quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Coisas profundas

Duas semanas antes do Natal de 1995, tia Ritinha (era assim que a chamavam) me contou que ouviu um barulho estranho na porta de casa, por volta das nove da noite. Foi até lá e deu de cara com dois desconhecidos. Preocupou-se com eles:

— O que cês tão aí no sereno? Entrem que a friagem não faz bem. 

 

Quase cega pelo avanço da catarata, 88 anos, ela tocava a hospedaria (com a ajuda de sua única neta) num casarão antigo cujo quintal dava para um rio temporário onde restavam apenas algumas poças barrentas sobre o leito de areia, capim seco e pedras, no Sertão pernambucano. Para cortar caminho até a praça da matriz, os moradores da cidade atravessavam o casarão, de porta a porta. 

  

Mário Édson (@meatelierdafotografia)

Sua neta, cerca de 30 anos, baixinha, simpática, tinha compulsão de limpeza e não podia ver uma coisa fora do lugar. Fora criada pela avó. Perdera a mãe havia muito tempo numa rara enchente do rio, ao tentar atravessá-lo pouco antes de uma tromba d’água que devastou em questão de minutos boa parte do lugarejo. 

 

No começo de 1996, estive na região por três dias. Avaliava o fechamento (ou não) de agências de dois bancos federais e um estadual que disputavam entre si os escassos recursos que ali circulavam.


Num fim de tarde, ouvi tia Ritinha perguntar a alguém que atravessava o casarão de porta a porta, pegando atalho até a praça:

— Tá com fome, filho? Vá lá na cozinha, fale com minha neta, coma alguma coisa, beba um copo d’água... Puxe a cadeira, descanse um pouco...

 

Do meu quarto, bem cedo, já havia visto quando ela acertava as contas com o leiteiro. Quem pagava e quem recebia não tinha a menor intenção de enganar ninguém:

— Quanto tem aí? — Ela perguntou, olhando pro nada, a repassar algumas cédulas.

— 30...

— E agora?

— Inteirou 50. Faltam 15.

— Pronto! Pegue aqui...

— Sobrou, comadre. Tá aqui o troco.

 

Na noite em que os desconhecidos apareceram em sua porta, após acender a luz da sala e convidá-los a se sentarem, sentiu pena:

— Tão imundos! Precisam de banho. Venha cá, meu filho, pegue toalha e sabonete, corra pro banheiro e tire este grude. E cuide pra não escorregar...

 

Em seguida, acariciou a cabeça do outro:

— Coitado... Tu deve tá morto de fome. Vou esquentar a sobra do jantar. Tem galinha guisada e inhame.

 

Mais tarde, eles se entreolharam sem saber o que falar. Ela quebrou o silêncio:

— Cês vão dormir aqui na sala, um aqui no sofá e o outro naquela rede. Os quartos estão arrumados pros hóspedes que chegam amanhã. Agora, vou rezar antes de pegar no sono... Boa noite!

 

Era madrugada quando eles acordaram com o bater de asas do galo no quintal. Na cozinha, a mesa já estava posta por dona Ritinha: cuscuz, pão, ovos e café com leite. 


Um deles foi direto ao ponto:

— Quer dizer que a tia nem imagina o que a gente veio fazer por aqui?

— Deixe de conversa fiada, meu filho! Sente aí, coma e mais tarde cuide de arranjar um serviço que é o melhor que cê faz. E bote um boné que o sol tá um horror!

 

Do jeito que chegaram, eles partiram. Nunca mais foram vistos na região. Ela se queixou: 

— Essa gente é mal-agradecida mesmo! Some no mundo sem se despedir… Que coisa, hein?!

— A senhora, pelo menos, perguntou o nome deles? — eu quis saber, imaginando o que poderia ter acontecido com ela e a neta numa noite em que não havia hóspedes na casa.

— Precisava mesmo, filho? Já era quase Natal… — respondeu, afagando um gato que dela não se afastava.

 

Fiquei sem compreender direito o que fazia ali, defendendo "interesses de mercado" (leia-se, de acionistas minoritários do banco que me empregava), que não enxerga com bons olhos manter agências  naquele “fim de mundo”, mesmo sabendo que isso condena esses lugarejos à escuridão da desigualdade e da miséria.


"Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir", diria o poeta Manoel de Barros. 

 
Voltei para casa comovido com a generosidade dessas sertanejas. Querer compreender certas coisas só apequena ainda mais a vida rasa e miúda que a gente leva. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Cobras, lagartos e mercadores de ilusões

Não entendo quase nada de marketing. Portanto, as considerações a seguir são feitas por um aprendiz esforçado e metido, jamais um craque no assunto. E creio que minha condição é partilhada pela maioria de vocês. Feito torcedores de mesa de sinuca, temos teorias que julgamos perfeitas, mas, com o taco nas mãos, o buraco é mais apertado.

 

Na busca por notícias na internet, esbarro a toda hora em links que atiçam a mais elementar carência dos seres vivos: a busca pelo bem-estar. Surgem mais ou menos assim: “Esta fruta poderosa pode fazer sua glicose baixar para...”, “Falhando na hora H? Isso pode te ajudar...”, “Sofrendo com zumbido no ouvido? Temos a solução...” “Uma dose todas as noites para ter uma próstata de criança...”.

 

A captura da suposta necessidade dos internautas acontece com o uso dos chamados cookies (arquivos que os sites hospedam em computadores e celulares, indicando que o usuário já navegou sobre determinadas páginas da rede). É a técnica chamada de retargeting (em tradução livre, “mirar de novo”). Equivale ao que fazia do vendedor de enciclopédias de antigamente um chato de carteirinha.

 

A propósito da velha expressão “chato de carteirinha”, esses novos mercadores de ilusões me lembram os camelôs de drogas que havia nas feiras livres das cidades em que morei. Quem, como eu, viveu alguns anos no Interior ou em pequenas capitais, sabe do que estou falando.


Imagens: Jessier Quirino


No esforço midiático para despertar a atenção do público consumidor, mexiam até com répteis assustadores. Vem de lá a expressão “fala que nem o homem da cobra". 


Conheci um deles que recorria a cascavel, jararaca, jiboia etc. Aliás, a cascavel nunca cheguei a ver, porque estaria dentro de uma caixão de madeira, fechado. Ouvia-se apenas o tinido dos guizos, quando se tocava no baú. 


Ele se exibia com cobras enroladas no pescoço e nos braços. Oferecia uma pomada cicatrizante que, nos dias de hoje, provocaria uma revolução na indústria farmacêutica. Passava um canivete no dedo indicador, de onde escorria um filete de “sangue”. A matutada (eu no meio, óbvio) ficava boquiaberta. O gordinho descarado, sem pescoço, falava alto e ligeiro no microfone, apresentando uma bula bastante robusta: “...Serve pra dor-de-barriga, dor-de-cabeça, dor-de-dente, dores nas juntas, frieira, furo de espinho, olho embaçado, lerdeza do homem, papeira, queimadura, rachadura... É só esfregar… E custa bem baratinho...” Daí, untava o dedo “ferido” e, pouco depois, a pele reaparecia lisinha, nova. Um "milagre" diante da matriz da cidade, onde acontecia a feira livre às quartas e sábados.

 

Conheci outro, que vendia umas garrafadas (mistura de cascas, ervas e raízes) para alívio de "doenças" como “carnegão, catarro preso, lombrigas, prisão de ventre, regra atrasada, tosse de cachorro, unha fofa” e outras. Trazia numa caixa de madeira um filhote de jiboia e um velho teiú. Assim que juntava meia dúzia de fregueses, grunhia algo e chamava pela cobra:

– Salomé, querida, chegue mais, venha cá dar bom-dia ao pessoal!

Claro que a coitada, que não gosta de confinamento, saía com a língua em riste, perscrutando o ambiente. Em seguida, ele chamava o lagarto.

– Joca, venha cá, meu véio, dê bom-dia aos fregueses! Que preguiça é essa!


 

Num dia nada bom, a jiboia não atendeu ao chamado do camelô. Em seu lugar, apareceu o velho teiú, de olhos esbugalhados, com um barrigão, grávido. O camelô, desconfiando de que o filhote de cobra estivesse adoentado, abriu a caixa, conferiu e esbravejou:

– O fila-da-puta do Joca comeu Salomé! Que miserável!

– Se comeu, tem que casar! – sentenciou um matutinho indignado. Achava ele que a cobra estivesse chocando ovos, feito galinha. 

 

Li outro dia que os primeiros registros sobre o uso da maconha com fins medicinais são atribuídos ao imperador chinês ShenNeng, dois milênios antes da era cristã, que prescrevia o chá da erva para o tratamento de gota, reumatismo, malária e até memória fraca (parece comprovada sua eficácia, neste último aspecto, pois nos lembramos disso até hoje). 


A popularidade da Cannabis sativa como remédio se espalhou pela Ásia, Oriente Médio e costa oriental da África. Seitas hindus, na Índia, usavam-na para fins religiosos e alívio do estresse. Médicos da antiguidade prescreviam maconha para tudo, desde alívio da dor-de-ouvido até as dores do parto. 

 

Acho que os camelôs de drogas nas feiras livres sabiam disso no final dos anos 1960, inclusive porque negociavam discretamente uns cigarrinhos finos, escondidos junto ao fumo de corda para mascar ou combater pragas em hortas domésticas. Tudo pelo bem-estar de alguns fregueses. 

 

Não me lembro se a estratégia de venda desses cigarrinhos também envolvia cobras e lagartos. Eu era apenas um moleque curioso, entre 11 e 12 anos. Não entendia nada de marketing mesmo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Só um cafezinho, vai...

Não sei de você, mas, para mim, um cafezinho após o almoço tem o atributo mágico de arrumar as gavetas internas onde guardo minhas conquistas e frustrações. Põe cada pedaço no seu devido lugar, separando frios e quentes, doces e amargos, rígidos e flexíveis, antes do cochilo dos desocupados. 

 

Ilustração: Dedé Dwight 

Outro dia me apareceram uma tontura e um zumbido nos ouvidos. O médico me tranquilizou dizendo que possivelmente se tratava de “um transtorno vestibular”. Achei que estivesse de gozação, dado que o último concurso do tipo em que me meti tem quase meio século. Mas ficou claro, logo depois, que falava de um conjunto de pequenos órgãos dentro do ouvido interno (sistema vestibular), responsável inclusive pela manutenção do equilíbrio do corpo. Da mente, nem se atreve! 

 

Confirmado o diagnóstico com exames complementares, o médico me encaminha a uma fisioterapeuta para fazer "reabilitação vestibular". Ela, então, de primeira pontua que seria muito importante para mim evitar café. E seu argumento me deixa pensativo: tudo o que se come ou se bebe todo dia, a vida toda, um dia o corpo cobra. Caro, às vezes.

 

Penso, mas nada digo: tirando água, canja e chá de hortelã, ela pode ter razão. No entanto, nem deve ter ouvido falar do lendário boêmio Zé do Cavaquinho, que alertava aos frequentadores de seu estabelecimento (“O Trovador Berrante”, em Viçosa, no interior alagoano) de que “em excesso, até água de pote faz mal”. 

 

Resolvo perguntar sobre possível substituto descafeinado, mas ela, de novo, me deixa reflexivo ao indagar se sou daqueles que acreditam que a indústria consegue, de fato, extrair 100% da cafeína, substância estimulante encontrada no café. 

 

Nem me encorajei a contar o que um dia ouvi minha mãe dizer com indisfarçável orgulho: antes de andar ou falar algo inteligível, meus olhos inocentes e semicerrados cintilavam de gozo e prazer diante de café com cuscuz e tapioca, entre uma mamadeira e outra de mingau de maisena.

 

Com o correr dos anos, já me fizeram abrir mão, a contragosto, de um alfabeto de cheiros e sabores que me remetem a lugares em que fui feliz e sabia disso: acarajé, bolacha de sete capas, bolo Souza Leão, broa de goma, buchada, caldo de cana, canjica, cerveja, chocolate, cocada, doce de leite, goiabada cascão, pamonha, pão doce, pastel de rua, pé-de-moleque, picolé de coco, quebra-queixo, rabada, rabanada, rapadura, sarapatel, sonho, suspiro, tapioca, umbuzada... 

 

Estou convencido de que uma pessoa só é totalmente livre quando pode beber e comer à vontade. Pior: até hoje, ninguém me pediu moderação no consumo de verduras e hortaliças, como se mastigar cebola crua não fizesse qualquer pecador ter uma visão prévia do inferno. Vá lá bem picadinha, no vinagrete, se o pernil de cordeiro estiver suculento e com pouco sal. 

 

Tem quem diga que café é rico em antioxidantes, minerais, vitaminas e flavonoides (mesma substância encontrada no vinho, que, há mais de dois milênios, animou a Santa Ceia). Falam até que a ingestão desse néctar poderoso ajuda o cérebro a liberar estimulantes naturais como a dopamina (o hormônio da felicidade, da motivação) e a adrenalina, associada à disposição e a euforia. 


Não boto tanta fé no que circula pela internet porque, quase sempre, existem fabricantes por trás investindo horrores em publicidade. Ou porque as descobertas científicas matutinas nem sempre batem com as vespertinas. Oscilam mais que humor de vascaíno em véspera de jogo decisivo.

 

Creio, no caso, em coisas mais práticas, intuitivas. Por exemplo, nunca vi ninguém cometendo um crime, uma maldade, uma grosseria sequer, enquanto segura pela asa uma xícara de café, lentamente inalando o vapor e admirando os desenhos que se formam sobre a espuma antes do derradeiro gole. 

 

Já não sinto qualquer tontura ou zumbido nos ouvidos, mas estou pensando seriamente em firmar declaração, de papel passado, em cartório e com firma reconhecida (para o caso de, um dia, nem com os olhos poder expressar minha vontade), assim: nos próximos 50 anos, se alguém quiser me obrigar a largar essa infusão dos deuses da mãe-natureza, não serei responsável pelos meus atos. Posso, inclusive, recorrer a um canivete que escondo desde criança em minhas bugigangas. 

 

Antes de consumada a desgraça, quem sabe a gente se senta, entra em acordo e toma um cafezinho (com pão de queijo, vai!) para celebrar a paz e a harmonia entre viventes inacabados e imperfeitos que somos, predestinados à inescapável hora de cada um. 


quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Bolas de Natal

Andam de mãos dadas pela primeira vez a Copa do Mundo e o Natal. Só os deuses do futebol (e os anjos das cabines de VAR) sabem aonde isso vai dar, inclusive para alemães, belgas, dinamarqueses, espanhóis e uruguaios, que já ficaram pelo caminho. Algumas imagens têm lugar cativo na tela da memória de milhões de crianças que, ao redor do planeta, amam uma bola de futebol acima de todas as coisas.   

 

Há muito tempo, ao ganhar de presente de Natal minha primeira bola, senti pelo peso do embrulho – com disfarçada frustração – que não era daquelas de couro com câmara de ar em que se passava sebo nos pontos para protegê-la da água, da lama, dos arranhões no campinho de terra batida ou no calçamento da rua.

 

Ilustração: Dedé Dwight

Era de plástico (vinil). Doía quando batia nas costelas, na barriga ou nas 
coxas, sem falar de outras partes em franco desenvolvimento. Corri pelas calçadas da imaginação encarando adversários, tentando fintá-los, um a um, até a esquina.

 

Finta é aquele lance individual no futebol, vôlei, basquete, boxe ou capoeira, em que bastam duas ou três gingas de corpo para desvencilhar-se do oponente. É fazê-lo acreditar num movimento de ataque ou defesa que não irá acontecer, dificultando sua reação ao que de fato vem em sua direção. É também uma habilidade comum em certas figuras públicas, diante do TCU, do STF ou, pior, da imprensa.

Nunca fui bom nisso.
 Meu dom de iludir floresceu noutros campos. Meu irmão Dula (Hélder), sim, foi craque. Na área esportiva, que fique claro! Baixinho, canhoto, ligeiro, quatro anos mais novo que eu, era doutor na arte da finta, com imperdoável requinte: o escárnio sobre os adversários enfileirados que queriam esquartejá-lo após firulas e risos de deboche. Só não conseguiam por conta da proteção de anjos da guarda bons de briga de rua: seus três irmãos mais velhos. 
Não fosse tão míope, Dula teria voado, com suas fintas, no céu do planeta da bola.


Por falar em fintas — que imortalizaram Carlitos, Garrincha e Muhammad Ali em diferentes campos artísticos —, dava para ver que se tratava de uma dança lúdica, de que algumas crianças já nasciam sabendo seus passos de cor e salteado, assim como choravam, dormiam ou mamavam. 

 

Esse “vou-não-vou... fui!” era aperfeiçoado na mais tenra idade. De tardezinha, quando o sol esfriava, na porta de casa surgia sempre uma mãe cansada e impaciente com uma chinela na mão em forma de ultimato, obrigando a meninada a correr para o chuveiro no melhor da brincadeira.

 

Muitas vezes, o medo de se molhar levava a dona da chinela — nada mais que uma zagueira sem jogo de cintura — a desistir da perseguição, mas não de uma advertência capaz de diluir a cera dos ouvidos daqueles que se faziam de surdos: "Tire o grude das orelhas, cabra safado, senão eu lhe pego depois..."

 

Sobre motivar as primeiras fintas diante dos obstáculos da vida, a chinela virava instrumento pedagógico bem mais razoável do que, por exemplo, a palmatória ou o cinturão. De ruim, só o vexame quando a lapada na bunda acontecia ainda na rua, na esteira da gozação de uma vizinhança nada solidária.

 

Mesmo assim, com todo respeito a quem pensa diferente, a chinelada continha inegáveis atributos psicológicos: restabelecia limites esquecidos e estreitava laços de afeto entre mães e filhos. Tanto que, dos sons que guardamos na memória, um dos mais nítidos é o daquele corretivo nas nádegas. Quando na bunda dos outros, inclusive, o som parecia ainda mais interessante.

 

Era indispensável que fizesse aquele barulho clássico que quase todo mundo já ouviu, sob pena de não surtir o efeito esperado nem ficar retido na lembrança. O estalo inconfundível seria a tecla play da trilha sonora de um choro sentido que na maioria das vezes desaguava num abraço pleno de amor, lágrimas e remorso.

 

Há quem diga que são necessários pelo menos 400 anos para que um objeto de plástico se decomponha e desapareça para sempre do meio ambiente. Se isso é verdadeiro, invoco o meu sagrado direito de interrogar a mãe-natureza: aonde foi parar a minha primeira “amiga do peito”? 

 

Ninguém sabe que fim ela levou. Se houve crime — Furto? Roubo? Esquartejamento e ocultação das partes? —, está prescrito, perdoado. No trem que partiu da estação de minha infância só me deixaram trazer algumas imagens que vagam, de novo, nas sombras de minhas recordações neste Natal.