Que Maravilha!


Ninguém sabe como Sebastião, motorista contratado para aquela viagem, conseguiu transportar toda a família — pais, sete filhos e malas — numa Rural Willys, sem cintos de segurança nem airbags, por mais de 1300 km de estradas de lama e poeira que separavam Patos, Sertão paraibano, de Colinas, Oeste maranhense. 

Fato é que, em junho de 1967, chegávamos todos em paz ao sítio “Maravilha”, zona rural de Colinas, onde viviam meus avós paternos, Mãe Sussú e Pai Simente. Jornada épica com arremate de cinema, diga-se de passagem: em trecho esburacado e íngreme a uma légua do destino, mãe e filhos menores foram obrigados a fechar o percurso no lombo de jumentos.


Foram dias maravilhosos, literalmente. Lembro de um fim de tarde em que meu avô, sentado numa cadeira de balanço à porta de casa, quase morreu de um susto. Tio Marcelino, que, além de agricultor, preparava fogos de artifício para festas religiosas — com o auxílio do irmão, tio Leó , deixara próximo à janela dezenas de tubos de papelão cheios de pólvora, enfileirados como pirulitos num tabuleiro. Curioso, achei de encostar um fósforo aceso no estopim de um deles para ver o que aconteceria.

Mãe Sussú
Foguetões subiram assobiando e explodiram no céu, ofuscando o brilho das primeiras estrelas da noite. Mãe Sussu e meus pais, que raspavam os pratos com saudade de “Maria Isabel” — arroz puxado no alho com carne de sol picada —, correram e ainda me encontraram no local da estrepolia com cara de quem, assombrado, não teve tempo para fugir nem sabia do risco de misturar a estiagem, o fogo e a palha que cobria todas as casas do sítio.

O abraço carinhoso de Mãe Sussú, sob o olhar compreensivo de Pai Simente, livraram-me de uma surra exemplar pela traquinagem. Nem "de castigo" fiquei. Neto é neto no coração dos avós, com ou sem o beneplácito dos pais.

Na manhã seguinte, meu primo Bento admirou-se da balinheira  (estilingue, atiradeira ou baladeira) que eu havia trazido de Patos. A “arma” que ele usava também era poderosa: bodoque caiçara, arco de madeira com dois cordões paralelos, esticados, que arremessavam "balas" de barro. Mas havia algo em comum entre nós, além do sobrenome: o propósito de extinguir a espécie Columbina squammata, as coitadas das rolinhas “fogo-apagou”.

O encanto pelo brinquedo do vizinho nos fez trocar as “armas” e o que se viu nos dias seguintes foram polegares e indicadores duramente castigados na aprendizagem recíproca. Esfolamos os dedos e não conseguimos acertar as rolinhas, que devem estar rindo de nós até agora. Deus nos poupou de carregar pro resto da vida o remorso pelo abate dessas criaturas tão inocentes quanto as crianças que éramos.

Mais adiante, endoideci ao conhecer uma casa de farinha. Após a colheita, tiravam a casca e lavavam a mandioca, antes que fosse ralada até virar massa. Depois, a massa seguia para uma prensa onde era espremida e extraída toda a água. Feito isso, era peneirada para a extração de impurezas. O que sobrava seguia para uma grande chapa para ser mexida no fogo até virar farinha seca e torrada.

Os adultos não me explicavam direito porque não queriam a minha ajuda para ralar mandioca ou para mexer farinha na chapa quente, atividades para as quais achei que levava jeito e poderia executá-las muito bem, apesar dos nove anos de idade. Há pouco tempo fiquei sabendo que a casa de farinha não existe mais. Teria sido praga de alguma criança contrariada? Minha, não foi! 

Como esquecer os bolinhos fritos de farinha de arroz que comíamos com café coado? E das várias redes de algodão espalhadas pela casa, onde o "dono" de cada uma delas, depois que as lamparinas apagavam, só era identificado pelo par de chinelos? 


Diziam que próximo à "Maravilha" havia um olho d'água onde algumas mulheres, após lavarem trouxas de roupas e fiéis à ascendência indígena, tomavam banho como vieram ao mundo. Nunca me deixaram conferir se aquilo era verdade ou não. 


Chegava a hora de voltar pra casa. Por falta de espaço no bagageiro, fui obrigado por meu pai a deixar o bodoque caiçara.  Faríamos escala em Caxias, próxima à fronteira com o Piauí, onde ele morou antes de migrar para a Paraíba para trabalhar no Banco do Brasil. Lá ficaríamos na casa de meu tio e padrinho Enoch, um de seus irmãos mais velhos, que o levou da "Maravilha", ainda criança, para estudar. Também iríamos rever tias Antonia, Cristina e Vitória.  

Já sentia dor de cabeça e febre alta quando chegamos em Caxias. Era sarampo. Assim como havia acontecido nas temporadas de catapora (varicela) caxumba (papeira) e coqueluche em anos anteriores,  pegou também meus seis irmãos. Para a molecada, havia o lado positivo de adoecer: era possível tomar refrigerantes, leite em pó, comer maçã e biscoitos à vontade, com uma mãe zelosa por perto.

Todos recuperados em pouco mais de uma semana, na hora da partida minhas primas Eliane e Eline, filhas de Tio Enoch, apareceram com febre. Ele, espirituoso como poucos, sorriu para o irmão e a cunhada, meus pais, e os ameaçou em tom de galhofa: “ano que vem, quando eu for conhecer a Paraíba, vou levar bexiga!”

A bexiga (varíola) era uma doença infectocontagiosa provocada por um vírus descoberto quando cientistas notaram que uma múmia, que viveu entre 1550 a 1307 a.C., apresentava vestígios. Essa descoberta deixava claro que a varíola, mais que a peste negra ou a tuberculose, afetou a humanidade por séculos e séculos.

Surgiam em todo o corpo bolhas cheias de pus que coçavam, provocavam dores intensas e não desapareciam sem deixar cicatrizes feias. Isso sem falar no risco de cegueira quando a córnea era infectada ou de morte por broncopneumonia, com o comprometimento do sistema imunológico.

A doença só foi controlada após 1967, graças a uma série de programas implementados pela Organização Mundial da Saúde em diversos países. Até ali, a imunização no Brasil era bastante precária, inclusive porque a vacina só se mantinha ativa em baixas temperaturas, o que exigia o uso de geladeiras, coisa difícil nos anos 50 e 60, sobretudo no Norte e Nordeste.


Crianças vacinadas, livres da bexiga (varíola), em 1968 migrávamos para Alagoas, onde nasceriam mais duas: Kléber e Dayse. Seis anos depois, Mãe Sussú ficou bastante comovida ao receber no Maranhão os caçulas de seu querido filho Agostinho, que falecera em 1972 e não pôde acompanhar de perto o desenvolvimento deles. 

Mãe Sussú, com sua missão encerrada, em 1988 também partiria ao encontro de Pai Simente e dos filhos que se foram antes da hora, deixando em pedaços o seu imenso coração.


O mundo daria diversas voltas depois daqueles dias inesquecíveis em junho de 1967. Semana passada tia Cristina me contou que, hoje, "Maravilha" já dispõe de energia elétrica, poço artesiano e água encanada, além de casas cobertas de telhas, algumas até com com TV a cabo. 


O mundo mudou, mudamos todos, todo dia, o dia todo. O tempo que passou, passou. Só não quero — nem posso!  apagar as cores, os cheiros e os sons da "Maravilha" de Mãe Sussú e Pai Simente guardados numa gaveta que existe em mim e que a saudade, vez por outra, me pede para remexer. 

Comentários

  1. Traquinagens relatadas com essa leveza para coisa muito boa. Belo relato.

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  2. Boas recordações amigo Hayton! Também já atirei de baladeira nas rolinhas da fazenda do meu avô no interior do Rio Grande do Norte.

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  3. Como é bom revirar nossas gavetas. O encontrado nos traz, quase sempre, lembranças que colocam em perfeita harmonia e paz a estrutura do móvel.

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    1. Acertou na mosca, Braulino! É o tipo de gaveta que terá sempre o parafuso ou a ferramenta de que precisamos pra viver em paz no presente e construir o futuro possível.

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  4. Saudades de ser criança. Lembrei da Serrinha, sítio de Cícero Vieira, meu avô Pai Ciço.

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  5. Que lindo!!! Por incrível que pareça nunca tinha ouvido falar em Mãe Sussu e Pai Simente. ❤

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  6. Muito bom Hayton! E eu também tenho uma Cristina e uma Vitória em minha vida!!

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    1. Que coincidência, hein?! Somos privilegiados, meu amigo!

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  7. Emocionada aqui, não posso me furtar aos comentários: Na Rural, metade da cria vinha " aboletada" em cima das maletas no porta- malas, que tinha comunicação com o interior do veículo.
    Do sarampo, lembro-me de 6 ( seis) doentes em cima de uma cama de casal ( apenas o Nena - Agostinho Filho), não " pegou".
    Outra coisa que me veio à lembrança foi a bondade da prima Belcina, dona de lindos cabelos escuros que passavam da cintura, sonho de qualquer garota daquela época . Vendo que a esposa do tio apaixonara-se pelas belas madeixas, prontamente as cortou e presenteou a tia. Oh, que lindo!! Mamãe mandou confeccionar uma peruca ( era " maior" moda) e nós " abafamos" em União dos Palmares, onde fomos morar pouco tempo depois.
    Saudade daquela infância FELIZ!! Nossas viagens de férias se alternavam em visitas às famílias de papai e mamãe. Morávamos distantes de todos!! Primeiro em Patos ( sertão da Paraíba), depois União dos Palmares- AL, e finalmente Maceió.

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    1. Depois andam dizendo que eu tenho boa memória. Quem tem é Haydeé! Ainda bem que ela vivenciou boa parte de minhas histórias e pode preencher os “vazios”.

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  8. Maravilha!
    Esse cheiro de coisas boas continuo sentindo, guardados no coração e ao pisar no chão da Maravilha.Ainda se pode saborear da "Maria isabel" e dos bolinhos fritos da Mãe Sussu e lembrar com saudades daqueles tempos. Cristina.

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    1. Fico feliz, tia Cristina, que tenha gostado dessas reminiscências. Um dia li em algum lugar que “saudade é uma ponte encantada/entre o passado e o presente/por onde a vida passada/volta a passar novamente” Precisa dizer mais?

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  9. "Essas recordações me matam" cantou um cabeludo, hoje, quase octogenário.

    Belas recordações, Hayton!
    Lembro do tempo, quando criança, que ficar doente não era de todo ruim: era a oportunidade de tomar guaraná, comer biscoitos e maçãs, como você bem relatou.
    Tempo de prazeres tão simples!
    Grande abraço.
    Marival.



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  10. Bela infância, belos tempos. Hoje em dia, a criançada não tem a menor chance de um dia, poder relatar tanta traquinagem .....

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    1. Hoje as traquinagens são outras, Aguilar. Tem adolescente de 28 anos fazendo-as.

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  11. Amigo mais um vez você me leva de volta à minha infância na roça até os 8 anos. Lá também tinha uma casa de farinha e eu tinha a maior vontade de mexer aquila e não deixavam. Fiquei na vontade.

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  12. Ótima crônica, Hayton. Abraço do Sidney.

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  13. Que epopeia!. Narrada assim, parece ter sido fácil. Mas consigo imaginar...

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  14. Delícia de texto! Dá vontade de pedir que não termine.

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    1. Na verdade, Diniz, estas histórias nunca terminam. Fica sempre um pedaço escondido no fundo da gaveta. Quando a gente menos espera, ele “dá as caras”.

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  15. Bom dia primo, você quer saber mesmo a verdade? não sei qual adjetivo colocar nas suas crônicas, de tão reais, e eu morro de rir só das suas estrepolias, imagina! É uma leitura muito gostosa, e tenho certeza que nossa parceria vai render muito, e vamos longe. Ah, primo, vai ser muito difícil escolher.

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  16. Hayton, sem contar a riqueza de figuras de linguagem suas belas e reais crônicas.

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  17. Mais uma crônica leve, real e de uma riqueza fantástica.
    Embora mais velha do que vc entro na sua história e vivencio muitos momentos inesquecíveis. Obrigada!!!!

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  18. O bom dessas “viagens” é poder oferecer aos amigos e amigas uma “carona”. Valeu!

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  19. Em tempo de festas juninas, fica o alerta: nem todo mundo que faz traquinagens com fogos de artifício terá o privilégio de contar com o abraço de Mãe Sussu e o apoio de Pai Simente, não é verdade, meu amigo Hayton? Portanto, cuidado...

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  20. Isso mesmo, Andreola. Se bem que criança que não se queima nas festas juninas é bicho raro no Nordeste nesta época do ano.

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  21. Eita, Jurema!
    Você era traquino mesmo, hein!?
    Mas belo relato. Pra quem conhece bem a realidade das estradas daquela região à época e as comidas citadas, sabe bem o que é viver com fortes emoções (diversas).
    Abração

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  22. Que belas recordações! Até as lembranças mais doloridas, você consegue se expressar dando uma cor e leveza transformando-as em lembranças felizes.



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  23. Essa vai para o livro, certeza! Já pensou em publicar suas crônicas tb no Instagram? Acho que algumas iam viralizar...

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  24. Não penso em Instagram, Rodrigo. Redes sociais, regra geral, viraram terra de ninguém, com pancadaria generalizada. Prefiro continuar aqui nessa prosa semanal com duas dezenas de amigos, em cima do conteúdo de meus escritos.

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  25. Eu fico sempre impressionado com suas histórias. Não somente pelo texto profundo e bem desenvolvido, mas pela estranha familiaridade das emoções. Eu também vivi uma viagem exatamente assim, que parecia levar a um mundo paralelo e fascinante e jamais esqueci de seus detalhes mágicos.
    Talvez tenhamos e estejamos todos nós vivendo parte de uma mesma viagem, das memórias até o destino.
    Que alegria ter suas memórias.

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  26. A rigor, Dedé, o barro de que fomos feitos é o mesmo. E o sol em que nos botaram pra secar, também. Calçamos todos de 38 a 42. Mas são as pequenas diferenças que dão um tempero todo especial ao dia a dia de cada um de nós e nos fazem singulares na vida de quem reconhecemos como parceiros de jornada. Valeu a força, brother!

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  27. Hayton, mais uma crônica que faz a gente reviver nossos tempos de infância do jeito "difícil simples que aconteciam as coisas.

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  28. Quem não tem uma gaveta dessa? Tbm atirei muito em rolinhas, porém sem acertar nenhuma, não por falta de vontade e sim pela péssima pontaria.

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  29. Isso mesmo, André! Todo mundo tem uma gaveta dessas. A diferença está no tamanho e naquilo que guardamos dentro delas.

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  30. Tua Maravilha e o pastel fizeram eu lembrar de problema semelhante que vivi em Maravilha-AL. O então auditor Nivaldo Sales Cassiano fazia uma missão lá (idos de 92/93), que eu coordenava. Um dia ele me telefona e diz que o prefeito ia fazer um almoço oferecido a ele e que me convidava para o ágape. Fui e dois dias depois quase morri. O almoço era uma buchada (que teve algum pequeno problema) e me trouxe sérios problemas intestinais. A minha suspeita é que estava com cólera (foi o auge dela por aqui), avisei a AUDIT e me refugiei em Maceió, onde, depois de muita água passar embaixo da ponte, consegui me safar. Bela buchada, belo pastel e belo texto. Abraço

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  31. Amigo Hayton, Belo histórico. Isto é Vida, muito Bom.
    PARABÉNS

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  32. Hayton, linda crônica! Me faz lembrar de parte da minha história, que de tanto tempo "guardada na gaveta", quase deixou de existir. Obrigada, por me fazer recordar de tempos felizes da minha infância, que vêm à tona quando leio suas crônicas, relatos comoventes da história da gente simples do nosso interior.
    Criança, também já andei em jardineira, rural lotada e na carroceria de caminhão de leite (cheio de latões), pra visitar meus parentes na roça. E como era bom, que tempos felizes! Muito bom poder recordar tudo isso por meio das suas crônicas. Um grande abraço!

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  33. Pois é, meu amigo... nossos baús trazem histórias formidáveis... eita vida arriscada, mas sobrevivíamos felizes. Hoje restam as memórias, ninguém mais terá a felicidades de poder viver tudo isso...

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  34. Quem sabe devêssemos ter engarrafado um pouco do ar que respirávamos e da água que bebíamos, hein?!

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  35. Os que podem ter essas lembranças da infância devem se considerar privilegiados! Acredito que todos nós, que estamos acompanhando suas histórias, desejamos ter a capacidade de contar as nossas próprias com tanta leveza, tanta emoção, tanto bom humor e competência! Parabéns, amigo querido!

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  36. A delícia de me sentir dentro daquela rural, de imaginar o banho pelado, de acesso proibido para todos, de sentir a paz de um balanço na rede na casa de avós. Como estas narrativas são terapêuticas. Sem querer, quando menos esperamos, lá estamos nós também, tacando fogo nos fogos de artifício, e ficando sem reação entre o pânico do presente, e a realidade de uma possivel surra, num futuro galopante. Maravilhas letrinhas debulhadas com extrema poesia cotidiana, retratando o complexo do simples.

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  37. Nasci em 21 de maio de 1967, Hayton. De minha infância lembro bem das viagens que fazia com meu padrinho e irmãos de meus avós, em carros como Rural e D-20. Não tem como esquecer!

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  38. Morei em um sítio na zona rural da cidade na qual fui criado, em criança, até os cinco anos de idade. Das poucas memórias que trago, sem as riquezas de detalhes por você narrada e com tão bom humor, lembro-me de estar na boleia de um caminhão, mudando-me para a "cidade grande", para ter uma chance de sobrevivência, já que a atividade rural definhava. No trajeto, a cena que não sai de minha mente é a de estar sentado na cadeira ao lado do motorista e, no meu colo, um saco branco grande com dois gatos dentro. Naquela ocasião, em inocência pueril, imaginava dezenas de motivos para os pobres gatos estarem assim, menos o que depois viriam me dizer: para que eles não voltassem para o local original. É claro que isso seria impossível. A nova casa distava mais de oito léguas da moradia anterior. No máximo, os bichanos perder-se-iam, por mais astutos que fossem. Nessa viagem, minha vozinha, ainda hígida e faceira, acompanhava as filhas e este neto. Devo o que sou, o pouco que tenho e o muito que preciso retribuir a essa viagem (e, claro, à minha família que corajosamente a empreendeu), que mudou minha vida para sempre.

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