Data venia, gente!
Desde menino, queria fazer o que meu pai fazia: receber pessoas numa sala com mesa, cadeira, lixeira e ventilador; atender quem buscava tomar emprestado ou guardar dinheiro; escrever à máquina e caneta tinteiro, carimbar e rubricar documentos.
Não me arrependi, mas teria sido interessante trilhar outros caminhos, quem sabe como profissional do Direito. Afinal, quase todo mundo desenvolve desde cedo um senso de justiça, aquele sentimento que faz com que se tomem as dores de um desconhecido mesmo sem levar nenhuma vantagem nisso. Reconheço, uma visão romantizada pelos gibis e seus super-heróis, de Batman a Zorro.
Talvez conseguisse escapar do “juridiquês”, o cipoal de termos utilizados pelos profissionais da área, classificados como exagero de jargões, de gírias ou mesmo uma forma rebuscada de se distinguir socialmente. A rigor, penduricalhos cosméticos para pretensamente embelezar expressões arcaicas, algumas numa língua morta (o latim).
Ilustração: Umor |
Para um advogado, por exemplo, tão importante quanto saber de leis é conhecer uma língua viva (sua maior "ferramenta" de trabalho), pois advogar, antes de tudo, é falar por alguém. Acho esquisito ver expressões latinas numa petição onde se requer apenas uma declaração de inexigibilidade de multa por atraso de pagamento de uma fatura qualquer.
Sei que o ordenamento jurídico brasileiro originou-se no Direito Romano, que se escorou no latim. Mas para ser compreendido na transmissão de uma mensagem qualquer, melhor abrir mão do “juridiquês" e se ajoelhar aos pés da santíssima trindade da comunicação: a clareza, a concisão e a objetividade.
A terminologia adotada por advogados, procuradores, promotores, juízes, desembargadores etc., às vezes é incompreensível até pelos mais letrados. Já li em algum lugar, aliás, que alguém já escreveu "o indigitado se evadiu do ergástulo público" onde bastaria "o réu fugiu da cadeia"?
Pelo menos uma vez por ano, faria bem reler Graciliano Ramos, para quem: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam... Somente depois de feito tudo isso é que elas penduram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
Espanariam o mofo e a poeira de certas expressões, que poderiam ser reescritas desta maneira:
Chamamento à lide processual – O “santo” aí também deve!
Coautoria e litisconsórcio passivo – Sabiá que voa com joão-de-barro vira ajudante de pedreiro.
Data venia – Dá licença, doutor?!
Embargos de declaração – Explique isso melhor, doutor!
Execução de alimentos – Farinha pouca, primeiro meu pirão.
In dubio pro reo – Na dúvida, deixa quieto!
Mutatis mutandis – Mudando o que tem que mudar.
Nomeação à autoria – Dedurando o resto dos “santos”!
Pacta sunt servanda – Obrigações devem ser cumpridas (ou: perdeu, mané! Vai ter de pagar!).
Periculum in mora – Relógio que atrasa, não adianta.
Princípio da iniciativa das partes – Faça o seu que faço o meu.
Princípio do contraditório – Agora é minha vez! (ou: enquanto um burro fala, o outro abaixa as orelhas e escuta).
Recurso adesivo – Pegando o vácuo.
Reincidência – De novo, mané?!
Trânsito em julgado – Prego batido, ponta virada.
Tem menos de 10 anos que, no TRT da 4ª Região, no Rio Grande do Sul, um juiz demonstrou como uma decisão pode (e deve) ser tomada sem expressões dispensáveis. O processo envolvia um pedreiro, que pedia o reconhecimento de vínculo empregatício e indenização por danos morais, depois de sofrer um acidente enquanto trabalhava numa obra.
A história, resumida sem enfeites: "Três meses depois de iniciada a obra, o pedreiro caiu da sacada, um pouco por falta de sorte, outro pouco por falta de cuidado, porque ele não tinha e não usava equipamento de proteção. Ele, ... [o dono da propriedade], ficou com pena e acabou pagando até o serviço que o operário ainda não tinha terminado".
A conclusão, também: "Essa indenização ameniza um pouco o sofrimento de... [o pedreiro], mas também serve para... [o dono da propriedade] lembrar que tem obrigação de cuidar da segurança daqueles que trabalham na sua casa, mesmo quando não são empregados. Por sua vez,... [o pedreiro], não pode pretender ficar rico com a tragédia; mas também o dinheiro tem que fazer alguma diferença na sua vida. Pensando nisso tudo, considerando a metade de culpa que cada um tem e das condições financeiras dos dois, além das circunstâncias do acidente, fixo a indenização em...".
Simples, não? Compreensível até pelos analfabetos funcionais, cerca de 40 milhões de brasileiros que até reconhecem letras e números, mas não conseguem explicar o que leram.
Parece óbvio e simples a tua tese Hayton. Mas vai explicar isso aos que se intitulam "Doutores"...uma vez escutei do Motomura: "só conseguem ser simples as pessoas realmente seguras".
ResponderExcluirEu agora me lembrei do clássico "o mutuário fugiu montado na garantia". Eu cresci vendo o povo que "escrevia bonito" trabalhar, mais com curiosidade do que com admiração. A gente demora um tempo até aprender a simplicidade. Dedé Dwight
ResponderExcluirLembrei do advogado que com ânsia de falar bonito virou meme por confundir o Pequeno Príncipe com o Príncipe, de Maquiavel, e esqueceu de defender o réu.
ResponderExcluirMas, como aula de Português, gostei da santíssima trindade. Vou repassar para minhas amigas que lecionam português.(citando a fonte e mandando a crônica.
Muito interessante e real a crônica de hoje, e me faz ter a certeza que fazer um curso de direito é uma necessidade, conhecer as leis, se defender , etc,
ResponderExcluirComo tive ensino religioso, estudei latim por 6 anos. Quando já era bancário, lembro-me de um advogado, meu amigo, que me pediu exatamente isso: monta um punhado de frases em latim pra que eu possa impressionar o juiz no meu recurso. Só servia pra isso. Aí fiz uma brincadeira que quase virou inimizade: a frase construída não tinha o sentido que se imaginava. Fiz pra que ele apenas achasse engraçado, mas ele não entendeu. Levou uma chamada do juiz e teve de trocar a peça. E a culpa foi minha.
ResponderExcluirCom um amigo desses, o coitado do causídico não precisava de inimigos! Dou por vista a reprimenda do juiz (em linguagem chula, mesmo!) e a cara de vexame do requerente…
ExcluirA lógica sugerida, que nos remete a simplificar não é acatada pelos operadores do direito, para eles a ostentação é no linguajar.
ResponderExcluirBom dia
ResponderExcluirJá acordo às quartas-feiras esperando a crônica do dia, quando ela não chega primeiro que o meu acordar.
A de hoje me lembrou um professor de metodologia na UNEB que comparava o resumo a ele e os irmãos chupando cana: uma bacia de roletes, cada um com seu pratinho e pegando o rolete davam uma mordida e colocavam no prato para logo pegar outro e depois iam “remoer “ cada rolete duas ou mais vezes até que só houvesse bagaço. E assim seria o resumo: escrito várias vezes para tirar o supérfluo e ficar com as virtudes da “santíssima trindade “ citada por você.
Acabei de ler mais um belo texto seu. Além da importância da mensagem, é inegável o domínio da linguagem culta emanada do Latim. O uso desnecessário dela para fins de impressionar a quem quer que seja é, de fato, condenável.
ResponderExcluirParabéns por mais essa verdadeira aula de conhecimento. Por fim, ficou provado de onde vem o fio do seu hábito de escrever, do velho pai que tinha o cuidado de fazer as anotações diárias de todas as suas atividades.
Continuo alimentando o desejo de ver uma obra completa produzida pelo autor.
Até a próxima semana.
Considere que cada crônica é uma obra completa deste escriba sobre determinado tema. Aliás, poucos temas ultimamente merecem mais que um texto com 800 palavras. Feitas para dizer, como bem dizia o Velho Graça.
ExcluirNão obstante a clareza com que se manifesta o autor, na ânsia de propor o uso de glossário menos intrincado e enigmático, na condição de leigo no campo jurídico, não me resta alternativa mais apropriada ao momento do que conceder a palavra aos nobres advogados, que certamente terão elementos robustos para elucidar suas razões para persistirem no uso de retórica que faça uso do latim como instrumento para robustecer sua linha argumentativa.
ResponderExcluirO que mais gostei foi da concisão com que os termos jurídicos correntes foram traduzidos. Aí sim, conseguem atingir pleno entendimento. Tudo o mais é mera tentativa de blindar uma área do conhecimento, limitando a participação geral e irrestrita. Isso a despeito de cada área profissional ou profissão em si ter seus jargões próprios -- é natural. No Direito há visível abuso. Fico pensando como alguém é capaz de ler uma peça jurídica na totalidade de suas intermináveis páginas e cansativa forma. Cujo conteúdo real, se espremido pela objetividade fosse, resultaria num documento mínimo e mais palatável. Sem contar a perda de tempo na produção e na leitura posterior de novelas mexicanas inteiras. Grande desserviço. Estupidez, ao invés da pretensa erudição.
ResponderExcluirRoberto Rodrigues
Para esses "senhores das leis", deve ser extremamente desqualificante falar fácil, de forma a que todos ou pelo menos a maioria entendesse. Precisam utilizar-se de tantos subterfúgios, sendo a língua um deles, para tentarem ganhar causas as mais diversas, como o caso de um cliente que quebra um espelho e, superticioso que era, fica com medo de ter sete anos de azar, mas seu advogado promete-lhe que consegue baixar a pena.
ResponderExcluirExcelente crônica, até para nos ensinar muitos jargões e seus significados muito mais simples.
Sua crônica me fez lembrar da OCA - Oficina de Comunicação Administrativa, uma extraordinária e, ao mesmo tempo, simples criação do nosso amigo Artur Roman.
ResponderExcluirExtraordinária porque provocou uma revolução na escrita do BB.
Simples porque acessível a todas as pessoas que trabalhavam no Banco, propondo que fossem deixados de lado todos os "data venia" da vida.
Luiz Andreola
Muito bom "Se pode simplificar, pra que complicar?" Me lembrei de algumas histórias contadas no BIP dos setores de operações.
ResponderExcluirMuito oportuna sua crônica e bem explicativa, mormente no que dia respeito às questões em que se torna necessário o auxílio dos homens da justiça. Há um tempo atrás, fui ao Fórum de Maceió, para saber de uma questão ligada a um jovem dependente químico. Um advogado me atendeu cortesmente e começou a responder minha indagação. Falou por algum tempo dando-me aa explicações. Porém usou do tal dicionário " juridiquês" a ponto de no final de sua explanação, nada haver entendido. Imediatamente após sua fala lhe disse: nada entendido do que o doutor me falou. Poderá me falar numa linguagem a meu alcance? Então, em poucas palavras, me respondeu o que precisava saber
ResponderExcluirOlá Hayton
ResponderExcluirValiosa sua contribuição com o tradutor de expressões do juridiquês, além de nos oferecer mais um texto gostoso de ler.
Há que se reconhecer certos esforços de instituições como a Associação dos Magistrados Brasileiros e algumas Seccionais da OAB para a simplificação da linguagem jurídica, emitindo diretrizes e oferecendo cursos de redação para os operadores do Direito.
Essa mudança necessária, porém, não se decreta e não se viabiliza apenas com capacitação. Uma maneira de escrever é uma maneira de ser. O juridiquês é a expressão do espírito bacharelesco sub-elitista do Judiciário brasileiro que escreve para não ser entendido, o que permite a muitos advogados esconder sua precária formação com uma linguagem pomposa e mofada.
Observo com interesse que os Ministros do STF, quando querem ser citados e referidos na imprensa, redigem parte de seus pareceres em uma linguagem elegante e simples....
Já se tornou um hábito a leitura de suas " ricas " crônicas . A de hoje é recado aos que se dizem escritores , comunicadores , profissionais q precisam esclarecer aos usuários de seus serviços as mais simples informações.O ve
ResponderExcluir"Falou pouco mais falou bonito", ouvir esta expressão muitas vezes, sempre pensei como os discursos, narrativas e sentenças poderiam ser práticas, objetivas e sem criar muitas alternativas para contestação.
ResponderExcluirExiste o pior o discurso divergente da prática, da defesa de uma tese que muitas vezes quem a defende não acredita e muito menos, a traz para o convívio.
Adorei o tema de hoje, linguagem é uma paixão.
ResponderExcluirA comunicação é, sem sombra de dúvidas, instrumento de poder e, uma das formas mais simbólica desse poder é a linguagem verbal, seja oral ou escrita.
Depois que me aposentei do BB iniciei alguns projetos e dentre eles destaco: teatro, curso de artes e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esses três intimamente ligados à comunicação e expressão.
Creio que, até me envolver com comunicação, passei a minha vida toda usando a linguagem como se fosse algo natural. Me esforcei bastante para absorver as regras gramaticais e ortográficas como se isso fosse suficiente para me tornar uma regular leitora, escritora, falante e ouvinte.
No convívio com alunos de EJA aprendi que, muito mais importante do que falar de forma culta e rebuscada é se fazer entender e compreender o mundo que nos rodeia. É o nosso saudoso Paulo Freire nos sussurrando que a educação deve ser vivencial e libertadora e, através da linguagem compreensível e digerível é que chegamos lá.
No curso de artes, convivendo com jovens de comunidades, descobri em seus discursos de militância uma potência de sonhos e desejos que clamam por ação.
No teatro descobri tantas vozes, tantos textos, que me fizeram perceber que a linguagem verbal é apenas um instrumento de tradução.
Na sua crônica, uma expressão me chamou muito a atenção "conhecer uma língua viva" porque a língua além de viva é dinâmica. Ela se atualiza e se modifica com os grupos sociais, com o tempo, com a tecnologia, ela é mutante, assim como nós. Para que estagná-la em prol de pompas? Não há erros quando se fala em dissonância com a regra gramatical, desde que haja a conexão entre falante e ouvinte. A linguagem deve aproximar e incluir e só consegue isso quando é compreendida.
Um profissional que não fala a língua do seu público comete um terrível erro, seja advogado, médico, economista, bancário ou qualquer profissão - eu corro desses. Não quero prescindir de tradutores.
Passou da hora dos profissionais do direito falarem a língua dos destinatários dos seus textos. Acho que isso melhorou muito com os processos virtuais.
ResponderExcluirAos que eu tiver contato, vou sugerir que recorram às suas orientações, antes decidirem pelo latim. Kkk Valeu!
Caro e Inspirador Amigo,
ResponderExcluirComo sempre, Crônica leve e gostosa de se ler.
Aproveitando o tempo em que fiquei sem aparecer no Blog, mas, contudo, sem deixar de ler as Crônicas, vou abusar do espaço para concordar integralmente com esse perfil que se deseja para um bom advogado: ser simples, claro e objetivo, e se puder enriquecer isso com um bom conhecimento e domínio da língua pátria, melhor fica.
Assim sendo, fica fácil de ver que o Amigo tem esse talento multiplicado algumas vezes. E vai além: também agrega a sensibilidade de todo bom escritor que se importa com Gente.
É certo que será jurista de realce, desde que o queira, pois advogado já é. E faz tempo.
Advoga em defesa dos menos favorecidos. Pelos que não têm conhecimento dos seus direitos, distribuindo a mais belas das Justiças a tantos que lhe cruzaram o caminho, sendo, inclusive, "Data Vênia" (kkkkkk), o feliz proprietário de um contagiante senso de ser justo, na plenitude do termo.
Abração!!!!
Mário Nelson.
Muito bom! Rsrs
ResponderExcluirData venia, ainda dá tempo!
Hoje fizestes com que eu lembrasse de meu Tio Mirandolino (que nome hein?). Tido como dos melhores causídicos que o Rio Grande já teve... Ficou conhecido pelo dom da oratória. Diziam os advogados contrários, que se deixassem o Mirandolino falar, eles não tinham chance nas causas... Abaixo uma de suas histórias...
ResponderExcluirUm dos "causos" que lembro dele... Defendia um sujeito acusado de ter, à força, deflorado uma moçoila. Na audiência, chegou perto do juiz e disse que portava na cintura uma faca. O meritíssimo lhe disse que aquilo não era permitido e que ele devia entregar a arma. Ele tirou o conjunto (faca e bainha) da cintura e, segurando pela bainha alcançou ao juiz. Quando o juiz pegou (e puxou) pelo cabo, o Mirandolino puxou a bainha. O juiz ficou com a faca na mão e o tio com a bainha. Ofereceu a bainha para que o juiz introduzisse a faca, mas a cada tentativa do juiz, ele desviava a bainha. O juiz foi ficando irritado e ameaçando prendê-lo, perguntou porque fazia aquilo. O Mirandolino então explicou ao juiz que era a forma que tinha encontrado para demonstrar que quando um não quer, o outro não consegue introduzir.
Esse era o irmão de meu pai de quem mais eu gostava. Muito pesquei e cacei com ele, ouvindo suas histórias...
Infelizmente não consegui reproduzir aqui a história com o General Flores da Cunha, divulgada no Almanaque Cultural Brasileiro (de 11/11/2014).
Excelência!!!
ResponderExcluirNa arte de escrever curto, direto e preciso, Graciliano foi mestre. Em Dois relatórios ao Governador de Alagoas, assim prestou contas das despesas que fez no Cemitério de Palmeira dos Índios:
ResponderExcluir"No cemitério enterrei 189$000 - pagamento ao coveiro e conservação".
Nos dois relatórios, transformados em livro graças à iniciativa do empresário José E. Mindlin, é possível perceber que relatórios podem ser lidos e entendidos por todos. Os escritos por Graciliano eram pura literatura.
Dois Relatórios ao Governador é livro raro. Somente em "Sebos" é possível encontrá-lo.
Rsrsrs Eu só sei que na hora do aperto, considerando várias questões conflituosas, é ao advogado que recorreremos, seja em Latim, Inglês, Português, ou qualquer outra língua, para defender nossos direitos. Porém, a simplicidade ainda é uma das maiores qualidades humanas. Graças a Deus.
ResponderExcluir“Da cabeça de juiz, da barriga de grávida ou da bunda de neném, ninguém pode antecipar o que virá.” Ja dizia a vovó Filó.
ResponderExcluirExcelente. A tradução, então, uma obra-prima.
ResponderExcluirGradim.
“Veritas dicit”. A verdade está com você meu amigo . A vida seria menos complicada, embora toda profissão tenha o seu jargão técnico , sem dúvida. Os atuais advogados, em boa parte, depois do cola cópia e da inteligência artificial, não dominam nem o próprio idioma, quanto mais o latim e o direto. O direito então, depois de Alexa de Morais, terá que ser reescrito. Ministros do STF atropelam o português com frequência indesejada. Tenho por muito oportuna sua primorosa crônica . Parabéns .
ResponderExcluirEm geral, toda autoridade gosta de pompa e circunstância. Como os nossos magistrados, via de regra, se acham deuses todos poderosos, nada mais "adequado" que os advogados tentarem, nem que seja de forma antiquada, grotesca, ininteligível e cansativa, demonstrar o domínio de uma língua morta. Pra combinar com suas excelências e suas togas enferrujadas.
ResponderExcluirMarina Gaia
Existe até a história de um estagiário de Direito que, atuando numa das Varas da capital, escrevia todas as sentenças e depois só colhia a assinatura do Meritíssimo.
ResponderExcluirNuma das ações, quando foi colher o despacho, ouviu do Juiz: “-volta e faz tudo novamente. Do jeito que você escreveu todo mundo vai entender “.
Deve ser por isso que a frase atribuída a Leonardo Da Vinci - "A simplicidade é o último degrau da sofisticação - é tão difícil de ser aplicada. Precisa-se de engenho e arte para dar sentido às coisas do mundo.
ExcluirMuito bom! Impressionado com a variedade de temas e com a ideia, desta feita, de falar sobre o juridiquês que só serve para complicar.
ResponderExcluirIsso, de fato, faz com que nossa língua "brasileira" seja tão difícil de ser colocada em prática. Comunicar-se com objetividade é mais complicado do que se imagina. Tem vezes em que o comunicador usa do "enrolation" para ganhar tempo e amenizar a possível reação do ouvinte. Quanto ao uso de jargões de origem latina, acredito, é para ofuscar a fraqueza cognitiva de quem faz uso...
ResponderExcluirQuando eu vi, pela primeira vez, alguém comentar que o Juiz da minha cidadezinha tinha se declarado "'incompetente" eu fiquei empolgado com a humildade daquele majestoso senhor juiz. Pensei: o sujeito reconheceu que é fraco para julgar o caso.
ResponderExcluirEu sugiro propor um projeto de lei, obrigando os juristas a falarem português, de preferência, brasileiro!
ResponderExcluirImagino que o “juridiquês “ serve especialmente para enfeitar as petições .
ResponderExcluirÉ assim que a justiça tem que ser. Esse é um juiz conterrâneo do Hayton do atestado da Paraíba. Formalismo é cafona, antiproducente e caminho para não ser acessível aos simples.
ResponderExcluirhttps://twitter.com/EmersonAnomia/status/1708182552714817551?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1708182552714817551%7Ctwgr%5E3ffffdcb597f9823ee09aedfb0b172fce410637f%7Ctwcon%5Es1_c10&ref_url=https%3A%2F%2Fd-38142940373310219522.ampproject.net%2F2309151607000%2Fframe.html
Esse pessoal das lides jurídicas deveriam estudar a cartilha do “OCA” de nosso amigo, Artur Roman.
ResponderExcluirA propósito, lembro-me da história de um colega do BB, que nos anos 60, gerente de agência no Vale do Jequitinhonha, queria dispensa da função e transferência para BH.
Ao invés de seguir a praxe, da época e fazer um requerimento com duas ou três laudas, ele o fez no padrão do BB, mas nas razões escreveu apenas: “educação da prole.” Foi atendido, com uma rapidez inusual…rsrsrs
José Afonso Queiroz
ResponderExcluirBom Dia,Hayton!
ResponderExcluirÉ sempre bom, gratificante, ler suas maravilhosas Crônicas, coisa que nos faz reviver o passado, os velhos tempos em que nos conhecemos, quando Você era Menor Aprendiz do BB e eu ainda não sonhava em fazer Concurso pra chegar lá!
Um AABBração Fraterno, Grato, Amigo e Saudoso do Fernando Madeiro
Reserva de mercado. Essa é a "função" dos jargões profissionais, seja no direito ou em qualquer outra área. Mas o que os advogados diriam em defesa da importância da linguagem jurídica rebuscada:
ResponderExcluirPrecisão: A clareza e precisão são cruciais no campo do direito, uma vez que até pequenas nuances podem ter grandes implicações legais. O uso de terminologia específica ajuda a evitar ambiguidades.
Tradição: Muitos termos e frases jurídicas têm raízes históricas e são mantidos como parte da tradição legal.
Precedente: A linguagem jurídica muitas vezes se baseia em decisões e precedentes legais anteriores. Portanto, manter uma linguagem consistente ajuda a construir e aplicar a jurisprudência.
Formalidade: A natureza formal dos processos legais exige uma linguagem correspondente. Isso ajuda a manter a seriedade e a autoridade do sistema legal.
Abrangência: O campo do direito cobre uma ampla gama de tópicos, e o uso de terminologia específica facilita a discussão e a interpretação de leis em áreas diversas.
Evitar ambiguidade: A linguagem rebuscada muitas vezes é usada para eliminar ambiguidades, reduzindo assim a margem para interpretações errôneas ou conflitos.
E o que o Jô Soares diria, em artigo em que ironizou o Collor quando chamou o Uliises Guimarães de "bonifrate":
Quedei-me incrédulo ante a conspicuidade que prestaram ao termo "bonifrate", do qual me servi durante acepipes e pitéus deglutidos por ocasião da efeméride no habitáculo do dileto correligionário Onaireves. Por que tamanho pasmo? Acaso seria eu totalmente ignaro do vernáculo? Pensam os que clamam contra mim que só frequento valhacouto de palpalvos onde o xulo é primaz? Triste falácia. Sou douto palrador. Apenas, por vezes, oculto a plêaiade do meu verbo, plectro puro, por natural recato. Deleito-me ao refletir no semblante alvar dos malquistados, se me ouvissem brindar com mais vocábulos a malta platípode que repilo. Assombram-se com o bonifrate, que tal casquilho? Casquilho, sim, tem jetatura. Julga massar-me a chusma abostelada. Recolham-se! Da minha boca jamais ouvirão linguajar de bolicheiro.
Indago, o que mais fácil: praticar choldraboldra em passeatas crepitosas ou cultuar a última flor do lácio inculta e bela? A pureza da lingua é meu colunelo. Bonifrate, disse, e não burlei cânones de escribas. Faz parte de meu colóquio hodierno: como estarola, óbice e bolônio. Perde em estesia a farândula e seu ódio esgueia-se em fina gaivagem. Aos que imaginam que sou galucho, respondo com o galarim do estilo. Apraz-me a condição de turgimão do esdrúxulo. Não galreio com lapuzice a não ser quando quero igualar-me à luna. Pouco caso dos néscios que não percebem o néctar de expressões para mim prezáveis, pois uma pinhoca só não faz parreira. Pimpem, pimpem, aldrabões! Não me aceitam magniloquente, por receio do cortejo. É mister que pletora erudita de uns seja a carência mísera de outros. Nem sei por que abespinhar-me, quando no fundo não passam de biltres, bucéfalos e calaceiros. Reles bufarinheiros.
Quanto a mim, conduzo a veação com rédea firme. Não tremeluz a mão que exerce o oficio. Ao contrário do que dizem os que me asseteiam, sou imune à bajulação dos áulicos. Com o intuito de denegerir-me, os pérfilos enliçadores formam sodalícios, contubérnios, conventículos e corrilhos numa pandilha de telérrimos, salardanas. Aleivosias não desenastrarão alianças e com maranduvas não evitarão minha manutenência soberana. Pensam-na esmadrigada? Há! Há! Desato numa casquinada. Enfim, repito: contra mim, estão os sevandijas, bulhentos, sardanapalescos, pirangas, caramboleros, pecos e bolônios. O mais é dichote.
Basta de cherinóia.
É, Meu Prezado, o futuro parece gris. Precipitam-se cúmulos-nimbus, núncias de trovoadas e tempos incertos, com cristais de gelo perfurocortantes, a rasgar o tecido da segurança e das certezas postas.
ResponderExcluir