Esqueça tudo que você sabe sobre papel higiênico. O futuro (ou seria o passado?) reserva algo inesperado e preocupante para o seu banheiro.
Nada como um bom e confiável rolo de papel, macio e reconfortante, não é? Um marco civilizatório definitivo, separando o primitivismo da dignidade moderna. Mas, em tempos em que até a roda anda ansiosa com tanta reinvenção, surge uma nova tendência nas redes sociais: substituir o papel por panos reutilizáveis. Sim, panos. Aqueles de enxugar louça ou do lavabo agora podem ganhar status de item sanitário premium.
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Reprodução/TikTok |
Esta semana, uma família de seis pessoas viralizou no TikTok ao compartilhar sua experiência com essa alternativa. Jazmine, a matriarca da resistência ao papel higiênico, explicou que a decisão foi motivada pelo desejo de levar uma vida mais sustentável. Assim, cada membro da família tem seu kit de paninhos, que usa, lava e reutiliza. Tudo armazenado numa cesta, como quem organiza calcinhas, cuecas, meias ou pães caseiros. Um verdadeiro enxoval de alta costura para o momento mais íntimo após o café da manhã.
Os adeptos defendem que os panos preservam o meio ambiente e o bolso, reduzindo o desmatamento e o consumo de celulose. No entanto, a adesão à prática exige planejamento e uma rotina impecável de lavagens – afinal, ninguém quer errar na cor do pano e pegar um que já tenha antecedentes pastosos.
Os céticos, por sua vez, argumentam que trocar o rolo pelo retalho pode ser um convite ao caos doméstico, trazendo dúvidas acerca da higiene, logística e, principalmente, sobre aquele momento emergencial onde ninguém tem a mínima condição de esticar a conversa sobre os impactos ambientais da própria evacuação. Mas Jazmine rebate, segura de sua contribuição à posteridade: há panos de tamanhos diferentes para diferentes situações, como quem fala de um jogo de cama de luxo. E a lavagem frequente? Fundamental! Afinal, não se trata de um revezamento olímpico de dejetos humanos.
A polêmica reacendeu velhos métodos de higiene. Se você não sabe, antes da era dourada do papel higiênico, o ser humano já havia dado seus pulos criativos. Os romanos, por exemplo, usavam um tersorium – uma esponja presa a um cabo, mergulhada em água salgada ou vinagre. Isso nos banheiros públicos, onde podiam trocar ideias e especular sobre a vida alheia enquanto faziam o descarte orgânico. Já os vikings tinham uma abordagem, digamos, mais colaborativa: em terra, lã de ovelha resolvia o problema; no mar, uma corda pendurada para fora do barco cumpria a função – usada coletivamente, diga-se de passagem, numa folia de coliformes benzida pela boa vontade das ondas.
Os esquimós, acostumados ao frio polar, tinham uma solução gelada: neve. E os colonos americanos do século XVII? Espigas de milho – às vezes inteiras, às vezes só a palha ou o sabugo. No Japão antigo, um gomo de bambu prestava o serviço, limpando por dentro e por fora. Serviço completo.
Se existissem redes sociais na Idade Média, certamente teríamos posts entusiasmados sobre a melhor textura para um galho seco, um sabugo de milho ou um gomo de bambu.
A verdade é que a civilização tentou de tudo antes de inventar o rolo de papel higiênico. Meu amigo Arnaud, falecido no início dos anos 1990, defendia inclusive a ducha e sabonete, aliado ao papel. Dizia ele, entre goles e reflexões etílicas: “Experimenta passar um pouco de titica no braço e limpar só com papel, depois cheira e vê se está limpo mesmo!”. Pois é, nem tudo se resolve no seco.
Se você está tentado a aderir ao movimento dos panos, vá em frente. Mas lembre-se: a modernidade trouxe algumas conquistas que merecem ser protegidas com unhas, dentes e, sobretudo, um rolo de papel sempre ao alcance das mãos. O banheiro continuará sendo um espaço também reservado a leitura e reflexões filosóficas, porém ninguém deseja voltar ao tempo dos romanos e compartilhar uma esponja suspeita.
Mas quem sou eu para julgar esses novos (ou velhos) costumes? Se a moda pega, talvez o futuro reserve banheiros high-tech onde um braço robótico estenda um pano de microfibra e um algoritmo avalie a “eficiência do serviço”. No fundo, sem trocadilho, tudo se resume à ilusão de progresso – e ao eterno dilema de como sair limpo dessa história. O que importa não é o método, mas a garantia de que ninguém precise dar uma segunda checada pelo olfato.
E que ninguém invente o "desafio do pano comunitário". Aí sim, talvez decretemos estado de calamidade pública: a humanidade vai precisar ser passada a limpo.