Chuviscava na tarde em que Tom Zé e seu amigo Catatau foram ao Maracanã assistir a Vasco e Bangu, na abertura do 2º turno do Campeonato Carioca de 1969. Mesmo com o aguaceiro, passaram antes na casa de Amaro, em Irajá, para apanhá-lo.
Ao chegarem lá, a mãe de Amaro recebia algumas amigas, com quem praticava o jogo do copo, que lembra o Tabuleiro Ouija, criado pelo espiritualismo, um movimento que varreu a Europa no século 19 conhecido pela visão otimista sobre o futuro e a vida após a morte.
Ao chegarem lá, a mãe de Amaro recebia algumas amigas, com quem praticava o jogo do copo, que lembra o Tabuleiro Ouija, criado pelo espiritualismo, um movimento que varreu a Europa no século 19 conhecido pela visão otimista sobre o futuro e a vida após a morte.
Era novidade para Tom Zé e Catatau aquele círculo de pessoas em torno da mesa da sala de jantar, com um copo emborcado no centro e as letras do alfabeto dispostas ao redor. De olhos semicerrados, sob a luz de velas, as mulheres colocavam as mãos sobre o copo, que deslizava em direção às letras, formando palavras ou frases curtas.
Ao ver que o filho Amaro amarrou os cadarços e dava os últimos retoques no topete antes de sair com os amigos — todos eles na casa dos 15 anos de idade —, a mãe cuidou de “ouvir o espírito” sobre o programa da rapaziada. O copo, então, apontou quatro consoantes: C, G, R e V.
Ninguém entendeu nada. Tom Zé, contudo, vascaíno crônico, deduziu que o “espírito” estaria profetizando a vitória do Clube de Regatas Vasco da Gama. Ficou cismado porque aquelas mulheres não tinham a menor intimidade com o mundo do futebol.
Os rapazes deveriam pegar o ônibus na avenida Brasil em direção ao centro da cidade, onde saltariam em frente à estação da Leopoldina e seguiriam a pé até o estádio. Com o chuvisco intermitente, optaram pela linha Irajá/Cascadura até Madureira e, de lá, foram de trem para a estação Derby Club, em frente ao Maracanã.
Chegaram cedo, no momento em que começava a segunda etapa da partida preliminar entre os times juvenis de Vasco e Bangu. Nem prestavam tanta atenção no desenrolar do jogo até que, de repente, na área banguense, um moleque espigado driblou dois defensores adversários e arrematou forte no canto do goleiro, fechando o placar em 3 a 0 para o Vasco.
No mesmo instante, Tom Zé sentiu um calafrio no espinhaço e achou que fosse febre, sintoma de resfriado. Mas logo depois desconfiaria de algo sobrenatural, por conta do jogo do copo da mãe de Amaro. Ficou quieto, entretanto. Não era chegado a superstições ou crendices populares.
Além de futebol, Tom Zé gostava mesmo de música, cinema e leitura, sobretudo de Drummond, que deu voz a muita gente boa ao confessar: "Não digo que sou vascaíno doente, pois doente é quem não é vascaíno". Gente do naipe de Aldir Blanc, Camila Pitanga, Danuza Leão, Edu Lobo, Francis Hime, Gonzaguinha, João Ubaldo Ribeiro, Luís Melodia, Martinho da Vila, Pixinguinha, Sonia Braga e outros.
Além de futebol, Tom Zé gostava mesmo de música, cinema e leitura, sobretudo de Drummond, que deu voz a muita gente boa ao confessar: "Não digo que sou vascaíno doente, pois doente é quem não é vascaíno". Gente do naipe de Aldir Blanc, Camila Pitanga, Danuza Leão, Edu Lobo, Francis Hime, Gonzaguinha, João Ubaldo Ribeiro, Luís Melodia, Martinho da Vila, Pixinguinha, Sonia Braga e outros.
Vida que segue, naquele dia no Maracanã a partida principal acabou sendo desastrosa para o Vasco, que perdeu por 1x2, com o desempate no último minuto, através de um obscuro ponta-direita banguense, chamado Mário. E na volta para Irajá, os vascaínos tiveram que engolir a zoação de Catatau, que não perdoou nem mesmo a profecia furada do jogo do copo da mãe de Amaro.
Para Tom Zé, no entanto, só depois de dois anos cairia a ficha sobre a premonição do "espírito". Em 24 de novembro de 1971, véspera de uma partida entre Vasco e Internacional, pelo Campeonato Brasileiro, um jornalista que trabalhava no Jornal dos Sports buscava inspiração para a manchete de capa. Ao saber que um juvenil de 17 anos, que tinha uma “bomba nos pés”, poderia sair jogando, arriscou: “Vasco escala o Garoto-dinamite”.
No dia seguinte, o novato justificaria a chamada promocional. O Vasco já vencia por 1 a 0 (gol de Buglê) quando ele entrou em campo, substituindo Gilson Nunes. Na primeira bola que recebeu, livrou-se do zagueiro gaúcho Pontes e, da entrada da grande área, acertou um chutaço na gaveta esquerda do goleiro Gainete, provocando nova manchete, agora em letras garrafais: “Garoto-dinamite explodiu!”
Beleza de texto, relatando uma época que parece a vida passeava e não corria como agora. Hayton, mais uma vez Parabéns pelo texto
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirCausos do futebol são sempre saborosos. Parabéns ao Fonseca por ser um testemunha ocular da história, como dizia o saudoso Repórter Esso.
ResponderExcluirBom Dia, acordar e deparar com um belo texto, faz muito bem a Vida. Parabéns. Amigo Hayton e Vascaínos, este time está merecendo um novo Roberto. Kkk
ResponderExcluirParece que foi ontem. Já se passaram 51 anos. Bem que o Vasco poderia ter outro Dinamite e eu voltar aos 15 anos ...
ResponderExcluirVocê não envelhece, Fonseca. O vinho e o bacalhau à lagareiro, além da música, do cinema e da leitura, fazem-no eterno aprendiz e mestre a um só tempo na arte de bem viver. Só o Vasco nos maltrata. Por enquanto!
ExcluirNão sei se o prazer maior foi ler uma história tão boa ou rever meu grande amigo Fonseca. O único defeito de Dinamite foi não ter jogado no MENGÃO.
ExcluirMais um " causo" do futebol, para os amantes da revista PLACAR. Mas do joguinho do copo eu lembro!! De arrepiar os cabelos dos adolescentes da época!! Quem nunca????
ResponderExcluirApesar da beleza do texto, o sofrimento dos vaiscaindos continua firme .....
ResponderExcluirAguilar, meu velho, nada fica no alto eternamente. Futebol é feito avião: o que sobe, desce. Por bem ou por mal. Aproveite enquanto dura.
ExcluirGrande Roberto Dinamite, carrasco do meu Fluminense em tantas partidas, na época áurea do futebol, em que nos empolgávamos ouvindo as gloriosas narrações de Jorge Curi, como essa do acervo, onde narra o primeiro gol do craque.
ResponderExcluirDesse assunto eu não entendo mas a riqueza dos detalhes nos seus textos me leva a entender. Parabéns!
ResponderExcluirEsse joguinho do copo era arrepiante. Principalmente quando se tinha primos com o senso de humor aguçado.
ResponderExcluirDá gosto em relembrar como o futebol nos fazia felizes. Tom Zé, com certeza, foi um privilegiado, em ter vivido por mais tempo, essa época de ouro do nosso futebol, em relação a mim, que tive a ventura de também ter experimentado um pouco disso. Belas histórias...
ResponderExcluirÓtimo texto! Além de retratar momento histórico na vida de todo vascaíno - o desabrochar de uma estrela de primeira grandeza - mergulha fundo na memória de um grande amigo do autor. Parabéns!!!
ResponderExcluirQual foi a manchete do JORTEBOL sobre o surgimento da estrela?
ExcluirMeu caro Silas, enquanto o Jornal dos Sports tratava do mundo real, JORTEBOL, seu maior concorrente à época, tinha uma linha editorial voltada para o imaginário juvenil, retratando épicas partidas de futebol de mesa. Apesar de ter contabilizado em toda sua existência um único leitor fiel, deixou um grande legado: a paixão de seu(s) leitor(es) pelo futebol e pelas letras. Forte abraço!!!
ExcluirNas lendas do futebol cabe tudo, desde o sobrenatural do Almeida até o Vasco ser campeão no Rio, no Brasil e na América. São Januário na cabeça.
ResponderExcluirPara um vascaíno que também viu os primeiros passos dessa lenda explosiva de São Januário, foi um deleite apreciar sua crônica, que ainda traz as lembranças do meu "chefe" Fonseca. Excelente viagem no tempo.
ResponderExcluirParece que as histórias com futebol têm mais sabor. Mas é um só uma opinião!
ResponderExcluirMeu pai e minha mãe, como bons vascaínos, o tinham como ídolo também.
Torci pra que ele fosse titular da seleção brasileira na Copa do mundo de 1978, na Espanha. Mas, Telê preferiu Serginho Chulapa. Fazer o quê?
Vez por outra, o vejo caminhando incógnito num shopping da Barra da Tijuca, perto do colégio do meu filho. Um privilégio.
Alguma confusão com datas aqui, Beto. Em 78, Reinaldo era o centroavante e Cláudio Coutinho, o técnico.
ExcluirHayton, este texto vai na mesma toada com que Nelson Rodrigues escrevia sobre o a paixão dele, o Fluminense. Você encontrou espaço até pro Sobrenatural de Almeida! Rsrs
ResponderExcluirParabéns! Mais um excelente texto, a gente ler com gosto.
ResponderExcluirConcordo com o colega, pena que Dinamite não jogou no Flamengo.
Pra quem gosta de futebol, é muito bom ver, ler, relembrar momentos especiais como esses que fizeram a história do maior ídolo do seu Gigante da Colina. Gostei da história e do suspense que vc foi criando no desenrolar do texto. Parabéns!
ResponderExcluirÁ ví essa do copo, era assustador! Qto ao Vasco, quase sempre a alegria de nós flamenguistas, 😂👍!
ResponderExcluirSHOW Hayton!!!
ResponderExcluirFantástico! Você vai se superando!
ResponderExcluirMuitas coisas me lembram você Hayton e o nosso amigo Fonseca. Mas, ver qq coisa relacionada ao Vasco, me traz a lembrança da persistência, fidelidade e honra que são as marcas dos dois!
ResponderExcluirA energia que seu cérebro produz é quase equivalente à de uma usina nuclear, haja inteligência.
ResponderExcluirEu sempre ficava em dúvida sobre qual parte de seu cérebro produz mais prodígios, a inteligência ou a memória, afinal você lembra de casos com detalhes que escapariam à de qualquer mortal.
Hoje elucidei qualquer dúvida, tudo fica definitivamente esclarecido para mim.
Você lembrar de jogo com vitória do Vasco, aínda mais jogando brilhantemente, é assombro de memória!!
E olha que gosto de acompanhar o Gigante da Colina, afinal ele é meu vice de estimação.
Acho que UNKNOWN está na espreita hoje, então aqui é Volney.
Beleza de texto que me levou a relembrar um dos mitos (Dinamito) que vi jogar contra o meu Imortal. Dinamite é o vascaíno que mais marcou contra o Grêmio em campeonatos brasileiros. Fez 07 gols
ResponderExcluirMais um Belo texto. Gostaria também que o Dinamite tivesse jogado no Botafogo.
ResponderExcluirGrande Fonseca, cadê tu, rapaz? Mais nunca nos falamos.
Abração
Zezito
Hayton, lembro bem desse jogo e do gol do Roberto. Estava escutando o jogo pelo rádio e,claro, secando o Vasco porque sou Flamengo. Bom também é rever o Jornal dos Sports com a manchete do dia. É uma viagem. Esse jornal não faltava na minha casa.
ResponderExcluirMarival.
Outra excelente crônica! Velhos bons tempos: Roberto Dinamite, Zico ......
ResponderExcluirVelhos tempos: Ecio, Orlando e Coronel;Adílio, Andrade e Zico. Media de publico no Maracanã de 125.000 torcedores.
ResponderExcluirShow!
ResponderExcluirEu como Flamenguista juramentado era pra achar essa crônica um saco, mas por outro lado, apesar de ser papo de vascaínos eu achei EXELENTE. Comecei a dar risadas só em imaginar a cara do meu amigo Fonseca cheio de superstição. Ótima crônica Hayton, achei fabulosa a ilustração dos relatos cênicos escritos com maestria. Adorei!!!
ResponderExcluirBelo texto, grande Roberto Dinamite, maior ídolo do Vasco, é quem deveria ter uma estátua em São Januário.
ResponderExcluirQue construção gostosa de texto. Achei que era o Tom Zé, o músico. No fim a grata surpresa que era o meu amigo Fontseca (como eu o chama). Showwwww.
ResponderExcluirExcelente crônica, um deleite para os vascaínos. Me fez lembrar momentos marcantes da era gloriosa do Dinamite no nosso Vasco. Também ia de trem ao Maracanã e desembarcava na estação Derby Club. Ao retornar era praxe me "deliciar" com o "parrudão","famoso" sanduíche de mortadela oferecido pelos ambulantes na estação. Quantas lembranças boas!!! Aos 14 anos, primeiro título de campeão brasileiro, radinho de pilha colado ao ouvido. Não pude ir ao Maracanã. Esperei pelo videotape na madrugada. Rádio de pilha e a narração de Waldir Amaral e Jorge Curi, um em cada tempo do jogo. Quanto à arbitragem, Mário Vianna, com dois enes , confirmava : gooool legal...
ResponderExcluirJogo inesquecível: Vasco 5x2 Corinthians, quando ele voltou de uma breve passagem pelo Barcelona. Cinco gols do Dinamite, tenho todos na memória. Eu estava lá.
Hayton, permita-me incluir entre os ilustres vascaínos, três feras: Paulinho da Viola, Roberto e Erasmo Carlos.
Saudações Vascaínas.
Nelson Pascoal
Excelente texto retratando bem a paixão pelo futebol, suas supertições, sofrimentos, alegrias e o sobrenatural que vez por outra dar o ar da graça kkk Parabéns mais uma vez
ResponderExcluirMais um belo texto do meu ilustre primo. Adorei o seu primeiro livro de crônicas, assim como as pessoas a quem emprestei o livro também o acharam excelente. Espero O próximo. São histórias reais que nos fazem muito bem.
ResponderExcluirQue história legal! Apesar de falar do Vasco... rsrs! Entre muitos momentos inesquecíveis que tivemos com a turma da Super DF, com certeza os que envolveram nossa rivalidade Flamengo x Vasco foram os mais divertidos! Saudades do Fonseca!!
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