Se você é curioso sobre o mundo publicitário e sua ligação com a psicologia, já deve ter ouvido falar de Carl Gustav Jung. No início do século passado, este suíço dividia cervejas, fondue e ideias com o austríaco Sigmund Freud – antes de se tornarem desafetos cordiais. Além de ser um dos pais da psicanálise, Jung deixou teses que transcenderam os divãs e hoje circulam por campanhas publicitárias, testes de personalidade e até conversas do RH das empresas.
Entre suas contribuições mais instigantes está a teoria dos arquétipos: padrões universais de comportamento e emoção que atravessam culturas e eras. Esses moldes revelam como nos posicionamos no mundo e fazem parte do inconsciente coletivo – aquele lugar onde desejos e medos se misturam como um armário desorganizado, bagunçado ainda mais pelas redes sociais.
Não é à toa que os arquétipos são hoje ferramentas indispensáveis para quem quer vender mais, seja uma bebida, um hambúrguer ou um perfume. Quem nunca associou um carro à potência ou uma caneta de luxo ao sucesso? Pior: o cigarro com a ideia de bravura, coragem e virilidade. Tudo orquestrado para cutucar emoções escondidas.
Mas será que podemos nos resumir a um único arquétipo? Claro que não. Somos criaturas multifacetadas, tão dinâmicas quanto as pinceladas de Picasso em “Mulher com Chapéu”. Cada um de nós carrega um padrão dominante e outros secundários, como uma coleção de chapéus que escolhemos usar (ou esconder) conforme o momento.
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Aqui está uma dúzia desses “chapéus” que podemos experimentar – ou já usamos sem perceber:
O Amante
É aquele que vê poesia em tudo. Fotografa flores no trânsito, escreve versos em guardanapos e chora com comerciais apelativos. Valoriza conexões emocionais e busca ser admirado. Mas quando exagera, corre o risco de perder a própria essência tentando agradar a todos.
O Criador
Sempre tem uma ideia nova na manga: "E se fizéssemos isso de outro jeito?". Seu entusiasmo é contagiante, mas nem sempre termina o que começa. Tão obcecado buscando o ideal, esquece de celebrar o que já é bom.
O Explorador
Nômade por natureza, detesta rotina e vive buscando novos horizontes. É aquele que pede demissão numa preguiçosa segunda-feira para abrir uma pousada na praia – mesmo sem planejar. Seu amor pela liberdade é inspirador, mas pode levar a escolhas impulsivas (e boletos atrasados, claro).
O Governante
O Herói
Desafia limites, enfrenta medos e inspira os outros com sua coragem. É o tipo que acorda às 5h para correr ou se oferece para descascar um abacaxi de terceiros. No entanto, sua impulsividade pode levá-lo a abraçar causas que não entende – e depois se perguntar onde foi que se meteu.
O Inocente
O Mago
O Órfão
O Prestativo
O Rebelde
Questiona padrões e inspira mudanças radicais. Mas sua ousadia pode se tornar imprudência quando deixa a paixão falar mais alto que a razão.
O Sábio
Ama o conhecimento e tem sempre uma opinião bem fundamentada. Contudo, seu perfeccionismo intelectual muitas vezes o desconecta da realidade, perdendo o timing por estar “pesquisando só mais um pouco”.
O Tolo
Com humor afiado, desconstrói tensões e arranca gargalhadas. Porém, quando não percebe o limite, transforma momentos sérios em piadas fora de hora, correndo o risco de parecer insensível.
E você, com quais “chapéus” se vê na virada do Ano Novo? Se acha que três não bastam, não se preocupe. Somos tanto aquilo que vemos quanto o que o mundo reflete de volta, como espelhos com várias faces.
Talvez o segredo esteja justamente em aceitar esses reflexos, dinâmicos e distorcidos, sempre prontos a surpreender – inclusive a nós mesmos.
Que em 2025 cada um de nós encontre os chapéus que mais nos desafiam e nos completam. E que a gente saiba a hora de trocá-los, claro.