quarta-feira, 12 de maio de 2021

Novas regras pro jogo

Pense: o que leva uma criatura a querer ser presidente de uma das repúblicas mais desiguais do mundo, em flagelo econômico-financeiro, ambiental e sanitário? A querer, não! A sonhar de olhos abertos, com dentes e unhas, em sentar-se no trono pela primeira, segunda ou terceira vez.    

Seja qual for o resultado, você tem dúvida de que a manifestação da soberania popular em 2022 deverá ser questionada? Que denúncias de supostas fraudes darão origem a novas feridas sobre antigas cicatrizes e a bate-bocas intermináveis nos tribunais de sempre?

 

Urnas eletrônicas existem há um quarto de século e fazem parte do sistema de votação mais informatizado do planeta. A confiabilidade é boa, tanto que virou referência mundial. Já aconteceu inclusive o empréstimo de urnas a Argentina, Costa Rica, Equador, Guiné-Bissau, Haiti, México, Paraguai etc.

 

Mas há quem defenda o retorno do voto em papel. Um dos candidatos disse outro dia que “pretende” mudar o processo a partir das próximas eleições, com a volta das cédulas impressas que, na opinião dele, seriam mais confiáveis e abririam menos espaço para fraudes. 

Ocorre que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entende que retornar ao voto impresso seria “um retrocesso, como comprar um videocassete” e que “fraude havia com o voto impresso”.


Qual é a saída? A esta altura, quase todo mundo tem a sua opinião sobre cada uma das criaturas postulantes ao cargo. Elas, no entanto, tentarão construir uma imagem que oscilará entre o que são, o que gostariam de ser e o que gostariam que os outros acreditassem que são. 

 


Assim que o jogo – do qual você participa até quando se omite – começar pra valer, cada uma delas irá oferecer seu prato feito e tentará lhe convencer a engolir. E mais: a dizer que gostou. 

Como gostar de uma comida cujo tempero básico é exercitar o dom de iludir, onde se é livre para dizer e desdizer, fazer e desfazer o que bem entender? Como descobrir o que se esconde nas palavras ditas em desarmonia com o aquilo que se sente, pensa ou faz? 

 

Ano que vem, de novo, cada recanto da velha pátria mãe tão distraída vai se arrepiar. As praças e ruas estarão apinhadas de seguidores de variadas seitas, mascarados ou não, independente da variante viral da hora, a ruminarem sentimentos como inveja, ódio e vingança. 

 

Millôr dizia que a diferença entre Direita e Esquerda é que um lado acredita cegamente em tudo que ensinaram, e o outro acredita cegamente em tudo que ensina. Não existe nada mais inútil do que tentar convencê-las disso, imagino.

 

À parte a fratura de braços e pernas que hoje quebra a nação, ela também se divide em outros dois grupos: os que desprezam o Big Brother Brasil e os que não perdem (tribo bem maior) por nada nesse mundo um dia do reality show.

 

Com o final da edição de 2021, me contaram que foi feita uma pesquisa envolvendo 498 pessoas cujas características (idade, sexo, classe social, escolaridade etc.) refletiriam o universo brasileiro. Apurou-se que 80,8% vivenciaram emoções indesejáveis: indignação, nojo, raiva, repúdio, dentre outras. 


Mas para 60,6% dessas pessoas – números quebrados dão sempre maior credibilidade –, o melhor do jogo é poder bisbilhotar as entranhas dos jogadores, vigiados por câmeras 24 horas, sem se comunicar com ninguém ou usar qualquer outro meio para saber o que se passa fora do confinamento. 

 

Apurou-se ainda que, se o BBB desperta sentimentos ruins, propicia também entretenimento e prazer. E quem sou eu para questionar o subsolo das emoções de nosso heróico povo.

 

Dito tudo isso, não seria a hora de uma mexida nas regras do jogo para as próximas eleições presidenciais? Quem sabe confinar as criaturas interessadas, por 30 dias, numa versão especial do reality show, com direito a baixarias, edredons e paredões.

 

Pós-graduado em Big Brother Brasil, duvida-se que um heróico e criativo povo, com seu brado retumbante, não descubra quem é quem e escolha a criatura mais interessante para subir a rampa do Planalto sob os raios fúlgidos do sol.


Não se sabe ainda quem vencerá o jogo com base nas novas regras, mas, pouco importa de que lado sopre o vento, o Centrão – outra criatura polêmica e insaciável, incrustada no Congresso Nacional – já esfrega as mãos nos bastidores. Tudo em nome da governabilidade, é lógico!


 


34 comentários:

  1. De uma coisa tenho certeza, as soluções que nosso país carece vai depender menos do "como" e mais do "quem" elegeremos.A crônica deixa indagações no ar, vamos tentar decifrar e responder.

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  2. ANTONIO CARLOS CAMPOS12 de maio de 2021 às 06:39

    Realmente 2022 vai ser um dos piores anos eleitorais da nossa história. Não dá pra saber quem vai levar, mas podemos já antecipar que o vencedor será a pessoa errada.

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  3. ANTONIO CARLOS CAMPOS12 de maio de 2021 às 06:40

    Boa reflexão.

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  4. Realmente o jogo ao cargo presidencial envolve muitas regras, que muitas vezes nunca saberemos, e além da criatura que sobe a rampa temos o entorno dos que o influenciam , atualmente não sabemos quem manda mais se é o pai ou filhos , o Centrão ou o mercado e os neopentecostais , e
    tudo em nome de Deus, como usam e abusam do nome de Deus em vão, só Jesus na causa.

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  5. Assim que o jogo – do qual você participa até quando se omite – começar pra valer...bem isso.

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  6. A meu ver, a polarização política em voga não é nada mais,nada menos do que a degradação do pensamento coletivo ao mesmo tempo em que se agiganta a idolatria ao individualismo, atingindo todos os segmentos e classes sociais. Onde erramos não sei. Certamente começou dentro de casa. É uma praga invisível que já assumiu as feições de "pandemônio" que agora reina e, junto com a "pandemia", seguem dizimando o que ainda resta. Cadê o juramento de servir ao povo de quem emana o poder? Cadê a defesa da cooperação e da solidariedade?
    O que se vê é exatamente o contrário: o culto ao "eu". Agora "eu" posso tudo, o resto não interessa...
    Excelente reflexão. Parabéns!

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  7. Show de bola a sugestão de confinar os candidatos por 30 dias sob os holofotes do mundo. Daria tempo demais para saber quem é quem na corrida presidencial!!!

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  8. Hahahahaha
    Só “apelando”, mesmo! Não dá para levar essa coisa muito a sério.
    Boa ideia!
    Com voto impresso, né? Historicamente, isento de fraude...

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  9. O fato é que o país continuará a ficar mais rachado, e veremos ainda com maior frequência amizades cessarem e irmãos ficaram contra irmãos, independentemente de quem for “eliminado”.

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  10. A ideia é excelente e de certa forma o presidente atual já se comporta desde a eleição como se estivesse num BBB. Fala direto e fácil para o idiota preguiçoso no sofá, enquanto as forças progressistas fazem palestras mais chatas que as de RH. Vai se reeleger. Dedé Dwight

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    1. Caro Dedé, tomara que sua previsão não se concretize. Mais 4 anos nesta situação seria muita desgraça para nossa amada terra e mãe gentil...

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  11. Gostei da ideia do BBB. Aí o Febeapá encontrará lugar cativo. Boa ideia. Não! Ótima ideia.

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  12. A reflexão sobre o voto eletrônico é muito oportuna. So meu juízo, nada no Brasil é tão fiscalizado como as eleições. Talvez um jogo de futebol. Os próprios adversários se encarregam do mister, até com exageros.
    Tenho dito que (i) o sistema eleitoral, (ii) a informatização da receita Federal e(iii) a informatização do sistema financeiro são referências para o mundo.
    Assim, adotar o voto expresso seria, de fato, um retrocesso. Retrocesso até na seriedade e segurança do processo, sobretudo porque é na apuração do resultado que historicamente concentram-se as fraudes.
    Entretanto, preocupa-me a capacidade de convencimento de segmentos da sociedade, com interesses duvidosos, de induzir ao povo a fragilidade do atual sistema eleitoral. Até a palavra do presidente do TSE é ineficiente.
    Eventualmente, para afastar dúvidas seria razoável adotar a impressão de votos por amostragem, em não mais de um por cento das urnas. A amostra, por certo, convenceria, ou afastaria os argumentos,aqueles que sustentam o retrocesso.
    Modesta opinião, para ampliar a discussão tão bem colocada pelo ilustre articulista.

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  13. Deficiência da ortografia fica justificada pela pouca prática no uso do sistema

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  14. É insano o posicionamento contrário às urnas eletrônicas. O mesmo que virar as costas para a modernidade. Só um governante tresloucado como o atual para sair com uma ideia dessas. Até parece mais um factóide, destinado apenas à discussão de assuntos alheios ao desgoverno vigente. Muito oportuna a iniciativa de jogar luz sobre o assunto. Precisamos criar massa crítica e nos prepararmos para eleições sem destaques, sem favoritos, sem nomes de peso na política. A aridez do embate que se avizinha só rivaliza com o descrédito do povo, que não sabe a quem recorrer.
    Roberto Rodrigues

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  15. Ótima ideia um BBP - Big Brother Presidencial. Os candidatos estariam, o tempo todo, debatendo ou se batendo. Ou se escondendo sempre, como alguns costumam fazer em tempos eleitorais. Quem sabe a gente poderia conhecer um pouco mais esses abnegados candidatos que estariam dispostos a abrir mão de suas vidas privadas, durante 4 anos, única e exclusivamente por amor à velha pátria mãe gentil, terra amada...

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  16. É como se estivéssemos voltando à idade da pedra com o retorno da cédula de papel. Coisa de maluco mesmo

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  17. Falta ainda mais de um ano pra eleição presidencial do ano que vem. Não tenho a menor certeza de quem vai ganhar. Mas acho interessante que muita gente - ao invés de apoiar e tentar construir a candidatura que julga mais interessante - já decidiu que quem ganhar desagradará os brasileiros. E quem são os brasileiros? Às vezes são os mesmos que dizem que político é tudo igual, mas não conhecem sequer os votos dados no Congresso Nacional pelos deputados e senadores que elegeram!

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  18. Ótima Reflexão!
    Não concordo que o voto impresso está isento de fraude...
    Pelo contrário, eles podem trocar uma urna, por outra (fraudando-a).
    Realmente, para ladrão não tem cerca.
    Maria de Jesus Almeida Rocha

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  19. Chegamos ao fim do poço. Com BBBs e corrida presidencial nos empurrando pra ele!

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  20. Excelente reflexão.um texto para se pensar.Fatina e Anchieta.

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  21. Em 2022 será uma decepcao, não importa qual será o eleito. Como diz o ditado popular se correr o bixo pega se ficar o bixo come. Será uma disputa entre o corrupto com 4 dedos X o corruptor com 5 dedos. Deus nos salve!!!

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  22. Excelente!
    Voce abordou um tema interessantíssimo. A questão das urnas eletrônicas. Como disse, cada um de nós tem opinião a respeito. Nossas autoridades garantem a higidez das nossas urnas. Mas quem garante que não há fraude? Sistemas informatizados, todos eles, estão sujeitos a violações de segurança. As nossas urnas, já bem velhas do ponto de vista das inovações tecnológicas seria a única ferramenta computacional absolutamente blindada?
    Bancos no mundo gastam bilhões, como sabemos, em busca de segurança nos seus sistemas, o que nunca conseguem de forma definitiva porque os fraudadores aperfeiçoam suas técnicas e sempre conseguem burlar os controles.
    Microsoft e Sansumg, por exemplo, investem elevadas somas para segurança de seus sistemas, programas, processadores, etc., e somos convidados a atualizar os nossos telefones com frequência, nunca conseguindo uma blindagem definitiva como as autoridades do nosso País afirmam que acontece com as nossas urnas.
    Por tudo isso não acredito que essas urnas têm uma blindagem absoluta, insuperável pelo engenho humano. E o mesmo engenho humano deve conseguir desenvolver um modo de auditar os votos, sob a Poder Judiciário e com sigilo do processo, para permitir a aferição de fraude ou não. Não me convence a tese de que o sigilo do voto seria impedimento. A quebra do sigilo se daria pelo Poder Judiciário, em processo com tramitação sob o manto do sigilo.
    O sigilo do voto não pode ser absoluto. Nem mesmo o direito à vida é, entre nós absoluto, prova disso é que a pena de morte é admitida pela Constituição Federal, em caso de guerra declarada. Então, porque o sigilo do voto seria um direito absoluto, impossível de ser quebrado pelo Poder Judiciário, que o manteria restrito aos intervenientes no processo?. Seria preciso encontrar outra justificativa.
    É importante considerar que as nossas urnas já são uma tecnologia antiga, com mais de 25 anos, e embora tenham sofrido atualizações, ninguém em sã consciência pode jurar que são absolutamente invioláveis como dizem.
    Ressalvo que é minha modesta opinião, com todo respeito às opiniões diferentes.

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  23. Desta vez você escolheu um tema, no mínimo nevrálgico - desnecessário fazer referência à qualidade da peça produzida.
    Pra não dizer que não falou de flores, salva a sutil referência a VAI PASSAR, de Chico Buarque.
    Não me permito alongar o comentário, o tema político, em Pindorama, causa até pânico em quem quer sempre exercitar a cidadania. Afinal, o culto a figuras como Bolsonaro e Lula me causa mais que pesadelos, é desalento e até depressão.

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  24. Está claro, claríssimo, que o voto "apurável" é um retrocesso. Agora some-se a isso a milícia e os "homens de bem" armados até os dentes em volta dos apuradores.

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  25. Boa ideia confinar os candidatos por 30 dias! Bela sugestão 😂😂😂😂😂

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  26. Muito apropriadas, as colocações acerca dessa "estranha paixão" que a politicagem desperta em muitos. texto com a marcante característica da leveza de sempre. O que me deixa satisfeito, diante de quadro tão diverso, tão disperso e muitas vezes, sem norte, é termos preservado o direito de dizermos o que pensamos, via de regra. Ainda. E, espero que perdure para sempre, pois a beleza da Democracia, reside exatamente nesse ponto, na minha opinião. Lembrei das palavras de um grande Jurista Paulista, Vicente Ráo, que disse: "O preço da liberdade, é o eterno delito". Grande abraço, meu Amigo!!!

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  27. Agostinho Torres da Rocha Filho15 de maio de 2021 às 10:30

    O que leva uma criatura a querer ser presidente de uma das repúblicas mais desiguais do mundo, em flagelo econômico-financeiro, ambiental e sanitário? Certamente, o poder! O texto nos remete a uma profunda reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da democracia brasileira.
    "Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder." (Abraham Licoln)
    "A natureza dos homens soberbos e vis é mostrar-se insolentes na prosperidade e abjetos e humildes na adversidade." (Nicolau Maquiavel)
    De Marechal Deodoro da Fonseca ao Capitão Jair Messias Bolsonaro, desconheço um único ocupante da cadeira presidencial que não tenha articulado nos bastidores para perpetuar-se no poder, ainda que tenhamos sido, em dado momento histórico, até governados por democratas convictos. Trata-se, pois, de um vírus mais contagioso e letal que as novas variantes do corona chinês, cujo combate depende da vacinação em massa da população e não do uso de remédios ineficazes prescritos pelos candidatos de plantão, seus assessores e correligionários. Que Deus tenha piedade de nós! Vacina, sim!!!

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  28. Voltar ao voto impresso???
    Pensando como (ex) bancário: por que não voltar a escriturar em fichas gráficas - em máquinas Underwood? Voltar ao mimeógrafo? E aos guichês-gaiolas? Talvez pensar em balancetes copiativos? Telex, malotes, chapinhas numeradas para pagamento de cheques? Há um mundo de retrocessos para ocupar a mente dos nossos dirigentes!
    Abbehusen

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  29. Os comentários se referem a retrocesso tecnológico. Será? Ou intenção seria justamente a facilidade de ‘bem, esqueçam!!!’

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  30. Seria uma excelentes ocasião para conhecermos a fundo os candidatos ao cargo de Presidente da República se eles fossem confinados durante um mês. Seria o maior espetáculo da Terra (hahaha) ou tédio para aqueles que detestam a política. Quanto ao voto impresso, acredito que as urnas eletrônicas continuarão a existir, pois o que eles querem é que se imprima o comprovante de cada eleitor para futuros questionamentos. Excelente crônica!!!

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  31. Não se sabendo se é uma luz ao fim do túnel, ou o trem, alguma coisa virá. Não pelo anseio da população, mas para proteger a covardia dos políticos. Afinal, não foi sempre assim?

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  32. Este blogueiro escreve muito bem. Já Li uma ótima crônica dele. Mas nesta ele ficou devendo: críticas muito implícitas. Pra falar de política precisa ter posição, não dá pra ser encima do muro.
    Os comentários também muito fracos: impressão de orquestrados; grupo pré articulado.
    Criticas generalizadas sobre os políticos não contribui em nada.

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