quarta-feira, 12 de março de 2025

Fugindo pro inferno


Um cinegrafista que capturava imagens do fundo do mar nunca imaginou que seu grande momento de fama viria com um peixe que, ironicamente, passou a vida fugindo dos holofotes. Pois foi exatamente isso que aconteceu recentemente, quando pesquisadores da ONG Condrik Tenerife avistaram um espécime do temido Melanocetus johnsonii  o peixe-diabo-negro  nadando em águas rasas, nas Ilhas Canárias.

O evento, sem precedentes, foi recebido com a seriedade típica dos fóruns de internet: teorias conspiratórias brotaram como larvas de mosquito-da-dengue em pneus descartados nos lixões.


Foto: Reprodução / Divulgação / ONG Condrik Tenerife / Perfil Brasil

— Se esse bicho subiu, é porque algo terrível está para acontecer — decretou um profeta do apocalipse digital.
— Concordo! Se ele apareceu, é porque o inferno lá embaixo ficou pior — sentenciou outro, com uma lógica digna de reunião corporativa na véspera do Carnaval. 

Os vídeos do bicho feio viralizaram, e foi aí que a coisa descambou de vez. Bastou alguém lembrar que um abalo sísmico chacoalhou o Caribe dias depois, e pronto: estava estabelecida a conexão telepática entre peixes das profundezas e placas tectônicas. Para os especialistas das redes sociais, o fim do mundo começara com um peixe-diabólico que se cansou do anonimato. 

Um amigo meu, cronista bissexto e cearense, me enviou o link da notícia com um comentário provocativo:

— Tá aí, cara, até o diabo, quando menos se espera, busca a luz...

Pensei em responder com um emoji apreensivo, mas antes que eu apertasse o botão, outra mensagem pipocou na tela: a capa da Forbes. A manchete destacava um primata descascando sua banana ao lado de uma reflexão indigesta:

"Se um macaco acumulasse mais bananas do que pudesse comer, enquanto os outros morressem de fome, os cientistas tentariam entender o que há de errado com ele. Mas quando um humano faz isso, o colocamos na capa da Forbes."

A conexão foi instantânea. Talvez o peixe-diabo-negro tenha subido porque percebeu que o verdadeiro inferno não era lá embaixo. De repente, olhou para o andar de cima e viu um czar branco deportando imigrantes como se fossem bagagens extraviadas, magnatas monopolizando logaritmos e CEOs erguendo impérios sobre vales de lágrimas e miséria. Sem alternativas, nadou em direção ao sol, na esperança de encontrar dias ruins, mas pelo menos iluminados.


Os cientistas logo trataram de oferecer uma explicação mais racional:

— Provavelmente estava doente — apontou um biólogo da UFMG.
— Não há evidências de que seja presságio de tsunami — garantiu outro.


Também destacaram um detalhe biológico: era uma fêmea — sim, uma fêmea! — e sua bioluminescência a diferenciava dos machos da espécie, que, numa reviravolta evolutiva, vivem como meros apêndices grudados ao corpo delas.


No fim, o peixe diabólico não resistiu. A pressão atmosférica lhe foi fatal, e seu corpo foi recolhido pelo Museu de Natureza e Arqueologia de Tenerife. Enquanto isso, no abismo, seus familiares talvez se perguntem se ela fugiu para curtir o Caribe com uma garoupa ou um robalo. Tudo é possível nos dias de hoje.


No fundo — no fundo mesmo — talvez tenha sido melhor assim. Se tivesse sobrevivido, logo seria convidado para dar palestras sobre resiliência em eventos corporativos, patrocinados por fintechs que prometem democratizar investimentos enquanto cobram taxas que fariam um tubarão corar.

Aliás, não duvido que algum guru da autoajuda já tenha transformado essa breve incursão à superfície em um novo best-seller: "A luz que há no abismo: lições de superação de um peixe que desafiou seu destino". Com direito a TED Talk e legendas motivacionais em posts do LinkedIn.

Por via das dúvidas, se algum dia eu estiver aqui, relaxando nas águas mornas da Enseada da Ponta Verde, em Maceió, e encontrar um bicho feio desses nadando na vertical, não vou me preocupar com sinais apocalípticos. Provavelmente, só se cansou da escuridão e resolveu tentar a vida de coach no Nordeste.

Neste mundo onde qualquer um pode virar influencer, o inferno já não precisa de chamas. Ele se ilumina com flashes, números inflados e promessas vazias. Ou, quem sabe, o peixe só tenha entendido antes de nós que o verdadeiro abismo não está nas profundezas do oceano, mas na superfície — onde o monstro da ambição engole tudo o que vê pela frente. Mais do que qualquer criatura das trevas.

 

50 comentários:

  1. ADEMAR RAFAEL FERREIRA12 de março de 2025 às 05:06

    No mundo comandado por drones, pela IA, pelo ChatGPT... o inferno está na superfície, o submundo virou paraíso. Deste texto podemos extrair diversas lições.

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  2. Ah, o biólogo mineiro diria “uai, num sei pucadique esse trem arribô por aqui”

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  3. Meu saudoso pai acordava cedo naquele sertão, preparava seu chimarrão, sentava ao lado da janela e contemplava o raiar do dia. Mantive a tradição e quase nada me desvia dessa rotina. Mas, sentado aqui na sacada de meu lar, contemplando a imensidão do mar e esperando minha amada fazer companhia, me delicio lendo o que a prodigiosa mente do meu mestre Hayton consegue transformar pequenos acontecimentos em reflexos leves e profundas.
    Olhando a manobra desse peixe, na provável busca de um céu antes de parar no museu, e convicto de que Deus reservou um céu para os humanos, sugiro não esperarmos para depois: precisamos conhecer e viver o “céu aqui na terra”.
    Parabéns Hayton

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    1. Reflexos = reflexões

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    2. Certíssimo, meu caro Tarcísio. O céu e o inferno estão aqui. A gente escolhe a porta a abrir.

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  4. Se vc tivesse ainda recorrido à turma da filosofia , algum deles diria haver uma possível explicação em o Mito da Caverna! Até a morte da criatura poderia se beneficiar da explicação de Platao ! Kkkkkkkk
    Parabéns 🎉🎊🎈🍾

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  5. Com muita sapiência o tal peixe descobriu que de fato o inferno é aqui e agora, na superfície terraplanista.

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  6. Pegando a ponga no comentário de Alfredo, acima, haveria quem dissesse: “viu o que acontece com quem sai da caverna? Morre! “. E quantos humanos que saíram da caverna morreram porque os Arautos das trevas os perseguiram, prenderam e torturaram até a morte?
    Mas, nosso amigo é mesmo fera em transformar um fato num texto delicioso para o nosso café da manhã. Nelza Martins

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  7. Eliziane Brandão Leite12 de março de 2025 às 06:54

    Primorosa crônica dos fatos cotidianos narrados com a maestria e a sabedoria dos iluminados! O "bicho feio" me lembrou os acontecimentos que entretiam o personagem prinicpal em "Um conto chinês".

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  8. A cada quarta uma surpresa com direito às boas gargalhadas. Muito boa e atual esta crônica. O fim dos tempos, as premonições acontecendo, o inferno submerge do oceano, ... são sinais e mais sinais com muita criatividade para o produtores de conteúdos em busca de likes e compartilhamentos. Façam estoque de água e comida, tirem o dinheiro do banco, não saiam na rua, cuidem, é hoje , mas pode ser amanhã , ...etc etc. O inferno é aqui é agora. A Internet, com as diversas redes sociais, tá pirando a cabeça do povo e se não meter o dedo e não compartilhar você será culpado. É loucura, loucura, loucura, como fala o Hulk.
    A teoria do apocalipse é um prato cheio para os sensacionalistas e isto muito antes da internet. Vejamos: 1000 Mil e nada mais, 1666 O Ano do Demônio, 1806 Ovos apocalípticos, 1910 O Rabo Tóxico do Cometa Halley, 1999 O Bug do Milênio, 2008 Buracos negros surgindo, mundos acabando, 2012 Calendário Maia, 2020 Covid e o fim da humanidade, e agora em 2025, peixe-diabo-negro e um desastre eminente. E assim segue a humanidade, esperando, caçando e inventando o verdadeiro apocalipse.
    Vou até tomar mais cuidado ao pronunciar meu nome pois podem pensar que serei o porta voz dos fins dos tempos, afinal são raríssimos os Oceanos de carne e osso.🤣😂

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  9. Deveras, tudo no universo está em constante mudança e evolução. O universo continua a se expandir e hoje estamos vendo as entranhas do buraco negro que há no centro da Via Láctea, que nos engolirá a todos daqui a milênios de anos luz. Então não me causa espanto que um peixe fêmea tenha vindo a superfície porque o STF concedeu medida protetiva ao pequeno macho, determinando que a grandona dele se afastasse e se mantivesse distante. Deu no que deu. Morreu. Ótima crônica caro amigo.

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  10. Com o aumento da poluição ambiental, a "mãe da morte" encontrou um espelho nas profundezas do mar. Assustado com a própria feiúra, fugiu atônita.

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    1. Imagine um pescador dando de cara com um bicho desses! É capaz da feiúra provocar desinteira pra semana inteira. E se o bicho aparecer emitindo algum rugido, é trauma pro resto do ano - isso se escapar do infarto fulminante!

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  11. Eu tentei não rir, pq esse homem mais laranja que tappeware que guardou macarronada estava no texto, mas eu falhei! 😂
    Uma outra coisa que fiquei pensando foi sobre a onda de calor infernal que tem nos atingido. Será que também não foi um ponto que pesou pra esse peixe de beleza assintomática tentar a sorte?!

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  12. Kkkkk Czar branco...
    Tu vai ver a cara dele quando trocarem as transações de petróleo por euros e quando deslocam a compensação internacional para uma Londres qualquer. Nojo desse cara!
    Mais um belo texto.

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  13. Muito bom o texto, Hayton!! Traduz a realidade atual num tom bem humorado e leve. Parabéns!!

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  14. Amigo, Você com seus textos de ótima qualidade, enche nossos olhos e mente, em especial pelo link que faz com o nosso cotidiano, realidades da vida. Aonde está o inferno?

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  15. Peixe muito sábio .Fez a melhor escolha !!

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  16. A crônica traz muitas reflexões, Ceu e inferno, feio e bonito, enfim , o inferno é aqui.

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  17. Boa reflexão... e também uma renovada denúncia quanto aos que "cuidam" do inferno aqui na superfície terrena. Já sobre evidências de que o Peixe Diabo é prenúncio de catástrofe (que não há, efetivamente!), os apocalípticos poderiam dizer "ausência de evidência não é evidência de ausência"!

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  18. ROBERTO SANTOS FERNANDES12 de março de 2025 às 08:44

    Quem sabe?! O peixinho veio fazer uma pós graduação aqui na superfície para aproveitar a presença desses expoentes da política internacional.

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  19. E o peixe fugiu do seu habitat natural, no sentido vertical, como se fosse um foguete e alcançou o ápice das águas do oceano. Resultado: “FERROU-SE”. Foi capturado pelo maior predador do reino animal, o HOMEM, transformando-se em peça de museu. Mas, já estava desiludido, de uma forma ou de outra, se não fosse capturado pelos pescadores, seria capturado pela desagregação ambiental. Afinal, são toneladas de descartes que chegam ao fundo dos oceanos, poluindo o HABITAT das mais diversas espécies de animais marinhos.
    E o apocalipse da Internet faz a festa, com essas notícias.
    Ademais, o Apocalipse Bíblico, é um lembrete de que a tribulação é temporária e que, no fim, há uma promessa de vitória divina.
    Meu amigo Oceano, faça jus ao seu nome, faça alguma coisa pelos oceanos, ou iremos todos sucumbir, tal qual, o peixe-diabo-negro.
    Ao amigo Hayton, parabéns por mais uma bela crônica, arrastada do fundo do mar.

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    1. Gratíssimo, Edvaldo, pela lucidez de seu comentário. É o que sempre digo: o meu texto representa bem menos do que vários comentários lhe complementam, dando maior amplitude à reflexão básica.

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  20. Ótimo artigo / reflexão . Parabéns

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  21. Acabei de ler mais um texto. Parabéns pelo cumprimento da missão. Grande abraço.

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  22. Bravo! Excelente. Gostei bastante de vários trechos, em especial deste: “Magnatas
    monopolizando logaritmos e CEOs erguendo impérios sobre vales de lágrimas e miséria”. E nós outros a rezar um “Salve Rainha”… a vós bradamos os degregados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e, depois deste desterro, mostrai-nos o bendito fruto do vosso ventre… Jesus! Jesus do CÉO… (Ótima crônica, grande Hayton!).

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  23. Nessa altura do campeonato nada mais me surpreende. Um peixe exótico saindo das profundezas do oceano deixou de ser uma novidade diante de tantas mentiras que nos acostumamos a ouvir. Outro dia, um tal de Waldemiro Santiago, um desses vigaristas que tomam dinheiro de pobre em nome de Deus, narrou um fato que achei tão escraboso quanto o peixe diabólico. O referido mequetrefe contou que estava pescando com alguns amigos na costa da África, quando de repente o barco virou em mar aberto. Detalhe, ninguém sabia nadar, inclusive ele. Mas, eis que um milagre aconteceu: Mesmo sem saber nadar, o bispo conseguiu de braçada atingir a marca de 9 quilômetros, carregando um dos seus amigos nas costas, sem bote salva vidas até chegar numa praia. Se Waldemiro que não sabe nadar saiu dessa enrascada, o que custa o peixe diabo negro curtir momentos de lazer nas águas do Caribe? Os mares têm tantos segredos, que só mesmo um profeta do apocalipse digital pode nos responder com precisão determinados episódios através do tik Tok. Caso o profeta não consiga me convencer, o jeito é apelar para o bispo Waldemiro, que com toda certeza pegou carona nesse peixe.

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  24. Pois é... "Neste mundo onde qualquer um pode virar influencer, o inferno já não precisa de chamas"... E há quem diga que a racionalidade humana nos torna superiores... Entre "Fakes" de todo o tipo, onde vozes são sobrepostas e imagens adulteradas grosseiramente, as verdades nem sempre são as vistas e ouvidas. Nesse ritmo, chegará o dia em que a credibilidade, a moral e a ética serão descartadas e nós teremos que aprender a "nadar" nessas águas cheias de "peixes-diabo-negros"...

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  25. JAILTON TRANCOSO SILVA12 de março de 2025 às 12:03

    Bom texto! Boas reflexões!
    Muitos já vivenciaram o mesmo que esse peixe. Quantos são aqueles que emergem do seu meio em busca de sucesso e se batem com o desconhecido e inimaginável. Alguns sobrevivem, outros sucumbem.

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  26. O último parágrafo está genial ! Profunda reflexão sobre profundezas do oceano e superfície.
    Tenhamos cuidado com esse " mundo das trevas" q podemos mergulhar
    É muita " cegueira "

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  27. Seu texto é muito legal

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  28. Gostei! Você partiu de um fato trivial para provocar sérias reflexões sobre o momento em que vivemos.

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    1. Eis o mistério da fé… nas crônicas. Não parece, mas às vezes se fala sério fazendo graça. Ou, pelo menos, se tenta.

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  29. Cleber Pinheiro Fonseca12 de março de 2025 às 14:49

    Ei, Hayton! Você foi nas profundezas da imaginação para traçar um paralelo entre a aventura inglória de um peixinho abissal e o nosso cotidiano, cada vez mais permeado pela superficialidade das relações de uma preocupante modernidade líquida, efêmera, instável e egocêntrica, que faz com que muitos de nós sintamos a mesma sensação de um peixe fora d’água, embora mais asfixiante que isto seja “…descobrir que nunca existiu água e que você também nunca foi um peixe.”

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  30. Crônica arretada.
    Tem um caba lá do sertão de Jericó, na PB, chamado Nego Bruga, que, de tão feio, passou a ser uma espécie de unidade de feiúra.
    Esse peixe, por exemplo, equivale a uns cinco Bruga.
    A comunidade folclórica sertaneja pode até batizá-lo de Peixe-Bruga.
    Valeu! 👏🏽👏🏽👏🏽

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  31. Sensacional essas conexões!
    Parabéns!!

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  32. Mais uma crônica de Excelência! Parabéns amigo.

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  33. Tudo esteve sempre aí. A questão segue sendo o mundo que cada um vê, a la São Tomé. Uns se foram, outros virão das profundezas de nossa ignorância. Dar as caras, nos dias de hoje, é coisa arriscada, até mesmo em multidão carnavalesca. Atualmente, o rio São Francisco conta com tucunaré e tambaqui em sua fauna — vindos da piscicultura. E là nave va...

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  34. Tua crônica maravilhosa me fez lembrar de uma letra:

    “Assim começou a tragédia
    No fundo do mar
    O caranguejo levou preso o tubarão
    Siri sequestrou a sardinha
    Tentando fazer confessar
    O guaiamum que não se apavora
    Disse: eu que vou investigar
    Vou dar um pau nas piranhas lá fora
    Vocês vão ver, elas vão ter que entregar”.

    Lembra? Originais do samba, 1974.

    Também lembrei de um tubarão que apareceu com escoliose em 2021, sofreu duas cirurgias pra corrigir e não resistiu ao pós-operatório.
    Fiquei imaginando o que esse tubarão teria feito pra ficar com escoliose!!!

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  35. Extrair do peixinho abissal essas excelentes comparações com as mazelas do abismo humano é, sem dúvida, uma sacada tirada do fundo (mas do fundo mesmo), da cartola. Adorei !

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  36. Hayton, sempre classifiquei o Amana Key como o melhor curso que realizei no BB e suas crônicas sempre me faz reportar à ele, pois uma das atividades era desenvolver competências para interpretar textos e “ler” o que não estava escrito.

    As suas crônicas são ricas para esse exercício, pois entrelaçam temas que parecem não ter conexão, pois nos traz biologia marinha, desigualdade (abismo) social, o mercado financeiro, teorias da conspiração , cultura corporativa, paranoia nas redes sociais com suas informações e desinformações, teorias apocalípticas, ganância, acumulação de riqueza…

    Essas construções de certa forma metafóricas e muito perspicazes, outras de maneira ácida e irônica, mas tudo isso de maneira hilária e envolvendo muito humor, o que provoca reflexões com entendimentos e interpretações diversas, o que é comprovado por todos os comentários anteriores dos demais amigos.

    Aí sua crônica incomoda por me levar ao questionamento em quais comportamentos eu possa estar sendo semelhante ou até mesmo contribuindo para essa realidade. Em essência a sua crônica é um comentário sagaz sobre o aspectos do comportamento humano e da sociedade contemporânea, a alienação e hipocrisia humana, comportamento paranoico das redes sociais, sátira ao mundo dos coaches e das palestras motivacionais e tanto mais. Faço parte dessa sociedade, não posso simplesmente pensar que “os outros” são os responsáveis.

    A crônica seria excelente para o curso Amana Key, ou até mesmo para um estudo de sociologia e comportamento humano e social nos dias atuais.

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    1. Conheço Oscar Motomura, do Amana-Key, desde quando morava no Recife, entre 1996 e 1999. Não tenho dúvida em reconhecê-lo como um dos caras que mais me influenciaram no jeito de ser e de ver o mundo. Talvez isso explique a estreita sintonia que você notou.

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  37. Que bela história (a contada, pelos seus contornos; não necessariamente a original)!
    Certamente já virou lugar-comum, mas você tem se superado (o que não seria nada simples !).

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  38. Se tivessem estudado o cérebro do peixe, talvez tivessem notado que o último desejo de sua vida era conhecer o sol. Tenho certeza de que já tinha ouvido narrativas fabulosas sobre a luz e o calor... eita povo!

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  39. O que não falta são "profetas do apocalipse". Eles buscam qualquer pretexto para "despejar" suas "teorias de conspiração cósmica". Mesmo assim, não podemos ignorar que o planeta Terra está, aos poucos, perdendo seus recursos naturais. A natureza, aos poucos, está perdendo a guerra para a ganância e para o desleixo. Como reverter essa situação? Esse é o grande desafio! De boas intenções, o "inferno" está cheio! O que é necessário é ação!

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  40. O atraso nesta minha manifestação terminou me sendo benéfico, tive mais tempo pra refletir sobre a crônica, seu tema, principalmente pela reflexão que nos provoca.
    E mais ainda após acessar os comentários, essencialmente o de Nélson Lins, sob minha ótica não só o mais brilhante, mas também sua capacidade de nos levar a uma profunda reflexão, parabéns a ele portanto.
    Falar sobre o brilhantismo de seus textos já é uma redundância, mas sempre me permito cometê-la. O que não posso deixar de registrar é sua singularidade eclética, afinal não há cronista que consiga variar tanto no que se refere a temas. Até brinco afirmando a amigos que um dia você dissertará sobre a rebimboca da parafuseta...
    Enfim, a Bahia lhe espera, com banda de música, desfile de trios e bandeirolas agitadas, você bem merece...

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  41. Que peixe feio. É de comer ou de aquário?

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  42. Texto excelente. Adorei mais o final.

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