Vejam vocês como é a vida. Soube de um jovem casal que trocou as juras de amor por reuniões de trabalho em home office. Ele, CFO das finanças domésticas. Ela, CEO das operações logísticas. No início, tudo era promissor: lua de mel, investimentos em viagens e jantares românticos, projeção de lucro afetivo a médio prazo. Mas, com o tempo, a rotina engoliu os dividendos da paixão, o negócio esfriou e o desejo – esse acionista inquieto – ameaça vender sua participação.
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Ilustração: Uilson Morais (Umor) |
A internet, esse oráculo do século, ensina que casamento já foi apenas um contrato de conveniência: comida na mesa, herdeiros e disposição para tocar o projeto, na saúde e na doença... O amor veio depois, quando Freud abriu a caixa-preta das angústias humanas e as relações deixaram de ser apenas uma questão de sobrevivência. Mas a régua subiu: além de fiel, um parceiro precisa ser engraçado, sensível, sexy – e, de preferência, não esquecer a toalha molhada na cama.
O problema é que esse negócio afetivo desanda sem inovação. Entre boletos, reuniões e dilemas gastronômicos (“carne ou peixe? pizza ou sushi?”), a fantasia do relacionamento apaixonado mofa no fundo do armário, junto com as roupas que um dia serviram.
Conversar, dizem os especialistas no assunto, os casais conversam. Oito horas por semana, em média. Mas boa parte desse tempo se perde na planilha invisível das obrigações: quem lavou mais louça, quem recolheu o lixo, quem varreu a sala... E, na dúvida entre dar atenção à cara-metade ou ao cachorro, um terço opta pelo óbvio – afinal, cachorro nunca late um “a gente precisa conversar!”.
O saldo dessa encrenca? Um cheque especial de afetos no vermelho. Um reclama do colesterol, o outro do preço do café. Um lembra da conta de luz, o outro das marcas do amor que sumiram dos lençóis. E a matemática do desejo é ingrata: para cada desentendimento, garantem os entendidos, são necessárias cinco interações positivas. Mas quem tem tempo para isso, quando a Netflix recomenda uma nova série imperdível?
Então o desejo faz o quê? Troca de roupa e vai dar uma voltinha. Foge para grupos de caminhadas ou pedais, botecos da moda ou, pior, para o conforto anestésico do celular. Nada disso é um desastre – toda individualidade precisa de espaço, claro. O problema é quando o casamento vira apenas um projeto de estabilidade, um arquivo de rancores que se acumulam como mensagens não lidas. E daí, para o desinteresse mútuo, é um pulo.
Desejo e novidade são crias da mesma costela, se bem que muitos casais insistem nas mesmas viagens, nos mesmos restaurantes, nos mesmos pijamas esburacados, como se nunca tivessem ouvido o alerta de Chico Buarque: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã…” Depois, estranham quando a chama vira brasa e a brasa, cinza.
Não sou consultor de crises sentimentais, mas talvez funcione parar de esperar que o desejo caia do céu como um passe de mágica. Criar momentos sutis. Abrir um vinho ou preparar um risoto, um espaguete. Sussurrar (ou escrever) algo bonito quando o outro menos espera. Reservar meia hora por semana sem ser mãe ou pai – apenas amante, em estado positivo e operante.
Porque desejo não é boleto em débito automático. Se um espera pelo outro e o outro aguarda um milagre dos céus, a relação vira reunião de condomínio, onde todo mundo dá pitaco, mas ninguém quer ser síndico. E o desejo também precisa de espaço. Mais do que isso, de treino. Ninguém corre maratona sem preparo ou mantém o tesão sem prática. É como dizia meu avô: “se não arejar a terra, a espiga de milho vem rala”.
Se o negócio está mais para planilha do que para poesia, passou da hora de um “reboot”. De fechar as abas mentais e atualizar o sistema. Criar um protocolo de emergência antes que o desejo venda a sua participação e, pior, reinvista no concorrente.
Porque a coisa deixou de ser contrato de longo prazo com cláusula de estabilidade. Virou uma startup volátil, arriscada, que exige inovação constante. Se ninguém tomar a frente, o desejo faz o que sempre fez: abre o capital, procura um sócio mais arrojado e se desfaz da sociedade. E aí, nem adianta mais apelar para consultoria. Romance sem investimento quebra – por falência múltipla dos pequenos gestos que sustentam qualquer relação.
O mercado não chora. O amor, sim. Se nada for feito, o desejo segue a lógica do capital: busca novas apostas. E quando menos se espera, já não existe doce lar, mas um espaço para alugar. Um cheiro que ficou no travesseiro. Uma canção que machuca. Sem dó.
Um texto afiado e irônico que traduz o casamento como startup: sem inovação, quebra. Pequenos gestos são o capital do desejo. Se ninguém investe, o amor pede falência. 👏🔥 maravilhoso!!!
ResponderExcluirDesta vez o cronista se superou em plena quarta-feira de Cinzas. Não acorda com uma cipoada dessas no lombo quem já morreu.
ResponderExcluirGostei da cipoada no lombo, kkkkk
ExcluirNota 10 pela inovadora abordagem de um assunto tão antigo entre os casais!!!
ResponderExcluirA rotina tomou conta
ResponderExcluirDa vida desse casal
O sexo era constante
Agora é anual
É tão longa a dormência
Que já sofre a interferência
Do namoro virtual.
Uma abordagem perfeita. Aliás, esse esforço diário na “retroalimentação” não se limita às relações amorosas ou familiares. Parabéns Hayton
ResponderExcluirPois é amigo Hayton! Não tem IA que explique tão bem como a tecnologia pode acabar com o “…para sempre, na alegria e na tristeza”. vem
ResponderExcluirUm dia a gente cansa
ResponderExcluirNa verdade, nunca confiamos o suficiente naqueles que aceitam tudo em silêncio, que suportam o insuportável e ainda encontram força para sorrir. A submissão deles parece um poço sem fundo, e sua tolerância, uma fortaleza inabalável. Mas isso é só a superfície.
Um dia, de repente, eles param o jogo.
Viram as costas, fecham uma porta com firmeza, e quando o fazem, é para sempre.
Não há súplicas, argumentos ou arrependimentos que os façam voltar. Porque, por dentro, eles já estavam partindo há muito tempo.
Análise perfeita!
ExcluirAdorei. Quantos casamentos se afogam na rotina, na comodidade e na indiferença? Viver um relacionamento exige cuidado, entrega, interação constante, interesse, atenção. O amor é necessário, mas não é suficiente. Eke sozinho nao sustenta uma relação. Amar é como viver, pede reinvenção e consciência de sentido. A chama que o acende precisa de abano constante.
ResponderExcluirParabéns, querido. Você se superou numa quarta-feira de cinzas.
E ainda o relacionamento, a longo prazo, entre a logística e as operações, pode querer agregar novos investimentos ao capital existente e dar um upgrade no montante. É quando a casa cai para um dos investidores, pq os juros pode escolher um lado e se apropriar deste, deixando o outro apenas na amargura da solidão.
ResponderExcluirLuis Lanzac
ExcluirLuis Lanzac, acima.
ResponderExcluirCaro amigo Hayton, sua crônica sobre relacionamentos como startups me fez refletir e sorrir ao mesmo tempo!
ResponderExcluirVocê capturou perfeitamente como a rotina pode apagar a chama da paixão e a importância de pequenas inovações diárias para manter o relacionamento vivo.
Adorei a comparação dos papéis de CFO e CEO com as responsabilidades domésticas e emocionais. Foi uma leitura envolvente e cheia de insights.
Parabéns pelo texto criativo e inteligente! Continue nos presenteando com essas crônicas maravilhosas.
Relacionamento é um trem complicado. A gente engole sapo pra poder ter perereca, como diz o ditado popular. Tudo vem construído do começo. Se o início foi só euforia, sem cuidar dos adereços, o barco afunda. Cada dia a gente inventa uma vida diferente, só assim pra não desatar...
ResponderExcluirUm primor de texto… parabéns por tratar com poesia ( e muita realidade) um problema que existe até nos namoros…!
ResponderExcluirNem coach e nem psicanalista…. um perspicaz leitor da vida a dois!
ResponderExcluirA lemos e a interpretamos da mesma forma, mas vc traduz e sintetiza com maestria!
Bravíssimo!!!
Criativo, instigante e profundo. Excelente crônica.
ResponderExcluirCrônica cheia de humor e de verdades de forma leve com direito a muitos risos.😂🤣😂
ResponderExcluirLembrei de uma reportagem que fala sobre alguns japoneses preferem trocar suas paixões por fantasias quase reais. Se está moda pegar, o bicho vai pegar.
*"A tecnologia, em verdade, percorreu um longo caminho desde aquelas bonecas infláveis horrorosas da década de 1970. Hoje elas parecem incrivelmente reais e, segundo seus donos, a textura é a mesma de tocar a pele humana. Dessa forma há mais homens comprando porque sentem que podem realmente se comunicar com as bonecas. Ademais, muitos nem tem mais vergonha de passear com elas em ambientes públicos"*
Problema sério será quando a entrada USB versão 3.0 der uma pane e tostar o trem todo, aí será bronca para uma nova startup resolver. Mesmo raciocínio quando a mulher busca um realista por encomenda e na hora H dá uma pane no pino central em total prejuízo ao resultado final.
Acho melhor que fiquemos com nossas empresas de convencional onde os ajustes, os planejamentos e controles, atrelados à aplicação da análise SWOT, conhecida como FOFA, não pode deixar de ser praticada, afinal somos CEO e CFO de nossa Startup.
O Roberto já "achava que a rotina do dia-a-dia está mudando tudo lentamente, nada é como antes, ficou tudo diferente, mesmo a meu lado, você está tão distante, e o amor não é mais como antes". A tendência é que a proibição de celulares nas escolas seja estendida a certos lares. O ideal é o céu no lar!
ResponderExcluirNeste cipoal a distância entre o ideal e o possível estica em progressão geométrica e a capacidade de reduzir a distância se arrasta no lombo de uma tartaruga. Belo texto para reflexão durante a quaresma.
ResponderExcluirEstou com 55 anos de casados e quero recomendar essa crônica para todos que estão entrando nessa fase de casamento.
ResponderExcluirVerdadeiro manual de recomendações e alerta para um bom convívio a dois.
Parabéns!
Fiquei na dúvida sobre o que é mais fácil. Fazer home office é mais simples do que dormir no sofá, por outro lado, ir para cozinha e trazer um bom vinho é muito mais simples do que deixar o caixa da empresa positivo. Em uma separação, a briga pelo cachorro vai ser muito mais complicada do que a disputa pelos dados dos clientes.
ResponderExcluirSó não faça uma startup familiar. Imagine a sogra no board de advisors.
Kkk! Adorei! Diniz.
ExcluirVerdade amigo, mais ainda existem alguns poucos casais que conseguem encontrar na/o companheira/o um motivo de agradecer a Deus a costelinha que lhe foi reservada.
ResponderExcluirHoje, nos meus 81 anos, consegui encontrar alegria nos pequenos e constantes momentos de ternura, e a respeitar às deficiências da minha costelinha, pois, aprendi que o companheirismo, a partilha e o desejo de tornar o outro feliz e o melhor caminho para a vida a dois.
Ubuntu
Brilhante !!!
ResponderExcluirCaro Hayton, no meu caso, tive que agregar Disney plus, já que a Netflix encerrou CSI em 28.2.2025. No mais, tudo igual.
ResponderExcluirO cronista dessa vez não teve dó de ninguém. Toda vez que ouço a célebre frase "Precisamos conversar" já começo uma prosa com os meus botões. Tô fudido. Apesar de essencial, pense num cara que detesta "DR". Toda vez que isso acontece a briga é certa. Não existe algo mais gostoso que início de namoro e coisa mais decepcionante que a verdadeira descoberta daquilo que cada um esconde. O jeito é seguir adiante e não se traumatizar com a primeira queda do muro do quintal. A startup talvez seja o início de um novo empreendimento, regado a sonhos e futuras desilusões, pois ninguém está livre do imperialismo sentimental, apesar do coração continuar batendo.
ResponderExcluirShow de crônica meu amigo. Maneira Inteligente, criativa e bem humorada de retratar um tema tão complexo como a relação a dois. Parabéns.
ResponderExcluirVocê se supera toda quarta-feira, mas numa quarta de cinzas com uma crônica desse teor, foi simplesmente fantástico.
ResponderExcluirSem adjetivos pra descrever. Parabéns!
Muito bom!
ResponderExcluirVersatilidade é pouco…
Tomando nota aqui 😉
Velho amigo,
ResponderExcluirCasamento é uma instituição difícil, que a imensa maioria acha que é fácil.
A vida a dois é muito mais complicada que pensamos. Primeiro tem a máxima cruel: “não importa com quem vc se case, no dia seguinte vc vai descobrir que não é a mesma pessoa.”
Pouca gente entende que em um casamento sempre existem três pessoas: Eu, tú, e nós.
O problema é que o “nós”, é sempre negligenciado ora pelo “eu”, ora pelo “tú”, e vai ficando sempre em segundo plano, enquanto o ego de cada um toma conta da relação, em detrimento da tolerância desejada.
Em casamentos heteros, talvez o problema seja ainda maior, pelas tantas diferenças de gênero, já tão alardeadas.
Já estou no segundo casamento, bem sucedido, diga-se de passagem(não que o primeiro também não tenha sido) e do alto de meus 70 anos, só tenho a certeza de que por mais que a sociedade tenha evoluído para outros tipos de casamentos (tem tantas letras que perdi a conta), se tiver de me casar novamente, vai ser com uma mulher. Acho que, nessas alturas do campeonato, não vou aprender a conviver com o bafo na nuca!!!!
Perfeito e para quem ficava a maior parte do dia no Banco, aposentou e passou a ficar em casa, tem que se reinventar e voltar aos tempos de namoro.
ResponderExcluirMais uma excelente crônica do mestre Hayton.
ResponderExcluirÉ normal que o casal experimente altos e baixos durante os anos de casamento, mas quando algo de ruim acontece, é importante que os dois saibam que estão estão no mesmo barco. Assim fica mais fácil um ajudar ao outro, e a “Startup da Paixão” continuar perdurando.
É preciso cada um compartilhar dos interesses do outro e, não menos importante, ter espaço para fazer as coisas que gosta, mesmo que sozinho.
“Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo” (Efésios 4:32).
E não podemos ser bonzinhos, temos que manter nossa altivez e não tentar agradar, acreditar em nós mesmos, nos valorizar! Não ter medo da solidão, de sermos abandonados! O outro só nos valoriza, se nos valorizamos primeiro! A chama da paixão só permanece na incerteza, o outro não pode acreditar que já nos conquistaram, temos de permanecer uma incógnita. O paixão não pode virar uma irmandade mas uma eterna conquista! Sem carência!
ResponderExcluirCorrigindo …que já nos CONQUISTOU…
ExcluirExcelente crônica! Tratar de assuntos tão complexos, com muita poesia e muito humor são especialidades do amigo Hayton
ResponderExcluirSensacional. Desenhou (e coloriu) a dinâmica das relações. Quem não estiver disposto ao trabalho do afeto, favor não tumultuar a vida alheia rsrs
ResponderExcluir“Como sempre muito realista e criativo! Aquele parágrafo "Desejo não é boleto em débito automático...”, é demais. Valeu meu cronista de todas as quartas! Continue com essa criatividade e inspiração. Parabéns!
ResponderExcluirExcepcional… uma abstração traduzida em realidade à luz da administração, que exige boa governança e gestão, com metas e objetivos bem definidos e devidamente comunicados e compartilhados, de modo que alcancem genuíno engajamento dos envolvidos na trama! (Risos).
ResponderExcluirParabéns por essa obra de arte, amigo.
Caro Hayton, a cada crônica você vem se superando. Para uma quarta-feira de cinzas, este tema tão sensível não podia ser melhor ilustrado. Caberá ao leitor refletir e penitenciar por toda a quaresma, com a fé e confiança de quem deseja alcançar a ressureição dos seus amores, paixões e desejos que se perderam ou arrefeceram ao longo dos carnavais.
ResponderExcluirRsrsrs Pensei que só acontecia comigo. Parece que tenho muitos parceiros de vivência. Aprendamos com este manual. Como dizia o personagem de Chico Anyzio, " cabra bom".
ResponderExcluirExcelente texto para um assunto tão complexo! Nem tanto para nossa geração, mas para a nova geração a coisa complica mais!
ResponderExcluirA velocidade com que os ingredientes desse processo, hoje virtualizado, se apresentam, nem sempre dá tempo para os usuários se acostumarem às "regras" do momento. Enquanto um dos "sócios" ainda está tentando aprender os "termos de uso", o outro já está prospectando novos avanços do "sistema"...
ResponderExcluirAí, realmente, um treinamento de atualização ou de reciclagem pode ser o caminho para buscar uma equalização... Caso contrário, a "empresa" não produz...
Quanta clareza ... é tempo de despertar para a vida ... o amor não pode ser esquecido nunca...a presença... o toque físico e da alma ... lágrimas nos olhos ... obrigada por nos oportunizar esta reflexão...É tempo de amar...de cuidar!
ResponderExcluirSábia crônica! Hayton é um filósofo, cibernético e expert em venture capital!
ResponderExcluirEssa não é crônica exclusiva para os nubentes do “Casamento dos Pequenos Burgueses”. Chico, não eu, o Buarque, é sempre certeiro.
ResponderExcluir...
“E ele tem um caso secreto
E ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sobre o mesmo teto.
...
Até que a morte os una
Até que a morte os una.”
.
Muitos não creem, mas:
Existe vida após a aposentadoria,
Existe vida após a morte; e
Existe vida após o casamento.
.
Chico, não o Buarque, mas eu, o Oitavo.
Faz jus ao Chico pelo qual é conhecido.
ExcluirMuito boa!!! Relacionamento não é "livro texto", rígido. É afeto, solidariedade, atenção e também, admiração, desafio e desejo. A serenidade vem do bem estar da vida em comum.
ResponderExcluirMe senti representado em vários comentários feitos no Blog.
ResponderExcluirEm síntese, um insight genial (comparar um casamento com uma startup) poderia ser apenas uma bela ideia difícil de executar.
Mas o cronista que se supera a cada semana conseguiu transformar uma ideia brilhante em um resultado ainda melhor: uma crônica instigante, leve e profunda; pragmática e poética; que arranca sorrisos e provoca preocupação.
O psicoterapeuta e escritor Flavio Gokovate já dizia que todas as relações humanas dependem de um ingrediente subestimado mas muito importante: a simetria.
Simetria de interesses, de afetos, de desejos, de visão de mundo: quando ela está presente em dose razoável, tudo flui melhor. Quando ela não está presente ou se dilui, o perigo de um desfecho desagradável aumenta.
No caso de relacionamentos longos de casais, a simetria precisa ser regada de algum jeito! Em outras palavras, foi o que o autor disse com muito maior maestria do que falo aqui.
Você me traduziu melhor do que eu mesmo. Uma crônica dentro da outra. Valeu, meu velho amigo.
ExcluirEssa crônica nos faz até repensar a vida como um todo, não só com relação ao tema nevrálgico que você descreve com insuperável proficiência.
ResponderExcluirSim, ela é tão contundente, profunda, provocadora, brilhante - haja adjetivos - que bastaria o primeiro parágrafo para nos levar a reflexão tão profunda e duradora. "A rotina engoliu os dividendos da paixão", é algo que provoca até turbulência mental quando nos lembramos de tantos casos conhecidos. Sem falar que tal expressão, tão bem encaixada em um texto mais que arrebatador, provocaria admiração e até inveja no mais laureado cronista, daqui ou de alhures, que dela tomasse conhecimento.
Enfim, o tema é instigante, mas provoca reflexão não somente sobre ele, faz muito mais, leva-nos a fazer a contabilidade da vida.
Por fim, quero destacar também a profundidade contida nos comentários, cada vez mais impressionantes, permitindo-me louvar como o mais definitivo o de DEBORATH ALMEIDA. Em poucas linhas ela é profunda e incontestável, define tudo ao dizer que o "amor é necessário, mas não é suficiente". Realmente, sozinho ele não resolve tudo.
Suas crônicas são verdadeiramente um bálsamo pra não enlouquecermos ou deprimirmo-nos com as mazelas que cotidianamente constatamos nesta sofrida Pindorama.
Esse crônica poderia estar em espaço nobre de qualquer grande veículos de imprensa. Tem humor e suas metáforas são muito atuais, manobradas com destreza pelo autor.
ResponderExcluirSergio Freire
Como vários colegas comentaristas já registraram, o cronista traz esta semana um retrato perfeito de (quase) todas as relações a dois.
ResponderExcluirPoderia aqui compilar preciosas contribuições dos comentaristas com as quais concordo. Não acredito em “os opostos se atraem”; acredito mais em gostos, crenças e propósitos com mais convergência do que divergências. E também acredito que viver a dois exige, como bem alertou Hayton, muito cuidado, manutenção e inovação.
Sobre isso, gosto muito de uma fala de uma animação japonesa, Meus Vizinhos os Yamada, em que o sacerdote fala o seguinte aos noivos:
“ A vida, como dizem, pode ter altos e baixos.
Às vezes as ondas podem nos derrotar e nos engolir.
Mas sejam corajosos.
A vida é muito dura se fazemos tudo sozinhos...
Até uma dupla de fracassados sobrevive a quase tudo se houver união.”
Hayton, parabéns por mais uma crônica que retrata muito bem a nossa realidade. Gostei do termo do seu amigo quando disse que você nos deu uma "cipoada no lombo, bem cedo da quarta-feira de cinzas" com a destreza e profundidade desse texto tão bem elaborado! todos aqui somos bem maduros o bastante para termos vivido grandes ou pequenos relacionamentos, e quão complicado é um relacionamento! tudo nos encanta em todo começo, ao ponto de despertar em nós sentimentos tão lindos como a paixão, o dito amor, entre outros tantos! contudo, com a convivência do dia a dia, muita expectativa vem por água abaixo, não somente na minha concepção, mas acredito que muitos hão de concordar comigo. Em resumo, tudo isso porque o ser humano é muito egoísta, na maioria das vezes só pensa em si próprio, é so quem tem razão, enfim...eu fui casada mais de trinta e oito anos, fiquei viúva, e casei novamente. Infelizmente, criamos muita expectativa com o novo relacionamento, porém, vem cheio de manias, alguns costumes do tempo, etc., e a gente acaba não querendo o que vem, a decepção e a vontade de ficar sozinha mesmo, sorte de quem teve sucesso nos novos relacionamentos. Desculpem, esta é só uma opinião. Um abraço
ResponderExcluirToda quarta um presente, texto da melhor qualidade, com conteúdo que permite uma boa reflexão, em especial para a vida que queremos.
ResponderExcluirSensacional!!!!!
ResponderExcluirHayton, esse texto poderia ser base argumentativa para um projeto de lei das sociedades entre casais.
ResponderExcluirO casamento é um negócio afetivo, que reverbera na saúde, nas finanças, na família, nos amigos, na sociedade, em tudo.
No meu caso, que estou nesse negócio há 50 anos, acho que investi num ativo de qualidade e com bons resultados, o que me motiva a continuar no papel.
Espero que continue assim.
Obrigado por sua inspiração, que nos leva a refletir sobre esse tema tão importante.
É, prezado amigo, a era digital traz facilidades, mas vai criando problemas que já não sabemos mais como enfrentar. Vai ficando mais grave a cada dia.
ResponderExcluirCerta feita, um amigo me deu a receita pra felicidade no casamento: “beleza e paciência”.
Se der certo, Beleza. Se não der, Paciência.
Procuro não analisar muito por que tantos casamentos duram menos que o meu, pra não cair na tentação de julgar.
A vida me tem sido generosa demais. Meu casamento já passou dos 37 anos, fora os 3 de namoro. Antes disso éramos bons amigos. Acho mesmo que a amizade acabou sendo o pilar pra contornar as intempéries inevitáveis. O desafio mais recente tem sido administrar a queda das taxas de paciência que veio depois dos 60. E vamos buscando investir pesado na tolerância com as manias que aumentam na mesma proporção das dores de coluna.
Consultor, sim! A receita foi dada, desenhada e colorida!
ResponderExcluirEsta ficou refinada Hayton.
ResponderExcluirPura verdade. O relacionamento necessita ser regado diariamente, com doses generosas de amor, cuidado, tolerância, reconhecimento, admiração, reciprocidade, inovações, dentre muitas outras.
ResponderExcluirElogiar o escriba é chover no molhado. O tema é por demais instigante e atual, mas ultrapassa os limites das paredes do chamado “lar”. Basta dar uma olhada nas mesas em volta, num restaurante lotado, pra perceber a distância entre os casais e filhos. O celular transporta as pessoas para lugares desconhecidos e improváveis e rouba as oportunidades de momentos verdadeiros. Uma pena.
ResponderExcluirCaro Hayton, como sempre, excelente!
ResponderExcluirGrande abraço.
Amigo Hayton. Suas crônicas são sempre genuínas, e envolventes. Hoje você caprichou com um tema rotineiro da vida de muitos casais. Perfeita sua abordagem, parecem um psicanalista de sofá. Excelente! ❤️❤️❤️
ResponderExcluirCada vez que eu penso dizer: "agora, você se superou", Hayton vem e se supera, mais uma vez, como se fosse (e É), a coisa mais natural do mundo! Ele já contou, aqui em Recife, no ano passado, que não é bem assim. Que, às vezes, encontra dificuldades. Mas, se as tem, não as deixa transparecer. Sempre supera. E como supera!!!
ResponderExcluirDesta vez, faz um alerta sobre relacionamentos e seus desgastes. Sobre deixar a porta aberta para poder sair, sem tentar nenhum esforço para poder ficar. Nada de "até que a morte os separe". No início, "meu Bem", para cá, "meu Bem", para lá. No fiz, desfeita a "startup", "meus bens", para cá, seus "bens", para lá. Isso, se a "quebra de contrato" for pacifica e com consentimento mútuo. Se não, quem vai sair ganhando os "lucros" e até mesmo parte do patrimônio, é um "bom" Advogado. Sem esquecer do "Leão", é claro!
Mas, prejudicados mesmo, emocionalmente, ficam os filhos, caso os "investimentos", nesse sentido, tenham sido feito sem qualquer planejamento. Seja um, ou sejam vários, pagarão a conta, sem ter culpa no Cartório. E, às vezes, até poderão servir como desculpa, para a "falência" e o prejuízo: "Quando as crianças saírem de férias, talvez a gente possa então se amar, um pouco mais!..."
Talvez, uma palavra a mais (ou a menos) bastaria. E tudo se consolidaria. Mas, cadê vontade? Cadê paciência, para "investir" no longo prazo? Ficou tão precário, que o "jeitinho brasileiro", criou a "União Estável", para justificar "investimentos instáveis", mas que se arrastam. Mas, até isso, tende ao fracasso!
Recebi essa crônica de um amigo e sua leitura me levou a muitas reflexões. A tecnologia está nos transformando em robôs, levando-nos a crer que a vida está perdendo o que ela tem de melhor, que é a boa relação familiar. O texto é perfeito e intrigante, assim como, na ilustração, o chargista acertou na mosca a realidade da existência do celular. Parabéns pra ambos, o cronista e o cartunista.
ResponderExcluirHayton, essa sua crônica foi realismo puro, como quando se classificavam o estilo dos escritores assim. Nos primeiros 2/3 lembrou Cartola: “acontece que meu coração ficou frio”. O mesmo Flavio Gikovate citado por outro grande escritor deste grupo, Riede, me desanimou no seu livro “Sexo” quando vaticinou algo assim: “ninguém consegue mais continuar desejando aquilo que já conquistou “. Cruel, não? Mas no terço final você se policiou, se vestiu do estilo Romantismo, para defender que existe fórmula para deixar a chama, senão ardente, acesa. Prefiro me consolar com o nosso maior escritor, Machado de Assis: “o casamento acalma os afetos para torná-los duradouros”. Perdoe ter a pretensão de querer analisar o seu texto. Adorei! Diniz.
ResponderExcluirSua generosidade e, sei lá, duas taças de vinho, me lançaram no meio de feras da literatura. Eu, que nada posso contra a opinião alheia, não me iludo, mas fico comovido pra danado.
ExcluirCaraca!
ResponderExcluirÉ uma verdadeira aula de relacionamento digital (e bem atual)!
O Hayton não tem limites, no bom sentido...
70 comentários, bons ou ótimos.
Parabéns escritor! Deve ser reflexo do Oscar que o Brasil ganhou neste Carnaval de 2025!
Emilio Hiroshi Moriya
Ótima reflexão. Texto impecável e conteúdo muito útil e atual. Assim como uma organização, o casamento é um negócio que precisa de investimentos diários para sua longevidade.
ResponderExcluirVou me restringir apenas a elogiar a belíssima construção literal literalmente. Quanto a outro casal, eu não meto nem bedelho.
ResponderExcluirSe a carapuça serviu em muitos é porque a crônica atingiu em cheio, feito uma flecha de cupido ao contrário. É a de quem não se quer falar; o que fica quietinho no escuro e sai da lagoa da angústia, feito monstro amorfo. Aquele que vem pra acabar com ternura, paixão, adrenalina e hormônios de todo começo. Esse é o que chamamos de Fim. Belíssima crônica. Arrebatadora.
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