quarta-feira, 26 de maio de 2021

Águas de maio

Vi o mar pela primeira vez aos 12 anos, na Avenida da Paz, em Maceió. Meus pais também: ele aos 38 e ela, aos 31 anos. Tudo era novo e deslumbrante para nós, pais e filhos matutos, vindos do interior, naquele verão de 1970.


Ao ver o mar, lembrei-me do açude do Jatobá que abastecia a cidade de Patos, no Sertão paraibano — chão de meus primeiros 10 anos — e onde quase morri afogado, por absoluta inépcia no uso de uma boia de câmara de ar. 

 

Mais que do rio Mundaú, que deslizava entre os partidos de cana-de-açúcar dos tabuleiros de União dos Palmares, na Mata alagoana. Rio cuja água doce e morna me legou boas memórias, mas também ancilostomíase (amarelão) e esquistossomose (doença do caramujo).  

 

A diferença entre o açude, o rio e o mar estava nas águas. No mar, tinham gosto de choro.

 

Sentados na areia, ouvíamos o burburinho do vai-e-vem sem fim das águas. O mar, por mais que fingisse não ver que estava sendo observado por nós, de repente veio de tudo que era lado nos salgar.

 

Meu pai, de calças arregaçadas, nu cintura acima, tomava conta dos primeiros sete filhos, espalhados na areia. Uns rolavam, outros construíam castelos e os mais afoitos, afeitos à correnteza do Mundaú, arriscavam molhar braços e canelas na espuma das marolas.

 

De pouca conversa, como de costume, às vezes penso que ele buscava na linha onde as águas tocam o céu um sinal qualquer que lhe apontasse como calafetar o barco de sua existência, àquela altura fazendo água por todos os furos.

 


Ancorado sob o peso de uma dívida que só crescia desde que perdera um cargo importante em seu trabalho, viu reduzido pela metade o salário até então na medida exata dos gastos com sua prole.

Minha mãe, naquele dia, tinha olhos e braços para o casal caçula de filhos. Cuidava também da provisão de bananas-prata, goiabas e mangas-espada, além de algumas garrafas de água potável. Não havia como dar de comer e beber a tantos nos bares da orla.

 

Nisso, uma das meninas, 6 anos, desaparece naquela profusão de corpos e rostos desconhecidos. Mãe e pai, aflitos, correm em direção às ondas traiçoeiras da praia do Sobral, temendo perdê-la. Todas as crias da ninhada tinham o seu valor. 

 

A paz só seria restabelecida minutos depois. A criança foi encontrada com vida e voltamos todos para o ninho, salgados e cansados, mas felizes. Foi a primeira e única vez em que, juntos, fomos à praia. 

 

Pouco mais de dois anos depois, numa sexta-feira de maio de 1972, meu pai deixaria um bilhete aos colegas — lido apenas na segunda-feira —, justificando-se por que nunca mais voltaria a encontrá-los. 

Não recebera um centavo sequer no contracheque do mês. Compras antecipadas em cooperativa de consumo, farmácia e lojas, mediante consignação em folha de pagamento, rasparam o tacho. Teria de novo pela frente 30 dias batendo à porta de agiotas.

 

Sentia-se, imagino, fatigado e incapaz de evitar o naufrágio a cada novo empréstimo que suplicava, mesmo a juros abusivos, em troca de cheques pré-datados. E se fosse demitido por emissão de cheques sem fundos, o que seria da mulher e dos nove filhos?

 

Na missa do domingo, exausto e vencido pela desesperança, imagino, de joelhos ele chorou diante do altar da capela do bairro da Gruta de Lourdes. Quem sabe, também pediu perdão pelo que faria a si mesmo (e a nós) na madrugada. 

 

Desde que o mundo é mundo, quando o mar está calmo, qualquer um pode ser timoneiro e tocar seu barco. Quando vem a tormenta, uns não conseguem lidar com os mistérios do vai-e-vem sem fim de suas águas.

 

Meio século já se passou e algumas pessoas não compreendem por que não sou — assim como alguns irmãos meus — de me sentar e relaxar na areia de uma praia, embora tenha morado em Recife e Salvador, além de voltar a viver em Maceió, em frente ao mar. 

 

Depois que cresci, rascunhava meu próprio roteiro de viagem quando a poesia de Pessoa me apontou um caminho, bem além da linha onde a águas tocam o céu

 

"Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena..."

 

Hoje, nem eu nem o mar que vi pela primeira vez no Verão de 1970 são os mesmos, mas ainda escuto rumores no vai-e-vem sem fim das águas — com gosto de choro.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Quem diria, hein?!

Era mais um encaixe em minha agenda naquela tarde de quinta-feira, a pedido de uma vizinha lá do bloco onde moro, em Brasília:

– Doutor Nélson, posso mandar entrar a próxima? – quis saber a assistente.

– Por favor...


Mônica, 50 anos, 170 cm e 60 kg – ainda poderosa, mesmo insegura disso , queixava-se de certo mal-estar, um desconforto no peito. Casada com Eduardo, 47, amigo meu desde que aqui cheguei, vindo do Rio.


Conversamos. Soube que é fluente em inglês e alemão, gosta de música (Caetano, Rita Lee), pintura (Van Gogh) e literatura (Bandeira, Drummond, Sartre). Tem também uma queda por magia e meditação. 


Eduardo é diplomata de carreira vinculado ao Itamaraty, desses que vivem em missões especiais no exterior. Viajara duas semanas antes para a China – há muito, a maior compradora e investidora direta no Brasil – e ficaria fora por dois meses.

  

Voltando à consulta, avaliei frequência, ritmo cardíaco, e não percebi batimentos irregulares. Chequei pressão arterial, auscultei coração e o trajeto das carótidas à procura de sopros. Nada. Revi os laudos de alguns exames que ela trouxera. Tudo em ordem. 

 

Orientei-a apenas quanto a atividades físicas e repouso. Ela mal conseguiu disfarçar a decepção:

– Não seria o caso de ressonância, doutor? – sugeriu, dando a entender que já "ouvira" o Google.

– Não precisa. Isso passa.

– Mas doutor, minha respiração anda acelerada. Estou suando frio sem motivo algum. As pernas tremem...

– Vai passar... 


Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, como questionava um trovador solitário, nos anos 80, entre blocos e botecos do Planalto Central?  


Às dez da noite, após a sopa sem graça dos recém-descasados, eu folheava uma revista qualquer, recostado numa rede, quando me veio à mente minha vizinha, decepcionada com a consulta que me fizera. E mergulhei fundo em abstrações e conjecturas. 


Inspirada, quem sabe, numa página de Simone de Beauvoir sobre sua paixão por Sartre, naquela noite Mônica ligaria para a emergência e diria do calorão que estava sentindo: “Fogo! Fogo!”.  

 

Corpo de Bombeiros então deslocaria viaturas para o prédio onde morávamos, supondo escapamento acidental de gás ou fio desencapado em chamas. 


Os mais ágeis chegariam com suas mangueiras em punho: “Onde? Onde?” Ela, próxima à portaria, estaria sentada, sozinha, com uma taça de Terroir Chardonnay na mão à inútil espera do sono. E apontaria para o próprio peito: “Bem aqui!” 


Seus filhos gêmeos, enquanto isso, notívagos desde a pré-adolescência, curtiam cantos e encantos, bares e pubs de uma cidade iluminada e seca, ainda sem sinais de pandemia no horizonte. 

 

Às onze da noite, ela me contaria, pelo celular, que chegou a ser ameaçada de indiciamento por conta do trote. E aproveitaria para evidenciar sua frustração comigo: "Doutor Nélson Falcão Rodrigues Neto, não estou me sentindo nada bem. Me ajude. Preciso de um tarja preta”


É claro que aguçaria os ouvidos, como acontece toda vez que me chamam pelo nome completo. "Dê um pulinho aqui, no 606" – diria eu, em sinal de boa vontade e cuidado. 

 

Apesar do adiantado da hora, não me negaria a socorrê-la. Mas o que pensaria o porteiro se a visse batendo em minha porta quase à meia noite, sabendo que seu marido viajara e que os filhos só chegariam em casa às quatro da madrugada?

 

Para evitar mal-entendido, eu teria que dar um jeito de cobrir a câmera do hall dos elevadores com fita isolante ou esparadrapo. Mas como faria isso sem ser visto? Não seria prudente contar com a distração do porteiro, a cochilar na guarita ao som do último telejornal.

 

Pouco depois, lá estaria ela diante de mim. Eu buscaria no Spotify o melhor de Legião Urbana e, do meu jeito, tentaria convencê-la a evitar o ansiolítico:

– Tá bonita neste hobby de chambre, hein?

– Você acha? 

– Ele ligou?

– Ainda não.

– Tá mais calma, agora? 

– Mais ou menos.

 Precisa mesmo do Rivotril?

– Doutor  diria ela, sorrindo à Mona Lisa , vai me ajudar ou tá querendo outra coisa? 

  


Ah, se meu avô fosse vivo, se visse e ouvisse isso! Teria aqui mote perfeito para mais uma de suas obras. Escritor, dramaturgo e cronista de costumes, diria que tudo não passara de um enorme mal-entendido. Talvez arrematasse reafirmando que "os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas".
 

Confesso que me sentiria o pior dos cafajestes se me aproveitasse da fragilidade dela naquele momento e colocasse em risco não só a minha reputação, como a amizade com o seu marido. Seria muita sem-vergonhice de minha parte. 


"A vida como ela é", diria meu avô, a esfregar as mãos enrugadas e sábias. E quem ousaria dizer que ele não tinha razão?


 


 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Novas regras pro jogo

Pense: o que leva uma criatura a querer ser presidente de uma das repúblicas mais desiguais do mundo, em flagelo econômico-financeiro, ambiental e sanitário? A querer, não! A sonhar de olhos abertos, com dentes e unhas, em sentar-se no trono pela primeira, segunda ou terceira vez.    

Seja qual for o resultado, você tem dúvida de que a manifestação da soberania popular em 2022 deverá ser questionada? Que denúncias de supostas fraudes darão origem a novas feridas sobre antigas cicatrizes e a bate-bocas intermináveis nos tribunais de sempre?

 

Urnas eletrônicas existem há um quarto de século e fazem parte do sistema de votação mais informatizado do planeta. A confiabilidade é boa, tanto que virou referência mundial. Já aconteceu inclusive o empréstimo de urnas a Argentina, Costa Rica, Equador, Guiné-Bissau, Haiti, México, Paraguai etc.

 

Mas há quem defenda o retorno do voto em papel. Um dos candidatos disse outro dia que “pretende” mudar o processo a partir das próximas eleições, com a volta das cédulas impressas que, na opinião dele, seriam mais confiáveis e abririam menos espaço para fraudes. 

Ocorre que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entende que retornar ao voto impresso seria “um retrocesso, como comprar um videocassete” e que “fraude havia com o voto impresso”.


Qual é a saída? A esta altura, quase todo mundo tem a sua opinião sobre cada uma das criaturas postulantes ao cargo. Elas, no entanto, tentarão construir uma imagem que oscilará entre o que são, o que gostariam de ser e o que gostariam que os outros acreditassem que são. 

 


Assim que o jogo – do qual você participa até quando se omite – começar pra valer, cada uma delas irá oferecer seu prato feito e tentará lhe convencer a engolir. E mais: a dizer que gostou. 

Como gostar de uma comida cujo tempero básico é exercitar o dom de iludir, onde se é livre para dizer e desdizer, fazer e desfazer o que bem entender? Como descobrir o que se esconde nas palavras ditas em desarmonia com o aquilo que se sente, pensa ou faz? 

 

Ano que vem, de novo, cada recanto da velha pátria mãe tão distraída vai se arrepiar. As praças e ruas estarão apinhadas de seguidores de variadas seitas, mascarados ou não, independente da variante viral da hora, a ruminarem sentimentos como inveja, ódio e vingança. 

 

Millôr dizia que a diferença entre Direita e Esquerda é que um lado acredita cegamente em tudo que ensinaram, e o outro acredita cegamente em tudo que ensina. Não existe nada mais inútil do que tentar convencê-las disso, imagino.

 

À parte a fratura de braços e pernas que hoje quebra a nação, ela também se divide em outros dois grupos: os que desprezam o Big Brother Brasil e os que não perdem (tribo bem maior) por nada nesse mundo um dia do reality show.

 

Com o final da edição de 2021, me contaram que foi feita uma pesquisa envolvendo 498 pessoas cujas características (idade, sexo, classe social, escolaridade etc.) refletiriam o universo brasileiro. Apurou-se que 80,8% vivenciaram emoções indesejáveis: indignação, nojo, raiva, repúdio, dentre outras. 


Mas para 60,6% dessas pessoas – números quebrados dão sempre maior credibilidade –, o melhor do jogo é poder bisbilhotar as entranhas dos jogadores, vigiados por câmeras 24 horas, sem se comunicar com ninguém ou usar qualquer outro meio para saber o que se passa fora do confinamento. 

 

Apurou-se ainda que, se o BBB desperta sentimentos ruins, propicia também entretenimento e prazer. E quem sou eu para questionar o subsolo das emoções de nosso heróico povo.

 

Dito tudo isso, não seria a hora de uma mexida nas regras do jogo para as próximas eleições presidenciais? Quem sabe confinar as criaturas interessadas, por 30 dias, numa versão especial do reality show, com direito a baixarias, edredons e paredões.

 

Pós-graduado em Big Brother Brasil, duvida-se que um heróico e criativo povo, com seu brado retumbante, não descubra quem é quem e escolha a criatura mais interessante para subir a rampa do Planalto sob os raios fúlgidos do sol.


Não se sabe ainda quem vencerá o jogo com base nas novas regras, mas, pouco importa de que lado sopre o vento, o Centrão – outra criatura polêmica e insaciável, incrustada no Congresso Nacional – já esfrega as mãos nos bastidores. Tudo em nome da governabilidade, é lógico!


 


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Água do mesmo pote

Descobri que a água do pote que bebia Raimunda e seu irmão Tonho Tertulino era a mesma que matava a sede de Hilda, prima deles e mãe de uma certa criança que nasceu pouco antes da metade do século passado e, aos 11 anos, deixou a pequenina Quixeramobim para morar em Fortaleza, capital cearense. 

 


Mais adiante, o filho de Hilda cursaria faculdade e, a partir de 1971, viveria entre Brasília, São Paulo e Rio, tornando-se, além de arquiteto e professor universitário, um infatigável operário das artes.

 

Tal como a prima Hilda e a irmã Raimunda, Tonho Tertulino (avô de meus filhos, mais tarde) trazia dentro de si uma alma generosa e modesta desde a mais tenra idade entre pedras que cantam, colinas escuras e quentes no Alto Sertão de seu Ceará. 

 

Ainda moleque, Tonho Tertulino foi dispensado pelo pai de trabalhar no balcão do armazém da família. Movido pela compaixão com o estado crônico de penúria de alguns conterrâneos, ele andava isentando de pagamento os mais frágeis que não tinham como levar o essencial. 

 

Buscou guarida no Seminário Diocesano de Quixadá, onde quase virou padre. Mas se deu conta de que a carne não era tão forte assim e destoava do sacerdócio exigido pela Igreja Católica. Resolveu então prestar concurso para o Banco do Brasil, migrando em seguida para Alagoas.

 

Lá encontrou sua cara-metade, com quem se casou, teve um filho e duas filhas. Desapegado de bens materiais e sem maiores ambições em termos profissionais, nunca correu atrás de cargos e poder. Foram 30 anos como simples escriturário até se aposentar, em agosto de 1975.

O aconchego da família, os cuidados com a comida e a bebida, a missa nas tardes de sábado, o riso frouxo com Os Trapalhões nas noites de domingo, a prosa com cachorros e gatos da vizinhança e o lenço branco, para assoar o nariz ou enxugar o suor, completavam seu kit felicidade.

Depois que se aposentou, houve até quem lhe prevenisse que não sobreviveria muito tempo, habituado que estava à rotina do trabalho bancário. Apenas sorriu a seu modo contido. Em silêncio, porém,  já havia costurado um arrojado projeto para a nova etapa: dar vida ao solo arenoso do quintal da casa em que morava no bairro do Farol, na capital alagoana, reciclando todo o lixo orgânico ali produzido. 

Menos de uma década depois, oferecia aos netos a fartura de cocos-da-baía, carambolas, goiabas, jambos e pitangas, além de roseiras e antúrios à sombra do pé de piriquiti. Isso sem perder de vista os cuidados com os filhotes de cágados que, tão distraídos quanto ele, a cada primeira trovoada de janeiro se arrastavam sem pressa de chegar.

 

Seus netos, hoje adultos, reconhecem que ele personificava o legítimo avô-raiz. Daqueles que, distante dos olhos da esposa-avó, lhes consentia correr pequenos riscos como alimentar cães e gatos de rua, trepar na goiabeira, tomar banho de chuva e acender fogueiras nas noites juninas.

 

Tonho Tertulino não quis acordar numa manhã de agosto de 2005, aos 86 anos, 30 depois de se aposentar. Tinha o rosto leve de quem fez quase tudo o que gostaria de ter feito. Sua alma, generosa e modesta, virou passarinho e bateu asas rumo ao céu, onde mais tarde reencontraria a irmã Raimunda e a prima Hilda. 

 

Semana passada descobri que o filho de sua prima Hilda está morando em Fortaleza. Chama-se Fausto Nilo, compositor, poeta e arquiteto, que entre as estrelas de meu drama foi anjo azul e parceiro de gente como Amelinha, Armandinho, Belchior, Dominguinhos, Elba Ramalho, Fagner, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Moraes Moreira, Simone e Zeca Baleiro. A caravana do deserto que atravessa o coração dos migrantes lhe carregou de volta aos sete mares do seu Ceará. 

 


Descobri ainda que, mesmo sem ter convivido com os primos Tonho Tertulino e Raimunda, o filho de Hilda também bebeu água de pote, comeu pão e poesia, de um jeito todo quixeramobinense de ser:

 

“... Felicidade é uma cidade pequenina,
é uma casinha, é uma colina,
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar.

 

Se a vida fosse trabalhar nessa oficina,
fazer menino ou menina, edifício e maracá,
virtude e vício, liberdade e precipício,
fazer pão, fazer comício, fazer gol e namorar...” 

 

“... Numa paisagem entre o pão e a poesia,
entre o quero e o não queria, entre a terra e o luar.
Não é na guerra, nem saudade, nem futuro,
é o amor no pé do muro sem ninguém policiar...”

 

Agora me pego aqui numa dúvida danada: e se a proximidade silenciosa entre eles tivesse sido maior? Pena que o “se” não conta nos encontros e desencontros pelo mundo afora. Nem mesmo para aqueles que beberam água de pote em Quixeramobim.