quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Fome, fúria e o mistério do pavão

Não sei vocês, mas sou daqueles que, ao ver um jornal ou revista antigos, não resiste à tentação de revisitar ecos de outros tempos. Quando vejo um recorte interessante, mergulho profundo numa viagem quase sem volta: o que terá acontecido com os protagonistas dessas histórias? Onde estão agora? Foram felizes? Deram certo ou desapareceram nas entrelinhas da vida?

 

Dias atrás, me deparei com um recorte da Folha de São Paulo, de 12 de janeiro de 2004, com um título tão surreal quanto o enredo: “Homem é espancado após matar pavão em praça no centro do Rio de Janeiro”.

 

Ilustração: Umor (Uilson Morais)

Paulo Roberto de Oliveira, 37 anos, desempregado e faminto, perambulava pelas ruas quando decidiu que um pavão, mais ornamentado que o próprio Clóvis Bornay no Carnaval, seria seu jantar. Não sabia que a ave, mais que um enfeite da fauna urbana, era mascote da comunidade de travestis da Praça da República.

 

Foi aí que entrou em cena o "bloco da fúria". Ao verem Paulo carregando o pavão desfalecido, os travestis iniciaram um verdadeiro carnaval de pedradas, pontapés e tapas. No desfecho, digno de seriado de TV, o miserável acabou com o braço preso às grades da praça, pendurado como um Judas em Sábado de Aleluia, até ser resgatado pelos bombeiros para ser indiciado por crime ambiental. Já os travestis, sumiram antes que pudessem ser chamados para esclarecer o "quase abate" de outro animal, da espécie supostamente o mais racional de todas. 





Já se passaram mais de duas décadas. O que aconteceu a Paulo? Está vivo aos 57 anos? Tem filhos e netos? Entrou na política? Fez carreira como influencer? Continua pulando grades na madrugada ou encontrou algum emprego entre uma reforma trabalhista e outra, podendo agora pagar boletos e impostos, ser chamado de consumidor e contribuinte? Quem pode me dizer? 

 

É certo que o desemprego (ou emprego informal) continua um monstro de setenta cabeças, crescendo com uma voracidade comparável à fome daquele fatídico dia, embora as estatísticas oficiais nem sempre reflitam esse estado de coisas no lado debaixo da Linha do Equador.

 

Mas não é só o destino de Paulo que me intriga (uma entre 250 mil almas em situação de rua no Brasil), e sim também o destino do coitado do pavão. Aquela inocente criatura, que poderia ter saciado a fome de outros viventes, acabou despertando a fúria desmedida de outros. Terá ele deixado algum legado proteico digno de nota? Chegou a transferir a sua carga genética para alguns filhotes?

 

Com meia dúzia de interrogações na cabeça, me transporto à canção “Pavão Mysteriozo” (da trilha sonora da telenovela global Saramandaia, de Dias Gomes), do cearense Ednardo que, nos anos setenta, carregava em suas asas críticas veladas à realidade opressora do regime militar.

 

O pavão daquele tempo não era nenhum desses jogadores de futebol chatos, deslumbrados e presunçosos, estrelas de um mundo midiático que se cotam acima daquilo que realmente valem. Nem alguns emplumados de gravata e paletó que conheci ao longo da minha vida profissional. O pavão de Ednardo era uma bela metáfora de voo, de liberdade, de fuga de uma realidade sufocante. E o folheto de cordel que inspirou o artista cearense (“O Romance do Pavão Misterioso”, publicado em 1923, por José Camelo de Melo Resende), tinha voltado a circular em um Brasil que sonhava voar para longe da repressão.

Gráfico

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa


Vinte anos depois, talvez Paulo, se ainda circula por aí (caso tenha se poupado do vexame de morrer tão moço, como canta Ednardo!), seja só mais um rosto perdido entre estatísticas que servem ao conforto de quem vive fora da linha de fogo. Sua fome e sua fúria seriam testemunhas silenciosas de um sistema que perpetua a exclusão e alimenta a indiferença.

 

E o pavão? Mais do que uma ave, simboliza o orgulho ilusório de uma nação que valoriza cores vibrantes, mas esconde sob as penas a escuridão de quem ignora os vulneráveis. Como no cordel de José Camelo, esse pavão também tenta voar para longe, mas suas asas estão presas às grades da desigualdade, eternizando a miséria.

 

E nós, prostrados em nossos sofás, seguimos assistindo a esse drama social como se fosse só mais um episódio de uma novela que nunca termina. Talvez sejamos os verdadeiros pavões: encantados pelas aparências de um progresso ilusório, enquanto a fome, a injustiça e a exclusão permanecem. Fechamos os olhos, mas a fome – não só de comida, mas de dignidade – continua nos encarando.

 

Vou parar com essas "viagens" sobre recortes de jornais e revistas antigos. Já basta o noticiário do dia. Se bem que o problema não está em revisitar esses recortes, mas em nossa incapacidade de transformar as histórias que eles contam. Porque, a rigor, todo recorte é um espelho: reflete o que fomos e nos mostra o que ainda podemos ser.



37 comentários:

  1. Caro amigo Hayton, bom dia, sua crônica está demais! Show!❤️👏🏻

    A história do Paulo e do pavão realmente faz a gente pensar sobre as injustiças e a indiferença que ainda existem por aí. Você conseguiu tocar em pontos importantes com uma narrativa envolvente e uma boa dose de crítica social. Parabéns pelo texto, ficou excelente! 🌟

    Acredito que uma forma de começar a mudar essa realidade é nos engajarmos em ações comunitárias. Participar ou apoiar organizações que ajudam pessoas em situação de rua, promovem a inclusão social e lutam contra o desemprego pode fazer uma grande diferença.

    Pequenas ações no nosso dia a dia também podem contribuir, como voluntariado, doações e até mesmo espalhar a mensagem sobre a importância de olhar e agir para essas questões.

    Vamos fazer nossa parte para um futuro mais justo!

    Abraços do seu amigo baiano,
    Ulisses S Barbosa

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  2. Em boa hora você lança essa crônica!! Justo quando no G20 é lançada a campanha mundial contra a fome que tomara que não fique só no discurso nem nas esmolas, mas que surjam projetos que gerem muitos empregos dignos e renda.
    Mas acompanhar o voo de suas ideias a partir de “uma coisinha à toa” do cotidiano tem sido o deleite dás quartas-feiras. Parabéns! Nelza Martins

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  3. Compartilho da paixão do escriba por mergulhar na humanidade interior de notícias que passam pela gente como carros em uma avenida. O que será que será que vive nas pessoas por trás de tantas personagens e fatos, "o que se passa na cabeça dessa pessoa?" ou, melhor ainda, "mulher, pelo amor de Deus" são diálogos mentais impossíveis de conter pois a curiosidade é grande e a dor da gente não sai no jornal. Dedé Dwight

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  4. ADEMAR RAFAEL FERREIRA20 de novembro de 2024 às 06:57

    Um texto como este tem capacidade de jogar luz sobre a treva do fosso social. A situação dos moradores de mundo afora é causada por motivos diversos, a cegueira da sociedade em relação ao sofrimento alheio precisa de ação. Alertas via escrita é um bom início.

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  5. Êta que pavão deu um belo caldo, e o cronista brinda-nos com uma verdadeira aula de ciências sociais.
    Entre plumas e penas e diante das gritantes situações fico a pensar: O que os cientistas políticos tem feito com tanto drama social? Porque os relacionamentos andam tão acirrados entre as ditas direita e esquerda em diversos recantos do mundo? , e por aqui não é diferente. O que leva um chaveiro a fazer o que fez nos últimos dias? E o complô atrapalhado para eliminar pessoas e manter-se no poder com grave atentado a uma democracia razoalvelmente madura?... São muitas reflexões que a crônica nos leva.
    Mas vamos em frente com coragem, fé e muita esperança para que o Pavão Misterioso acalme os Blocos das Fúrias que insistem em permanecerem ativos e atuantes de forma assustadora.

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  6. E meu pai me acorda cedinho nesse primeiro feriado histórico da Consciencia Negra pra não deixar de ler a nova crônica de Hayton. Obrigada, Pai! Obrigada, pai (Silas)! Obrigada, Hayton!

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    1. Valeu, Ana Lúcia. Parafraseando o fecho de um anúncio publicado pelo BB, onde Silas, seu pai, trabalhou a vida toda, hoje “é um dia para refletirmos sobre a justiça… e nos unirmos por um futuro… inclusivo e diverso”.

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  7. O "POVÃO" é realmente misterioso. Se preocupa mais com a vida dos "famosos" das mídias sociais. A falta de indignação com a fome e a miséria "são tantas vezes gestos naturais", como bem escreveu o poeta Caetano.

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  8. Bah Tchê Gaudério! diria um gaúcho! Esse seu texto foi primoroso e oportuno. Aliás, em cada periódico seu, há um crescente requinte na maneira de descrever fatos e realidades. Especificamente sobre essa sua reflexão coincide com um pensamento que tenho tido sobre nossa passagem por aqui. Não podemos dizer que vivemos plenamente enquanto milhares de pessoas não têm a mínima chance se sentir que a vida vale ou valeu a pena.

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  9. ROBERTO RODRIGUES LEITE BEZERRA20 de novembro de 2024 às 07:54

    Drama social, que se contrapõe à beleza idílica do cordel. Move mentes e entranhas, reviradas pela cruel realidade que nos cerca. Para alguns, pelo que se mostra; já, para outros, pelo que de fato é. Necessário falar. Mas, aparentemente, um saco. Por não conter soluções. Apenas perpetuidade. Que passa a ser o normal, o aceitável. Porque realidade nua e crua. Mas, um saco. Máxima vergonha que cada um de nós carrega consigo. Veleidade? Qual nada. Em verde e amarelo é o quadro da vida real.

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  10. Realmente o momento é propício para a crônica, e a partir de uma manchete de 20 anos atrás , “fome de comida e de dignidade”
    E também de informação, pois a Folha de São Paulo, que “parecia” ser o veículo confiável, escancara como mais uma mídia tendenciosa e manipuladora.
    Crônica excelente!!!

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  11. Amigo Hayton, conquanto constrangedor, pura realidade... Atual!

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  12. Muito oportuna a crônica de hoje, principalmente pelo fato de G 20 ter sido realizado no Brasil, oportunidade em que foram tratados assuntos dessa área, fome, desabrigados, desmatamento, etc.
    Ainda bem que o infortunado Paulo não se agradou do mascote do flamengo!
    Teria sido transformado em picadinho.
    Parabéns!

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  13. Crônica muito boa, e bem tempestiva com um dos temas centrais tratados na reunião dos maiores líderes de países presentes no Rio. Lamentavelmente, pelo andar da carruagem, daqui a mais duas décadas talvez a situação esteja mais crítica ainda, tamanha a ambição dos que mais têm.

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  14. Caro Hayton!
    A crônica de hoje não é pra rir!! 10 anos antes de Paulo tentar jantar o pavão, Betinho lançava a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida! De lá pra cá o que mudou? Muita coisa, menos a fome e a miséria! lembro-me, como se fosse hoje, em 1991 eu viajando o Brasil com o então presidente Calliari - eu era Secretário Particular do Presidente - lançando comitês de cidadania do BB! A notícia do Paulo é antiga, mas a fome continua atual e o discurso permanece o mesmo! E nada muda!

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  15. Situações complicadas. Governos entram dizendo que irão combater a fome, saem dizendo que tiraram milhões da miséria e nada muda. Se a gente, com seriedade, tentar entrar prata ajudar, capaz de virarmos vítimas por criticarmos o governo. Vai entender.

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  16. Eita ,HAYTON !! Amei a sua crônica .RIR CONTINUA SENDO O MELHOR DOS REMÉDIOS , ALÉM DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS !!👏🏻👏🏻😀

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  17. Estava inspirado! Excelente reflexão sobre a fome e as questões sociais permanentes, não muito diferente de 20 anos atrás, infelizmente.

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  18. Hayton, está crônica sobre os personagens das antigas reportagens é um lembrete de que as histórias que lemos nos jornais vão muito além das manchetes. Você abordou o tema com sensibilidade e maestria, nos mostrando que a vida daqueles indivíduos continua a nos interessar mesmo anos depois. Parabéns.

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  19. Excelente reflexão, o tempo passa mas os problemas permanecem. Resgata uma reportagem de 20 anos, que descreve a realidade atual.

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  20. Pavão já teve outras utilidades. Não há muito tempo, as empresas, o BB inclusive, não tinham registros e sistemas de avaliação de desempenho pessoal. Para escolher alguém para um cargo, se ligava para um par de confiança, que conhecia, de convivência, o sujeito. Quantas e quantas vezes eu não ouvi e também falei com consciência e responsabilidade! "-Cuidado! É um pavãozão.".

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  21. Pois é Hayton, por que no Brasil todo mundo condena a desigualdade social e os crimes ambientais mas não se consegue mudar esta realidade estruturalmente? Tua crônica sobre o pavão morto é o faminto espancado mecremete a este tipo de pergunta. P mim a resposta é muito clara, p Faoro e Jessé também, mas vai te tarde explicar isso p todo mundo que vive numa boa como nós...

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    1. Se todo mundo que “vive numa boa como nós”, Sr. Anônimo, doar pelo menos 1/30 avos dos ganhos mensais a quem passa fome ao nosso redor, juro que não mata nem esfola o doador, mas reduz a fome de alguns. Faça as contas que já fiz que estou seguro do que afirmo.
      Sim, esmola não resolve, mas nunca vi saco vazio ficar de pé para botar a boca no mundo e começar a cobrar compaixão e justiça social.

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  22. O que não falta neste mundo são pavões e Paulos… triste a fome e a miséria. Que possamos lutar e nos dedicar a tantos que merecem e precisam de nossa ajuda.

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  23. A crônica de hoje tem que ser guardada em galeria especial, das melhores do ano...
    A abordagem foi perfeita. Desnudou várias questões sociais em poucas palavras...

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  24. Sou fã do Ednardo e do seu Pavão Mysteriozo.
    Como não se encantar com “... me poupa do vexame de morrer tão moço, muita coisa ainda quero olhar.”?
    Os mistérios da morte eu não sei decifrar. Os da vida também não. Da morte eu nem sei se tenho medo, mas, se dependesse só de mim, óbvio que retardaria a minha ao máximo.
    Morrer, por si só é um vexame, ou não. Morrer moço é quase tragédia, ou não. Uso o benefício da dúvida em meu favor, pois, quem sabe, morrer moço ou velho, seja realmente o começo de uma etapa bem mais luminosa do que a que temos por aqui.
    Li tua mensagem e estava de saída para ir fazer compras no Mercado do Produtor Rural. Gosto de ir lá. O colorido das frutas e legumes sempre me encantaram. Tomei uma água de coco em uma das bancas, como quase sempre faço, e puxei conversa com uma moça de aproximadamente 20 e poucos anos, grávida, que usava uma camiseta com uma foto de uma pessoa com dados sobre nascimento e morte. Viveu apenas 30 e poucos anos.
    Fiquei curioso, como quase sempre sou. Perguntei-lhe: desculpe-me, o que ele era seu. Respondeu-me: meu pai. O moço que estava com ela completou a resposta. Foi assassinado por um policial. Fiquei entalado. Não sabia o que dizer.
    Aquela moça, de traços simples e beleza singela, traduzia em si mesmo dois sentimentos bem antagônicos: a gravidez, sinônimo de vida que se renova. A foto do pai, a morte brutal e prematura. Morrer tão moço talvez não fosse a opção daquele senhor, como não é de muitos.
    Na canção “Pedaço de Mim”, Chico Buarque define bem esses dois sentimentos: “Oh, pedaço de mim. Oh, metade arrancada de mim, leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.”
    Agora, cá entre nós, não dá para mensurar a fome dos outros. Se alguém é capaz de matar um pavão para saciar a sua fome, penso que olhando com um viés bem simplista, não dá para sair condenando esse sujeito. Não dá para saber o que aconteceu com o personagem da crônica. Se morreu, não se sabe. Se saciou a fome em outro lugar, também não. Mas, se por acaso tenha morrido de fome, não dá para atribuir-lhe culpa. Ninguém morre de fome se por perto tem alguém que tenha comida, disse com muita propriedade o prof. Cortella. No atestado de óbito talvez fosse pertinente constar: “morreu de abandono”.
    O destino do Paulo não dá para saber. Quanto ao pavão, alguém comeu a carne? As penas serviram de adorno para alguma fantasia carnavalesca e foram vendidas a preço de ouro?
    Quando rezar o Pai Nosso agora, além de incluir o pedido do Pavão Mysteriozo, me poupa do vexame de morrer tão moço, vou incluir também os desejos da Marina Colasanti. Tentarei não me acostumar com o que vejo todo dia. “A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto se acostumar, se perde por si mesma.”
    A gente se acostuma, eu sei, mas não devia.
    Abraços.
    Chico Oitavo.




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  25. Abel
    Com prazer, acabo de ler mais um texto de sua autoria. Hoje, sobre pavões e registros antigos.
    De fato, tais registros têm seu valor. Fazem a gente reviver bons momentos vividos e recordar passagens engraçadas e divertidas.
    O texto de hoje não foi diferente. Lembrou-nos, inclusive a famosa novela de Dias Gomes. Foi legal. Gostei bastante. Parabéns pela iniciativa. Grande abraço.

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  26. Triste realidade de um "país do futuro" que se perdeu no caminho ao valorizar e exaltar o individualismo heróico em detrimento do privilégio coletivo.

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  27. Belíssima crônica, mais uma vez!
    No Brasil, muitos dos indignados com a fome só falam em cortar o Benefício de Prestação Continuada, o Seguro Desemprego e o reajuste de Salário Mínimo para equilibrar as contas do Governo.
    Em troca, aplaudem a elevação da taxa de juros que, a cada 1% de elevação, retira mais 60 bilhões de reais do orçamento público para os rentistas.
    Claro que dirão que isso é pauta de “comunistas” …
    Aliás, fiquei curioso: por onde andariam os travestis que agrediram o Paulo? Será que mataram muitos Paulos pelo caminho ou foram mortos por alguns supostos defensores da família e da humanidade?

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  28. Agostinho Torres da Rocha Filho20 de novembro de 2024 às 19:31

    Nesta crônica, o sociólogo e escritor Hayton Rocha retoma, com rara habilidade, um tema da maior importância para a coletividade. Ou será que a sorte dos mais vulneráveis é de exclusiva responsabilidade do setor público?O texto induz o leitor a uma reflexão sobre o que ele pode fazer para minimizar a fome e a sede - inclusive de justiça - dessa população.

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  29. Triste retrato de nossa miséria.
    Entre trágica e cômica, a história acaba tendo um gosto palatável, pela habilidade do contador.

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  30. A última vez que viram Paulo foi na fila do osso do governo Bolsonaro. Como 33 milhões de pessoas faziam parte do mapa da fome na época do governo mequetrefe, provavelmente deve ter morrido de fome ou de Covid. Parabéns, Hayton.

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  31. Hayton, embora já seja costumeiro seus escritos nos fazerem balançar de emoção, posso dizer que hoje não contive as lágrimas.
    Esse encontro que você fez acontecer entre os dois pavões - o do famélico Paulo e o do inesquecível e mítico Ednardo - foi dos mais bonitos escritos que li ultimamente.
    Sua crônica - também como sempre acontece - faz brotar outras também belas em formato de comentários.
    Obrigada ao cronista e aos colegas leitores.
    Que as musas da arte e da beleza continuem a ser suas companheiras para que continuemos a ser agraciados.

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  32. Passei por momentos difíceis esta semana, culminados ontem com a morte de uma pessoa da família, um concunhado, razão maior pra minha demora em contemplar aqui sua obra, brilhante, como sempre.
    Li, reli e refleti bem. Achei que não teria o que acrescentar, até porque seria sempre pouco o que dizer sobre ela.
    Aí, vejo o comentário, logo aí acima, de Emília Sandes, a quem não tenho o prazer e privilégio de conhecer.
    Pronto, basta, ela resume, também com brilhantismo, o sentimento de todos que contemplem seu texto.
    Só acrescento, ele é um TRATADO DE SOCIOLOGIA, merece ser contemplado em todos os cursos de Mestrado e Doutorado da área.
    Tenho dito...

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  33. Nesse "mundo de meu Deus" naperioerscem histórias todos os dias, os deserdados sociais perambulam insones e com fome e novas plateias se formam nem sempre notáveis mas igualmente na luta pela sobrevivência. E o "telão" cada vez maior, contam novas perpércias do cotidiano, na esperança de que olhos que aprofundam suas seus pensamentos deságuem numa praia que não seja de horrores mas que os percebam como seres em busca de uma vida melhor que nunca chega. São muitos os "Paulos" da vida e que aguardam suas redenções . Porém a horda dos invisíveis se alastram cada vez mais, sem que ninguém dê conta. Se embriagam, cometem desatinos e adormecem em lugares inóspitos . Será que por uma dessas coisas da vida, apareçam outros olhos que os resguardem da indiferença do mundo? Parabéns, Hayton, seus olhos vêm longe!

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  34. “Saramandaia” foi uma novela – do tempo em que novelas eram histórias com conteúdo – que explorava temas como a tradição versus a modernidade, a luta pelo poder e a busca pela identidade. A narrativa também destacava a importância do amor e da solidariedade como forças transformadoras, capazes de superar preconceitos e unir a comunidade em prol de um futuro melhor. Que novela hoje em dia se preocupa com isso??????
    Por outro lado, a música “Pavão Misterioso” transmite uma mensagem de amor e mistério, entrelaçando temas de coragem, aventura e o poder dos sonhos. A história também destaca a beleza da imaginação e a capacidade de transformar sonhos em realidade, inspirando os espectadores a perseguirem seus próprios desejos com determinação e esperança.
    Como bem escreveu Magalhães, o “povão” (e não o pavão kkk) é que é realmente misterioso, pois se preocupa mais com a vida dos “famosos” das mídias sociais. E diz mais: “a falta de indignação com a fome e a miséria ‘são tantas vezes gestos naturais’” (escreveu o onipresente Caetano Veloso).

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