quarta-feira, 22 de março de 2023

Segue o baile

Meu filho, hoje quarentão, outro dia compartilhou comigo a nova grade de aulas complementares de meus netos, ambos no 1º ano do ensino Médio de um colégio no bairro do Tatuapé, em São Paulo.


Não sou do ramo, longe disso, mas fiquei animado. E não só por conta da titulação rebuscada das cinco trilhas de aprendizagem no contraturno escolar de segunda a quinta-feira. Veja: Gestão de negócios e consumo sustentável; Paz, justiça e instituições eficazes; Saúde e bem-estar; Ação contra mudança global do clima e Escola de negócios: crescimento econômico global. 

  

Há quatro décadas, já membro, a contragosto, da “elite” pagante de mensalidades escolares, me indignava com a excessiva mercantilização da educação. No começo de cada ano letivo, cobrava-se dos pais de alunos desde rolos de papel higiênico até caixa de fósforos, passando por barbantes, bolas de isopor, canudos, garrafas, pregos, velas etc., numa lista interminável de materiais “escolares”. 


Ficava intrigado: se todos os alunos cumprissem aquela demanda, a escola teria de possuir um depósito bem superior à biblioteca, e precisaria de uns três empregados só para classificar, organizar e armazenar o material. Parece que não era o caso.

 

Cansei de me chatear também de ver meus filhos mexendo com as mesmas coisas que foram exigidas de mim 20 e poucos anos antes, como ler soletrando sílabas ou somar, diminuir, multiplicar e dividir na ponta do lápis, como se as calculadoras que surgiam fossem bugigangas dispensáveis.

 

Como acontecera comigo, deles ainda seria cobrado decorar que “atmosfera é a camada de ar que envolve a Terra” ou que “duas ou mais retas paralelas só se encontram no infinito”. E, heresia das heresias, que "todo número diferente de zero elevado a zero é igual a um". Não sei o que isso mudou minha vida ou a deles, salvo pensar na triste solidão das retas.

 

Na época, sonhava que a escola fosse além de noções de disciplinas clássicas como Ciências, Geografia, História, Língua Portuguesa e Matemática. Queria tê-la ao meu lado auxiliando na formação humanística de meus filhos.

 

Queria que me ajudasse a ensiná-los a se sentar ao lado das pessoas que se sentiam vulneráveis, perdidas. A encorajar almas mais fragilizadas. A não se arrepender do bem que fizeram. A não guardar mágoas e ressentimentos, esse saco de pedras, mais ou menos pesado, que muita gente carrega nas costas. 


Poderia ter recebido boletins de avaliação de meus filhos em alguns "deveres de casa" como: Compaixão, Generosidade, Indignação, Inveja, Resiliência, Solidariedade etc. Quem sabe, daria tempo retocar projetos de gente em andamento.

 

Fotografia: Dedé Dwight

Só mais tarde me dei conta de que não se desenha por completo os filhos. Se muito, rascunha-se os traços básicos. Eles mesmos fazem a arte final a partir de suas conexões com o mundo.

  

Durante a pandemia, não tive febre, dor de cabeça, tosse seca ou qualquer outro sintoma da doença, mas tive meu delírio. Imaginei que, se sobrevivêssemos como nação à catástrofe sanitária, todo brasileiro com idade superior a 15 anos um dia estaria alfabetizado. 


No auge do meu delírio, vi Paulo Freire, um dos pensadores mais notáveis da história da pedagogia universal, explicando melhor às novas gerações uma de suas conclusões geniais: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

 

Aprender a identificar notícias falsas e desinformação era tão importante quanto a Matemática. Tanto que constava do currículo escolar a disciplina obrigatória “Alfabetização midiática”. 

 

Exigia-se da molecada que editasse seus próprios vídeos, como forma de perceber como é fácil manipular informações. Em seguida, discutia-se como e quando certos textos foram escritos e quais eram os objetivos reais ou surreais. 

 

Desde cedo, já se aprenderia em sala de aula como assimilar notícias, enxergando a diferença entre o que veria nos aplicativos de mensagens e o que estaria nos meios de informação. Não teria como saber o que são fake news se não soubesse distinguir jornalismo de mídias sociais.

  

Aprenderia também que é bem menor o esforço do processo cognitivo (percepção, pensamento, linguagem, memória etc.) nas mídias eletrônicas, o que torna a meninada mais vulnerável às notícias falsas ou incapaz de identificar mentiras disfarçadas de verdades. 

 

Mesmo a criançada tendo crescido em paralelo à evolução das mídias sociais, isso não significa que saiba como identificar e se proteger da desinformação. Aliás, a fase de ebulição hormonal é justamente quando se está mais propenso a acreditar em meias verdades (ou mentiras completas!).


Repito, não sou do ramo, longe disso, mas fiquei animado com a grade de aulas complementares de meus netos. É mais um passo no tanto de chão que os brasileiros têm pela frente para construir uma nação decente, digna, digamos assim, de nossos bisnetos.

 

E segue o baile. Que essa molecada que está na pista acerte o passo e entre na dança com tudo. Senão dançaremos todos.



 

32 comentários:

  1. Excelente tradução do que presenciamos ao apreciar nossos rascunhos fazerem-se obras e começarem a riscar os seus próprios rascunhos que sofrerão influências inovadoras para continuar a reta da evolução

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  2. Quisera ter a mesma esperança do nobre amigo. Atualmente é triste constatar que alguns professores estão mais focados em seus salários do que em seus alunos e no compromisso de levar o conhecimento a eles. Isso está levando a um ambiente de sala de aula desinteressante e, eventualmente, à falta de motivação por parte dos alunos.

    Além disso, muitos alunos estão tão focados em suas mídias sociais, em ficar por dentro das últimas tendências e em questões ideológicas, que perdem de vista a importância do aprendizado e do desenvolvimento pessoal. Por outro lado, estamos chegando em uma encruzilhada: o chat GPT faz tudo, não é preciso aprender mais nada.

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  3. A perspectiva de mudanças, desde que seja para evoluirmos, é bastante salutar. A sensação que tenho é que nos encontramos “atolados” em um lamaçal sem fim, rodeados de notícias e informações falsas. Esperemos, pois, que essa mudança tome corpo e nos permita “desatolar” e seguir adiante.

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    1. Gostei da metáfora do atoleiro. Só tração nas quatro rodas pra deixarmos de chafurdar como nação.

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  4. O sistema educacional brasileiro em especial, tenta, mas não consegue acompanhar, muito menos, antecipar as necessidades de orientação/informação/formação do nosso povo. Acompanho, há anos, as notícias acerca dos colégios e faculdades de dois netos da minha vizinha, na Alemanha. Estamos longe. Outro dia ela nos presenteou com um prato ensinado pelo neto. Com todo o detalhamento das propriedades nutricionais e outras informações sobre a produção de alguns ingredientes. Aprendeu na escola. Marina.

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  5. Educar não é uma tarefa simples. Algumas disciplinas extra curriculares ainda dependem de exemplos da familia e de muita dedicação dos próprios alunos como caráter, respeito à diversidade, fé, compaixão, honestidade, solidariedade…

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  6. Houve uma época (minha) em que qualquer coisa que se aprendesse na escola era mais do que se tinha em casa. O aluno era filho de pais que mal sabiam o básico e neto de analfabetos e o professor era a pessoa mais sabida da cidade.
    Hoje a informação brota solta pra quem quiser colher e algumas crianças já iniciam sua jornada sabendo mais que o professor e é a este ou esta que está faltando atenção e suporte para serem agentes da transformação.
    Dedé Dwight

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  7. Durante mais de duas décadas dividi minha rotina profissional entre o mundo bancário e as salas de aulas. Felizmente, diferente das retas paralelas citadas na crônica, não esperei pelo infinito para verem os ramos das atividades se encontrarem e aproveitei para tirar disso bons proveitos, de um ramo auxiliando o outro e vice-versa.
    Senti in loco como o sistema educacional ainda está distante do projeto ideal, mas guardo sempre comigo a esperança de que algum dia possamos olhar para o presente de hoje e ver quão muito evoluímos.

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  8. Mais uma vez vc nos brinda com uma crônica ímpar. Desde sempre a educação dos nossos filhos foi o maior desafio de nossa existência. Por mais que nosso esforço seja tenaz, a vida acaba tendo uma influência significativa nesse processo de formação, seja para o certo ou errado. E com o advento das mídias sociais educar tendo a verdade como princípio, se tornou um desafio hercúleo, para o qual nossa sociedade não está preparada.

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  9. Muitas vezes as pessoas com o maior grau de escolaridade são as que cometem as maiores atrocidades, seja para a comunidade vizinha ou para a própria humanidade.
    Precisamos abandonar a confortável terceirização da culpa (as “outras gerações”, os professores “ideologizados”, a tecnologia, etc.) e assumir a parte que nos cabe nesse latifúndio!
    Todos nós conhecemos pessoas que são admiradas e respeitadas por (quase) todo mundo. Que tal aprender um pouco com o exemplo delas no contato com quem nos rodeia, física ou metaforicamente?

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  10. Quantas verdades absolutas trazidas à luz. Inspiram-nos a pensar mais sobre as mazelas brasileiras. E uma delas, de proporções gigantescas, é a educação formal. No meu caso particular, foi um dos maiores desafios que enfrentei na formação das minhas filhas. Como Hayton bem mencionou, a partir de uma grade arcaica, o conhecimento era passado de maneira rasteira. Como lembro ter sofrido com minha esposa, ao tentarmos escolher uma boa escola para nossas crias. Quantas andanças..
    Quantas pesquisas...E, invariavelmente, quantas decepções. A escola mais cara era a melhor? Não. E a mais vanguardista? Também não. As tradicionais religiosas? Não. Qual escolher? Apesar do esforço hercúleo, parece que não adiantava. E aquela fórmula antiquíssima, toda carcomida pelo tempo, desbotada pelo uso, era entregue como novinha em folha. E nós, pais ciosos e preocupados, sofríamos com aquele "faz de conta". E que cobrava caro dos nossos orçamentos apertados. No final, o que vi na vida, foi a boa performance daquelas almas inquietas. E que, por iniciativa própria, buscaram ir além daquilo que receberam nas bancas. Só assim a educação além da curva se deu. Outrossim, foi tudo muito mais do mesmo.
    Roberto Rodrigues

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  11. Também sou otimista. Acredito que as novas gerações têm mais oportunidades do que tivemos, mas o exemplo de casa é tudo. Pena que a maioria dos jovens não têm acesso a uma grade curricular parecida com a de seus netos.

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  12. Fake news ê até fácil identificar. Complicada é a sanha de mal intencionado em divulgar, sem pejo algum, a desonestidade intelectual, eufemismo para mentiras disfarçadas de verdade, as quais você bem pontuou. Sei que vai demorar, mas a gente vai melhorar. Nem que leve trezentos anos. Os indícios já estão na nova grade dos seus lindos netos.

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  13. Perfeito!
    Acho que todos nós temos de nos equilibrar entre o otimismo (sem alienação) e a realidade (ou pessimismo).
    Não dá para ficarmos alheios a tantos fatores que puxam a existência humana para o lodaçal, mas não ter esperança seria desistir de viver. Um pouco de decência inoculada em nossos filhos e netos poderá ajudar em algum nível nossa escala “evolutiva”.

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  14. Maravilhoso!Como já dizia, Gibran Khalil Gibran, "vossos filhos, não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma..."

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  15. Há 19 anos, depois de 28 anos de BB (10 dos quais atuando, também, como instrutor) fui trabalhar na ENAP – Escola Nacional de Administração Pública. Lá, fui instrutor do Curso “Liderança: Reflexão e Ação - LRA” que, sem deixar de lado a importância da razão para o exercício da gestão, destacava características de inteligência emocional como igualmente importantes para que gestores pudessem exercer o papel de líderes, com mais eficiência, eficácia e efetividade.

    Conhecer as próprias emoções, saber controlá-las e manifestá-las de maneira adequada, aprender a conviver, ter relacionamentos saudáveis, em todos os níveis, praticando empatia e assertividade, ter postura ética, eram algumas das competências trabalhadas no LRA e que a maioria dos cursos chamados profissionalizantes não oferecia aos seus participantes.

    Na época eu pensava: por que esses temas não fazem parte dos currículos de nossas escolas? E ficava sonhando que, um dia, as coisas poderiam mudar.

    Sua animação, meu caro amigo Hayton, com a nova grade curricular da escola de seus netos, eu também senti quando vi, no início do ano, algumas das “matérias” oferecidas pela Escola onde meu neto estuda.

    É muito bom saber que, em muitas escolas, os objetivos educacionais vão além de ficar repetindo: “A PATA NADA” ou “O VOVÔ VIU A UVA” ou, ainda, que CABRAL “DESCOBRIU” O BRASIL ...

    Essas novidades, por si só, não são garantia de mudanças de comportamento, mas nos dão um novo alento.

    Parabéns por compartilhar mais este belo texto.

    Luiz Andreola

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  16. Bom dia, Jurema!
    Bela reflexão!
    Gostei muito também do comentário do Leopoldo.
    Algumas coisas na educação dos filhos não teremos como terceirizar. O exemplo dos pais e o ambiente em casa, em boa parte, podem influenciar a criação de referências para nossos pequenos.
    Agora, com um pouco mais de tempo para me dedicar à família, tenho podido acompanhar melhor minha filhota nas tarefas da escola complementares à sala de aula.
    No grupo dos pais das crianças da sua sala, vê-se de tudo no mundo das expectativas em relação ao que se esperar da escola dos filhos.
    Das críticas contundentes aos enaltecimentos pelas mesmas ações da escola.
    Ontem a polícia foi chamada porque um aluno do 1° ano havia levado uma arma “fake” para a escola sob a justificativa de que era para dar um susto nos alunos de outra escola. Em outra oportunidade, esse mesmo aluno já havia ameaçado uma colega com um instrumento cortante.
    Com a sua expulsão como desdobramento desses casos, lamentei pelo desfecho, mas reconheci a importância da medida disciplinar.
    Como deve imaginar, alguns pais entendem que a punição não é educativa (?).
    Como educar não é como uma equação exata, quem poderia afirmar “quem está certo ou errado!?”

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  17. A verdade, né caro Hayton, é que a educação das crianças, bem como as leis, sempre andaram descolados da realidade. Acredito que esse currículo extra que seus netos recebem é exceção à regra. Mas já é um aceno para um amanhã melhor. Quem sabe a coisa melhora. Obrigado por nos levar a refletir sobre o tema. Abração.

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  18. Educar bem é para os fortes kkkk. Ir pra escola é ir pra escola...

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  19. Parabéns por mais uma crônica. Fico sempre a imaginar qual a satisfação que um escritor não deve ter ao redigir sempre mais um trabalho, por mais simples que seja. Mais importante ainda quando se é amador. Por conta disto, não se tem a obrigação de executar o trabalho de maneira permanente como se fosse uma obrigação.
    Isto vejo em você. Toda quarta-feira lá está o resultado da missão cumprida. A única obrigação é corresponder à expectativa dos seus leitores. Mais importante ainda é a iniciativa de eles reagirem com seus saborosos comentários em forma de feedbacks, comprovando a sua satisfação e o bem-estar em retribuir o prazer da leitura.
    São essas coisas que certamente proporcionam a alegria e a recompensa do esforço despendido. Parabéns!

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  20. Sem deixar de reverenciar a singular beleza do texto, consigno que você aborda um tema nevrálgico, que nos leva à reflexão e até causa uma certa angústia.
    Sim, pois o que estamos a assistir em Pindorama é algo que causa até arrepios. Então, com certeza, esse nível aí da escola de seus netos é excepcional, "ponto fora da curva".
    Até não me canso de repetir em minhas conversas, que minha angústia é exatamente pelo futuro de meus netos, num país como este em que vivemos. Sim, pois eu estou no ocaso da vida e meus filhos já todos quarentões, então, para nós mais nenhuma mínima esperança.
    Afinal, um povo dividido, e de forma apaixonada, por duas figuras como Bolsonaro e Lula - neste até já votei algumas vezes, mas nunca mais o farei - não tem a menor possibilidade de construir uma sociedade minimamente digna. É como penso.
    Pedindo desculpa por esta abordagem tão melindrosa, registro também todo meu respeito a opinião divergente da minha.

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  21. Parabéns Hayton, pela boa educação dos seus netos e pela excelente escola que eles estudam.
    Se depender do atual presidente que foi preso na ditadura e na democracia, não tem nível superior e disse nunca ter lido um livro...
    O que podemos esperar dessa nova geração?
    Forte abraço,

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  22. Pois é, Hayton, infelizmente nossa realidade é outra. Tivemos de ralar muito para aprender Português, Matemática e Datilografia, principalmente, para conseguir o primeiro emprego. Particularmente, sinto falta, no dia a dia, das noções básicas de marcenaria, mecânica e eletricidade.

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  23. Coincidentemente estava conversando sobre isso, ontem, com minha filha. Falávamos das dificuldades da escola... minhas para fazê-la estudar...rs. Tínhamos insistentes momentos de interpretação de textos. Agora ela me diz que valeu à pena. Então pra quê tanto sofrimento? Tomara que a evolução do ensino torne-se realidade a todos. Agora tenho netos que estão enfrentando o quinhão deles. Educar e ensinar não são coisas fáceis.

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  24. Obrigada, Hayton, por mais um texto que remexe tanto com nossa consciência. Atordoa até. Futuro, educação, Brasil…Fiquei aqui a me perguntar o que pensaria Paulo Freire hoje. Acho que a mesma coisa que pensou décadas atrás e vai chegar a algo que um de seus leitores escreveu: a responsabilidade que cada um de nós tem para a transformação do mundo em que habitamos. Se não temos um modelo perfeito de educação, se temos vergonha de nossos políticos, que estamos fazendo - mesmo que seja um sorriso para o porteiro, um banho mais curto, uma doação financeira para quem precisa… Acredito nisso. E também acredito que o mundo hoje é melhor que antes e os bons são maioria.

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  25. Agostinho Torres da Rocha Filho24 de março de 2023 às 18:00

    "Não se desenha por completo os filhos. Se muito, rascunha-se os traços básicos." Somente esta frase já seria o suficiente para justificar o mérito do texto. Mas o autor vai muito além e extrapola ao propor uma séria reflexão sobre tema tão relevante. Uma pena que os representantes do povo não estão preocupados com assuntos relacionados à educação. Pelo contrário! Uma sociedade educada é potencialmente perigosa, na medida que aprende a questionar posturas e políticas públicas. Parabéns pela iniciativa!

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  26. Belo texto Hayton, motivado pelas cutucadas que recebemos do cotidiano. Eu, sinceramente, não sou tão pessimista como muitos quando olham p educação atual. Veja o exemplo dos teus netos, algo impensável tempos atrás mesmo em escolas particulares, verdadeiras fábricas de vestibulandos acríticos. Aliás, conheci o Paulo Freire e conheço sua obra, tão detestado por um bando de idiotas que nunca leram uma orelha de seus livros. Ao citá-lo, você trás um elemento que me lembra a causa do exílio dele: queria um aluno com capacidade crítica para ler e transformar sua própria realidade. Veja que "criminoso" o nosso lindo velhinho. Isso só em mentes doentes de ignorantes. Ele foi o maior educador da América Latina e tem uma estátua entre os bem feitores da humanidade na Suécia. Se ele fosse propor uma nova disciplina para a escola dos nossos netos acho que faria algo transversal a todas as outras disciplinas e talvez não complementar, algo que ensinasse conceitos que são distintos e poucos sabem como igualdade, equidade, diversidade, coopetição etc. Quem sabe a molecada aprenda que o ritmo.do comboio deve ser o ritmo do navio mais lento, quem sabe se com isso os muros das Alphavilles que mais parecem.muros da era medieval como os de Saint Malô não sejam mais necessários. Quem sabe eles um dia vivam p mudar esta rota de sociedade cada vez mais desigual. Irônico é ver muita gente que elogia a sociedade mais igualitária de outros países ditos mais desenvolvidos reagir contra qualquer movimento que aqui ocorra nesta direção. A Finlândia é tida como a melhor educação do mundo. Minha fez um semestre de engenharia civil lá e ao voltar me disse que a UnB exige incomparavelmente mais ralação dos seus alunos. Por outro lado, os engenheiros da UnB, dos que conheci, a grande maioria são pessoas acríticas e alienadas. Talvez tenha lhes faltado um ensino básico e médio capazes de formar melhores cidadãos para serem também grandes engenheiros. De fato, a educação é a base de tudo, não se faz milagre de curto prazo mas um dia chegaremos lá. Na hora que professores ganharem melhor do que nós bancários talvez não precisem de 3 empregos e possam ajudar mais na grande mudança que precisamos. Me alonguei demais. Abraços.

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    1. Ninguém se alonga quando diz o que deve e precisa ser dito. Parabéns, grande Fada!

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  27. Tivemos o Paulo Freire chamado de energúmeno e milhões e milhões de pessoas deram suporte a promoção de um ataque nefasto à metodologias de educação que buscam promover degraus para uma menor desigualdade. Suas cronicas são como um farol a lançar lume às embarcações. Ajudam, todas as quartas, a definirmos nossos rumos.

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  28. Olá Hayton

    A partir de suas pertinentes, lúcidas e sensatas reflexões sobre a Educação no Brasil, me pus a pensar sobre a dificuldade de se aplicar uma política pública na área.

    Há milhões de crianças que têm como maior motivação para ir à escola a merenda escolar. Estes estão condenados, na melhor das hipóteses, a serem explorados por aqueles que puderam estudar em uma escola que forma patrões e mandatários.

    Alguns pensadores propõem que, no Brasil, não podemos esperar os resultados de mudanças na Educação para termos um Brasil com justiça social e prosperidade econômica. Apesar de necessárias, as mudanças na Educação só irão repercutir daqui a décadas. Uma pessoa só entra no mercado de trabalho depois de 15 a 20 anos de escola.

    Há tarefas urgentes, como uma distribuição de renda mais equitativa que supere a sociedade de castas em que se tornou o Brasil. E há interesses bem representados no Congresso que promovem o fim da educação pública e que transcendem as melhores intenções do currículo proposto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

    Prezado Amigo, continue compartilhando seus ótimos textos, com temas densos tratados com leveza!


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