quarta-feira, 17 de março de 2021

Camisas coloridas

A rainha Vitória, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda – tataravó da atual monarca , cujo reinado duraria 63 anos, tomou uma decisão em 1861 pra lá de radical. Com a morte de seu marido, o príncipe Albert, resolveu guardar luto pelo resto de sua vida usando roupas pretas nos 40 anos seguintes, isto é, até 1901, ano em que faleceu.


Não se sabe se a medida alcançou sutiãs, espartilhos, anáguas, combinações e calçolas. A história não se intromete nessas intimidade
s e relata apenas que passou a vigorar naquele tempo uma regra vitoriana determinando que as viúvas usassem o preto como luto. 

A mulher que perdesse seu marido, portanto, teria que usar vestes negras – inclusive véu para cobrir o rosto, daí surgindo jóias e outros acessórios na mesma tonalidade – por, no mínimo, dois anos e meio. Jornais da época também estimularam o uso da cor escura em ocasiões como a morte da sogra ou do sogro de seus filhos casados, por seis semanas. 

 

No começo do século 20, com a morte da rainha Vitória, aos poucos o luto tornou-se mais flexível. Nem por isso o antigo costume deixaria de ser observado até aqui no Brasil. A diferença é que, hoje, já não é preciso entulhar o guarda-roupas com peças escuras por tanto tempo após a morte de um ente querido. 

 

Em 1972, no dia seguinte à morte de meu pai, minha mãe – registre-se, ainda hoje soberana no reino dos Juremas que migrou da Paraíba para Alagoas no final da década de 1960 – também adotou medida drástica ao jogar no caldeirão e tingir de preto todas as roupas dela e dos nove filhos, inclusive minhas camisas coloridas e uma calça boca-de-sino com gravuras de marcas de cigarros que, para mim, fazia enorme sucesso junto à namorada.

 

Eu já cogitava voltar às cores habituais logo depois da missa de sétimo dia, embora não fosse possível adquirir novas peças de vestuário. Aos 14 anos, estudar e trabalhar ao mesmo tempo não passava de um desejo que só se realizaria dois anos mais tarde. 


Vasculhei então as roupas deixadas por meu pai e descobri algumas camisas coloridas de mangas curtas que me caíram bem. Para mim, luto não era casca; era caroço. Haveria expressão maior de sentimento do que usar o que lhe pertencera, inclusive o relógio? 



Quem se sentiu desconfortável foi a namorada. Cheguei a pensar que fosse o desodorante que não estaria dando conta do cheiro de cebola que emanava dos sovacos após os rachas de fim de tarde. Não era. Alegou que, ao ver o relógio e as camisas coloridas de mangas curtas, era como se meu pai estivesse ali conosco. 

Disse-lhe então que não deveria preocupar-se com os mortos; que eles teriam mais o que fazer onde estivessem e não perderiam tempo com os vivos; que não dão a mínima para o destino de roupas, livros, escovas, sapatos e sandálias que deixam.
 


Balançando-se numa rede, no terraço, a mãe dela entrou na conversa que ouvira “por alto” e passou a contar uma breve história de família sobre o destino de coisas pertencentes aos mortos. Queria ajudar-me a convencer a sua filha de que camisas eram apenas camisas, nada mais. Conseguimos.

 

Dizia ela que, em 1941, dois de seus irmãos, ainda crianças na cidade alagoana de União dos Palmares, foram testemunhas de uma das piores enchentes do rio Mundaú, por conta do excesso de chuvas na cabeceira de seus afluentes. O mais velho dos meninos, beirando os 10 anos e criado solto feito garrincha (ou corrupião, rouxinol etc.), saíra logo cedo para assistir à correnteza de águas barrentas arrastando o que encontrava nas margens.

 

O nível do rio subiu de forma rápida e barulhenta, ameaçando a única ponte da cidade. Passava de duas da tarde e nada de o menino chegar para o almoço. Não faltavam transeuntes na calçada a comentar que vira mais um corpo a descer boiando. Angústia e ansiedade instaladas, a família perdeu a fome, desabou no choro e acendeu velas suplicando a intervenção de Santa Maria Madalena, padroeira palmarina, junto aos céus. 

Foi quando um dos irmãos do desaparecido, um ano mais novo que ele e que mais tarde se tornaria respeitável frei capuchinho na região, irrompeu na sala e habilitou-se sem qualquer pudor perante os demais membros da família quase enlutada: “Vou logo avisando a todos: se ele morrer, a camisa vermelha é minha!” 


No fim da tarde, o menino sumido reapareceu descalço, nu cintura acima – camisa suja, enrolada no pulso , suor descendo no espinhaço, a chupar um caroço de manga. De barriga cheia, resolveu tomar banho de caneco no quintal enquanto o sol morno desbotava a paisagem, que se vestiu de luto como as águas do rio à espera das cores do dia seguinte. 



52 comentários:

  1. No universo que fui criado era comum herdarmos, em vida, as roupas dos irmãos mais velhos. O ruim era quando um colega da escola gritava: "O defunto era mais gordo." A necessidade impulsiona a reciclagem.

    ResponderExcluir
  2. Ainda hoje herdo as coisas do meu pai: um rádio, um relógio e a canção. Coisas que me dizem que ele está vivo bem aqui perto. Seguimos juntos...

    ResponderExcluir
  3. Que parágrafo mais bonito esse: "...enquanto o sol morno desbotava a paisagem...". Excelente alusão ao luto de um dia que se renova no dia seguinte, tal qual as camisas coloridas que, no dia anterior eram luto. Excelente!!!

    ResponderExcluir
  4. A Rainha inventou a moda do luto e muitas seguem até hoje, como minha mãe. Antes eu tinha algum receio, mas depois que faleceu uma tia de meu marido, e minhas filhas usam umas jóias que ela deixou como forma de homenageá-la e como lembrança que eu acabei com receio. O relógio de meu pai , um anel, eu consigo usar, mas roupa não , ainda preciso superar .

    ResponderExcluir
  5. As roupas não usei, mas os ensinamentos como honestidade, humildade, respeito, determinação..., de meu saudoso pai, como se roupas fossem, vesti para sempre. Aquele pernambucano simples e de pouco estudo foi determinante em minha vida. Obrigado Hayton por mais essa reflexão e sentimentos que você proporciona com seu belo texto.

    ResponderExcluir
  6. Que delícia de história, meu amigo. Deu uma vontade visceral de morar perto de você, pra gente tomar cafés com prosa. Deu saudades. Dedé.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Daqui a duas vacinas a gente se junta de novo. Aqui, aí ou onde der. A saudade é recíproca, meu velho amigo.

      Excluir
  7. A maior herança do luto é a saudade.

    ResponderExcluir
  8. Lembrei da blusa estampadinha de rosa que vestia no naquele fatídico dia, que ficou cinzenta na tentativa de coloração, pois o tecido era sintético e não absorveu o corante Guarany...tristes lembranças...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mãe, porque você também não faz suas próprias histórias?? Gostaria de lê-las rsrsrs. Você daria uma boa escritora!!!

      Excluir
    2. Xiii, Haydée!

      Lembrou do corante Guarany? Então fique em casa, grupo de risco!

      Excluir
  9. Hayton

    Contar histórias é uma arte. Mas a arte literária vai além de contar histórias, pois seu cerne não é o enredo. Este apenas é o subterfúgio para o genial, arriscoso e maravilhoso exercício de ajuntar esteticamente palavras. Sim, é mais forma que conteúdo.

    Pensei nisso ao ler esta linda crônica da camisa vermelha, mais um texto seu que vai além de uma narrativa pitoresca.

    ResponderExcluir
  10. Não me canso de admirar a habilidade e a poesia do autor em esculpir em suas crônicas o ajuntamento de histórias como as da Rainha Vitória e do menino que sumiu por algumas horas durante a enchente do rio Mundaú, para dar caldo a sua própria vivência com as roupas do falecido pai! Sensacional!

    ResponderExcluir
  11. Excelente narrativa, Hayton. Que sejamos sempre mais caroço e menos casca.

    ResponderExcluir
  12. Pra falar de saudades, heranças e legados, você acabou fazendo uma viagem transatlântica: das anáguas da Rainha para as águas do Mundaú. Mais uma deliciosa crônica. Parabéns!

    ResponderExcluir
  13. Bela crônica Hayton. O caroço, na realidade legado, é o que nos define e nos move. Forte abraço.

    ResponderExcluir
  14. Sensacional, Hayton. Crônica com gosto de quero mais. Por alguns minutos você nos faz viajar. Que mais pode querer um escritor? Grande abraço!

    ResponderExcluir
  15. Que Beleza! Lê esta crônica Nos traz vida, reflete a verdadeira essência, até mesmo do desejo, sem rodeios.

    ResponderExcluir
  16. Como são incríveis as coincidências da vida! Acabo de ler "Contos Populares Espanhóis", colecionados por Yara Maria Camillo. Grande parte dos títulos versa sobre a morte. Espanhóis, mexicanos e outros povos latinos gostam desse tema.
    Sem confete, Hayton, o seu texto supera todos! Não sei se por conta da veracidade dos fatos relatados ou da "viagem" de uma família real até outra realmente real. Ou talvez, porque você sempre aborda temas com a profundidade e a leveza que só você sabe dar. Parabéns amigo!! Sempre melhor!

    ResponderExcluir
  17. Que belo texto!
    Mas, afinal, quem ficou com a camisa vermelha? Kkkkk

    ResponderExcluir
  18. Eu, graças a Deus não tenho nenhum receio. Compartilhamos, inclusive com as netas, as roupas de mamãe. A lembranca está viva entre nós, até através de das peças que herdamos.

    ResponderExcluir
  19. Oi, Hayton: recebi seu texto por e-mail vindo do escritor, meu amigo, Marcelo Torres. Gostei muito da narrativa, mergulhei naquele mundo como se em um filme. Abs.

    ResponderExcluir
  20. Não sabia que todas as roupas de vocês se tornaram pretas! Quantas lembranças, que para nós, netos, são novidades e faz parte da história da juremada.

    ResponderExcluir
  21. "...se vestiu de luto como as águas do rio à espera das cores do dia seguinte".
    Pura poesia! Adorei, Hayton!

    ResponderExcluir
  22. Desconhecia essa origem do luto. Acreditava que vinha do início do cristianismo.
    Bela crônica!

    Orlando.

    ResponderExcluir
  23. Falar de luto é coisa difícil. Há de se ter cuidados. Senão ficam os sentimentos à flor da pele. Mas romancear o tema, como você fez, plenifica a grande maestria do contador. Eis mais uma história que se mistura com a realidade. E com tal leveza, que acaba por tornar saboroso uma temática a que somos, a maioria, um tanto o quanto arredios. E por ter sido vivida é que a trama se torna ainda mais densa e saborosa. O autor se aprimora a cada nova edição. Como se colocasse em movimento uma torrente de situações dignas de serem repassadas. Excelente, mais uma vez.
    Roberto Rodrigues

    ResponderExcluir
  24. Sensacional Hayton. Minha mãe, por ocasião do falecimento de meu pai, também tingiu de preto todas as suas roupas. Todas. Por longos cinco anos só usou preto. Aos poucos os filhos foram presenteando no aniversário ou no dia das mães peças de roupas mais escuras como o marrom, roxo, o azul marinho. Quando ela se deu conta nós já havíamos colorido de novo a vida dela.
    Obrigado amigo por mais essa crônica que tão bem coloriu o meu dia.

    ResponderExcluir
  25. Gosto de capturar, das suas crônicas, certas preciosidades. Desta vez foi "Para mim, luto não era casca; era caroço". O sentido que transmite é de uma riqueza ímpar!
    Roberto Abbehusen

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nenhuma sofisticação, mas achei que traduziria bem. Deu certo.

      Excluir
  26. O desaparecido de 1941 deve ter sido o Mauríno Veras. Foi meu aluno no curso de comércio no Colégio Santa Maria Madalena. Depois de aposentado da Endemias Rurais, fez Direito, tornando-se Procurador do Estado, tempos depois. Na época, década de 60, o Maurino era o proprietário do serviço de ALTOFALANTES, tipo cornetas, que inundava de música e propaganda o centro de União.

    A propósito, a cidade é propensa a grandes enchentes, pela confluência dos rios Mundaú e Canhoto. A de 13/14 de março de 1969 foi a que causou maior destruição, arrasando São José da Laje, que precisou ser reconstruída e fez grandes estragos em União e Murici.

    Gostei muito da crônica, fez-me lembrar de alguns personagem da cidade. Sobre a questão do luto, já opinei anteriormente.

    Orlando.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo, Orlando! Maurino também foi proprietário do cine Brasília, próximo à esquina da sinuca. Além da única escola de datilografia da cidade, magistralmente tocada por Rosinha, sua esposa, a quem devo o êxito numa famosa prova eliminatória de 900 toques em 6 minutos anos depois.

      Excluir
  27. Corrigindo: alguns personagens...

    ResponderExcluir
  28. Bela crônica!
    Cheia de poesia.
    Zezito

    ResponderExcluir
  29. Que beleza de crônica, Hayton! Parabéns!
    Como fica evidente a distinção com que cada pessoa lida com os acontecimentos da vida. E como as crianças podem fazer das horas perigosas, grandes e divertidas aventuras. Aí você me fez lembrar do escritor alagoano Jorge de Lima, em seu poema Enchente, quando, diante de todos os estragos das águas, assim registra:

    Só os meninos estão satisfeitos:

    — “Deus permita que o rio encha mais!” — “Deus permita que o rio encha mais!”

    ResponderExcluir
  30. Oi Hayton,
    Lendo sua crônica,vi que temos muitas coisas em comum.
    Quando nossos avós faleceram (Mãe Sussu e Pai Simente), minha mãe também colocou no caldeirão, suas roupas, do meu pai e dos 5 filhos para serem tingidas. As roupas claras até ficaram
    razoáveis, mas as coloridas..., uma negação.
    Agora eu pergunto:
    " O que uma criança entende por luto,ao vestir uma roupa preta?"
    Na época, era tradição...
    Forte Abraço,
    Maria de Jesus Almeida Rocha

    ResponderExcluir
  31. Mais uma crônica de beleza singular.
    Com mente tão fértil, não deve ter sido difícil pra você transitar por anáguas e espartilhos, combinações e calçolas. O perigo é muitos de seus leitores não fazerem sequer ideia de coisas tão ancestrais.
    Certamente pra não ter que se intrometer nas intimidades do rei, você resolveu colocar aí o menino nu.
    Conquanto redundante, mais uma vez parabéns.

    ResponderExcluir
  32. Parabéns pela leveza e criatividade em tratar, de forma magistral, um tema tão difícil para todos.

    ResponderExcluir
  33. Gosto muito dessas suas histórias passadas em sua família. Lembra-me de quando visito minha familia e eu meu Irmãos começamos a conversar dos acontecimentos transcorridos. Lembra-se também que cada um tinha um apelido que
    não era bom usa-lo pois gerava confusão. Ainda gosto mais dessa sua maneira descontraida, sincera, divertida e agradável de narrar a história. Meus parabens mais uma vez pela sua disposição que nos diverte nesse confinamento. Que o Espirito Santo ilumine você e sua família.
    Jose Barbosa de Andeade.

    ResponderExcluir
  34. Outra excelente crônica! Parabéns amigo.

    ResponderExcluir
  35. De meu pai não me sobrou nada, eu era magro demais e pequeno quando ele se foi. A única coisa que eu queria era um revolver de cabo de madrepérola, mas éramos muitos irmãos pra dividir: 20. Só fiquei a ver a divisão.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Impressionou-me este seu relato, meu caro Mazine. Talvez você possa construir a partir dele uma narrativa autobiográfica interessante.

      Excluir
  36. Respostas
    1. Há coisas que as sogras só contavam aos genros. O que elas não faziam antigamente para reter um bom partido para suas filhas! Rsrs

      Excluir
  37. Verdade! Você fumava e eu não. Quantas vezes eu levantava pra expulsar o fumante, e ela interferia!!!

    ResponderExcluir
  38. Agostinho Torres da Rocha Filho21 de março de 2021 às 11:15

    De fato, a expressão "para mim, luto não era casca; era caroço" sintetiza muito bem o pensamento do autor em relação ao luto e não há mesmo expressão maior de sentimento do que usar os pertences de um ente querido que já se encontra em outra dimensão. Belo texto!!! Mais uma vez, parabéns!!!

    ResponderExcluir
  39. Hayton, fico impressionada com a sua versatilidade e seu dom da escrita. A facilidade com que você muda de assunto, da nossa triste realidade - peculato, lavagem de dinheiro e organizações criminosas - ao luto da rainha Vitória. E como você nos engana, porque seu textos são aparentemente leves, mas ao mesmo tempo muito profundos. Que ninguém se engane!

    ResponderExcluir
  40. Beleza de crônica. Os temas sobre a "morte" sempre me fascinaram. Na minha família (considerando a partir dos meus pais) nunca prosperou o exercício do luto. Claro que há tristeza quando perdemos alguém, mas sempre persiste a ideia de que "a vida continua" e é preciso ser vivida. Guardo vários objetos que pertenceram às pessoas que amei, mas nunca tive coragem de usar suas vestes.
    O texto a seguir, atribuído a Chico Xavier, bem resume meu entendimento sobre a vida e a morte: "Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito."
    A morte pode até ser tratada como assunto na qual a maioria das pessoas não gosta de falar, mas é um fato, que vem para todos nós, é uma coisa tão natural quanto existir e é provavelmente a única coisa certa na existência de todos.
    O fato é que não somos preparados para "lidar" com a morte. As crianças, sob o argumento de proteção, são alijadas do processo, talvez por isso, depois de adultos ainda tenham tanta dificuldade em enfrentá-la.

    ResponderExcluir
  41. Não sabia a origem da cor preta em lutos... e pensar que ficava vigiando as calças LEE de meus irmãos que ficavam no varal para secar e não serem roubadas... tive uma camisa que era um out door ambulante com diversas marcas de peças automotivas.

    ResponderExcluir
  42. O prazer da leitura de suas crônicas é garantido caro Hayton, como também a fantástica comparação de uma história da realeza como disse seu amigo/leitor, para uma história real. Eu não conhecia a origem desse hábito. Além de ser um assunto um tanto receoso de se falar. E, integrada a tudo isso, poder-se fruir de uma volta ao passado de cada um de nós. Quem não teve uma triste história de luto? Eu, na realidade não conhecia de onde foi originado esse uso do luto. Quando perdi meu pai aos 13 anos, nossa mãe nos fez usar luto por um ano, conhecido como “luto fechado”, inclusive roupas de mangas compridas; agora imagina sete filhos, todos crianças de roupa preta por mais de um ano como rezava a época! E nem sabíamos o porquê daquilo.
    Minha mãe usou por mais de sete anos, somente roupa preta, se muito fosse, uma mais clara, mas sempre em tons de cinza, azul escuro ou marrom e depois mais cor preta. À medida que os filhos cresciam, fomos observando que nossa mãe tão jovem e tão bela, viúva aos 31 anos, fechada num mundo de cores escuras, não lhe caía bem. Só assim, com muita insistência dos filhos, foi que ela passou a usar cores mais alegres e variadas. Foi assim, a minha história de luto. Não curto muito esse negócio de usar luto, não gosto nem dessa palavra, que só me lembra morte.

    Um abraço

    ResponderExcluir