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Mostrando postagens de junho, 2021

Pincéis e tintas

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Tá puxado, mas não vou esmorecer. Ando tão descrente de tudo isso que tá aí que me deu vontade de reler um texto publicado aqui neste espaço há mais de dois anos, quando praticamente ninguém antevia o que iria acontecer a partir de um surto viral.   Transcrito adiante, o texto nasceu a partir de uma mensagem recebida de um amigo (Artur Roman) e de uma imagem captada por outro amigo, que fez brotar margaridas no asfalto duro e seco de Brasília:   Imagem: Dedé Dwight Afinal, por que ainda sorrimos?   Anteontem, um velho amigo me escreveu lembrando que vivemos um tempo em que as imagens tomaram conta das redes sociais. O texto escrito estaria se acomodando à função de simples legenda. Para ele, isso se deve à facilidade de se produzir e compartilhar fotografias, especialmente porque imagens exigem menos esforço cognitivo para sua apreensão. Disse, no final, que produzir textos escritos é uma forma de resistência, o que, para mim, soou como estímulo para seguir adiante com os textos aqui p

Alex, cabra safado

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Todos os seres vivos, inclusive aqueles que são tidos como racionais, já nascem com certos reflexos, isto é, são programados para reagirem diante de algumas circunstâncias. Quase todo governante, quando pressionado a explicar seus atos e omissões, desequilibra-se, fica tenso. Vê conspiração em cada canto e classifica as pessoas em dois grupos: quem o segue e quem o persegue. No começo do século passado, o fisiologista e médico russo Ivan Pavlov andou treinando alguns cachorros para que salivassem sem que houvesse nenhuma comida por perto.    Funcionava assim: toda vez que oferecia ração, ele tocava um sino. Depois de alguns dias, os bichos passaram a associar as badaladas à comida. E babavam famintos só de ouvir o sino, mesmo quando as vasilhas estavam vazias.  Claro, Pavlov não queria apenas sacanear a cachorrada. Fez isso quando revelou à comunidade científica de seu tempo a chamada  Teoria dos Reflexos Condicionados .   Alex é  um velho jornalista acostumado aos bastidores políticos

A saga da praga

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Era natural que ela estivesse inconformada, depois de três carnavais em Pernambuco, a sentir o asfalto chacoalhar quando o bloco  Parceria   atravessava a orla de Boa Viagem ou quando despertava ao primeiro canto do   Galo da Madrugada, sacudindo  pontes e ruas estreitas do Recife Antigo. Dois carnavais depois na Bahia, a escutar a batida do  Olodum  e aspirando a poeira que subia quando Chiclete,  Brown ou Ivete atiçavam a multidão, era normal que ela sofresse tendo que passar o Carnaval de 2001 em Brasília. Aliás, tanto faria se fosse lá, em Cubatão, Chernobyl ou Calcutá.   Compreendi perfeitamente. Na antevéspera do feriadão, ela pedia a todos os santos de prontidão que ele conseguisse passagens aéreas para qualquer capital nordestina, nem que fossem de Vasp ou Varig . Àquela altura, era difícil.    Assim como eu, ele também não era chegado a chuva, suor, cerveja e Engov, ao longo de quatro intermináveis dias de folia e agonia. Ela teria que se conformar. Quem sabe, no sábado estar

O preço do sossego

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Talvez o maior obstáculo que encarei em minha carreira tenha sido administrar uma pequena agência bancária na avenida Durval de Góes Monteiro, no bairro do Tabuleiro dos Martins, principal via de acesso e saída da capital alagoana. Depois de minha primeira passagem pela Bahia, no início dos anos 90, voltava a Alagoas.  A agência era instalada em local bastante visado pela bandidagem por conta do volume circulante de dinheiro numa área em acelerada expansão econômica. Além das facilidades de escape pela rodovia BR-101.    Os bancos, há três décadas,  não dispunham  de sistemas de capturas de imagens, câmeras de visão noturna, reconhecimento facial e sensores que identificam situações incomuns, como alterações abruptas na temperatura do ambiente.     A Segurança Pública estadual, sabedora de que a maioria dos assaltos acontecia na abertura ou no fechamento das agências, estabelecera uma ronda ostensiva no principal corredor de entrada e saída de Maceió.    Quatro policiais a bordo de uma

Vá entender...

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Cruzam por acaso no Dique do Tororó, próximo à Fonte Nova, em Salvador, e interrompem a caminhada  por causa dos pingos da chuva que engrossam. Há muitos  anos não se viam. – Aguilar? – Sim! Perdi os cabelos, tô pesadão, mas... Evaldo, né? –  É. De hoje que quero te ver, meu velho. Acabei de ler o livro.  Venha cá, quando tu começaste a escrever? – Rapaz, bote tempo nisso...  – Tu eras ruim de redação, no ginásio, hein?!  – Melhorei. Tinha que escrever quase todo dia, no trabalho. Me ajudou muito. – Agora, sim, tá brocando. Aliás, só tu mesmo, Aguilar, com esta cabeçona da zorra pra me explicar o que tá acontecendo no mundo.  – Tá me tirando, é? – De jeito nenhum! Tô é virado no cão. Ó paí ó! – aponta Evaldo para a notícia na telinha.   Yuri Tolochki, renomado fisiculturista do Cazaquistão, que já conquistou duas vezes o título Master of Sports, fala sobre a discriminação que vem sofrendo no meio esportivo depois que se casou, em 2020, com uma boneca sexual. Algum tempo depois do casam