cairmos na real" e refletirmos sobre o que o amanhã poderá mostrar... Ter os pés em terra firme serve para várias situações, inclusive para dar impulso a essa "viagem sem volta"... Excelente crônica.

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  33. Excelente. Embarquei de corpo e alma nessa viagem felina.

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  34. Ah, nesta quarta-feira o cronista já amanheceu mexendo em um assunto que me é muito especial.
    Há décadas tenho feito tantas viagens especiais que, posso afirmar, foram aulas inesquecíveis para a minha formação.
    E sempre fico rindo comigo mesma ao relembrar que, a primeira verdadeira viagem que fiz foi de Pão de Açúcar, em Alagoas com destino ao Recife para fazer o primeiro curso como funcionária do Banco do Brasil.
    Matuta do sertão das Alagoas, conheci, nessa viagem um hotel! No quarto do hotel vi, também pela primeira vez, um “geladeira anã” e, pasmem, dentro dela havia água em garrafas. Nem vou contar aqui o susto que passei ao tomar o primeiro gole de água “com gás”!!! Eu que tantas vezes enfrentei fila de carro-pipa para levar água para casa com meus irmãos. A primeira viagem a gente nunca esquece.
    A partir daí, com o privilégio de ter um bom emprego e a bênção de ter encontrado, também no Banco, o meu companheiro de vida, decidimos que nossa poupança seria para viajarmos.
    E assim fizemos e continuamos fazendo. Nada de apartamento suntuoso, roupas caras, carros possantes. Nada disso! Nossos investimentos eram direcionados às viagens planejadas com entusiasmo e alegria. Nunca nos arrependemos.
    Mas tenho que falar que nossas viagens nunca foram de “pacotes”. Sempre fomos os nossos próprios agentes, viajando com mapa Quatro Rodas e um carro 1.0.
    Hoje, continuamos nossas viagens, “conhecendo nossa aldeia” em algumas, indo mais longe em outras, mas sempre sabendo que, após os dias prazerosos das viagens, há sempre a recompensa de voltarmos para casa, reencontrando nossa caminha e nosso travesseiro inigualáveis.
    Concluo agradecendo a Hayton pela deliciosa viagem de hoje e deixando aqui uma frase de que gosto muito: “Eu viajo não para escapar da vida, mas para que a vida não me escape”.

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  35. Rapaz, crônica maravilhosa que atende aos desejos frustados de todos que a leem. Eu mesmo quantas vezes pensei em largar tudo e embrenhar por esse mundão. Hoje a idade não me permite mais nem pensar.
    Abraço
    VFM

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  36. Essa foi danada!!! esse tema me enfeitiça. Mudança. Desafio novo. Desconhecido. aprendizado. Risco. adrenalina. Grandes vitórias. Grandes derrotas. que coisa boa... quanta intensidade contida em uma decisão dessa.
    Medo, é palavra chave para quem sonha com tal rompimento de correntes. Se o tem, não vai.
    O medo paralisa.
    Já dizia Monteiro Lobato: " O medo lhe afasta das derrotas. Mas das vitórias também".
    Paradoxo dos mais maravilhosos.
    Bela Crônica. Para mim, em especial, magnética.
    Valeu!!!
    abração!!!
    Mário Nelson.

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  37. ROBERTO SANTOS FERNANDES5 de novembro de 2025 às 15:30

    Essa história me lembrou da minha vinda da Bahia para Alagoas em 1965, mais precisamente no dia 22.04.1965, data em que cheguei em Arapiraca. Viagem feita de carona numa carreta que se dirigia a Recife e o motorista, colega de profissão de meu irmão, deixou-me no endereço indicado. Ainda bem que valeu a pena!
    Parabéns pela crônica.

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  38. Há fases em que nos permitimos ousar mais, arriscar mais. Depois de certa acomodação das coisas, a vida tende a nos levar pra zonas de conforto. Jogar tudo pro alto e embarcar num navio sem rota definida torna-se bem menos possível.
    Mais uma bela provocação, prezado Hayton

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  39. Hayton, mais uma crônica provocando grande sacudida com reflexões, realidades da vida cotidiana, que até sabemos, mas você as desnuda de uma maneira muito forte, mesmo que seja em uma crônica contendo humor.

    O que se percebe, é que somos treinados - ou condicionados - desde cedo em seguir um roteiro: estudar, trabalhar e nos sustentar. A vida é montada em torno disso, mesmo que seja tentando, e quando percebemos já estamos presos nesse espiral de rotina, muitas vezes sem tempo pra viver de verdade o que gostaríamos, mas lembremos de uma frase: “tempo é questão de preferência.”

    Alguns planos - ou sonhos-, vão sendo empurrados para depois, e por vezes é um “depois” que quase nunca acontece, e em alguns momentos, quando acontece algum lazer, podemos até sentir culpa pelo tempo empregado nisso.

    Então a sua crônica nos leva à pensar que, mesmo quem conseguiu uma vida estável e estruturada, de certa forma continua preso — só que numa gaiola mais confortável. A diferença é o tipo de grade. Entendendo que, mesmo assim, diante de muitos outros, nessas condições devemos agradecer por sermos privilegiados.

    São poucos que, de forma consciente, tenha coragem de sair do roteiro e descobrir o que há fora dele, pois o medo nos faz calcular cada passo e isso nos paralisa, provavelmente dentro da maior prisão invisível, que é o receio de viver o imprevisto.

    Enquanto isso, um gato entra num contêiner por acaso e atravessa o mundo…

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  40. Maravilha de texto, cutuca quem sempre planeja a sair da linha e aventurar um pouco, basta se encorajar e partir.

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  41. EGMAR BARBOSA DE FARIAS5 de novembro de 2025 às 23:09

    A zona de conforto muitas vezes leva ao desconforto, principalmente quando ela nos é oferecida como se fosse um Cebion de 1g e, na realidade, estamos ingerindo Emulsão Scott.
    A vida é simples. Nós a tonamos complexa. E isso faz com que por descuido, vez por outra, algo se torne sensacional e tudo corajosamente bem planejado sai pela culatra.
    Então, faço da vida uma canção... Viva la Vida.

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  42. Essa narrativa reflete dilema da vida: se sei D+, penso demais; restringe as ações pessoais de realizar o improvável/provável. Desejo latente de proceder o improvável. É melhor não lembrar dos erros que podem acontecer e: Deixa a vida me levar…… leva eu ……. Deixa a vida me levar………. E realizar os atos necessários para tornar a vida mais interessante. Desejos, vontades a se realizar exige deveres, lavar piso, descascar batatas e, por aí vai. É nosso amigo Hayton continua com suas crônicas.

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  43. Um gato com alma de tartaruga…

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  44. "Olhando o horizonte do convés da rotina, como marinheiros de terra firme que nunca molharam os pés". Nossa!! Que profunda, linda e sensível reflexão. Somos todos os gaiatos das prisões que vamos erguendo aos poucos, e nos acostumado com o pedaço. Como você diz, "olhando o horizonte do convés da rotina". Parece que esta é a nossa sina. Entre zarpar e ficar. Entre pular e ficar. Entre o "Se" e o "Quando"; o marinheiro do convés oscila ao sabor de ondas, e ventos, que nunca pegará. Ficando no desejo, tal qual diz a canção: "Vida. Vento, Vela levem-me daqui". E nada. Porque não há nada além de meros desejos.Que acabam aceitando esboços mal desenhados, de projetos de vida. Que estão sempre órfãos de redenção, e cheios de imobilismo e apatia.Que se satisfazem de batatas, a descascar. E se chega aos 15, aos 30, 50, 80... E aínda vamos sangrando mares, com a peixeira da carne segurança das coisas. Deixando tudo pra quem vem depois. Sem usufruir aquela taça de cristal mais sofisticada. Ou aquele lençol fio egípcio 500. Esses moldes são reforçados por todas as instituições: família, escola. Igrejas, mundo do trabalho. Zarpar, romper e se reinventar vão ficando pra um depois talvez. Obrigado por nos brindar com uma sabedoria tão intensa e imensa. Obrigado ao 🐈 por ter possibilitado este mergulho na existência.

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  45. Com absoluta honestidade, posto aqui que havia decidido não comentar, afinal, tu abusaste, colocaste todos nós como realmente somos, quase insignificantes perante a magnitude da vida.
    Só que aí me dei conta de que o penúltimo parágrafo da crônica merecia uma manifestação, afinal ali define não só a vida, também nossa pequenez perante ela.
    Minha mente martela, existe realmente alguém capaz de definir tanto a vida, ou Hayton recebe mensagens da hoje tão decantada IA??? A conferir...

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  46. Muitos nasceram por acaso. Outros não tem coragem nem de pular de uma ponte de um desenho. Covarde ou acomodado, vai tocando a vida. Uns trem a sorte ao seu lado, outros, por aparente competência, ficam os pés no porto. Nem Horizonte querem ver...

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  47. Ao ler a crônica e, inconscientemente, cantarolar o Melô do Marinheiro passei a refletir sobre as razões que, conscientemente, nos fazem aportar na rotina, no medo que nos ancora num porto dito seguro, mas que na verdade, nos acorrentam a regras que nos foram impostas.

    Lembro-me de uma sessão de terapia em que ao me defender de algumas atitudes aprisionantes, alegando princípios de família, fui questionada porque eu precisava seguir regras que não eram minhas, me limitavam e não me faziam bem.
    Dalí, passei a refletir sobre tantas coisas que fazia ou que deixara e seguia deixando de fazer por motivos alheios. Por regras e necessidades que não eram minhas.
    Ao nascer, são tantas influências familiares, sociais, religiosas, políticas e econômicas e tantas outras que nos modelam, nos forjam, não para sermos livres e felizes, mas para seguirmos um código de conduta que decidiram para nós e que se transforma numa bola de ferro acorrentada num cais qualquer.
    Passamos uma vida, os melhores anos dela, trabalhando, consumindo e acumulando bens como se isso fosse o lastro da felicidade, até que chega a hora da epifania e nos damos conta que a velhice chegou e deixamos de fazer tantas viagens, viver tantas aventuras que, talvez não consigamos mais. Mas sigamos tentando e, quem sabe, o acaso consiga nos dar um empurrãozinho para um novo mergulho?
    Esfregar o chão, descascar batatas, comer insetos, beber gotículas, talvez seja o menor preço a pagar por se embarcar na liberdade.
    O marinheiro só pagou o preço ao reclamar da viagem, o gato curtiu a chegada ao atravessar o globo e se apaixonar por sua bigcat.

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  48. Demorei a ler por estar no modo “vovó “mas posso dizer que essa vai para o rol das melhores e mais impactantes escritas suas. Sair do Porto é mesmo para os corajosos, pois a viagem nunca é previsível. Caso o roteiro saia do script, o remédio é recordar só os bons momentos.

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