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Mostrando postagens de março, 2021

Goiabinha, o doce teimoso

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A professora Inacinha ouviu baterem palmas à porta de casa, próxima à Praça da Faculdade e ao Cemitério São José, no Prado, em Maceió. Lá fora, deu de cara com Baiano e Fumanchu quicando bola na calçada, a recrutarem interessados no racha das quatro da tarde: – Goiabinha tá aí? – quis saber um deles.  – Aqui não mora nenhum Goiabinha!  – respondeu uma z elosa tia  –  O nome é Paulo Fernando Paraíso de Carvalho, por sinal, um bonito nome . Órfão de mãe, criado pela tia com açúcar, afeto e seus livros prediletos, Paraíso queria ser jogador de futebol, como tantos meninos que ouviram pelo rádio o maior drama do Brasil até o vexame de 2014: a derrota para o Uruguai por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã.  Anos depois, já funcionário do Banco do Brasil, lembrava disso toda vez que seu nome completo era mencionado no ambiente de trabalho e os colegas – inclusive alguns comparsas de infância – completavam numa só algazarra: – Por sinal, um bonito nome!  Aposentado há 28 ano

Coisas de pai

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Há pelo menos duas décadas ele reveza estadias na Zona Sul do Rio de Janeiro com temporadas cada vez mais longas no interior da Bahia, onde cria galinhas, cultiva cocos e fotografa “os bêbados e as crianças mais lindas da região”, como diz.   Quando adolescente, queria ser músico. Mas o pai, ouvindo-o cantar certo dia, foi sincero como todo pai deve ser (um pouco mais, talvez): “Filho, me poupe os ouvidos”. Assim, engoliu como pôde a sentença paterna – um nem tão diligente servidor público, vinculado ao Ministério das Relações Exteriores – e desistiu da música.   Talvez, para seu pai, ele devesse concluir os estudos básicos e prestar concurso público para ingressar numa daquelas instituições que ofereciam salários generosos e pagos em dia, garantindo uma vidinha sem sobressaltos com mulher, filhos, sogra, igreja e praia ou zoológico aos domingos. Natural que fosse assim. Pai da gente, até uma certa idade nossa, está sempre certo. Só começa a vacilar feio depois que aprendemos a andar c

Camisas coloridas

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A rainha Vitória, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda  – tataravó da atual monarca  – , cujo reinado duraria 63 anos, tomou uma decisão em 1861 pra lá de radical. Com a morte de seu marido, o príncipe Albert, resolveu guardar luto pelo resto de sua vida usando roupas pretas nos 40 anos seguintes, isto é, até 1901, ano em que faleceu. Não se sabe se a medida alcançou sutiãs, espartilhos, anáguas, combinações e calçolas. A história não se intromete nessas intimidade s   e relata apenas que passou a vigorar naquele tempo uma regra vitoriana determinando que as viúvas usassem o preto como luto.  A mulher que perdesse seu marido, portanto, teria que usar vestes negras – inclusive véu para cobrir o rosto, daí surgindo jóias e outros acessórios na mesma tonalidade – por, no mínimo, dois anos e meio.  Jornais da época também estimularam o uso da cor escura em ocasiões como a morte da sogra ou do sogro de seus filhos casados, por seis semanas.    No começo do século 20, com a morte da rain

Ouro Branco

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Próximo ao lago Paranoá, sob a vigília do céu anil da capital da República, o condomínio  Ouro Branco  acaba de receber seu mais novo morador. Não fosse pelo sobrenome e pelo tino para negócios imobiliários (que invejosos promotores públicos chamam de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa), ninguém prestaria muita atenção à compra, por 6 milhões de reais, de uma mansão de 2.500 metros quadrados, com quatro suítes, piscina e   spa   com aquecimento solar, espaço  gourmert , home theater  e academia.   Às vésperas de mais uma Páscoa sem chocolates nem netos por perto, antes de qualquer comentário mais amargo, preciso resgatar que esse foi o 20º imóvel que esse abençoado cristão negociou nos últimos 16 anos. Aliás, em declaração à Justiça Eleitoral, há dois anos, ele jurou de mãos levantadas e pés juntos ter patrimônio de 1,74 milhão de reais, quantia compatível com seu atual salário líquido, de 25 mil reais.    Para os que duvidam do talento comercial desse cidadão latino

Essa gente não toma jeito!

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Se ainda estivesse entre nós, Nerival, um sergipano narigudo, sobrancelhas espessas, a cara do feiticeiro Gargamel (aquele do gato Cruel!), de  Os Smurfs, certamente teria boas histórias para contar.  Trabalhamos juntos no início dos  anos 90, em Salvador,  quando ele me contou de uma memorável carteirada em que se envolveu, em Aracaju , onde passava os fins de semana com a esposa e os filhos .  Se fosse vivo, morreria agora de rir daqueles que, neste momento, sob inconfessáveis meios e modos, sonham com um tiro certeiro capaz de furar a fila da vacina contra a covid-19. "Essa gente não toma jeito!", diria ele.   A carteirada a que ele se referiu não foi do tipo em que o sujeito exige privilégio por conta do cargo, profissão ou posição social que ostenta para obter vantagens não financeiras (cortesias, favores etc.), inacessíveis aos anônimos mortais.  Como fez há poucos meses um certo "deusembargador" ao atropelar no grito um guarda municipal – “veja com quem você