quarta-feira, 16 de abril de 2025

Sete vidas e nenhum coração

Nos tempos do Império, “doutor” era título nobre, concedido com a pompa de quem recebia uma comenda da Coroa, com direito a anel de esmeralda. Hoje, basta cruzar a linha de chegada do vestibular de Medicina para ver brotar “doutores” como mato em calçada rachada. O jaleco branco virou capa de super-herói urbano — só que, em vez de salvar vidas, muitos agora se contentam em postar vídeos e duelar por likes no TikTok. 

Recentemente, em São Paulo, duas estudantes de Medicina, princesas da superficialidade digital, resolveram empunhar seus celulares como bisturis morais e praticar dissecação pública no coração de uma história triste. Postaram um vídeo debochado, digno de uma tragicomédia urbana, comentando com desdém o caso de uma jovem que, em vez de sete vidas, como os gatos, teve três corações. E mesmo assim, não escapou do apedrejamento pós-morte.






A paciente não era personagem de ficção. Era uma guerreira de carne, cicatrizes e ossos. Diagnosticada ainda criança com uma anomalia rara no coração, percorreu uma via-crúcis de hospitais, salas cirúrgicas e UTIs como quem atravessa desertos à procura de um gole de esperança. Sobreviveu a três transplantes, enfrentou o esgotamento de um corpo que não se rendia fácil — mas tombou, ironicamente, pela mão invisível e fria da crueldade das redes sociais, essa que se disfarça de humor e se esconde atrás de arrobas e filtros.


As princesas — subcelebridades narcisistas que não eram da USP, mas se exibiam como novas protagonistas da elite de branco — resolveram transformar a luta da paciente em espetáculo de stand-up. Talvez achassem que estavam arrasando numa TED Talk de corredor hospitalar. Escorregaram feio na casca da insensatez. A plateia não riu. O Brasil, mesmo anestesiado por absurdos cotidianos, também não. E a família da paciente? Foi obrigada a assistir, pela enésima vez, à dor da filha viralizando como figurinha rara no álbum das humilhações da internet.

 

Sim, existe uma infecção generalizada se alastrando no reino das redes sociais. E não é só o algoritmo, esse bicho que sabe mais de nós do que nossa mãe. É o que mora por trás do jaleco, do estetoscópio, da indiferença. Um vazio de empatia, de ética, de senso. As “doutorinhas” — como disse um amigo meu, com precisão cirúrgica — talvez não necessitem de um transplante de coração. Talvez precisem de um implante de humanidade. O problema é que esse órgão anda mais escasso que plantonistas em véspera de feriadão.

 

Se existisse um Dr. Frankenstein capaz de costurar um novo ser humano com retalhos de decência, talvez ainda houvesse esperança. Mas a fila de espera é longa, e o estoque, escasso. O Brasil também agoniza com déficit crônico de doadores de células de compaixão.

 

É claro que, como manda o script, vieram as notas de repúdio, os comunicados frios, os protocolos de apuração, o inquérito policial. As faculdades das princesas “lamentaram profundamente”, como se fossem mães arrependidas por uma travessura de suas meninas. O Incor apressou-se em dizer que elas eram apenas figurantes num curso de extensão — e que, felizmente, já haviam deixado o palco.

 

Mas quem devolve à família da injuriada o direito de lembrar dela em paz, sem a mácula do escárnio viralizado? Quem restitui à jovem morta a dignidade que lhe foi negada mesmo após o martírio?

 

O caso exala por todos os poros vaidade digital de quinta categoria. Por um instante, considerei me poupar do contato com tanta toxicidade. Mas o vídeo me chegou pelas mãos de um amigo que, com a indignação que falta aos conselhos de ética, lançou uma pergunta perfurante: “Quantos transplantes de coração seriam necessários para essas moças?”

 

Boa pergunta.

 

Talvez bastasse aprender que coração não é feito só de ventrículos, válvulas e vasos. É feito de decência, intenção e gesto. De silêncio, quando falta o que dizer. De humildade, pra não se achar acima da dor alheia. E, sobretudo, de vergonha na alma — essa que não se ensina em aula magna nem se baixa por link patrocinado.

 

Se, por alguma ironia do destino, cruzar por aí com uma das princesas — numa esquina da vida onde o inesperado distribui seus tapas —, prometo abrir meu coração. Direi, com a elegância que a idade ensina, que embora quase nunca esqueça um rosto, no caso dela terei o prazer de abrir uma exceção.

 

Porque o coração, esse órgão besta e valente, apanha calado todos os dias. Mas quando a compaixão e a ética param de bater por ele... ele não vira pedra. Vira farsa. E aí, nem transplante dá jeito.

59 comentários:

  1. ADEMAR RAFAEL FERREIRA16 de abril de 2025 às 05:47

    O caldo extraído do que resta da raça humana é intragável. Diferente do antigo ditado "o mal está vencendo o bem". As redes sociais é a teia que faltava para dar o 'nó cego' nas maldades. Um texto duro como o mármore existente onde deveria estar os corações das divulgadoras do fato.

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  2. Esse... nem Freud explica!

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  3. Tá osso, amigo. Tá osso.

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    1. Se calar, amigo, sugam até o tutano!

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  4. "Se existisse um Dr. Frankensteinaz de costurar um novo ser humano com retalhos de decência, talvez ainda houvesse esperança. Mas a fila de espera é longa, e o estoque, escasso. O Brasil também agoniza com déficit crônico de doadores de células de compaixão". Um texto antológico, daqueles que precisavam ser ditos e refletidos. A Humanidade está com baixa imunidade ética.Tudo por um like, os sem noções vão pipocando em todo lugar. Outro dia uma jovem fez um self com seu avô. Nada demais, amor. Kkkk. Mas o avô estava sendo velado. A infeliz ficou ao lado do caixão, sorriu, clicou. Não podemos nos calar. Normalizar isso tudo de Obrigado por nos indignar. Nossa geração não pode abdicar ao direito do protesto, do grito, do gesto mesmo que seja para multidões de indiferentes.

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    1. Não vai mudar o status quo, mas, se a crônica for lida em alguma sala de aula, talvez requente a discussão sobre o “aonde vamos?”

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  5. Excelente análise da falta de humanidade que assola o mundo atualmente. Até profissionais da saúde, que têm acesso à intimidade e privacidade do ser humano não têm compaixão, nenhum remorso ou receio em usar estas informações privilegiadas e confidenciais para lograrem visualizações no Tik Tok, YouTube etc. Os jornalistas também não tem mais compromisso sequer com a verdade.Triste realidade e verdades deum mundo deturpado, decadente e desumano, em que a ética é até o juramento Hipocrates nada valem, nada significam. Primorosa crônica caro amigo, parabéns uma vez mais. .

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    1. Há meio século, a atriz Kate Lyra, aos 25 anos, no programa humorístico “Planeta dos Homens”, interpretava uma americana encantada com a simpatia dos brasileiros. Um homem, atraído por ela, fingia polidez para disfarçar seu desejo. No fim, ela repetia um bordão: “brasileiro é tão bonzinho…”.
      Isso ilustra como mitos se constroem e ganham vida própria. Associamos ao brasileiro adjetivos como alegre, cortês, pacífico — aqui e no exterior.
      A verdade é que de bonzinhos já não temos quase nada. As redes sociais escancaram isso todos os dias. Só não enxerga quem não quer.

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  6. Brilhante crônica e verdadeira aula de ética médica para penetrar nas entranhas daqueles que tem alma e coração.
    Difícil entender com as pessoas brincam com a vida e o sentimento das pessoas em busca de likes, compartilhamentos e visibilidade nas redes sociais. O mundo está perdido e milhares de pessoas estão precisando de transplante de neurônios da compaixão, do respeito, de empatia, de bondade, de, de, ... neurônios e coração de *ser humano*.
    Havia comentado com minha filha, que faz terceiro período de medicina na UFPE, sobre esta barbaridade e agora, após a sua excelente crônica, tomo a liberdade de repassar para ela com a sugestão de debatê-la na próxima aula de Ética Médica.
    Simbora, rumo a um novo mundo.🤝🙌🎯

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  7. Tá difícil enumerar e citar tantas aberrações que estão sendo cometidas por humanos que já perderam quase toda a humanidade.
    Pior é que alguns “políticos” descobriram um nicho que adora excessos desse tipo e se elegem com atitudes parecidas com as descritas pelo autor.
    Não à toa o presidente da outrora maior potência do mundo se dá ao luxo de falar em invadir alguns países, anexar outros e tratar dirigentes de outras nações como se quisessem lhe dar um beijo grego.
    E a imprensa, com raras exceções, normalizando tudo.
    Dia desses escrevi sobre pessoas que morrem tentando fazer selfies mais radicais do que as de seus concorrentes por likes.
    Concordo com Ricardinho: Hayton produziu um texto antológico, quase uma ode à indignação necessária e imprescindível.
    Que esta crônica - uma Rosa de Hiroshima em prosa - possa ser lida em muitas escolas! Quiçá em alguns asilo!

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  8. Umberto Eco deu uma de suas declarações mais polêmicas. Segundo o célebre autor de O nome da rosa, “a internet deu voz a uma legião de imbecis”.

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  9. Tenho medo dessa nova geração de médicos, que só pensam em status.Esse é o resultado de banalizar as faculdades e a profissão

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  10. Ainda bem que não tive o "prazer" de receber tão "tóxico" vídeo. Gastei ouvidos só com os comentários.
    Será que, daqui pra frente, se pode esperar coisa melhor? Principalmente de certos "doutores" do naipe dos que estão sendo colocados no mercado da saúde?
    Com a medicina, hoje, sendo negócio rentável, desde a entrada nas faculdades?
    Com cursos sendo oferecidos, nos lugares mais exóticos, com valores de mensalidades acima de $10 paus?
    Se podemos piorar, para que melhorar?
    Rezemos para não termos a infelicidade de cair nas mãos de alguns desses abutres de jaleco, sujos de ketchup, que nos "atendem" nas emergências dos hospitais.

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  11. Concordo totalmente com a indignação e a revolta de familiares e das pessoas, em geral. Mas, fica uma pergunta: qual a causa disso tudo? Ou quais as causas? Não devemos condenar apenas os jovens. Tempos atrás o Jornal Nacional execrou três meninas entre 18 e 19 anos por terem divulgado um video debochando de uma estudante na faixa dos 40 anos, numa faculdade no interior de SP. As meninas tiveram que sair da faculdade. A internet criou um problema a ser administrado e precisa ser melhor entendido pela sociedade. Não podemos apenas condenar os jovens.

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  12. Obra prima, a nós entregue por um Ser Humano!

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  13. Que crônica!!!! Não havia lido nada sobre o caso mas sinto que falta a base de tudo: educação doméstica. É em casa que aprendemos a ter empatia, a sermos solidários, a olhar o próximo com
    Compaixão. Não é na escola nem nas faculdades. Pra lá, já vão dentro da mochila, além dos livros, cadernos e outros materiais, esses que dizem ser “substantivos abstratos” que se tornam concretos nas relações com o outro. Mas se não os trouxermos na mochila, o que é que pode ser distribuído? Nelza Martins

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  14. Que triste isso. Será que um dia o algoritmo vai instituir o bom senso na internet?

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    1. Diria que é só uma fase ruim. Com viés de piora, meu amigo!

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  15. Aproveitando um assunto que veio à tona nos últimos dias, o número de escolas de medicina que assolam o país, como caça níqueis, além de não fazerem pesquisas e ensinando com bonecos plásticos, o que menos vejo como provável disciplina da grade curricular, é a ética!
    Essa me parece estar ferida de morte nesse caça níqueis mortal!

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  16. Já não sei dizer se um transplante de cérebro resolveria a falta de ética para quem busca expor-se nas mídias sociais, sendo portadora de coração de pedra. É preciso que o tema seja muito discutido. No longo prazo existe esperança para a humanidade ser salva: DEUS, família e educação.

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  17. Chocante. Quando li sobre isso, meu coração endureceu e se essas infelizes estivessem em minha frente leriam em meus olhos a raiva e o desprezo. Duas perguntas pendentes: que tipo de educação doméstica e universitária tiveram?

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  18. Retrato de uma sociedade que muitos ainda cantam ter orgulho de "perten"ser. Domesticada para normalizar a corrupção, a falta de ética, o abandono dos mais carentes e o principado dos direitos (sem obrigações ) do indivíduo sobre o coletivo, entre tantas mazelas. O futuro já passou. Estamos no pós-mortem de uma sociedade que se perdeu no caminho.

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  19. Que bom que você foi mais um que deu voz, em forma de palavras muito bem postas, a uma revolta que se formou, de forma unânime (ou quase), ao ato ultrajante dessas duas que se acham que podem vir a ser chamadas de doutoras. Mereciam ter suas fotos expostas em outdoor, para se sentirem devidamente envergonhadas e se enfurnarem em alguma caverna, onde é o lugar adequado para elas.

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  20. Qd vi este caso me perguntei como cabeças assim entram num.curso tão concorrido e, pior, quem serão as vítimas a serem atendidas por estas criaturas tão desprezíveis? Teu texto está maravilhoso Hayton.

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  21. Tema instigante para prosear, pois bem sei o quanto a teia de sonhos, interesses, vaidades, decepções, desumanidade, orgulho estão inseridos na pessoa doutor da Medicina, haja vista que o frequentei às portas do 7⁰ período em êxito prestado no vestibular de 1979 da UFPE.

    Bem naquela época já se falava na necessidade de humanizar os futuros doutores, pois como dito no texto, a obtenção do canudo na era do império, tinha similaridade como se uma comenda fosse e assim permanece na ilusão de alguns pobres de dignidade e responsabilidade até hoje, haja vista o quanto estão dispostos a desembolsar fortuna para inserir filho no curso de medicina que acima de tudo deveria simplesmente seguir os preceitos de Hipócrates.

    Temei em seguir outros passos, pois em 1982 ingressei no BB, sonho que também alimentava desde criança e que me realizou plenamente pois mal vi o tempo passar, procurando me preservar mentalidade para completar este ciclo intelectual de também melhor conhecer a ciência médica o que o fiz , cursando Farmácia após minha aposentadoria.

    Nesta novo contexto, me senti liberto, pois já não carregava o peso do doutor imperial que a família depositava como sendo um trampolim para a ascensão social no interior do sertão, porém não sem antes "pagar promissórias " pela ousadia da perseguição do meu sonho: ter estabilidade emocional e financeira, que me faltava, morando em cada de estudante e as custas de crédito educativo e bolsa de monitoria, enquanto estudante.

    O valor das promissórias tem sido praticamente ser deserdado em partilha de bens imóveis na atualidade. Porém sigo em frente com minha felidade e valores éticos.

    Fico imaginando o que teria contribuído também para dois excelentes artistas Belchior e Zé Ramalho, terem abdicado de cursarem medicina, alunos que outrora foram desse curso.

    Vida que segue.

    Viva a felicidade e liberdade.

    Grande abraço.

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  22. Infelizmente, já não se formam profissionais como antigamente, Hayton. As faculdades foram prostituídas, não primam pela qualidade dos professores, não estão nem aí para a formação das pessoas. E não é apenas na medicina. Vale, ainda, para a advocacia, engenharia, odontologia, etc.

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  23. Maraviilhoso texto !!Vc tem uma semsibilidade imensa !! Disse tudo !!Temos faculdades em toda esquina !

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  24. A indignidade não escolhe as pessoas, pelo contrário, elas é que a escolhem. Obrigado pela crônica. Bela e triste.
    Gradim.

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  25. Amigo querido, infelizmente não é só fase, é uma triste sociedade que acolhe esse tipo de manifestação. O mundo é uma montanha russa de ações, emoções e sentimentos . Estamos em descida, acentuada.
    Há oitenta anos, um ser desprezível perseguiu judeus, queimou livros, invadiu países, e zombou do resto do mundo. A sociedade reagiu, se reinventou, e melhorou sensivelmente. Troque “judeus” por “imigrantes”, e verás um novo anticristo surgir, catapultado por centenas de milhões de votos, com o mesmo discurso apocalíptico, que encontra guarida nessa sociedade doente, esquecida da dor alheia.
    Estamos precisando de Deus, hoje, urgentemente!

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  26. Obra prima em literatura e humanidade!

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  27. Das tripas, coração.
    Do coração, tripas.
    Admirável mundo louco.

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  28. Acabei de ler o seu texto. Aproveito para informar que sofri um AVC Squemico e em consequência tive a memória afetada e fui assistido pelo Hospital Vida durante quatro dias, onde recebi excelente atendimento. Por causa de tais sintomas sinto-me em boa recuperação salutar. Por causa disto estou superando as dificuldades para interpretar a compreensão da leitura de textos que são submetidos a minha interpretação de textos a que me submeto. Com o tempo devo me recuperar a bom resultado. Grande abraço e votos de muito sucesso. Bom dia!

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  29. Triste. Triste e revoltante. Triste, revoltante e angustiante. Angustiante porque trata-se de Medicina. Cuida do corpo, da mente, do ser humano como um todo. Como alguém, sem alma nem coração, poderia salvar vidas? Para além da medicina, situações análogas infestam as redes sociais. E, quem assistiu a série da NETFLIX "Adolescência", vislumbra que o buraco é mais embaixo. Falta de ética, de moral, de controle dos pais, de respeito pelos outros está presente desde cedo na vida dos futuros médicos, engenheiros, advogados, etc...

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  30. Difícil adicionar algo, pois sua crônica foi contundente e endosso 100%. Deixo apenas o registro da minha indignação.

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  31. Infelizmente estamos vivendo uma época em que os valores estão invertidos/degredados e a proliferação dos "Sem Noção" está cada vez maior. Muito oportuna essa crônica de hoje.
    Parabéns e um forte abraço.

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  32. Texto cirúrgico, mas não apenas isso.

    Essa crônica é uma aula magna, maravilhosa, densa, instigante, contundente e inspiradora que nos faz refletir sobre o tipo de sociedade que estamos construindo e deixando para quem está chegando e para as futuras gerações.

    Como você bem escreveu, estamos agonizando por falta de compaixão e de alguns outros valores básicos para se viver, minimamente, como “civilizados”.

    Ainda não decidi se é merecedora de ouro, prata ou bronze, mas “Sete vidas e nenhum coração” está, para mim, no pódio da sua produção de crônicas.

    Uma obra prima, como disse nosso amigo Edgar Zinho.

    Luiz Andreola

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  33. Roberto Santos Fernandes16 de abril de 2025 às 09:46

    Infelizmente estamos vivendo uma época em que os valores estão invertidos/degradados e a proliferação dos “sem noção” está cada vez maior. Muito oportuna esta crônica de hoje. Parabéns e um forte abraço.

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  34. Valho-me, também, do sentimento de ingratidão e de indignação, diante dessa infeliz realidade que assola nosso cotidiano. Dizer que os jovens adoeceram, moral e eticamente, talvez seja uma forma da acomodar uma situação incômoda que, na realidade, parece não ter limites. Seríamos nós, os mais experientes, os culpados dessa realidade tortuosa? Ou seria a fome pelo "vil metal" que faz as pessoas perderem seus "nortes"? E do jeito como a humanidade se estrutura, não causará surpresa se, em pouco tempo, novas "tecnologias" serão alimento para os ávidos por escaladas sociais que se apoiam em vítimas inocentes e ludibriadas...

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  35. Ainda bem que temos pessoas como você, que trazem assuntos como este,não permitindo que fatos como esse passem em branco pelos nossos olhos. Muito bom.

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  36. Isso isso isso. Importante não silenciar, mais ainda debater publicamente. E que o Código de Ética da Medicina não seja apenas um papel referência. Parabéns pelo texto cirúrgico.

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  37. "O tempora, o mores!" Talvez bastasse esta exclamação de Cícero [Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.)], mas não devemos nos contentar, obviamente! As redes socias, a internet, estão aí à disposição de todo e qualquer vivente neste mundo (ao menos deveria ser assim, sem bloqueios mesmo), mas é necessário que seus usuários - principalmente aqueles que detêm o mínimo de conhecimento, como sói ocorrer com a futuras doutoras - saibam como e quando fazer uso delas e, principalmente, que o façam de forma mais respeitosa que se espera.
    Quanto à atitudes daquelas meninas, provavelmente mimadinhas de pais com poder aquisitivo avantajado, espera-se que, lá adiante, o grande professor - o mundo - lhes mostre o quanto elas foram inadequadas e dignas de repulsa geral. Deus já acolhera a "debochada" e há de mostrar caminhos de rorganização de vida àquelas duas "princesas" da falta de respeito e clemência humanos.

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  38. Hayton, não tomei conhecimento desses fatos terríveis narrados hoje na crônica semanal. Mas a forma contundente e brilhante com que você apresenta o caso é, conforme outros aqui já registraram, uma prestação de serviço humanitário, de compaixão e justiça à vítima de tamanho descalabro.
    Também sua crônica reforça em todos nós o temor e o desalento nesses tempos de migração da realidade para o mundo virtual.
    Parabéns e obrigada por esta crônica “obra-prima” sobre o tema.

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  39. Que tipo de jovens são esses que externaram tanta falta de caráter e empatia?Outra pergunta importante: que tipo de pais geraram isso?

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  40. Que tristeza, meu amigo!
    Realmente, a estupidez humana expande seus limites a cada dia.
    Você usou as palavras e o tom certos para expressar a indignação daqueles que ainda ligam para alguma decência.
    Sinto-me representado!

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  41. Excelente, Hayton! Relato de um mundo, onde as pessoas tem mostrado o seu lado mais perverso e inconsequente! Não lhes falta só coração. Deve lhes faltar cérebro. Feliz aqueles pais, que passaram valores a seus filhos, e eles não o esqueceram. Ter empatia é um deles.

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  42. E pensar que o caso das "patricinhas de jaleco" não é privilégio só delas, quando se trata de questões éticas, não temos muito a celebrar com a fartura de médicos colocados no mercado a cada ano.
    .
    Nem falemos aqui da formação. Essa é outra questão mal resolvida nos profissionais médicos que nos atenderão em futuro não muito distante.
    .
    Chico Oitavo.

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  43. Como diria um velho amigo, todo ponto de vista é visto de um ponto. O que as estudantes divisavam, certamente não passava nem perto da ética social aceitável em qualquer banda deste nosso planeta.
    Seus pontos de vistas estacionaram em monetização, por meio de "views", "likes", engajamentos, a fim de se tornarem fugazes estrelas de fugaz holofote provido pelas redes sociais. Em tempo: O YouTube paga aos criadores de conteúdo a cada mil visualizações, o que é conhecido como CPM (custo por mil). O valor pago varia de acordo com o nicho do conteúdo, a demanda do mercado, o engajamento do público ("likes", comentários, compartilhamento, etc.), e o formato dos anúncios, por exemplo.
    Era desse ponto de vista que as "estudantes" olhavam; nunca foi o da ótica de humanidade que, certamente, lhes faltou ou, melhor, nunca lhes foi ensinada. Triste episódio, ótima crônica em forma de alerta.

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  44. A falta de ética no mundo virtual é assombroso. Essas duas moças são vítimas da fantasia das redes sociais, onde a fama e o dinheiro fácil, muitas vezes sem escrúpulos é o grande protagonista da cena. Lamento dizer que essas duas figuras começaram a vida pelo avesso. Sem vocação para exercer a medicina e canceladas nas redes sociais, desejo juízo para as elas aprendam com seus próprios erros. As redes sociais tornaram-se um espaço democrático para muitas atividades e também para as aberrações. A internet deu voz para o conhecimento e voz para os imbecis.
    Com dois milhões de seguidores, um advogado baiano, residente em Maceió, quebrou a cara da namorada e as imagens foram parar na internet. Surpresa zero esse fato ter acontecido. O elemento já vinha ensaiando isso através das suas falas arrogantes como se fosse um valentão de quinta num botequim desqualificado. . A internet virou terra sem lei e agora virou o meio mais frequente de ameaças e despautérios. Alguns bandidos, travestidos de influenciadores, externam odio e todo tipo de futilidade para uma platéia repleta de idiotas. Como a lei de regulamentação parece ser apenas uma sugestão, a tendência é piorar o que já está caótico.

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  45. Horrível este episódio! Sem noção .....crônica realista dos dias atuais. Parabéns pelo conteúdo! Canindé

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  46. Tenho absoluta convicção de que faria um imensurável bem a todos os viventes, essa crônica ser repassada em aula inaugural de todos os cursos de medicina do País. Afinal, o tema é mais que sensível, e estamos vivendo um tempo em que sensibilidade, emoção e solidariedade são valores que se distanciam a cada dia da maioria das pessoas.
    Você não só brilha com a perfeição dos textos, também sacode o sentimento dos que têm o privilégio de conhecê-los.

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  47. Com as facilidades do mundo digital, ficou mais evidente a imbecilidade que infelizmente vence a disputa de “likes”.

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  48. Fazer medicina, hoje em dia, para muitos jovens, virou uma porta para ganhar muito dinheiro. A outra oportunidade é ser influencer. E essa combinação das duas é devastadora.

    Muitas faculdades privadas de medicina (*MEDESQUINAS*) estão sendo abertas, cobrando mensalidades absurdas, acessível apenas a quem tem muito dinheiro, mas não preparam os alunos nem do ponto de vista técnico quanto humano e ético. Há faculdades de medicina em que metade da carga horária é on-line. Daí, vamos esperar o quê?

    Essas "princesinhas" da reportagem, são representantes típicas dessa casta de jovens que só pensa em ganhar dinheiro e aliaram a tal mencionada combinação. Para isso, é preciso lacrar e conseguir engajamento, ainda que isso signifique expor e humilhar e esquecer completamente o juramento de Hipócrates que fizeram, fazem ou farão quando se formarem, comprometendo-se com a profissão, que tem como base valores como ética, respeito, dignidade e humanidade.

    Essas jovens, escolheram uma profissão que tem como objetivo principal curar, ajudar, escutar, aliviar o paciente e suas famílias, mas ao invés disso, usam as redes para causar dor. Porque isso engaja mais e engajamento gera fama e dinheiro.

    É a mercantilização da saúde, da vida, da medicina.

    Não nos esqueçamos também da responsabilidade dos pais e tutores e questionemos quais os princípios e valores foram repassados.

    Esse é um caso que nos tocou profundamente, ao menos aos que sabem o que é empatia, mas estamos vivendo numa sociedade onde se promove o ódio, a desumanidade e o desrespeito, desde que engaje e que, há pouco tempo, em momentos críticos, como a pandemia, quando milhares de pessoas morreram por conta de descaso, tivemos um governo que ria, achincalhava e imitava pessoas com falta de ar.

    Repensemos os nossos valores e princípios. E, sejamos responsáveis pelo legado que deixaremos para os nossos filhos e netos.

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  49. Confesso que, desta vez, tive dificuldades para me manifestar. Às vezes, tenho a sensação de que não pertenço mais a este mundo, tal é a deterioração e a desvalorização dos valores sentimentais, morais, éticos e humanos. O conceito de que o "meu direito acaba, onde começa o seu" já foi esquecido, a muito tempo. Onde foi parar a empatia e a solidariedade? Infelizmente, o que deveria ser essencial em todos, tornou-se privilégio de muito poucos.

    A jovem Vitória, que conquistou seu nome, por ter conseguido sobreviver, ao nascer, teve sua privacidade exposta com escárnio e desrespeito. Lutou e foi vitoriosa, por vinte e seis anos. Quem perdeu foi a (des) humanidade. Em todos os sentidos!!!

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    1. De fato, Brandão, o deboche, o esculacho e a injustiça, foram tão escandalosos que nos permitem duvidar de que fomos feitos à imagem e semelhança do Criador de tudo. Dá até pra imaginar o tamanho da decepção dEle com o rumo que suas crias tomou no exercício do chamado livre arbítrio.

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    2. Muito bem comentado o ato bizarro das estudantes de Medicina, que deveriam estar aprendendo sobre humanidade e mostraram exatamente o contrário. Ambas estão mais adequadas para blogueiras do que médicas , pela falta de sensibilidade e cuidado com o próximo. Infelizmente esse é o perfil de alguns profissionais atuais, para não dizer de muitos.

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  50. Agostinho Torres da Rocha Filho19 de abril de 2025 às 10:39

    Quando o texto nos remete a uma profunda reflexão, mesmo que sobre atos desumanos protagonizados por "doutoras", que estudam e se formam em tão nobre profissão com o propósito de minimizar o sofrimento alheio, os leitores também participam ativamente da construção da obra literária, através de seus comentários muito bem elaborados. Que o Senhor Jesus Cristo tenha piedade dessas estudantes de medicina.

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  51. Ainda bem que nem vi isso, por quê atualmente tenho certeza de que, de fato, o ser humano é a escória do universo

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