Poucas cenas me entristecem tanto quanto o crepúsculo de uma relação amorosa. Pior quando envolve amigos queridos — aqueles que, mesmo a gente sabendo dos perrengues conjugais, torce para que entrem de novo em sintonia e sigam de mãos dadas até o fim da estrada, mesmo de bengalas.
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Ilustração: Uilson Morais (Umor) |
Volta e meia me lembro de uma interpretação antológica de Elis Regina para Atrás da Porta (Quando olhaste bem nos olhos meus / E o teu olhar era de adeus...), de Chico Buarque e Francis Hime. Foi em outubro de 1980, no programa Grandes Nomes, da Rede Globo, sob as ruínas de seu casamento, Elis foi tão visceral que, no fim, desabou em lágrimas.
Só faltou a voz de fundo de Vinicius de Moraes com o Soneto da Fidelidade, contando da mortalidade e da natureza efêmera da vida, ensinando que o amor pode não ser imortal, “posto que é chama”, mas que seja “infinito enquanto dure”.
Outra memória vem de 1979. Parece de um tempo ainda mais remoto — um museu de costumes extintos, com cheiro de cigarro, poltrona de veludo, radiola e vinil. Aconteceu há 45 anos, mas poderia ter sido há uma década. Só que o espírito da coisa é vintage: analógico até na dor.
O divórcio, na época objeto de grande polêmica religiosa, havia sido instituído recentemente. No seriado Malu Mulher. Pedro Henrique (Dênis Carvalho), diante da prateleira de LPs, escuta o veredito de Malu (Regina Duarte): “Os discos de Bethânia são todos meus.” Era o fim do amor dividido em faixas de vinil.
A cena tinha aquele ar solene de inventário sentimental. E não existia metáfora melhor para dividir os escombros de um amor do que repartir a trilha sonora que o embalou. Hoje, a logística do coração perdeu parte do charme: a discografia inteira de uma relação cabe num pendrive ou numa playlist que se pode deletar com um ou dois cliques. Sem agulhas, sem faixas riscadas, sem drama.
O mundo gira e, junto com os discos, até a saideira — aquele improvável arremate de beijos e carícias — também saiu de catálogo. Dá pra imaginar diálogos que nunca mais serão ouvidos:
— Fico com os de Elis e Gal. Você sempre foi mais Bethânia...
Ou o atestado definitivo de que já não existe mais nada:
— Por que tá levando o Acabou Chorare?
— Foi presente de Dia dos Namorados, lembra?!
— Pois é, mas se eu soubesse que a gente ia se separar, te dava um Fábio Jr.
Se antes os discos serviam como álibi para o desfecho de um caso, hoje a falta de objetos de valor estimativo para dividir parece ter transformado o fim do amor num jogo sem regras. Não basta mais decidir quem fica com os LPs de Chico Buarque — tem gente querendo de volta até o que não se pode tocar.
Se antes só se brigava por discos, cartas e fotos, agora o amor parece se desfazer em downloads e devoluções mais inusitadas. E assim chegamos ao caso de Richard Batista, médico de Long Island, nos Estados Unidos, que levou o “Trocando em miúdos” — o hino buarqueano da separação — ao pé da letra.
Segundo o New York Post, quando a esposa, Dominic Barbara, precisou de um rim, ele não titubeou: doou. Só não contava que o casamento não sobreviveria ao transplante. Recuperada, Dominic resolveu engatar uma amizade — digamos, reconfortante demais — com o fisioterapeuta. Richard, traído, pediu o divórcio e, de quebra, exigiu o rim de volta ou uma indenização de US$ 1,5 milhão.
A Justiça negou o pedido, alegando que órgãos não entram na partilha de bens. O rim agora era dela, ponto final. E, convenhamos, arrancar o órgão para devolução soaria um tanto medieval.
Ainda bem que Chico e Francis nunca imaginaram algo parecido nos anos 1970. Do contrário, no sarapatel de sentimentos envolvendo coração, fígado e rins, a letra de Trocando em Miúdos poderia terminar com um pragmático:
“Fico com o disco do Pixinguinha, sim
Mas se eu soubesse que tudo terminaria assim
Doaria só metade do rim...”
Se a moda pega, logo vai ter gente exigindo de volta não só os discos, mas abraços, beijos, carícias e até os “eu te amo” cheios de desejo sussurrados ao pé do ouvido. E, claro, tudo corrigido pela inflação.
E não duvidem: daqui a pouco, os casais talvez nem precisem mais de advogados. Bastará um aplicativo para calcular a depreciação emocional do relacionamento, reaver arquivos sentimentais deletados e, quem sabe, propor a devolução parcelada de orgasmos não compartilhados. No fim, o amor, que um dia foi eterno enquanto durou, será só mais um contrato com cláusula de rescisão automática, garantia estendida contra danos afetivos e indenização proporcional ao tempo desperdiçado.
Excelente crônica, Hayton.
ResponderExcluirEu fico triste com esse relato, pura verdade da vida
ResponderExcluirCrônica nua e crua das relações humanas atuais. Uma pena que seja e estejamos assim...
ResponderExcluirPois é … Chico escreveu: “eu vou lhe deixar, a fitinha do Bonfim não me valeu”… sinal que ele, o marido, tinha esperança
ResponderExcluirCrônica muito boa. O autor, com leveza e ironia, fala sobre o fim das relações amorosas e como os tempos esvaziaram o simbolismo dos rituais de separação, ontem representados pela partilha de discos e memórias palpáveis, hoje reduzidos a arquivos deletáveis e disputas surreais, como o caso do maluco que tentou reaver o rim doado à ex-mulher. Traçando este paralelo entre amor analógico e digital, o autor escancara o risco de transformarem sentimentos em contratos descartáveis, regidos pela lógica fria das indenizações.
ResponderExcluirO amor, posto que é chama
ResponderExcluirSerá, pois, sempre finito
Quando da separação
Pode-se até ouvir um grito
Devolva logo meu rim
Aí eu penso aí de mim
Que quero um amor infinito.
No início do romantismo: meu bem! No fim da relação conjugal: meus bens! No contrato, já não existe cláusula de fidelidade eterna.Acabou o: "Se eu tiver que morrer, vou é morrer por ela".
ResponderExcluirParabéns Hayton, cada vez que leio suas crônicas, me deparo com outros cronistas e poetas que bem poderiam seguir seus passos, colocando para fora e registrando também no papel, suas experiências desilusões e principalmente aquilo que o coração está desejando revelar ao mundo. É o que sinto
ResponderExcluirQue seja eterno enquanto dure.
ResponderExcluir“Amar é avisar que não quer se envolver e depois cobrar cada minuto da separação”.(Fabrício Carpinejar)
ResponderExcluir
ResponderExcluirQue beleza. Abstraindo-se o bom humor do final, achei um primor um trecho que me remeteu ao meu segundo ano de casado e nosso primeiro "cofee-break" do casamento quando vivemos cena parecida: "Era o fim do amor dividido em faixas de vinil.
A cena tinha aquele ar solene de inventário sentimental. E não existia metáfora melhor para dividir os escombros de um amor do que repartir a trilha sonora que o embalou."
Que primor isso!
Crônica redundantemente maravilhosa!!
ResponderExcluirVocê falou da possibilidade de pendrives e playlists pra substituir trilhas sonoras afetivas.
E se a Inteligência Artificial conseguisse disponibilizar, em caso de separação, uma versão do outro ou da outra em impressora 3D, só com as melhores partes, sem “aplicativos” de brigas e desentendimentos?
Acho que muita gente iria ao delírio, em todos os sentidos!
Como sempre, você foi certeiro feito um sniper! Valeu, meu amigo…
ExcluirOutro dia li sobre um casal que se separou e resolveu manter o cachorro em guarda compartilhada, cada dia com um dos ex cônjuges. O inseparável não é mais como costumava ser. Dedé Dwight
ResponderExcluirO Marquês de Maricá tinha uma razoável explicação para o fato: “Ninguém pode se queixar da falta de um amigo, podendo ter um cão.” Valeu, Dedé!
ExcluirA famosa frase pronunciada por ocasião dos casamentos: "Até que a morte nos separe", parece bem atual e algumas vezes colocada em prática em busca de paz e harmonia e amor-próprio por parte dos cônjuges, pois vejamos: temos a morte da compreensão, da empatia, do amor, do tesão, do diálogo... , do respeito.
ResponderExcluirMuitos insistem em manter um relacionamento tóxico em prejuízo direto para as partes, filhos, familiares e amigos resultando em desdobramentos trágicos com sequelas irreversíveis.
Voltando para a crônica, o autor, de forma bem humorada, retrata a forma atual do desenlace matrimonial que resulta em uma luta patrimonial de largas proporções, envolvendo patrimônio sentimental e até mesmo possível processo nos tribunais da emoção, dai teria o nome de *Ação ordinária por perda de orgasmos múltiplos*, ou por *Perda de momentos não vividos*, ou ainda *Perda de uma Chance por não poder ter encontrado um "novo amor".*...
Mas uma coisa é certa o carinho continua, pois fica para sempre os dizeres: meu bem, meus bens, minhas lembranças, minhas músicas...
Hilário também foi ilustração e a frase do Umor com excelente pitada de bom humor
"Então, tá, a gente se separa. Eu vou embora só com esse barquinho e tu fica com essa ilha todinha..."
Simbora Hayton, que venha a próxima quarta cheia de expectativas.🤝
Você me fez lembrar de uma sentença surta e certeira dita pelo célebre e pragmático Dr. House (o do seriado de TV): "Todo relacionamento que não acaba com separação, acaba em morte. Tudo desmorona no final".
ExcluirE concordo com você: com graça e ironia, a ilustração de meu amigo Umor resumiu com maestria o "moído dos miúdos".
Que formas múltiplas de falar da separação.
ResponderExcluirTô aqui matutando se o amor existe, pois tudo começa com muito amor e termina como se nada houvera.
Vai entender …
Sensacional, mas a mocinha do rim até que deu sorte, se fosse por aqui, o doador , ao invés de procurar a justiça, poderia tentar a recuperação do rim por conta própria, na base da peixeira....
ResponderExcluirBela crônica.
ResponderExcluirExcelente crônica, muito especial porque hoje é dia de São José o protetor da família.
ResponderExcluirUma crônica brilhante, caro amigo. Retratou com maestria a questão do egoísmo no fim dos relacionamentos. Atualmente as pessoas não sofrem tanto , parece que não se entregam mais um ao outro como antes, são mais práticas, existem até casais casados que vivem em casas separadas e gostam.
ResponderExcluirMuito boa! Um parente, muito rude e depois uns goles de aguardente barato, chegou para ex-companheira e propôs dividir no facão o único bem em comum, o filho de um ano. Meu pai negociou e conseguiu ficar com a guarda da criança, que hoje tem 70 anos, aposentado, com dois filhos e quatro netos. Francisco Miranda
ResponderExcluirEsse seu parente grosso de que só cano de fossa, meu caro Miranda, deve ter emprenhado pelos ouvidos com aquela história de decisão salomônica! Ainda bem que seu pai revelou-se um agente da paz e permitiu à criança assistir ao espetáculo da vida, pelo menos pelas sete décadas seguintes.
ExcluirQuando o "conto de fadas" se transforma numa "briga de foice" a lógica desaparece o amor fenece e se "acaba o que era doce". Cada um valoriza o que julga de valor. Recentemente um amigo desabafou: "Cara a mulher levou tudo, mas o que mais me incomodou foi levar o botijão de gás." Crônica da vida real.
ResponderExcluirVai ver era o botijão que ainda dava um gás na solidão a dois de ambos, não?
ExcluirCrônica boa é assim. Faz a gente rir, pensar, ficar triste, pensar de novo, rir outra vez... Interessante como discos e músicas fazem parte do emocional da gente. Talvez acreditemos que as musicas que nos fizeram felizes, podem nos acalentar na tristeza do pós separação. É possível que venha daí esse apego com velhos discos. Pra finalizar, com leveza e humor, há um episódio no YOUTUBE da série "220 Volts", com o ator, já falecido, Paulo Gustavo, que trata da separação de um casal; ela queria muita briga ( até por um disco de Wando); e ele, tranquilo, concordando com tudo. O final é hilário.
ResponderExcluirÓtima crônica, na adolescência ouvíamos : se passar é paixão não é amor, o amor é para sempre. Vou continuar acreditando.
ResponderExcluirEntre Chico, Francis, Elis, Betânia, Fábio Júnior, a dura realidade do amor que seca. Coisa triste, quando comparado aos arroubos do início. Quanta diferença. Muitas dores, por certo. E o plano de a morte separar deságua. As juras, tantas e tamanhas, desvaneceram. Grande pena. Deve ser um momento de muita solidão e dor.
ResponderExcluirRealmente, o fim de uma união, onde se compartilhou tantos momentos bonitos e inesquecíveis, é triste. Mas, mais triste é forçar a barra e continuar juntos, porém infelizes.
ResponderExcluirSe em uma das partes da divisão sobrar ainda um sentimento que resiste à separação, melhor dizer tal qual Mongol/Oswaldo Montenegro, em "A vida quis assim": "Que pena que a vida quis assim, você viver feliz longe de mim, a dor rindo da minha solidão". E seguir em frente.
Bela crônica!!!
No fim, como disse Djavan, "..a força do beijo, por mais que vadia, não sacia mais...". "...No amor, a tortura está por um triz...".
ResponderExcluirÉ assim, começa apaixonado e, hoje em dia, termina até sem dor, anestesiado pelo transplante do amor que foi para o fisioterapeuta. Adorei a crônica.
Crônica que nos faz relembrar, pensar, voltar aos tempos dos retratos 3x4 trocados, destrocados destroçados, devolvidos... Quantas mudanças!. Assunto palpitante. Valeu.
ResponderExcluirÓtima crônica. Traz a vida como ela é, uma leitura envolvente, reflexiva. Até cômica.
ResponderExcluirRapaz, quando pensamos que vc já tinha falado de tudo, resgata um tema que muitos de nós já viveram. Muito atual e muito real.
ResponderExcluirShow de crônica, Hayton. Por ocasião de separações e divórcios, notamos que as exigências em relação à partilha de bens, e, eventualmente de órgãos, é uma forma de atingir aquele(a) que pediu a separação.
ResponderExcluirSe fosse por aí, Sr. Anônimo, é bom ter em mente que, como todo mundo uma hora pega no sono, a doadora também teria sua chance de "negociar" com o doador outro desfecho para o caso: capação.
ResponderExcluirO inesquecivel Cartola escrevu um dos versos mais lindos sobre o fim de um amor: "Esquece nosso amor, vê se esquece
ResponderExcluirPorque tudo no mundo acontece
E acontece que já não sei mais amar
Vai chorar, vai sofrer
E você não merece
Mas isso acontece
Acontece que meu coração ficou frio
E o nosso ninho de amor está vazio
Se eu ainda pudesse fingir que te amo
Ah, se eu pudesse
Mas não quero, não devo fazê-lo
Isso não acontece"
Outro hino, Isamusa, tão belo quanto o buarqueano “Trocando em Miúdos”.
ExcluirQuando se pede de volta um rim doado, até um coração já se foi.
ResponderExcluirVc é um poeta
ExcluirVc sempre encanta com a beleza dos textos e sua memória privilegiada!
ResponderExcluirEssa do rim é real ou você inventou?
ResponderExcluirDeu em vários jornais no dia 20 de fevereiro. Talvez a Justiça tenha cometido uma falha em sua decisão: deveria atender, obrigando o requerente a se submeter a uma nova cirurgia para recolocação da “peça” no local original. Sem anestesia.
ExcluirGostei do “sarapatel de sentimentos “…rsrsrs. Só você mesmo para nos fazer rir, com tanta criatividade!
ResponderExcluirCaro Hayton, como sempre, um excelente texto. Grande abraço.
ResponderExcluirOutra quarta-feira que Hayton transforma em um dia muito bacana. A temática é inclusiva e mexe com os (alegres e tristes) sentimentos.
ResponderExcluirAlém das próprias vivências, meus colegas leitores - como sempre acontece - enriquecem esse dia com música, poesia, experiências e dúvidas.
Hayton, como já foi dito aqui de “ruma”, nos apresenta o relacionamento a dois em todas as suas caras.
Assim como o autor, também fico triste com o fim dos relacionamentos. Mesmo concordando com alguns comentários de que muitos não teriam como prosseguir, fico imaginando se não poderiam ter sido salvos. O cuidado diário, o respeito à individualidade do outro, a admiração, a empatia. Sim, o amor é muito trabalhoso. Exige cuidados e renúncias de um e de outro.
Além das questões abstratas, as materiais, em eventual separação, muitas vezes são o fator decisivo para o que era apenas desolação transformar-se em ódio mortal. E, ao final, o prejuízo é certo.
Certa feita, li um artigo em que o autor, tratando justamente desse tema, afirmava que, sob o ponto de vista financeiro, a separação quase sempre era um mau negócio. Dessa forma, sugeria aos casais que, ao perceberem que as “ameaças” estavam a rondar, tomassem medidas para “arejar e tirar da rotina a relação”: saírem para jantar, fazer uma viagem, realizar um sonho ainda não concretizado. Segundo ele, sairia mais barato que a separação.
Assim, torço muito para que aqueles que ainda convivem sob o mesmo teto com suas “alminhas queridas” não sintam preguiça. Trabalhem com afinco para continuar a caminhada. Se o argumento não sensibilizar, pensem ainda na trabalheira de um recomeço. Ai, em mim, dá uma preguiça danada!
Lamentavelmente , é a realidade...
ResponderExcluirRapaz!!!! Você
ResponderExcluirEstá cada dia melhor!!!!!
E “sarapatel de coração, fígado e rins” foi demais!!!! Ri muito!!!! Vou repassar, é claro!!!!! Nelza Martins
Tempos estranhos! (Como diria uma excelência, de memória não tão saudosa)
ResponderExcluirMas, com todo o respeito, Chico foi imprevidente ao tratar de forma liberal a medida do Bonfim (por mais que o Pixinguinha fosse inegociável). Não podia dar certo!
Às vezes você abusa, vai a infinitos da alma do ser humano, ou como queiram definir o sentimento mais profundo de que somos capazes.
ResponderExcluirSuas crônicas são sempre maravilhosas, todos reconhecem e eu não me canso de até chatear repetindo isso.
Só que algumas são mais que antológicas, como é o caso dessa aí. Não me surpreenderia se Chico, o Buarque maior, produzisse outra pérola se dela tomasse conhecimento, pois inspiração certamente não lhe faltaria.
De resto, é de encucar também o comentário de Sérgio Riede - sua inteligência é por demais conhecida - , pois ele nos leva a elucubrar o que poderá vir por aí com a tão propagada, louvada e já até temida IA.
Enfim, desfrutemos do conforto, reflexão e vibração que seus textos nos proporcionam.
A Bahia conta as horas, minutos e segundos pra o acontecimento que a honrará na próxima semana...
Hoje, está se tornando normal, a disputa para saber quem vai ficar com o pet.
ResponderExcluirEssa questão de amor para mim é tão controversa.
ResponderExcluirSempre me pergunto, como feminista, se as relações eram mais duradouras porque havia mais submissão e tolerância da mulher (afinal fomos criadas como criaturas incompletas que precisam de um homem para sermos felizes) ou, se de fato, o amor era mais concreto antigamente e, como bem diz Bauman, o amor fluiu seguindo o curso da modernidade líquida.
Essa tal modernidade, que dá sustentação à sociedade de consumo, necessita de uma dinâmica de descartabilidade, garantindo uma insatisfação permanente que nos tornam seres de falta e o buraco a ser preenchido nos impulsiona a comprar e consumir mais e mais, alimentando o capitalismo.
O hedonismo impera e o individualismo é aclamado e, em vez de construções duradouras, prevalece o medo do compromisso com o outro. Apesar dessa abundância de conexões promovidas via redes sociais, estamos nos tornando uma sociedade solitária. Palavra que tem sido embalada com o invólucro de solitude - mais aceitável.
Gritamos aos ventos a tolerância, mas nos tornamos, cada vez mais, intolerantes com nossos parceiros e, ao menor sinal de insatisfação, os descartamos, como fazemos com roupas, discos, etc.
Segundo meu poetinha preferido, Fernando Pessoa, "nós nunca amamos ninguém, mas tão somente, à ideia que fazemos de alguém... portanto, é a nós mesmos que amamos..." acho que faz muito sentido, mas, ao mesmo tempo, acredito que o amor mesmo sendo uma ilusão, é uma ilusão necessária. A vida sem o amor torna-se opaca, insossa, sem graça.
Segundo Nietzsche, "amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há sempre também alguma razão na loucura".
Amemos. Afinal, a vida precisa da loucura.
Está crônica, pelo jeito, deu o que pensar... Quantas "histórias" rememoradas... Quantos "pedaços" que não se encaixam mais no mosaico da boa convivência e do amor... Sofrer? Sempre haverá momentos de dor pelas perdas... Melhor mesmo é perdoar... Rever atitudes...
ResponderExcluirAcabei de ler o seu belo texto do dia - “Trocando em miúdos”. De fato, um maravilhoso texto onde o leitor tem um bom proveito, principalmente quem está na faixa etária como é o caso do público-alvo.
ResponderExcluirParabéns! Grande abraço. Até a próxima semana.
Essa negócio de separação com intriga, é próprio dos moídos de matutos e velhos.
ResponderExcluirConta-se que o véi de 92 anos separou-se véia, cinco anos mais nova, porque ela chamou ele de cocô de louro grampudo.
Foram bater no juiz que tinha idade de ser neto da dupla.
Puxa pra cá, pondera pra lá, que pode ser uma fase... Mas, os dois, amuados que só camelo em jejum, permanecem irredutíveis.
Na hora de assinar o divorcio, o juiz pergunta se querem acrescentar algo.
Aí a véia diz: Eu quero fazer uma pergunta a ele.
- Você já tem 92 anos, e eu tou com 87. Eu quero saber o seguinte. Se eu morrer primeiro, você vai pro meu enterro?
Aí o véi, abusado, diz:
- Eu não vou não. Não vou, porque quem enterra merda é gato.
E danou o jamegão dizendo:
- Possa divorciar e priu!
Hayton, sempre surpreendendo com suas ótimas crônicas! O homem não tá fraco não!
ResponderExcluirInspirado no "Carro por Assinatura", vou lançar, em breve, um novo Produto, o "Casamento por Assinatura", com prazo definido de dois anos, já com cláusula de divórcio incluída. Será com separação total de bens e sem direito a qualquer tipo de indenização de ambas às partes. Ao final, os contratantes podem optar por um modelo novo, mediante assinatura de um novo Contrato. Ou, então, podem prorrogá-lo, adiando a Cláusula de Divórcio por mais dois anos. E assim, sucessivamente.
ResponderExcluirQuem sabe, assim, livres da pressão do "Até que a morte os separe" ou do "morrer de amor, de amor se perder", os "contratantes" fiquem mais tranquilos e relaxados, para realmente curtirem seus momentos a dois. E, ao invés de um "fogo de palha", consigam gerar uma brasa, que perdure por um longo tempo de convivência, continuando firme e aquecida. E, o mais importante: sem queimar. Apenas, aquecendo...
Uma notícia que se transformou em uma crônica genial. Os comentários também foram imperdíveis.
ResponderExcluirTaí um tema que gosto!!!
ResponderExcluirVc é parecido com o Chico Buarque, amigo Hayton.
Explico: Chico decididamente é macho raiz, a história não irá me desmentir, certamente. Apesar disso, compôs músicas tão femininas, que só ele seria capaz. Não sou eu, mas o universo da música que reconhece.
Vc, um monogâmico convicto, verdadeiro M.O.(marido oprimido), escreve uma coisa linda dessa, sobre a dor da separação, quando todos, absolutamente todos que lhe conhecem, sabe que a Magdala foi, é, e sempre será, a una e indivisível mulher de sua vida!
Vc jamais será ferido, como eu fui, pela frase amarga e fuzilante do Chico, esse sim, homem de muitas mulheres, sobre o que tratamos: “Como, se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça seu vestido, e teu sapato ainda pisa no meu?????”
Essa crônica é um verdadeiro alerta para quem ainda tem a sorte de ter tempo! Dolorida a ponto de resignificar o presente para evitar esse futuro possível.
ResponderExcluirMaravilhosamente bem escrita!
Também digo o mesmo com relação a Mário Prata e Sérgio Porto, ex-funcs. do BB. A diferença é que estes perceberam que teriam mais futuro como escritores/cronistas. Hayton conseguiu destaque nas duas carreiras!
ResponderExcluirJá me questiono, meu amigo, se as relações serão baseadas em afeto e amor ou só por conveniência. Os casais de hoje já não preservam as características de antigamente. Aquele amor quente, que arrebatada peito e alma, acho que já está quase extinto. O mundo anda.
ResponderExcluirTirou as palavras da minha boca. Estou de pleno acordo. Parece até transmissão telepática, Mattos!
ResponderExcluirO que a gente tem assistido agora é a briga de quem fica com o cachorro.
ResponderExcluirFaltaram as divisões das rusgas da convivência marital.
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