O romancista e poeta baiano Carlos Barbosa me contou que “O Meu Pé de Laranja Lima”, um clássico da literatura brasileira escrito por José Mauro de Vasconcelos, publicado originalmente em 1968, acaba de alcançar a marca de 400 mil exemplares vendidos na China. Trata-se da história de Zezé, um menino de cinco anos muito esperto e sensível. Tornou-se leitura escolar para as crianças chinesas.
A tradução foi feita por Ma Guangping e publicada pela primeira vez em 1983. Ela é conhecida por trazer várias obras literárias brasileiras para o público chinês, ajudando a promover nossa literatura no Oriente.
A notícia me fez lembrar da história de meu amigo Maneco. Ele passava horas contemplando a sombra de uma varinha cravada no chão do quintal, que mudava de posição a cada instante, até o pôr-do-sol:
– O que você faz aí, hein?
– Tô vendo o tempo passar, mãe...
No terreiro, além da cerca de avelós, do pé de manga espada e do galinheiro, havia o areal onde ele brincava com a irmã, inclusive nas noites de lua cheia, até ouvirem o alerta materno:
– Tá na hora de lavar os pés, beber água e dormir!
Ele e Jacira, sete e oito anos, os caçulas dos sete filhos de Chicão e Mariquinha, nasceram num pequeno sítio à margem do rio São Francisco, distante seis léguas da cidade de Pedregulho. O sustento de todos vinha da pesca, da engorda de algumas crias e do plantio de mandioca, milho e feijão.
Em noites de lua cheia, um impulso misterioso levava algumas mães na zona rural a, de repente, querer mudar para cidades maiores, na esperança de que os filhos descobrissem um mundo novo, aprendessem a ler, a fazer contas, a enxergar na escuridão. Não foi diferente com Mariquinha, na metade do século passado:
– Chicão, nem pense que vou deixar esse menino ser criado aqui como Deus criou capim. Nem ele nem a irmã, viu?
– Ficou doida, foi?
– Se quiser ficar, fique, mas vou levar os dois pra estudar na cidade.
– E vão viver de quê?
– Não sei. Deus dá jeito...
Contrariando o marido, que permaneceu no sítio na companhia do primogênito, Mariquinha partiu resoluta, carregando os filhos mais novos. Ao chegar em Pedregulho, alugou uma casa na periferia e conseguiu empregos menores para os três filhos mais velhos, agora responsáveis pelo sustento da família. E decidiu alfabetizar os caçulas.
As crianças estudariam numa escola profissionalizante. Jacira não se animou, mas o menino até pensou virar alfaiate para costurar aquelas roupas elegantes que os mais abastados vestiam na igreja. Durante o ano letivo, ambos se destacaram, sendo Maneco escolhido orador da turma na festa de formatura. E ela, integrante do coral, de última hora foi substituída por uma filha da elite local.
Escondida da mãe, Jacira chorou muito. A professora, buscando contornar a situação, a fez declamadora. E lhe ensinou um poema sobre as dificuldades de uma órfã num mundo hostil do pós-guerra. No dia do evento, a menina, com olhos úmidos e mãos espalmadas, foi intensa e comoveu a todos, inclusive sua mãe:
– Chore não, minha filha, sua mãe tá viva! Olhe pra mim, bem aqui na sua frente!
Depois Maneco subiu ao palco e leu um discurso redigido pelo diretor da escola, começando assim: “O tempo pode ser medido pelas batidas de um relógio ou pode ser medido pelas batidas do coração...” E arrematou com “O trabalho”, de Bilac:
“(...) É preciso trabalhar.
Não nasce a planta perfeita
E nem nasce o fruto maduro.
Para se ter a colheita
É preciso semear (...)”
Para quem assistiu, nascia ali uma grande atriz como Bibi Ferreira, digna de sonhar com cinema e teatro. Nascia também um escritor. Maneco devorava livros de Monteiro Lobato, fascinado pelas aventuras de Emília, uma boneca de pano com sentimentos e ideias libertárias.
A mãe exultava àquela altura, ainda mais porque o pai, tangido pela saudade, já se desfazia do sítio para se juntar aos seus no Natal de 1958.
O relógio, ansioso a vida toda, andou ligeiro desde os tempos em que a sombra de uma varinha no quintal mudava a cada instante, até o pôr-do-sol dos dias de hoje.
Maneco e Jacira, hoje meus vizinhos de prédio, setentões, aposentados e viúvos, até conseguiram graduação universitária, mas não foram longe. Ela se casou com um comerciante, virou dona-de-casa e teve três filhos, que lhe deram seis netos. Ele também se casou, possui dois filhos e dois netos, e trabalhou por três décadas num grande banco estatal que lhe pagava o suficiente.
Voltaram a viver juntos durante a pandemia, cuidando-se mutuamente, das caminhadas matinais aos remédios de cada um. E passam horas ouvindo as batidas de um velho relógio na parede da sala-de-estar, ambos com as retinas ressequidas de tantas telas. Não mais se debatem contra fatos e feitos. Quando o futuro vira passado, de nada serve o que podia ter acontecido.
Ontem, vendo o pôr-do-sol à beira-mar, Maneco comentou que gostaria de reencontrar sua mãe, a avisá-lo de novo: “Tá na hora de lavar os pés, beber água e dormir”. Do seu lado, Jacira fez o sinal da cruz e ressalvou: “Sem pressa, meu irmão!”.
Que história comovente
ResponderExcluirDe gente do meu sertão
Que muda para a cidade
Em busca da educação
Os Manecos e Jaciras
São algumas dessas tiras
No nosso vasto mundão.
Que história linda. Talvez sejamos todos feitos de sonhos e de lua mais do que qualquer outra coisa. Dedé Dwight
ResponderExcluirÓtimas lembranças de quem morou no interior e aprendeu na lida e com algum manual, as tarefas que foram desempenhadas no trabalho. A importância de fazer uma apresentação na escola com cartolina e papel pautado e o privilégio de ser orador ou “desfilar” como destaque no 7 de setembro.
ResponderExcluirEsta crônica retratou a luta das diversas Mariquinhas em busca do melhor para suas crias. Parabéns Hayton.
ResponderExcluirSão as histórias reais em um mundo tão desigual, onde Maneco e Jacira, com ajuda de sua matriarca, conseguem brilhar e colorir os seus mundos, o que me faz lembrar da música Aquarela, e aqui deixo partes dela:
"🎼... E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela, ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia enfim (descolorirá)..."
Leio tudo isso, colhendo sabedoria e lógico adquirindo conhecimentos imaginários dessa vida no sertão. Obrigado a ambos.
ExcluirMuito lindo ,Hayton ! Obrigada !👏🏻👏🏻
ExcluirResumo perfeito de uma história tão grande … lindo!
ResponderExcluirBonita história desses pequenos guerreiros que foram bem direcionados por essa mãe com visão de um futuro melhor para seus filhos.
ResponderExcluirObs.: essa crônica devia também ir pra China.
Show de crônica, Hayton!!!
ResponderExcluirHayton, grato por esta excelente crônica, lastreada nas ocorrências da vida, nos acontecimentos vivenciados por pessoas simples como nós , mas que se revestem de um colorido especial quando viram lembranças ! Parabéns !
ResponderExcluirVou te falar uma coisa. Se tiver um próximo livro essa história tem que tá nele. Se não tiver vou mandar uma nota de protesto no Reclame Aqui. Que história tão sensível e bela. Que forma mais singela de falar sobre o amor em forma do tempo. Ganhei o dia. Obrigado.
ResponderExcluirMeu caro, simplesmente emocionante
ResponderExcluirBom dia, caro amigo Hayton! Que linda e comovente história você nos proporcionou com a sua grande maestria de sempre. Naturalmente ela me fez retornar no tempo e relembrar momentos especiais e incríveis que somente a simplicidade do amor consegue modelar. Parabéns meu amigo! Felicidades! Abraços. Ulisses
ResponderExcluirUma historia inteira numa crônica. Num certo momento senti que estava lendo um romance, daqueles que prendem os olhos da gente e despertam as emoções à medida que vai se desenrolando.
ResponderExcluirComo se diz: Passou um filme na minha cabeça. Passou um romance.
Da mesma forma que em outras oportunidades Hayton transcreve uma biografia de seres que com simplicidade encontram a razão de viver.
ResponderExcluirPuro lirismo para quem lê. É grande a sensibilidade do autor. Que, conforme demonstra na sua escrita, tem conhecimento profundo dessa realidade. Tudo viu. E se emocionou. Decidiu, então, falar dessas coisas mundanas, mas singelas. Nomes, tipos, histórias. Tudo existe, de fato...
ResponderExcluirSentir e perceber o tempo passar. Sorver com gosto as suas nuances. Eis uma competência que o mundo contemporâneo tem nos tirado. É comum se dizer que o tempo anda passando muito depressa. Não acho que seja isso. Nós é que andamos passando depressa demais por ele. Sem viver a intensidade do instante. Furtiva, etérea, fugaz. Temos sido mais Chronos do que Kairós. Este, o tempo da fruição, vive presente nas "desimportâncias" daquilo que se repete belo todos os dias, entre o nascer e o pôr do sol. Qual a sombra da varinha que compassava o círculo do tempo aos olhos contemplativos do menino sertanejo. Estória linda, Hayton. João Gimenez
ResponderExcluirSimplesmente emocionante!
ResponderExcluirBela crônica!
Zezito
Mais uma crônica magistral.
ResponderExcluirDetalhe: "Lavar os pés e dormir"; quem nunca...?
O Anônimo sou eu. Rsrsrs
ResponderExcluirMais uma vez as lembranças da infância retornam nesta crônica brilhante, da leitura do primeiro romance, da minha Tia Lurdinha, primeira PROFESSORA, ou PROFESSORA de primeira, que me ensinou o bê-á-bá, e do pomar da casa da minha avó FELICIDADE, que também tinha O Pé de Laranja Lima".
ResponderExcluirTorcemos que com o "passar do tempo", a sombra na varinha mágica do Maneco, seja para todos, nos lembrando que naquela época, "éramos felizes e não sabíamos".
O clássico “Meu pé de Laranja Lima”, também foi leitura no meu tempo do ensino primário. Aliás, a obra foi adaptada duas vezes para a tevê brasileira e para o cinema. O pioneirismo na televisão credita-se à Rede Tupi de Televisão, em 1970, com elenco de peso da teledramaturgia brasileira, dentre eles Haroldo Botta(Zezé), Cláudio Correia e Castro, Eva Wilma e Carlos Zara, dentre outros. Mesmo com as dificuldades de transmissão da época, eu tive oportunidade de assistir. Ainda era em preto e branco, pelo menos pra nós.
ResponderExcluirÉ interessante que ao abordar a simplicidade, na maioria das vezes, a gente evoca imagens e lembranças da vida rural. Por que será? Não é à toa que o inconsciente busca a compatibilidade de significados. A vida rural ou interiorana nos coloca mais em sintonia com o próprio eu, pessoas e o meio ambiente. Mas será que é tão simples assim? Não sei dizer! Se você observar, a sua imagem escolhida na crônica, ainda que produzida pela mais alta tecnologia, também tem sérios problemas de nitidez. E aí está o problema, na minha visão: ser simples dá um trabalho danado. E se é difícil pra tecnologia, imagine pra nós?
De uma coisa não tenho dúvida: o segredo da vida é reduzir drasticamente tudo que nos colocam em excesso e aceitamos: telas, informações e dúvidas. Precisamos de pouco para ter uma vida melhor. Parodiando aquela regra matemática do Mínimo Múltiplo Comum(MMC) para se encontrar a Mínima Vida Comum(MVC) precisamos iniciar já a decompor os fatores. Encontrar a resposta certa fica por conta de cada um.
Brilhante, João. Abração!
ExcluirA crônica toda é linda, singela e ao mesmo tempo profunda.
ResponderExcluirUm trecho que me pegou foi: “setentões, aposentados e viúvos, até conseguiram graduação universitária, mas não foram longe”.
Quem de nós já não pensou se poderia ter ido “mais longe” na vida, em vários sentidos?
Lembrei da reflexão do Artur Roman quando completou 70 primaveras (ou seriam invernos?) no ano passado.
Num trecho, dizia Artur: “Uma etapa importante em minha vida começou quando me dei conta de que havia atingido a plenitude de minha insignificância”.
Ele chamou isso de o “ápice do nada”. Não achou ruim! Talvez a grande sabedoria seja compreender que todo “lugar” aonde se chega vale a pena!
Sem dúvida, "todo 'lugar' aonde se chega vale a pena". E repito o que me disse mais cedo outro velho amigo (Renato Naegele), numa alusão ao desfecho do texto: "Sem pressa é o segredo do tempo".
ExcluirLEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA
ResponderExcluirLembranças da minha infância
Que há muito para lá já passou
Mas quando fecho os olhos
Ainda sinto o cinto
“SHULAP”!!
E como sinto!
Fazer traquinagem dá nisso mesmo
Bom só na hora, mas depois...
o cinto!
Hoje já não pode
O cinto
Onde já se viu!
Prefiro minha infância
Mesmo com o cinto
E saudades dela (lá) eu sinto
Stoney Palmeira Melo
Hoje você foi porreta meu amigo. Mexeu comigo com força. 1958 foi o ano do início da minha caminhada, num pau-de-arara, que durou 13 dias, da Paraíba até o canteiro de obras da nova capital federal. Minha mãe foi escritora e roteirista dessa história, mesmo sendo analfabeta.
ResponderExcluirAbraço
Sensacional, Valdery. Por coincidência, em 1958 eu nasci lá na Paraíba. Um dia, nos encontramos em Brasília. Um dia, nossos netos, felizes, irão rir disso tudo.
ExcluirMais uma vez somos agraciados com uma belíssima crônica que nos faz pensar e refletir... Quantos sonhos e projetos "de nada servem o que poderia ter acontecido", porque já viraram passado... Sempre fomos induzidos a seguir à risca o que Bilac nos ofereceu: "(...) "E, se hoje sou venturoso, devo ao trabalho o que sou (...)." Mas, quando ficamos observando "a sombra mudar" ou a grama crescer, é que "cai a ficha": estamos no limiar do "ápice da vida"...
ResponderExcluirHayton, parabéns por mais uma narrativa emocionante e interessante de hoje, caso haja uma reflexão em relação às oportunidades e condições que alguns têm e outros não, mas quem as aproveitam ou não.
ResponderExcluirEm tese, filho de rico teria todas as oportunidades em estudar, ter uma carreira profissional brilhante e uma vida melhor do que seus pais, mas muitas vezes observamos que assim não acontece.
Já o pobre, também em tese, não teria oportunidades e estaria predestinado em ter uma vida miserenta tanto quanto seus genitores, mas também observamos que essa realidade pode mudar e ser diferente.
Onde estaria então a chave para virar essa situação? Acredito que seja na moral, caráter, personalidade e determinação com o desejo de superação, pois são características humanas que independem em ser rico ou pobre.
Claro que o pobre sempre terá muito mais dificuldades, mas sempre aproveitará as oportunidades quando uma mãe, mesmo sem cultura, porém com determinação de uma “Mariquinha,” entende que seus filhos, através dos estudos, podem ter uma vida melhor, mas aí também temos que ter os “Manecos” e “Jaciras” com a mesma vontade.
O estudo realmente transforma uma sociedade, mas para diminuir as diferenças das classes sociais e dar oportunidades aos menos favorecidos, temos que ter um projeto contínuo de governo, independentemente da ideologia política.
Nelson Lins
História comovente! Os personagens e tudo mais relatados nessa crônica conduz-nos a refletir sobre a vida pregressa de muitos de nós, brasileiros, advindos da roça. Senti-me inserido nesse contexto.
ResponderExcluirQue beleza, amigo, que beleza!
ResponderExcluirE mais uma crônica-nave que nos faz viajar à China, aos recantos poéticos do interior, à nossa realidade urbana cheia de surpresas e superações. E todo o trajeto pavimentado com tanta poesia, tanta leveza. Parabéns, Hayton! E com ela você ergueu os púlpitos para as mães que não se entregam e acreditam e fazem; aos escritores memoráveis que continuam a nos inspirar, provando que a arte e o conhecimento podem se eternizar.
ResponderExcluirQuando a crônica supera todos os limites, os leitores fazem comentários até sob forma de poesia. Belo texto! Parabéns!
ResponderExcluirBelíssima e comovente história. D.Mariquinha representa uma parcela de mulheres, que mesmo contrariando os maridos, se lançam corajosamente à busca de um futuro melhor para seus filhos. Parabéns!
ResponderExcluirNo interior de São Paulo, na década de 50/60, o que mais se via era esse “mudar de vida” mudando da zona rural para a cidade. Um caminho mais curto que os nordestinos faziam pra “sumpaulo”, mas não menos difícil e complicado. Dar certo ou não, sempre esteve ligado à resistir e perseverar, não existe talento sem dedicação e nem sucesso sem trabalho. Belo registro de uma história, que se repete até hoje.
ResponderExcluirSou solidário com Jacira. Sem pressa meu irmão. "...Me poupa do vexame de morrer tão moço, muita coisa ainda quero olhar."
ResponderExcluirMuito bom, meu amigo, evocar o “misterioso” Ednardo neste comentário.
ExcluirEssa frase do Ednardo bem que poderia ser inserida, sem nenhum prejuízo, naquela oração que Jesus nos ensinou: "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o vosso nome, venha nós o vosso reino..., "...nos poupa do vexame de morrer tão moço...". Alguns puristas, é provável, reclamariam, mas fazer o quê?
ExcluirPoxa, que história bonita, na existência e no texto!
ResponderExcluirÉ daquelas que a vida decide tirar dos contornos da ficção e traz para a realidade.
Um poema!
Acabei de ler o seu belo texto de hoje. Fiquei surpreso e contente com a importante informação da vendagem do livro “O meu pé de laranja Lima” na China. Que coisa maravilhosa!!!
ResponderExcluirO belo exemplo apresentado pela mãe dos garotos, levando-os do interior para uma localização mais adiantada com o intuito de melhorar as condições educativas dos filhos, enche-nos de alegria e prazer, por ver o triunfo do esforço de quem se dedica e enfrenta as adversidades, mesmo diante da resistência do marido, que não enxergava além do horizonte iletrado. A recompensa foi ser vitoriosa nos seus objetivos.
Parabenizo-o por mais esse maravilhoso texto, cujo resultado é o apoio de tantos leitores que formam a sua imensa galeria no gênero.
Pelo que eu vi, eu sou o 43. leitor que se debruça sobre o tema e deixa o seu registro.
Espero que continue firme e prossiga nessa admirável luta em prol do enriquecimento cultural do seu público leitor.
Até a próxima.
Fica cada vez mais difícil postar aqui algum comentário sobre suas crônicas.
ResponderExcluirCada uma mais tocante, comovente e arrebatadora, elas nos deixam não só reflexivos, mas boquiabertos até, como é o meu caso.
A maestria com o jogo de palavras é mais que singular, mas, não bastasse isso, a capacidade criadora é digna de nem sei o que.
Esta crônica de agora, por exemplo, não me surpreenderia se soubesse que você se inspirou em história de pessoas bem próximas e produziu um conto com detalhes de um Jorge Amado, fazendo aqui um comparação pequena.
Enfim, nem você é capaz de antever aonde chegará.
Mande brasa...
Mais uma lágrima se formou, no canto do olho, e persistiu. Como é constante identificar-se com as histórias que você conta. Só existo (e penso), porque meu pai se atreveu a afrontar o próprio pai, indo para São Paulo. Lá, encontrou uma jovem "bóia fria", nascida em Mocóca, mas que morava em Campinas. A "dúvida" sobre sua idade, é porque seu Registro de Nascimento só foi feito, para que ela pudesse casar, dois meses depois. Ela trabalhava no corte da cana e na colheita de café. Ainda teria muito para contar: de como meu pai voltou para o Rio Grande do Sul, levando ela, quase a contragosto, com uma filha no colo; como ele se tornou Ferroviário; como eu cheguei e depois mais três (pela ordem, um menino, uma menina e o caçula), mas prefiro (preciso) parar por aqui. Peço desculpas!
ResponderExcluirNa tirania tempo e ganha pão, jazem ideais que se adiam em prol do que é mais urgente, saúde mental e conforto posprandial.
ResponderExcluirNeste país de muitas riquezas ainda falta melhor gerenciamento dos seus cérebros, pois somente com doses de sorte e censo de oportunidade alguns se sobressaem das redes de compadrio dos nossos sertões...
Uma crônica muito comovente. Raro é o nordestino que não tenha testemunhado esse tipo de migração do campo para a cidade
ResponderExcluirgrande. Me lembrou A Triste Partida de Luiz Gonzaga, mas com um final melhor. Assim foi com a família do meu pai, que migrou de Boca da Mata, Alagoas para Salvador na esperança de encontrar uma vida melhor.
Nascer pobre não é facil. São muitos os desafios e são esses que fazem o couro endurecer e tornam essa gente forte.
Parabéns!!!
Belíssima crônica!
ResponderExcluirImpossível não perceber a inspiracão, assim como não se emocionar. Ao longo da vida vamos escutando remendos e tentando tecer histórias, mas sempre falta uma parte (que se perde no tempo, nas memórias de quem viveu, nas memórias de quem ouviu) e é sempre difícil enxergar o todo. Juntar isso tudo - com uma pitada de ficcão - e compor uma poesia (em prosa) dessas é pra poucos.
Obrigado pelo presente - me fez lembrar que podemos até ir a lugar nenhum, mas não viemos do nada
Isso não foi uma crônica, meu amigo, mas a sinopse de um novo romance. Pode continuar ou concluir. Valeu a emoção.
ResponderExcluirComo bem disse o Carlos Volney, está ficando cada vez mais difícil comentar (e eu sei que você gosta dos comentários). O que mais dizer sobre esta crônica? Sensível, do início ao fim. Antológica no meu modo de ver e de ler.
ResponderExcluirEmocionante! Gostei de saber que Meu pé de laranja lima chegou até a China. Outro dia o reli , depois de algumas décadas. E os comentários complementaram a beleza do texto!
ResponderExcluirMuitos “Manecos” entraram no BB. Todos de origem humilde, buscando um “Porto Seguro”. Eu nasci na “roça, próximo à cidade baiana de Jaguaquara. Quando eu tinha 3 anos de idade, minha família mudou-se para Vitória da Conquista à procura de melhores oportunidades.
ResponderExcluirMinha Certidão de Nascimento é de Conquista. Naqueles tempos, como a mortalidade infantil era muito alta, as famílias pobres deixavam passar algum tempo para ver “se criava” para, então, fazer o registro da criança. Mas “não sou gato”. Nasci mesmo em 1947.
Aos 10 anos, eu já trabalhava com meu Pai em uma venda e, nos dias de pouco movimento, ele me deixava tomando conta do negócio sozinho, já que, para complementar a renda ele fazia de tudo: Pedreiro, carpinteiro, pintor de parede, consertos de sapatos (meia-sola), costura de bolas de futebol,confecção de caixão de defuntos, conserto de bicicletas, venda de jogo de bicho, etc, etc.
O velho era semi-analfabeto. Aprendeu a ler e escrever (para “o gasto”) sozinho. Faleceu em 1999 e continua sendo meu “herói”. Tive forte relação com ele porque minha mãe era muito doente.
Tenho 5 irmãos vivos e 1 morto, mas durante 10 anos éramos apenas eu (mais velho) e outro (1 ano mais novo).
Eu e esse irmão passamos no difícil “exame de admissão ao ginásio” e nosso pai nos perguntou quem queria continuar estudando. Eu disse que queria e meu irmão disse que queria continuar trabalhando em uma oficina de automóvel. E assim aconteceu. Meu irmão se tornou Eletricista de automóvel e eu, como Maneco,consegui entrar no BB, que era o meu grande sonho. Lembro que eu saia da Escola, fazia um percurso até maior para passar em frente ao prédio do BB e afirmar para mim mesmo: eu vou trabalhar aí!!
Nasci na roça onde havia muitos Pedro, João, Antônio, Manoel, Joaquim…Não sei porque sou Altamirando. Esqueci de perguntar aos meus falecidos pais.
Que delícia de história, Hayton: bonita, comovente e inspiradora.
ResponderExcluirQue coisa boa.
Breve crônica de uma dimensão extraordinária!
ResponderExcluirO anonimato aqui pode ser a cátedra em outras dimensões. A semente foi plantada e, ao longo de mais de setenta anos, adubada. Jacira e Maneco entrando no céu: "- Licença, meu branco " E Pedro, lá daquelas banda retruca "-Que é isso, Jacira e Maneco, vocês não precisam pedir licença ". Show de crônica.
ResponderExcluirExcelente crônica! Uma viagem no tempo para uma sertaneja “da gema” que ganhou o mundo com quatro crias e um sonho de fazê-las voar alto. Obrigada, meu caro Hayton!
ResponderExcluirDenise Eloi