Ele nasceu na Zona da Mata de Alagoas em março de 1949. Viveu boa parte da vida fora de sua terra natal, até ser derrubado pelo câncer em 2007, aos 58 anos, em Santa Catarina. O poeta estava com a razão: tristeza não tem fim; felicidade, sim.
Estive fora pouco mais de um ano (desde o Natal de 1975), após o período como menor estagiário. Aos 19 anos, casado, esposa grávida, retomava a carreira trazendo no bolso coragem, determinação e sonhos.
Fez questão de me receber como se fosse velho amigo. Apenas seis anos de carreira, mas já era supervisor do setor de operações e oferecia dicas importantes, atalhos fundamentais para minha aprendizagem, ainda que sufocado pelas tarefas do cargo que ocupava.
— Qual é a primeira coisa que passa por sua cabeça se um amigo lhe pedir uma grana emprestada?
— Se vou receber, ou não, meu dinheiro de volta — respondi, já temendo o assédio de bancário apertado.
— Isso mesmo! Veja esta proposta... vamos calcular comigo a capacidade de pagamento desse fornecedor. Ele quer financiar um caminhão pra carregar cana pra usina na moagem da próxima safra. Leia o que diz a CIC Rural...

Claro, além dos cegos, até os surdos desconfiam quando a ajuda é grande. Fui direto ao ponto:
— Por que tanto interesse em ensinar no primeiro dia o que todo mundo leva semanas para aprender?
— Gratidão, só isso...
Estiquei a conversa para descobrir algo a mais até que me chamou para tomar um café.
Contou que sua família morava em União dos Palmares quando meu pai, Seu Agostinho, fora subgerente da agência do BB, nos idos de 1968. Enquanto eu ainda jogava bola e tomava banhos no Rio Mundaú, já concluía seus estudos no Colégio Agrícola de Satuba.
Um dia, o banco precisou selecionar na região um perito rural — não era obrigatório concurso público — cuja missão seria: avaliar garantias, estimar a produção de lavouras, o valor de rebanhos etc. Pré-requisitos básicos: ser maior de idade, ter capacidade técnica e boa redação.
Foi considerado o melhor entre seis ou sete candidatos. Aí não dava mais para continuar escondendo: não havia completado 18 anos, embora fosse o mais necessitado de todos os concorrentes. Chamado num canto de mesa pelo subgerente da agência, tomou uma bronca pela audácia mas ouviu a melhor sentença que poderia esperar:
— a partir de hoje você tem 18 anos de idade.
Grato pelo apoio quando mais precisou, não esquecera do episódio. Em pouco tempo seria aprovado no concurso público nacional e passava a integrar o quadro de funcionários de carreira do banco em Viçosa, a partir de agosto de 1971.
Nunca mais havia visto Seu Agostinho, que, transferido para Maceió, morreria em maio de 1972. Mas a vida lhe concedia agora a oportunidade de ser guru-orientador do filho dele nos passos iniciais de uma longa jornada.
João Cardoso e eu fizemos escolhas e trajetórias diferentes. A última vez que nos vimos foi em 2000, na abertura de uma jornada esportiva — era craque inclusive numa mesa de sinuca — em Ilhéus, Litoral Sul da Bahia, quando recordamos aquela semana que antecedeu o Carnaval de 1977.
Lembrei dele outro dia, com imenso carinho, ao rever uma caricatura e o soneto do Poetinha que termina assim:
"... Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica..."
A Gratidão é um sentimento para poucos.
ResponderExcluirSobre o tema certa feita escrevi:
ResponderExcluir"Por meio da lealdade
Da disponibilidade,
Da expressão da verdade,
Demonstramos gratidão.
Os louros d’uma vitória
Os registros na história
Subir os degraus da glória
Só se ganham com ação."
No texto encontramos muitas das marcas citadas na oitava.
Perfeito, Ademar! Dizem que gratidão é a primeira das obrigações de um homem do bem. Sua oitava cuida disso muito bem.
Excluiràs vezes é apenas um gesto pequeno, mas para quem recebe, pode significar a vida... daí o reconhecimento. Isso é muito bonito.
ResponderExcluirÉ isso, amigo. Às vezes um clip, um grampeador ou uma partida a débito de 24435-Departamentos, Conta de Relações Internas" mudava para sempre uma vida.
ExcluirQuando tomei posse no BB, um certo J.I. era meu chefe. Primeiro dia, passou-me uns papeis e cumpra no "02" a crédito, outro inicie a debito no "01". Oriundo do BANEB, não sabia pra onde ia daquele assunto. Ao me ver em apuros, o substituto do "boçal" (bossal), deixou a bateria e se dirigiu a mim. Falava: "01" é isso, "02" aquilo, crédito assim debito assado, e eu querendo fazer burrinha, ao que ele me disse não. Abriu um armário e me apresentou as famosas CICs. Estava eu apresentado ao BB. A esse minha gratidão nunca esquecida.
ResponderExcluirGratidão e amizade, o BB nos ensinou muito sobre isso.
ResponderExcluirRelato bom de ler, com conotação de estória embora se trate de história. Quantos de nós, "formados e deformados" (Odorico Paraguaçu) via BB não vivemos siruacoes que tais ? Talvez por isso sommos o que somos e o Banco chegou onde chegou - embora queiram, há tempos, descaracterizá-lo de aspectos dessa magnitude, tão importantes em nossa formação pessoal, profissional, e de caráter. Muito bom começar o dia "dando de comer aos olhos, às lembranças e à alma". Parabéns, amigo.
ResponderExcluirNasser.
Se bem, Násser, que é sempre muito tênue a linha que separa história de estória. Toda história não passa de uma versão contaminada pelas convicções de quem a relatou. É como na canção composta por Nelson Motta, "...tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo, tudo muda o tempo todo no mundo...
ExcluirLembranças Maravilhosas de um gesto maravilhoso. Poucos tem a honra de relatar, com orgulho, a Gratidão de uma Gratidão.
ResponderExcluirGeraldo Leão.
Gratidão e o mais nobre dos sentimentos!!!!
ResponderExcluir....um belo texto, acho até que voce deveria escrever um livro de memórias sobre estás histórias do
ResponderExcluirBB, algo do tipo: Dando as contas da vida..
História comovente. Narrativa competente em trazer memórias afetivas.
ResponderExcluirQue bonita história. Sr. Agostinho deixou um grande legado.
ResponderExcluirO seu filho Hayton trilha o mesmo caminho.
Saudades do nosso tempo de CASSI!
Humildade e gratidão + CHA (conhecimentos, habilidades e atitudes) = sucesso. Abs
ResponderExcluirMaravilha, lindo gesto do João. Linda homenagem ao poetinha.
ResponderExcluirNos dias de hoje, principalmente, Gratidão deveria ser regra!! Ser grato pelo alimento, pela saúde, pela família, trabalho, estudos, pelas pessoas ao nosso redor.
ResponderExcluirTexto maravilhoso, como sempre. Certeza que já já sai uma biografia
Gratidão é tudo!!!!
ResponderExcluirA sua cronica ressalta o sentimento da gratidão e presta uma justa homenagem ao João Cardoso, um palmarino por adoção que não se esquecia de sua gente, quer estivesse em Brasília, quer estivesse em Santa Catarina.
ResponderExcluirUm abraço do Orlando
A gratidão é uma materialização do arquétipo da Eternidade, quando é tocada em frente e se vira para o futuro. A ordem da mágica é conhecer a história e praticar com o próximo. Como é bom ver seus textos!
ResponderExcluirQue beleza, Dedé. Agora é caprichar cada vez mais.
ExcluirAdoro ler essas crônicas. Bem escritas e com conteúdo! Parabéns!!!!
ResponderExcluirHistória deliciosa, para ser sorvida aos poucos e repetidamente. Consegue ser leve, sem deixar de ser densa.
ResponderExcluirÉ isso, Zé! Como dizia o outro, sem bem que em contexto bem diferente, "hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás.
ExcluirConcordo plenamente.Gratidao é TUDO! Um AABBração do Fernando Madeiro
ResponderExcluirHayton, Sempre muito bom ler suas crônicas. Melhor ainda é ler histórias do BB da nossa época. Tempos bons que não voltam mais. Grato pela oportunidade.
ResponderExcluirSempre elegi a gratidão como um dos sentimentos mais nobres do ser humano.
ResponderExcluirHayton,fiquei tāo curioso que não deu para esperar o dia de amanhã.Lí a primeira crónica e me encantei;mas partindo de você,não poderia ser diferente.O assunto,nos leva a um tempo que deixou lembranças indeléveis.Amanhã,lerei as outras.um abraço forte.
ResponderExcluirBela história - lembranças de um banco sem disputas e onde os colegas queriam, verdadeiramente, o bem uns dos outros. Tem muita gente, como Eu, que é grata a você.
ResponderExcluirAbraços,
Marcos Tadeu
Deus coloca certas pessoas em nossos caminhos que contribuem para o nosso crescimento pessoal e profissional. Tua trajetória de vida nos orgulha, Hayton!
ResponderExcluir"A gratidão é a memória do coração. Antístenes
ResponderExcluirHayton, o Paulo e eu conhecemos muito bem esse sentimento: gratidão! É o que sentimos, no fundo do coração, por você e pela Magdala: não tem preço, não tem limite! Vocês iluminaram o nosso caminho, no momento mais difícil.
ResponderExcluirNunca tivemos a oportunidade de retribuir tudo que vocês fizeram por nós, mas desejamos sinceramente que vocês recebam de volta muito mais. Muito amor e muita luz!
Maravilha!!!
ResponderExcluirGratidão a ti, que abriu mão de tua vaga na pós em gestão de pessoas, pela USP, e me concedeu. Fui o único assessor sênior da Dipes que a fez, na tua vaga. Dita e declarada em bom tu a todos. Obrigado de coração. Gratidão ao teu belo gesto que abriu muitas portas em meu viver.
ResponderExcluirHayton, a gratidão é algo tão forte, que palavras não são capazes de definir este termo. Só sabe o que é gratidão, quem já foi servido por alguém que naturalmente marcou sua vida; muito oportuno seu texto maravilhoso como sempre. Um abraço
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