quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O silêncio entre notas e palavras

Esta semana, revisitando as memórias de um verão distante, bateu de novo aquela inveja artística ao ouvir “Luiza”, de Tom Jobim, e “Carolina”, de Chico Buarque. Não a inveja mesquinha, mas a admiração inquieta, quase resignada, por não encontrar resposta para uma pergunta que me persegue: por que nunca criei algo tão arrebatador? Algo capaz de fazer alguém fechar os olhos e balançar devagar numa rede, como fazia meu tio Enoch na varanda de sua casa na tórrida Caxias (MA), embalado pela poesia de “Marina”, de Caymmi.


Ilustração: Uilson Morais (Umor)


Talvez o que mais me fascine na música seja justamente o que ela não diz, mas insinua. O silêncio que cochila entre as notas é o mesmo que encorpa as palavras na escrita – um espaço onde a imaginação encontra abrigo e as emoções criam raízes.  

 

Mas a realidade é dura. Nunca compus nada que chegasse perto de uma canção. Para ser justo comigo mesmo, talvez isso se deva ao fato de ser praticamente nula minha relação com instrumentos musicais. Nem pandeiro, nem reco-reco, nem sequer um tamborim. É como se as notas me evitassem, conspirando para preservar o silêncio absoluto na partitura da minha vida.

 

O que me consola é saber que figuras como Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini também nunca tocaram um instrumento. Adoniran, o mestre das crônicas cantadas, não precisou dedilhar um violão para criar "Saudosa Maloca" ou "Trem das Onze". E Vanzolini? O silêncio das madrugadas paulistanas bastou para transformar em poesia os dramas urbanos de "Ronda" e "Volta por Cima". 


Talvez porque eles, geniais que eram, soubessem que o extraordinário é feito do corriqueiro, como a grama seca que rebrota sem barulho ao primeiro chuvisco. Eu, sempre obcecado por algo maior, ignoro que o sublime, tantas vezes, se camufla no simples – no rangido do armador de uma rede na varanda ou no chiado de um velho disco de vinil. Não é a falta de talento que me paralisa, é minha mania de desprezar o que já está ao meu alcance, em busca de um horizonte inalcançável.


Lembro do álbum duplo "Há sempre um nome de mulher", uma homenagem a figuras femininas fictícias e inesquecíveis. Era janeiro de 1988 quando dei esta obra de presente ao tio Enoch. Comovido, ele a recebeu com a gratidão que só a música inspira. Mais do que uma celebração às mulheres, era um tributo ao talento incomparável de Caymmi, Chico e Tom – compositores que encontraram na música um caminho para a eternidade. 


E é essa eternidade que me fascina e me tortura ao mesmo tempo. "Luiza", com sua letra carregada de imagens poéticas, como o “raio de Sol nos teus cabelos” que explode em “sete cores”. Talvez o que a torne tão inesquecível não seja apenas a beleza das metáforas, mas a habilidade do autor em transformar uma saudade comum em algo extraordinário. E "Carolina", com seus olhos fundos que guardam “a dor de todo este mundo”, imóvel sob uma árvore melancólica enquanto tudo gira ao seu redor? É a glória eterna em forma de melodia.


Essas canções têm algo em comum: são histórias que transcendem o papel e a melodia, alcançando uma universalidade que eu, apenas um presumido cronista, só posso invejar. Mas sem desistir, que fique claro!


Talvez o meu maior obstáculo, repito, seja a incapacidade de aceitar o simples. Perseguindo o inalcançável, esqueço que o sublime não se escreve – ele se sente. Mas, se dizem que os sonhos nunca envelhecem, a luta continua.


Se bem que ontem, enquanto ouvia "Luz do Sol" ("Que a folha traga e traduz em verde novo em folha...”), de Caetano Velloso, e "Aquarela" (..."O futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar..."), de Toquinho, quase me convenço de uma vez por todas de que minha missão não é compor, mas traduzir o que a música deixa em nós. Porque o silêncio não é vazio. É nele que as notas se preparam para nascer e onde as lembranças se aninham.


Se nunca conseguir criar algo que habite o espaço invisível entre as notas, que minhas crônicas, ao menos, sejam capazes de revelar o silêncio cheio de sentidos que a música deixa em nós. Porque é nesse vazio que os verões renascem, as saudades despertam, e o eterno nos apanha, desprevenidos.

76 comentários:

  1. Eu não toco instrumento
    Essa é a minha sina
    E jamais irei compor
    Luísa ou Carolina
    Abrigo a imaginação
    Dou raiz à emoção
    E admiro Marina.

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  2. Prezado
    Hayton, embora você não tenha pendor para a música , é mestre na escrita das suas crônicas , com as quais transporta, a nós leitores, para as nossas próprias e saudosas lembranças de tempos idos que não voltam mais. Muitos são os dons e as maneiras de encantar, o seu é o talento para contar histórias escritas, histórias que também encantam. Seja feliz. Parabéns por mais esta crônica excelente.

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  3. Que maravilha de crônica-canção. De fato, as letras de muitas canções são verdadeiras terapias. Falam no rancho fundo da alma. Aquecem o de volta pra o aconchego. Nos fazem andar devagar porque já tivemos pressa. Saboreando a natureza das coisas, pois amanhã pode ter tudo, ou simplesmente nada.

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  4. Inspirado, meu amigo! Às vezes, a música me inspira. Até pagode de Zega pagodinho ou olhos nos olhos cantado por Maria Betânia, me saculeja! Ou marchinhas pernambucanas dos velhos tempos! Nelson Gonçalves! Não é à toa que os enfermos com doença de Alzheimer, a última coisa que perdem é a lembrança das músicas! As músicas possuem emoções que só quando as ouvimos, sentimos novamente!

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  5. Caro Hayton, a merecida exaltação que vc faz à música, cabe perfeitamente para suas belas crônicas; na de hoje, vários trechos são letras de uma bela canção e destaco o refrão: Nem pandeiro, nem reco-reco, nem sequer um tamborim….

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    1. Pela “caligrafia”, já vi que se trata de meu amigo Cláudio Vasconcelos. O caso é mais sério do que parece, meu caro. Até no assovio às vezes desafino. Mas como ainda me sinto novo e Deus é bom… 😅

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    2. Parabéns Hayton, maravilhoso texto. Obrigado por compartilhar.
      DAVI

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  6. Quem sabe e sem menos esperar não surge uma bela poesia/musica…. O talento já existe . Parabéns

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  7. ADEMAR RAFAEL FERREIRA29 de janeiro de 2025 às 06:26

    Se escrever é a sina
    O faça com alegria.
    Os textos bem produzidos
    São cheios de poesia
    As cores, cheiros, sabores...
    Para leitoras e leitores
    Soam como melodia.

    O toque da caneta no papel ou dos dedos nos teclados são músicas abstratas.

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  8. Essa crônica é uma poesia: “porque o silêncio não é vazio. É nele que as notas se alinham…” Uma beleza!

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  9. Padeço da mesma “inveja boa”. Tem uma canção do Milton Nascimento que diz bem o que sinto. Ele diz: “Certas canções que ouço, Cabem tão dentro de mim
    Que perguntar carece Como não fui eu que fiz”

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  10. Li sua crônica deitado numa rede.
    Ao terminar, fechei os olhos e comecei a "viajar" pelas belas músicas que curti ao longo desses anos. Parabéns.

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  11. Fantástica crônica em Hayton. Viajei no tempo e estou neste time dos que não desistem. Já comprei violão Giannini e já o troquei pir um litro de wisk, pois o caboclo tocava muito e com o meu violão a farra entrou pela madrugada. Tentei tocar Geraldo Vandre (Pra Não Dizer que Não Falei das Flores), tentei tocar Pingos de Amor, de Paulo Diniz. Estas duas músicas geralmente fáceis para iniciantes não me levaram adiante. Na pandemia comprei outro Giannini mas ja passei para minha filha. E assim vai: 🎼Caminhando e tentando e seguindo cantar,
    pois a vida passa telefono e você ainda me não me viu cantar,
    Será que já não temos tempo de continuar???.
    Avante, pois também já tentei cantar "Atirei o Pau no Gato" em um encontro de administradores em Garanhuns, creio que em 1999, para quebrar o gelo e na sequência pedi para minha esposa cantar duas músicas da banda Roupa Nova.
    Tudo pela música e desistir, jamais. 🤣😂🤣

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  12. Encantado! Hei de debruçar, quando na escrita, em entender cada compasso, cada falsete, cada sustenido, que venha implícito nos seus textos, tão instigadores quanto belos e informativos quanto este, caro Hayton.
    Ave Palavra!

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  13. Há sempre um nome de Mulher foi um LP patrocinado e distribuído nas agências bancárias do Banco do Brasil com os recursos sendo destinados para o "Programa de Aleitamento Materno" da LBA. Todas as músicas em questão citam ou se referem a uma mulher. Eu tenho ainda meu exemplar. Dedé Dwight

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  14. A crônica vai fundo na relevância que a música tem para mim... mas, também não toco instrumentos. A depender do estilo, do arranjo e outras coisas mais, viajo no tempo e espaço musical. As obras citadas por vc (também os dilemas que inspiram), Hayton, são mesmo universais.

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  15. Na crônica também enchemos os olhos de saudades. Cada parágrafo nos dá contentamento, certamente diria a Cecília. Em algum momento, alguém vai musicar as suas inspiradas crônicas . Na área instrumental, não toco nem pandeiro elétrico.

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    1. Pandeiro elétrico? Tão complicado quanto pratos, triângulo e tuba, que também nunca toquei. Nem tento…

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  16. Haydee Jurema da Rocha29 de janeiro de 2025 às 07:29

    " Deixa que eu te cato no escuro... te abraçar e encontrar o que eu procuro... que eu não seja nada..." esses versos te lembram alguma coisa? Kkkkkk

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    1. Cruz credo! Ave Maria! De onde desenterrastes isso?

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  17. Haydee Jurema da Rocha29 de janeiro de 2025 às 07:31

    E o restinho: " Sem antes ter a paz de te encontrar"...kkkkk

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  18. Ah... A música... As canções... Sempre despertam sentimentos que se traduzem em saudade ou lembranças de bons tempos vividos. Mas, o que seria a melodia, em si, se não tivesse o momento, a inspiração... Esta não nasce só... Sempre tem uma "história" que lhe dá suporte. Até nas grandes peças dos compositores que se imortalizaram, há a poesia e um contexto inspirador, mesmo que a melodia se apresente "sem letra", mas a evolução melódica, por si, faz a poesia brotar em nossas almas...

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  19. ROBERTO SANTOS FERNANDES29 de janeiro de 2025 às 07:56

    Diante de tão bonitos comentários, só me resta parabenizá-lo por mais essa crônica, recheada de filosofia e bom gosto.

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  20. Mestre Jurema, seu conto exalta memórias de um tempo bom, onde as canções possuíam palavras que expressavam as dores e amores da alma e do coração.

    Sua escrita se aprimora e melhora a cada dia, assumindo um requinte extraordinário e, como diria o autor... "o extraordinário é feito do corriqueiro, como a grama seca que rebrota sem barulho ao primeiro chuvisco!"

    Parabéns!

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  21. Hayton, com a qualidade que escreve, com a energia e vida expressa em seus textos, e só questão de tempo. Sua hora vai chegar. Parabéns pela busca e objetivo.

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  22. Dizem q Deus escreve certo por linhas tortas. Imagine se o cidadão escrevesse lindas crônicas, letras, colocasse a música e cantasse tocando vários instrumentos. Isso tudo ainda aposentado do BB e morando em Maceió numa cobertura triplex. Qual seria a chance de eu poder chamá-lo de amigo? Deus sabe o q faz. Luis Antonio

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    1. Aqui rindo tanto com o comentário que decidi ir até o cartório, agora mesmo, fazer a doação da cobertura triplex no Paraíso das Águas ao meu amigo que me cota tão alto…

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  23. E amanheceu mais uma quarta-feira feira…
    E mais uma belíssima e inspirada crônica do escritor Hayton!
    Todos temos músicas que nos inspiram, nos acalmam, nos fazem viajar no passado, nos fazem refletir no presente e, até, projetar algo no futuro.
    Também não vim ao mundo com habilidades musicais. Mas, já me desculpando pela sinceridade, não gosto do termo “inveja”; assim como não gosto da “raiva”, pra ficar restrito a dois sentimentos ruins.
    Então, se não consegues compor uma música, seja feliz e continue compondo POESIAS, como esta crônica.
    Parabéns e grande abraço!

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    1. Gostei de sua aversão às expressões “inveja” e “raiva”. Talvez riscá-las do vocabulário corrente faça bem para todos nós!

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  24. Uma frase simples que me levou longe;
    “Porque o silêncio não é vazio” . Exatamente isso. O silêncio ao nosso redor, a pausa numa pauta musical.., espaços que são preenchidos de emoções.
    Mas quanto a tocar um instrumento e com ele fazer parceria aos seus textos, venha para o IEM -Institito de Educação Musical, escolha o instrumento e “rumbora” . Já escolhi o violão. KkkNelzaMartins

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  25. Desculpe minha intromissão, mas senti imensa falta das “mentiras de amor que aprendi com vc” da incomparável “Lígia”, do mestre Tom.
    Vc já compõe, amigo Hayton, falta apenas musicar sua crônicas poéticas, como essa, linda, que homenageia algumas das mais belas musas da MPB!

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    1. Cacete, Big Bob! Você pegou outra pérola que eu havia esquecido. Ampliaria inclusive a inspiração de Uilson Morais (Umor), o genial cartunista que ilustra o texto.

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  26. Roberto Rodrigues Leite Bezerra29 de janeiro de 2025 às 09:09

    Belíssimas palavras, Hayton. Toda a idealização é perfeita. Fato consumado. Suas crônicas já soam como ópera nos nossos ouvidos. Um conjunto harmônico de ideias que explodem, entram pelos ouvidos e enchem nossos pensamentos. Se geram tremendas inquietações, qual um soneto de Vinícius, afagam nossa alma. Parabéns.

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  27. Bom dia! Show de crônica, caro amigo Hayton!

    Realmente você captou a essência do poder da música e do silêncio. Através dessa sua reflexão especial e poética, sentimos a profundidade da visão artística, não como um sentimento mesquinho, mas como admiração e inquietação.

    A conexão entre as memórias afetivas familiares e as melodias dos mestres como Tom Jobim, Chico Buarque e Dorival Caymmi é tocante. A complicidade do silêncio entre as notas e as palavras é belamente retratada, mostrando como a simplicidade pode ser extraordinária.

    Hayton, sinto que isto nos permitiu lembrar que, muitas vezes, o sublime se esconde naquilo que já está ao nosso alcance, esperando ser reconhecido. E que, talvez, nossa verdadeira missão não seja criar algo novo, mas traduzir e compartilhar o que a música provoca em nós.

    Belo texto, caro amigo. Estou profundamente tocado. 🎶✨

    Abraços e felicidades,
    Ulisses

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  28. Bela crônica com belos comentários! Parabéns amigo. Abs, Canindé

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  29. Mais um talento? Já tens mais que o suficiente, rsrs

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  30. Quando ouvi Chico pela primeira vez foi um espanto. Foi aí que meu coração descobriu o seu lado B. "Que será (A flor da terra)" foi a primeira canção que ouvi em loop. Descobri nesse momento que a poesia e a literatura estavam definitivamente de braços dados com a música. Os anos 70 e 80 foram de descobertas. Foram de formação de personalidade musical. As obras de Chico, Jobim, Caetano, Gil, Edu Caymmi e tantos outros eram bálsamos de um tempo em que a musica brega surgiu com força e também com qualidade. Pois, tanto ouvia Chico como Odair José e gostava dos dois. Quando novamente, o universo vai nos presentear com uma nova Elis? Os craques da música eram tantos que se eternizaram, mesmo num pais em que a mediocridade tomou conta das mentes emburrecidas. As coisas boas foram substituídas pela mesmice, mas graças a Deus mantive o foco e não me deixei influenciar pelo modismo, que muitas vezes nos deixa ridículo. Nos anos de chumbo, a música era o contraponto para a conscientização política. Hoje, existe todo tipo de investimento para o emburrecimento coletivo, principalmente vindo da música "sertaneja", bancada pelo agronegócio. Quando penso que o poço da mediocridade chegou ao fim , vem sempre alguma coisa pior pra me surpreender. De Chico, Dominguinhos e Odair serei eternamente fã. Viva a boa música brasileira, apesar da proliferação do que não presta continuar como tendência de transformar meus ouvidos em pinico. Gilton Della Cella.

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  31. Amigo Hayton,
    Certamente muitos dos seus leitores se identificaram nessa sua crônica. E isso é determinante para “viralizar” e fazer sucesso.
    Os bons compositores conseguem identificar a dor (ou prazer) do seu público e a transforma em poesia.
    O silêncio intercalado entre palavras e notas é a cereja do bolo, pois nesses intervalos é que nós viajamos, seja nos braços da pessoa amada ou nas ideias revolucionárias inspiradas pelas canções.
    Os gênios da canção eram capazes de reproduzir o cotidiano ou o desejo com os quais nos identificamos, assim como você fez nessa crônica, reproduzindo a inveja coletiva.
    Li uma reportagem sobre o sucesso alcançado pela saudosa Marília Mendonça com suas composições e não foi surpresa saber que muitas de suas canções foram resultado de suas conversas com as fãs, pois ela buscava saber sobre o cotidiano e o sofrimento delas. Daí a maioria de suas canções fazerem sucesso e serem classificadas como “sofrência”.
    Mas uma questão me intriga: Por que esses gênios da canção citados por você não mais produzem como faziam no passado? Os poetas tem prazo de validade?

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  32. Eita! Meu cumpade
    Você foi bem na alma da canção. Parabéns.
    De fato, o silêncio é a grande estrela do cantar.
    Gosto, de não parar de gostar, de qualquer canção que chega à Nana Caymimi. Na voz de Nana, tudo é pleno, ameno, suspiroso e arrebatador.

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  33. Que maravilha de crônica, mestre Hayton!
    Tão maravilhosa, tal qual, uma canção musical.
    Assim como Vossa Senhoria, também não toco, não canto, e muito menos componho. Mas, vejo a música como um carregador para nos energizar. Não importa o tipo, o importante é gostar.
    Vamos que vamos, que quarta-feira tem mais.

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    1. Pela “caligrafia”, só pode ser meu amigo Edvaldo! Bem assim, meu caro. Outro dia estava pensando sobre isso: nunca soube de ninguém que assassinou outra pessoa assoviando uma canção, seja qual for! O assovio vem a ser o instrumento primário da alma de todos nós para alcançar a paz entre os homens de boa vontade! Amém… 😆

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  34. Mais uma brilhante crônica, para começarmos a quarta-feira regada a poesia.
    Muitas composições belíssimas foram compostas em parceria, onde um escreve a letra e outro põe melodia. Taí Sullivan e Massadas, entre outros, para confirmar isso. Basta agora você encontrar o parceiro certo para colocar partitura à sua arte já tão bem conhecida por nós.

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  35. Bom dia meu amigo! No tempo em que se podia conversar e as pessoas tratavam a troca de palavras como algo natural sem achar ou inferir que havia assédio ou preconceito, perguntei a uma colega que se chamava Carolina se ela se via mais como a de Chico ou a de Gonzaga. Ela parou, pensou e ficou me olhando. Antes de responder disse que nunca havia prestado atenção nas músicas como a ela dirigidas, refletiu um pouco mais e disse, gostaria de ser a do forró, mas sou a de Chico. Tempos depois ela me disse que por causa da minha pergunta descobriu ser uma pessoa melancólica, passou a fazer terapia e disse que estava encontrando equilíbrio entre as Carolinas. Sem querer, acabei ajudando apenas por gostar de ouvir e prestar atenção nos detalhes das letras, como vc faz. Parabéns pela crônica! Abraço

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  36. Meu amigo, Hayton, acho que faltou a você um pouco de insistência para dominar um instrumento musical. Um violão debaixo do braço e o aprendizado de alguns acordes, sem precisar da sofisticação de um João Gilberto ou de um Tom Jobim, seriam suficientes pra você fazer de suas crônicas belíssimas canções. Seus escritos são verdadeiras poesias que dispensam a rima, o que significa que você está a um passo de virar compositor...rs rs rs. É só subir o primeiro degrau e você vai acabar entrando no rol de quem faz da música uma parceira inseparável. Eu comecei a dedilhar as seis cordas da viola na adolescência e, hoje, depois de subir devagarinho os tais degraus, tenho vários trabalhos espalhados pela mídia, muitos em parceria com o nosso amigo, grande figura da música brasileira, Gilton Della Cella, entre outros. Insista, meu amigo, que ainda quero ver você na lista dos parceiros musicais. A nossa música brasileira, atualmente, está muito carente de bons trabalhos e de bons nomes. E você pode vir a ser um deles...

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  37. Só que seus textos são "música para meus olhos", amigo! Muito, muito bons!

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  38. Mais uma crônica que deixa meu dia mais leve, me faz sorrir…
    Lindos sons e silêncios!
    Obrigada

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  39. Acabei de ler o texto da semana, que realça a importância do silêncio entre notas e músicas. É mais uma conquista da vocação de quem tem o dom de escrever.
    Como de costume, fico maravilhado com o fato e torço para que o autor permaneça nesse ritmo admirável, cujo resultado é a satisfação estampada no rosto de todos os seus leitores. Parabéns e votos de muito sucesso. Grande abraço.

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  40. Bela crônica!
    Como seria bom se algumas pessoas aprendessem sobre o valor do silêncio!
    Quanto ao (falta de) talento musical, identifico-me totalmente, com a diferença de que me contentaria com o simples (nada de correr atrás do sublime…).

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  41. Acho sensacionais esses textos sobre música. Endosso o comentário de Luís Antônio. Já pensou se Deus não escrevesse certo por linhas tortas ?

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  42. “Não é a falta de talento que me paralisa, é minha mania de desprezar o que já está ao meu alcance, em busca de um horizonte inalcançável.”
    Acho que você matou a charada, Hayton! Teu talento é inegável. Tuas crônicas estão melhores a cada semana.
    Onde tá escrito que você teria que ser um novo Tom Jobim? Se fosse, ótimo!
    Se não, tem muita gente que gostaria de ser um novo Hayton nas crônicas. E poucos vão conseguir! Rsrs

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    1. Sabendo do cronista que você é, seu comentário só não me deixa de salto alto porque já passei da idade do deslumbramento. Mas redobra a vontade de contar histórias leves de forma cada vez mais simples. Valeu, meu amigo!

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  43. Quando se encontra uma “pedra preciosa”, é mais fácil. É só dar uma leve “polida”. Hayton, perdoe pela ousadia!

    Inveja artística!...
    Não a inveja mesquinha, mas a admiração inquieta,
    Quase resignada, por não encontrar resposta!

    Uma pergunta me persegue...
    Por que nunca criei algo tão arrebatador?
    Capaz de fazer alguém fechar os olhos
    E balançar devagar numa rede?

    Talvez o que mais me fascine seja justamente o que a música não diz...
    Mas insinua.

    O silêncio que cochila entre as notas
    É o mesmo que encorpa as palavras!
    Um espaço onde a imaginação encontra abrigo
    E as emoções criam raízes.

    Nem pandeiro, nem reco-reco, nem sequer um tamborim.
    É como se as notas me evitassem...
    Conspirassem para preservar o silêncio absoluto, na partitura da minha vida.

    O extraordinário é feito do corriqueiro,
    Como a grama seca que rebrota, sem barulho,
    Ao primeiro chuvisco.

    Eu, sempre obcecado por algo maior,
    Ignoro que o sublime,
    Tantas vezes,
    Se camufla no simples!
    No rangido do armador de uma rede, na varanda,
    Ou no chiado de um velho disco de vinil.

    Não é a falta de talento que me paralisa,
    É minha mania de desprezar
    O que já está ao meu alcance,
    Em busca de um horizonte inalcançável.

    Encontrar na música um caminho para a eternidade...
    Essa eternidade que me fascina
    E me tortura ao mesmo tempo.

    Talvez o que a torne tão inesquecível
    Não seja apenas a beleza das metáforas,
    Mas a habilidade em transformar
    Uma saudade comum em algo extraordinário.
    É a glória eterna em forma de melodia.

    Talvez o maior obstáculo,
    Repito,
    Seja a incapacidade de aceitar o simples.

    Perseguindo o inalcançável,
    Esqueço que o sublime não se escreve – ele se sente.

    Mas,
    Dizem que os sonhos nunca envelhecem...

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  44. Quem deve, lá no céu da vibração, sentir uma pontinha de inveja são os cantores e compositores cujos nomes foram exaltados nessa sublime crônica e que, pensando, devem perguntar com certa raiva: "por quê nunca escrevi assim?".

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  45. Eu costumo dizer para alguns amigos, amigos não apenas os que estão do lado do esquerdo do peito, como diz o poeta, mas também os que, para mim, estão acima disso, que são poucos; digo assim: se eu conseguisse dominar o violão, o cavaquinho, o pandeiro, eu já não estaria mais aqui, teria morrido de cana. Quaisquer pessoas que gostam de músicas, da letra e melodia e não conseguem realizar esse sonho, tem um pouco desse pensamento. Que bom ler e refletir sobre este conto.

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    1. Tô contigo, Egmar. Deus não dá asas a cobra nem faz brotar melancia em pé de manga. A bagunça seria grande.
      Obrigado pela atenção, pela leitura do texto. Fico feliz que tenha servido pra refletir um pouco sobre o que temos e o que, de fato, precisamos ter.

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  46. Escrever também
    é compor [sonoramente refletido no mais alto silêncio].

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  47. Esta foi demais!!! Já me perguntei várias vezes de onde vem meu fascínio pela música sem nunca ter tocado ou cantado nada...minhas filhas tem nome de músicas lindas, Marina e Luíza. Me vi imerso em várias destas reflexões Hayton, mas o melhor trecho eu copiei: "Talvez porque eles, geniais que eram, soubessem que o extraordinário é feito do corriqueiro, como a grama seca que rebrota sem barulho ao primeiro chuvisco".

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  48. Podes não ter o dom da música, mas, sobras na arte da escrita, amigo. Sempre gostei de participar de rodas de samba, chego até a arriscar tocar ganzá e cantar alguns dos sambas do Bezerra da Silva, entretanto, coube à minha irmã mais nova, o dom de cantar e tocar violão.

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  49. O que dizer?????
    O cara resolve confessar que tem um pouco de frustração por não ter aprendido tocar nenhum instrumento musical, e aí faz uma poesia em prosa.
    Então é de se perguntar, não seria demais ter também essa habilidade???
    Os comentários aí mostram que seu texto é arrebatador, até assustador, eu acrescentaria.
    O melhor é você confessar que se conforta por concluir que não pararia aí, tocando algum instrumento, certamente buscaria algo mais, quem sabe comandar uma nave interplanetária.
    Pois é, amigo, a mãe Natureza cobra um preço por tudo. Então, se você é genial na escrita, fique por aí. Afinal, nada é gratuito. Não à toa, o dito popular consagra - "só quem come galinha de graça, é o galo"...

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  50. Parabéns meu amigo! SHOW

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  51. Você já se eternizou nas crônicas, Hayton! Com estilo e delicadeza que já permitem saber que um texto é da sua lavra sem conhecer o autor. A cada dia melhor! Abração! Diniz.

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  52. Queria eu saber rimar música, futebol, poesia e estórias como Hayton. Não consigo dimensionar quantos sentimentos, risos e pensamentos suas crônicas despertam, mas os comentários não deixam dúvidas de que provocam a veia artística e humorística de tantos leitores.
    Prezado Hayton, sua obra é a expressão viva das palavras de Ferreira Gullar: “a arte existe porque a vida não basta”

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  53. Bom dia, Hayton!
    Sou advogado e também cronista. Acabei de ler "O silêncio entre notas e palavras", que me foi repassada por Ademar Rafael Ferreira, também cronista e maçom como eu.
    Parabéns, caríssimo cronista, pela produção literária! Nota 10 com elogios. "O silêncio entre notas e palavras" é poesia pura, da primeira à última palavra. Gostei muito e já repassei a outros amigos também amantes da crônica como boa literatura que é.

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  54. Maria de Jesus A. Rocha.30 de janeiro de 2025 às 19:14

    Maravilha de Crônica!
    Bela homenagem feita ao nosso querido e saudoso Tio Enoch que era apaixonado por músicas. 🎶
    Na varanda de sua casa na tórrida Caxias ( MA) embalado pela poesia de "Marina", de Caymmi.
    Hayton, suas crônicas podem sim virá músicas a serem cantadas igual ao ritmo de Gabriel o Pensador.
    Que tal?

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  55. Mais uma das suas maravilhosas crônicas, Hayton! Desta vez me fez lembrar meu velho pai cuja diversão era ouvir músicas e mais músicas, tanto na hora do almoço, quando ele colocava na vitrola 4 a 5 Lps para ouvir enquanto tirava sua sesta, ocasião em que deixava um dos filhos de plantão para "virar" os discos... Eclético, ele ouvia desde Orlando Silva, Cascatinha e Inhana até Ney Matogrosso. A crônica me fez viajar. Obrigado pela menção ao nome do meu pai Enoch. (Emilton Rocha)

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  56. Agostinho Torres da Rocha Filho31 de janeiro de 2025 às 11:13

    "Nunca compus nada que chegasse perto de uma canção..." Se serve de consolo ao autor, o Rei Pelé até tentou ser músico e ator, mas não passou de coadjuvante. Concordo com o leitor Ademar Ferreira quando comenta:
    "O toque da caneta no papel ou dos dedos nos teclados são músicas abstratas."
    O mais importante é que as habilidades e competências do cronista sejam motivo de celebração de sua legião de leitores.

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  57. Tuas crônicas são formidáveis. Talvez seja porque você as escreve recitando. Que tal escrever cantando? Colocar a nota no lugar da palavra e deixar o pensamento delirar... música não é só poesia.

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  58. Hoje o que me comoveu não foi o tema que você abordou, Hayton.
    O que calou fundo foi a profundidade com que você manipulou as palavras. Parabéns! Tenho uma inveja boa disso.
    Donde sai a inspiração?
    Copiando Drumond, repito: “Lidar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã.”

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  59. Li certa que a palavra sublime só deve ser aplicada a algo cujos méritos superam o normal.
    O texto desta semana é digno do adjetivo. A forma e tamanho do escrito permitem que o autor nos faça ingressar e compreender o sentimento de poesia e enlevo que as músicas mencionadas nos proporcionam, levando-me, inclusive a me perguntar: então é assim que eu me sinto ao escutá-las? Assim é. Percebi agora.
    Então, Hayton, se até a publicação desta “crônica-poesia” você nos diz que ainda não está convencido de que nasceu para ser um tradutor dessas belezas, pode já “pular essa casa” e se declarar, com o aval de tantos que aqui se pronunciaram, inclusive eu, um “tradutor de coisas sublimes”.

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  60. Já foi um grande bancário se tornou um belo cronista e ainda é torcedor do Vasco, quer mais o quê?

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  61. A sensibilidade de reconhecer a boa música e, a delícia de interpretar as suas letras, já é um Dom que poucos a possuem. Parabéns !!

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