Vidas reinventadas
Foi assim que apareceram alguns inventos que mudaram bastante a vida do ser humano na face da Terra: roda, vidro, papel, eletricidade, fotografia, lâmpada, plástico etc. Mas poucos foram tão importantes quanto o que junta algumas dessas descobertas e inventa o cinema.
Importante porque o homem não evoluiu apenas provendo suas necessidades materiais. Cultivou também desde as cavernas o hábito de ouvir e contar histórias, inclusive através de pinturas. Vem daí o gosto por ler e escrever textos, ver filmes e até mesmo disseminar "fake news" nas redes sociais. Há gosto pra tudo.
Não sou cinéfilo. Por preguiça, reconheço, não cheguei a ver metade dos filmes que gostaria de ter visto, mas confesso que alguns mudaram meu jeito de enxergar o mundo e toda vez que isso acontece, preciso convencer pelo menos meia dúzia de pessoas a assisti-lo e me dizer depois sobre o que viram. Me faz bem.
Queria conversar sobre planejamento de atividades, mas sem o rigor acadêmico. Juntei então numa sala vários gestores no final do ano, em Pernambuco (1998) e na Bahia (1999), e compartilhei com eles “A Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life)”, um dos clássicos hollywoodianos mais inspiradores.
Naquele filme – produzido em 1946 de forma absolutamente franciscana, quando comparada às megaproduções de hoje –, um candidato a anjo chamado Clarence (Henry Travers) desce do céu com o desafio de convencer George Bailey (James Stewart) a não se matar. Se conseguisse, ganharia finalmente suas asas.
George, nascido e criado na cidadezinha de Bedford Falls, abrira mão do sonho de estudar, viajar e conhecer o mundo para cuidar do banco hipotecário de que seu pai era sócio até falecer em pleno trabalho, vítima de infarto fulminante.
O Sr. Potter (Lionel Barrymore), todo poderoso da região, provoca a insolvência do banco com manobras desleais para, no passo seguinte, tentar comprá-lo “na bacia das almas”. George não aguenta a pressão e, prestes a falir, deprimido, resolve antecipar a própria morte.
O Sr. Potter (Lionel Barrymore), todo poderoso da região, provoca a insolvência do banco com manobras desleais para, no passo seguinte, tentar comprá-lo “na bacia das almas”. George não aguenta a pressão e, prestes a falir, deprimido, resolve antecipar a própria morte.
Louco por um par de asas, Clarence tenta convencê-lo a desistir do suicídio falando de sua importância na vida de muita gente. Não consegue com argumentos. Resolve então mostrar em flashback como seria a vida se George não fizesse parte dela. Imagens sempre dizem mais que palavras.
A partir daí acontecem várias situações que nos induzem a uma reflexão sobre como seria a vida se não estivéssemos por aqui, passando uma temporada incerta, com todos os nossos vacilos por pensamentos, palavras, atos e omissões. No mínimo, instigante.
Não quero frustrar a expectativa quem não viu o filme e pretende assisti-lo. Mas posso assegurar que várias pessoas lembram até hoje do que balançou dentro delas não só no sentido profissional, no ambiente de trabalho, no universo em que viviam, mas também nas relações com cara-metade e filhos.
"Num filme, o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação" (Charles Chaplin). Todos nós temos na memória pelo menos três ou quatro filmes que, ao vê-los pela primeira vez, mexeram no que estava quieto, adormecido.
Feito o mar, a vida desperta e se reinventa em ondas depois de um filme inspirador. Nem precisa pipoca e refrigerante.
Feito o mar, a vida desperta e se reinventa em ondas depois de um filme inspirador. Nem precisa pipoca e refrigerante.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSusy Rocha10 de maio de 2019 17:47
ResponderExcluirInstigante e de título bastante sugestivo... Vou procurar para assistir! 😉
Grande Hayton,
ResponderExcluirBelo Texto, reconstruindo um passado ótimo.
Procurando no YouTube agora
ResponderExcluirSe achou e viu, Rafa, compartilhe aqui sua opinião.
ExcluirAssisti ao filme mais de uma vez.
ResponderExcluirSíntese perfeita. Na reunião, quem fazia o papel de anjo?
Um abraço do Orlando
ResponderExcluirÓtima lembrança! Sempre trazendo belas reflexões!
ResponderExcluirEstou naquela de “não sei se vi ou se apenas li a respeito”.
Na dúvida, vou ver!
Isso, Zé! Digo que filme bom a gente nunca pode afirmar que viu. Toda vez que vê, enxerga novas sacadas, novos ângulos de visão.
ExcluirO Zé que viu com certeza era bem menos maduro. Outro Zé.
Fanático por filmes que sou, quis o destino que minha aposentadoria ocorresse na terra de Glauber Rocha. Valeu a lembrança desse belo filme.
ResponderExcluirÓtima lembrança, Jurema!
ResponderExcluirEu era um dos que estava naquele auditório da Gepes Salvador, na Rua Direita da Piedade, quando você reuniu o time da Super para ver o filme.
Depois disso também o usei numa dinâmica com os colegas de trabalho em Brasília... muito bom! Boas reflexões!
Fantástico e inspirador. Lembro perfeitamente das lições apreendidas. Houve outro também. O da doninha que acordava e renovava reiteradamente o mesmo dia.
ResponderExcluirVocê se refere a "O feitiço do tempo", de Harold Ramis. Muito bom também.
ExcluirFui um dos felizardos a poder assistir a esse clássico numa sessão organizada por você para os colegas da Dimac no CCBB Brasília, em grande estilo. Filme de fato marcante, principalmente por saber das referências com sua história de vida...
ResponderExcluirPois é, Rodrigão. Depois das duas apresentações em Recife e Salvador, fiz mais duas em Brasília. Não resistia à tentação de compartilhar com novos amigos que ia encontrando pela vida afora.
ExcluirValeu a pena em todas as vezes.
Vou procurar assistir. Concordo que a vida reinicia a cada amanhecer...
ResponderExcluirVou procurar assistir. Concordo que a vida reinicia a cada amanhecer...
ResponderExcluirVou procurar assistir. Concordo que a vida reinicia a cada amanhecer...
ResponderExcluirExcelente Hayton! Além da sua liderança natural sempre procurou inspirar os colegas através de palestras, filmes etc. Velhos bons tempos. Abs
ResponderExcluirBelíssimo texto!!!! parabéns!!!!
ResponderExcluirFiquei curioso como outros por aqui. Vou assistir. Bela crônica.
ResponderExcluirMuito bom Dr Hayton! Parabéns!!
ResponderExcluirIsso é o cinema...
ResponderExcluir“Lembre-se, George: nenhum homem é um fracasso quando tem amigos.”
ResponderExcluirUm dos maiores da época de ouro de Hollywood, a Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life no original, Do Céu caiu Uma Estrela em Portugal) tem uma história parecida com a história que conta.
O filme foi um fracasso de bilheteria, o que explica ter perdido o Oscar no ano seguinte, mesmo sendo a obra-prima de Frank Capra, italiano criado nos EUA, que sabia como ninguém fazer filmaços a partir de histórias relativamente simples. Esse foi o único em que Capra foi diretor, produtor, financiador e co-roteirista.
Só que veio a Televisão, que o popularizou exponencialmente ano após ano. Capra nunca o pensou como uma fábula de Natal, mas A Felicidade Não se Compra virou um dos maiores “filmes natalinos” de todos os tempos.
Os valores, a Mensagem edificadora da história é o grande trunfo desse clássico. E isso prevaleceu.
O American Film Institute o elegeu em 2007 como o filme mais inspirador de todos os tempos.
Obrigado, Dedé! Seu comentário enriquece de forma brilhante o que eu consegui dizer na crônica.
ExcluirExcelente, emotivo e arrebatador. Assim eu classifico esse filme, que também o assisti em duas ocasiões, sendo a primeira na Super-BA. Não é um veículo de teletransporte, mas lhe transporta para um outro patamar da vida ao lhe fazer questionar o sentido da mesma, num verdadeiro caldeirão de emoções.
ResponderExcluirEm minha própria tupiniquim teologia pelo avesso creio que o que define céu e inferno é estarmos num cinema, no cinema de São Pedro, vendo as cenas de nossas vidas, coletadas por anjos com asas. E, será do que resta em nosso semblante, após vê-las uma a uma, o que definirá nosso ingresso e para onde. Este teu post inspirou-me a ver o quanto vamos perdendo a noção do que realmente já fomos, somos, contribuímos ou nao fomos, não somos, e nao contribuímos para gerar vida por onde passamos. Nas boas cenas de meu viver estará um diretor que nunca deixou o orgulho subir a cabeça e nos ensinou o valor dos 4 Hs. Humor, honestidade, harmonia e habidades.
ResponderExcluirQuem sou eu, meu caro Ricardo? Mas até nisso estamos de acordo: o céu e o inferno está dentro de nós. Bons filmes tem o condão de nos afastar da zona morna do purgatório e não nos deixar inertes, apenas esperando a morte chegar.
ResponderExcluirHayton, vou ver se vejo esse filme.
ResponderExcluirÓtima crônica!
Marival.
ExcluirNão se passa pela vida por mero acaso... alguma coisa, ou alguém, a gente vai transformar... às vezes basta apenas uma palavra...
ResponderExcluirCom certeza, irei assistir ao filme!!!
ResponderExcluirJá vi esse filme com várias produções e achei muito interessante sempre.
ResponderExcluirQue lembrança!!!
ResponderExcluirHavia até me esquecido da beleza desse Filme, carregado de emoção...
Vou rever.
Essa lição de que a Vida vale a pena ser vivida com intensidade, otimismo e esperança, alavanca o que muitas vezes está adormecido em nós.
Me lembrei de uma frase de Machado de Assis, que disse assim: A arte de viver consiste em tirar o maior bem, do maior mal.
O filme realmente é muito inspirador. Obrigado Hayton por ter compartilhado o filme conosco lá atrás, ainda na Secex. Depois deste momento, reuni a família para assistirmos. Claro, com pipoca e guaraná.
ResponderExcluirAlém de ter compartilhado o filme com gestores de Pernambuco e da Bahia e com colegas da DIMAC, você reuniu os funcis da DIPES no Auditório do atual CCBB para que tivessem a oportunidade de ver o filme. Isso aconteceu pouco antes do Natal de 2001. Eu estava lá.
ResponderExcluirFoi a primeira vez que assisti a esse filme e pude refletir e aprender com as belíssimas mensagens que nos proporciona.
O filme foi tão marcante para mim que acabei compartilhando com todas as equipes que trabalhei desde 1996: Superintendências de Pernambuco, Bahia e Distrito Federal; diretorias de Gestão de Pessoas e de Marketing e Comunicação, Secretaria Executiva e Cassi. O melhor de tudo: muita gente ainda não havia visto e, assim como eu, até hoje deve estar sugerindo a outras pessoas. Justamente porque a mensagem que passa é atemporal.
ResponderExcluirMuito legal a ideia é iniciativa de compartilhar o filme com os outros gestores. Já coloquei o filme na minha lista.
ResponderExcluirFaço sempre o exercício de identificar pontos positivos de um filme ou livro, Hayton. Show de bola!
ResponderExcluirGanhei, como presente desse querido Hayton, um dvd com esse título. Assisti e, confesso, fiquei a pensar, como diriam os portugueses, por que Hayton me deu esse filme pra ver? A história é linda, eu vi, mas, mesmo depois de o haver assistido, continuei a me perguntar a coisa mesma. Sempre valorizei as pessoas ao meu redor, nunca as coisas e o trabalho, sempre a alma e não o dinheiro. Então, por que teria sido eu o alvo desse dvd? Ainda aguardo por respostas.
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