Afague a cabeça de uma gata que ela é capaz de pegar no sono de tanto relaxamento e prazer. Depois de um carinho, até uma onça-pintada cochila com os olhos a meio-pau e a baba escorrendo no canto da boca.
Milton Nascimento diz que “um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco”. Afinal, dois dedos de atenção e carinho provocam aquele torpor gostoso que muda o dia.
Dia que, em meio ao pacote de motivos que estressam todos os viventes — principal causa mortis, inclusive dos que não sabem chorar como as plantas — , traz consigo também pequenas coisas que têm o condão de produzir bem-estar não digo indescritível porque aqui estou a conjecturar sobre o assunto.
Milton Nascimento diz que “um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco”. Afinal, dois dedos de atenção e carinho provocam aquele torpor gostoso que muda o dia.
Dia que, em meio ao pacote de motivos que estressam todos os viventes — principal causa mortis, inclusive dos que não sabem chorar como as plantas — , traz consigo também pequenas coisas que têm o condão de produzir bem-estar não digo indescritível porque aqui estou a conjecturar sobre o assunto.
Falo de coisas simples como sentar à beira-mar e, depois de dois ou três goles de água de coco, cerveja gelada ou seja lá o que for, enterrar o dedão do pé na areia úmida e buscar no horizonte algo além do que os olhos podem ver. Ou, por exemplo, tirar um cochilo de meia hora numa rede na varanda, depois do almoço, com um lençol sobre o rosto com cheiro de neto.
Conheço um ex-dirigente de banco que virou fã de um engraxate que trabalhava na entrada da Galeria dos Estados, no Setor Bancário Sul, em Brasília. Dizia ele que sentia calafrios quando o moço colocava em seus pés aqueles protetores de couro entre as meias e os sapatos. Quem sabe por conta disso, quase toda semana sentava naquele “trono” acolchoado, a suprir carências inconfessáveis enquanto fingia só observar na paisagem o vai-e-vem dos transeuntes.
Por falar em pés, lembrei-me de uma vizinha inconformada com a solidão dos sábados à tarde. Num deles, ao ver o marido por horas a fio diante do computador, queixava-se na minha frente de que nunca mais sentira prazer algum exceto quando coçava o entorno das frieiras entre os dedos. Na hora, confesso que tomei um susto medonho com a insólita revelação, mas nem ousei discutir. Quem sou eu para questionar o subsolo das emoções de alguém?
Verdade é que existem coisas tão simples que às vezes nos passam despercebidas. Quem não gosta, por exemplo, de “...um dia frio, um bom lugar para ler um livro...", como sugere Djavan? Quintana dizia que “... o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado...”
E do que mais se precisa para que o corpo e a alma entrem em perfeita harmonia? Nem pretendo aqui discorrer sobre a maior e melhor fonte de gozo e prazer dos animais entre o céu e a terra. Dispensa comentários. Mas cinema e música também serão sempre bem-vindos, claro. De bom gosto, por favor!
Verdade é que existem coisas tão simples que às vezes nos passam despercebidas. Quem não gosta, por exemplo, de “...um dia frio, um bom lugar para ler um livro...", como sugere Djavan? Quintana dizia que “... o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado...”
E do que mais se precisa para que o corpo e a alma entrem em perfeita harmonia? Nem pretendo aqui discorrer sobre a maior e melhor fonte de gozo e prazer dos animais entre o céu e a terra. Dispensa comentários. Mas cinema e música também serão sempre bem-vindos, claro. De bom gosto, por favor!
Os entendidos argumentam que existem vários caminhos para ser feliz proporcionados por um quarteto que mais parece o meio-campo da seleção feminina da Itália: endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. São neurotransmissores que circulam na corrente sanguínea, responsáveis por motivação, bem-estar, tolerância à dor ou confiança. Se entram em desequilíbrio, o corpo reage com insônia, estresse, sobrepeso, mau humor e até depressão.
Acontece que ninguém aguenta mais ouvir falar em comer, dormir e trabalhar apenas o suficiente, praticar alguma atividade física com regularidade e ter muitos momentos de lazer com amigos e amigas, ainda que via “celular”, como pré-requisitos para o equilíbrio do organismo.
Como conseguir isso? Não sei. Quem conseguiu, imagino, talvez nem se dê conta do modus operandi. Não existem à venda na farmácia da esquina frascos contendo cápsulas da felicidade. Simplesmente aprendeu de manhas e manhãs e toca a vida bem devagar porque um dia já teve pressa, diria Renato Teixeira. Enxergou a tempo que não vale a pena tanta correria.
Como conseguir isso? Não sei. Quem conseguiu, imagino, talvez nem se dê conta do modus operandi. Não existem à venda na farmácia da esquina frascos contendo cápsulas da felicidade. Simplesmente aprendeu de manhas e manhãs e toca a vida bem devagar porque um dia já teve pressa, diria Renato Teixeira. Enxergou a tempo que não vale a pena tanta correria.
Chega uma hora em que dois dedos de atenção e carinho (dar ou receber, tanto faz!) são as únicas coisas pelas quais vale a pena viver. Nem que seja apenas um cafuné na cabeça ou uma inesperada mensagem desejando-nos feliz ano novo. Vai que dá certo, não é mesmo?
Já que não existe fórmula, o jeito é seguir as dicas: ou do autor (cafuné na cabeça, nem que seja de um gato/gata) ou de Gonzaguinha ("viver e não ter a vergonha de ser feliz...").
ResponderExcluirFELIZ ANO NOVO a todas e todos !
De fato, as coisas simples são compostas de energias singulares e promovem felicidade ao extremo. Falta-nos a capacidade de captar.
ResponderExcluirFeliz ano novo! (Atendendo sugestão da sua bela crônica!
ResponderExcluirA Receita da felicidade imagino, tem muito da individualidade, porém, as coisas simples trazem leveza a Vida e a alma. Cafuné é consenso, ingrediente indispensável.
ResponderExcluirBoa dica para aprendermos a valorizar as coisas simples. Feliz ano novo!
ResponderExcluirNo alvo! Atentar para esses prazeres faz bem... afinal, a “vida louca” é breve!
ResponderExcluirE “cafuné na cabeça” aqui tem sentido mais amplo, Humberto. Tal como crianças, adultos evoluem na direção dos afagos que recebem. Quando alguém nos pergunta “você aceita feedbacks?”, quer mais é descer a ripa naquilo que fazemos ou pensamos diferente.
ExcluirO mundo anda de saco cheio de “fidibequeiros”
Perfeito!
ResponderExcluirTudo parece simples, não fosse nossa tendência de complicar as coisas.
Tentemos!
Sábio Quintana...
ResponderExcluirMe senti parte...
É por aí mesmo, meu caro Jurema!
ResponderExcluirSempre temos mais porquê agradecer .. e os maiores prazeres estão associados às coisas mais simples que às vezes insistimos em ignorar...
Adorei os detalhes: dedão na areia, coçar a frieira, courinho do engraxate... não resisto não citar Guimarães Rosa: “felicidade só se acha em horinhas de descuido”. Parabéns! Cada dia melhor!
ResponderExcluirMais que cronista, você é um verdadeiro poeta.
ResponderExcluirMandar uma crônica desta, numa época desta, faz despertar em nós o mais primitivo e melhor dos sentimentos.
Sou sempre um inconformado pelo fato do "espírito do Natal" não contagiar a todos e durante todo o tempo. De qualquer sorte, há sempre a esperança de que isto um dia aconteça.
Sou dos que acham que o amor é bonito em qualquer de suas manifestações, então só palmas...
Por fim, pra não "perder a viagem", TIM TIM...
Aqui é Volney.
Meu caro Volney, eu bem sei que o friozinho que você curte neste Natal além-mar, os goles de vinho, os pastéis de bacalhau, de nata, seus entes queridos ao redor, tudo isso lhe comove pra danado. Mas chamar seu amigo aqui de poeta... sei não. Deixe-me quieto no meu canto com minhas cronicazinhas. Tem dado certo assim, não é mesmo?
ExcluirUma chuva forte não muda nada pra quem está na água. Um raio de sol sim.
ResponderExcluirO que faz um Ano Novo Feliz não é ele trazer mais ou menos de nada. É ser novo.
Todo mundo é tão igual (suspiro!)
Que possas sempre fazer e trazer algo novo. Como sempre. Feliz Ano Novo.
Poeta é meu amigo Dedé. Inclusive com uma câmera fotográfica nas mãos.
ExcluirDar e receber afagos...isso é amor! Simples assim!
ResponderExcluirÀs vezes, meu amigo, o cafuné vai direto pra alma, lá está o verdadeiro centro das necessidades. E o cafuné não precisa ser apenas o recebido, mas aquele que muitas pessoas tentam fazer e não conseguem. Vai que no ano que vem dá certo...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Hayton, nos sentimos pequenos quando não percebemos a simplicidade das coisas. Por vezes, procuramos felicidade em lugares impossíveis de alcançarmos talvez, quando ela está presente em tão pouca coisa e não percebemos, não é? Parabéns pelo grande escritor que aqui joga muito bem com as palavras. Muito bom saber que ser feliz custa tão pouco! Desejo a todos não só um feliz Natal, mas que esse espírito de simplicidade, como o prazer de um simples cafuné, o coçar dos dedos, prossiga por todo esse novo ano que está ás portas, grande poeta sim. Quem sabe "Vai que dá certo ano que vem"? abraços
ResponderExcluirMais um show de emoção da vida real. Feliz novo ano!
ResponderExcluirPor algum motivo sua bela crônica me lembrou da música Epitáfio, dos Titãs:
ResponderExcluirDevia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Que bacana, encerrar o ano pensando nas pequenas coisas que nos dão - ou deram - tanto prazer e que passam despercebidas da grande parte dos mortais. Minhas preferências: uma manga ou uma pinha bem madurinha. Uma boa música. Bem lembrado, um cochilo depois de uma cervejinha na praia acompanhada de uma agulhinha frita. Alisar o pelo de um cachorro - já que não suporto gatos - e o maior dos prazeres que já não curto mais: velejar solitariamente nesse mar de Pajuçara. (Sei que você pensou outra coisa) kkkkk. Aquele abraço
ResponderExcluirMesmo sem identificação, reconheço pela “caligrafia” dos gostos: trata-se do grande Maerbal, presidente do senado da barraca Pedra Virada, no encontro das praias de Pajucara e Ponta Verde. Aquele abraço!
ExcluirQue texto fenomenal. De maneira simples vai nos envolvendo, nos abraçando e cafuneando nosso existir. Recentemente um cofre, fechado a mais de 40 anos, por não saberem o segredo do mecanismo, foi aberto de maneira tão simples. A combinação era 3 2 1. Direita, esquerda, direita. Há um cofre dentro de nós que só é acessado quando nos permitimos experiência a complexidade do simples. Algo como dá e receber Cafuné.
ResponderExcluirMais um belo texto para alimentarmos nossas almas e refletirmos sobre o sentido de nossa existência. Cafuné, carinho, atenção, cuidado e tolerância, são apenas alguns dos ingredientes que compõem o fantástico sentido da VIDA!!!
ResponderExcluirTexto lindo, Hayton, para lembrar-nos das pequenas coisas tão importantes na vida, que deixamos passar no dia a dia!
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