Desde o final dos anos 1960, a canção “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, ecoa como um tributo à liberdade em dias de turbulência. "O Sol nas bancas de revistas me enche de alegria e preguiça", cantava-se. Quem diria que, um dia, o astro-rei se esconderia atrás de nuvens digitais, apagando parte das experiências que moldaram nossa cultura.
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Fotografia: Dedé Dwight |
Naquela época, as bancas eram templos vibrantes do saber popular. Folhear uma revista ou jornal se misturava à emoção de ouvir Roberto Carlos, especialmente no Natal. Essas experiências singelas e significativas forjaram a identidade de uma geração. Mas, como o próprio Roberto cantava, “esses detalhes vão sumir na longa estrada do tempo que transforma todo o amor em quase nada”.
Hoje, as bancas sobreviventes, que já foram farmácias da alma, são frequentadas por poucos fãs. A internet, devoradora voraz de papel e tinta, não só desbotou as cores dos quadrinhos, como nos roubou o prazer de cheirar e folhear páginas recém-impressas. A Editora Abril, que um dia foi gigante, fechou suas tiragens como quem apaga as luzes de um salão vazio.
Duas revistas simbólicas que povoaram a nossa imaginação sucumbiram à força dos ventos digitais. “Placar”, que já foi semanal, reduziu-se a edições temáticas sem o mesmo apelo. “Playboy”, cuja versão brasileira começou em 1975, encerrou suas atividades após 40 anos, deixando órfãos desamparados. Até “O Pasquim”, que desafiava o regime militar com irreverência e crítica afiada, hoje não passa de uma memória distante de um jornalismo que já foi ágil e pulsante.
A transformação, porém, não foi apenas física. Onde antes vibravam de cores de gibis até fotonovelas, agora se vendem quinquilharias a granel, de batatinhas a acessórios para celulares. O cheiro de papel e tinta deu lugar ao aroma de frituras. O que um dia alimentou nossa imaginação, agora luta para sobreviver num cenário de plástico e fumaça. Ainda assim, há algo de resiliente no horizonte: um ou outro livro se destaca, resistindo, timidamente, ao apagamento cultural.
Eu, que já fui forçado a abdicar de prazeres que me conectavam a tempos saborosos – caldo de cana, chocolate, chope, doce de leite e rabanada –, aprendi que a verdadeira liberdade consiste em poder saborear lembranças e não só alimentos. E, ironicamente, até hoje ninguém me exigiu moderação no consumo de hortaliças, como se mastigar cebola crua e coentro não fosse uma insuportável penitência.
Agora, estou prestes a perder mais um prazer: devorar essas memórias em pleno Natal, ao som de Roberto Carlos. A TV Globo, que por décadas renovou o contrato do “astro-rei”, considera substituí-lo, como quem troca um disco arranhado por uma playlist de sucessos descartáveis. Fala-se que Fábio Jr. é o nome escolhido. Pode ser que ele tenha carisma, mas, para mim, não é a mesma coisa. A nostalgia não se apaga tão facilmente, mas talvez precise conviver com essas mudanças.
No mês passado, um amigo me mandou um recorte de vídeo de 1975, onde Dorival Caymmi, Roberto Carlos e Silvio Caldas atracam um barquinho numa praia e conversam animadamente. Roberto então pega o violão e, junto com o “Caboclinho”, cantam “Ternura Antiga”, de Dolores Duran e J. Ribamar. Não resisti e comentei sobre o privilégio de termos visto aquilo na TV nos melhores anos de nossas vidas. Mesmo que agora as memórias se revelem em pixels, elas ainda podem nos tocar intensamente.
O especial de Roberto Carlos, celebrando 50 anos de parceria com a Globo, será exibido ao vivo em dezembro, no Maracanã. E o que acontecerá depois? O tempo das bancas, das revistas e até dos shows de Roberto está se apagando lentamente, substituído por algo mais efêmero, menos tangível. Tudo bem, um show de Fábio Jr. pode não ter a mesma aura de antigamente, mas é uma nova página sendo virada.
Que tempos são esses, onde já não podemos nos fartar de lembranças, cheiros e sons que um dia foram o prato cheio de nossa mais genuína felicidade? Já nos roubaram o gosto das bancas, de tantas comidas e bebidas, e agora nos arrancam os últimos acordes de um Natal que, sem a voz do Rei, jamais será o mesmo. No entanto, quem sabe não descobrimos novos prazeres nesses tempos digitais? Talvez até ouçamos, em alguma playlist moderna, a voz de Roberto nos lembrando que “as flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudades de você...”
Vivemos sob a sombra de um tempo que não volta mais, onde as memórias se esvaem como o cheiro das páginas recém-impressas. O Sol que antes iluminava as bancas e nossas vidas agora se esconde atrás de telas frias.
O cinema, as bancas de revistas e as livrarias tradicionais foram esmagadas pelas novidades tecnológicas. A fotografia, retalhos do cenário extraídos pela sensibilidade do fotógrafo, foi trocada pelo fotos de um drone. Caminhos sem volta que em nome de comodidade robotiza tudo. Ficam as lembranças, ratificadas em textos como o que acabamos de ler.
ResponderExcluirExcelentes lembranças, Hayton. As mudanças e transformações dos últimos tempos trazem muita coisa boa e deixam um rastro de saudades.
ResponderExcluirO tempo passa, o tempo voa; nem Bamerindus continuou numa boa. E as mudanças continuam. Todavia as saudades permanecem e devemos criar novos jardins e plantar novas flores, pois
"as flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudades de você"
Vamos que vamos, lembrando Geraldo Vandré: "Caminhando e cantando e seguindo a canção somos todos iguais braços dados ou não..."
Eu, que era um jovem que lia até bula de remédio, tive por muito tempo o sonho de trabalhar numa banca de revistas. Estar ali no meio de tanta leitura seria a verdadeira disneylândia, tanto pela alegria quanto pelo inalcançável da coisa, mas acabava me rendendo à realidade do que eu podia comprar, apenas a Revista Mad,a Placar e o Pasquim.
ResponderExcluirVivendo agora nesse mundo de conteúdos digitais infinitos a gente percebe que Caetano sempre esteve certo, pois "quem lê tanta notícia?"
Dedé Dwight
Imagino que nossos pais e avós também devem ter sentido falta de alguma coisa que marcou sua infância e juventude e mais tarde sumiu ou se transformou drasticamente.
ResponderExcluirCertamente vivemos um tempo de mudanças mais radicais e mais impactantes.
Mas sabe uma coisa que a crônica de hoje me provocou? Foi a menção ao sol!
Pela primeira vez na vida presenciei o astro avermelhado escondido praticamente o dia inteiro atrás de nuvens de fumaça. Deu belas fotos, mas irremediavelmente preocupantes.
Quanto tempo falta pra ele se apresentar sempre assim? O que temos feito com nosso planeta, a única casa certa que temos - pelo menos por enquanto?
Será que os que pensam que discutir mudanças climáticas ainda é coisa só de ecochatos?
E se a gente nunca mais puder ver o sol como antes? E se a gente, além de não poder conhecer o segundo sol, escrito por Nando Reis e cantado por Cássia Eller, também não puder mais ver o primeiro?
ResponderExcluirUma crônica brilhante, soberba, que nos faz questionar o preço do progresso. O autora teceu uma narrativa envolvente, mostrando como as mudanças tecnológicas, embora tragam avanços, também podem gerar perdas significativas. A extinção das tradicionais bancas de revista e a possibilidade de perdermos uma parceria tão importante, como a de Roberto Carlos com a Globo, são sinais claros de que a indústria do entretenimento está cada vez mais voltada para o imediatismo, talvez buscando por novos públicos, esquecendo-se daqueles que construíram sua história. A crônica é um alerta para que não nos deixemos levar pela onda do novo e valorizemos o que de mais autêntico e duradouro a cultura popular nos oferece.
A velocidade das mudanças aumenta a cada minuto. Infinitas descobertas, invenções e novos caminhos a seguir. Mas é preciso olhar o retrovisor e visitar as lembranças para reviver tantas coisas boas que vivemos, mas sem desprezar tantas outras novidades que inundam nosso cotidiano. É como uma gangorra: deleitar-se com as boas lembranças mas também aproveitar as maravilhas dos novos tempos.
ResponderExcluirQuantas lembranças , os festivais, as bancas de revistas, que excelente comentário. Tudo está passando , e sendo substituído pelas frias , sem regras e sem conteúdo, as telas digitais. Enquanto aqui estamos, vamos fazer valer esse tempo de ouro, ouvir Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque,…porque Fábio Jr. ninguém merece. Parabéns pela crônica !!!!
ResponderExcluirAlém das notícias de última hora, na banca tínhamos os gibis, que aguçavam nossa criatividade! Gostava mesmo era da família do Mauricio de Souza: Monica, Chico Bento e Cebolinha!! Sem falar nos álbuns de figurinha…. que Saudade!
ResponderExcluirTalvez há cinquenta anos houvesse alguém refletindo como as coisas eram boas no passado. Talvez daqui a 50 anos alguém refletirá como as coisas eram boas no momento presente, enfim, o que marca é o momento vivido por cada um, mas eu estou em sintonia e com o autor do texto, para nossa geração uma banca de revistas era uma grande paixão.
ResponderExcluirSuas colocações, como sempre, fantásticas! Gosto das bancas de Revistas de antes e das músicas românticas de Roberto, mas, o tempo é implacável. Ainda esta semana eu passava de carro pela frente de uma banca de revistas e lembrava de como eu gostava de folhear e ir escolhendo o que leria depois. Fazer coleção da Mãos de Fada, escolher modelos em Moda Moldes ou Manequim, comprar a Veja até o dia em que ela falou coisas erradas sobre os funcionários do BB, tentando colocar a população contra nossos direitos adquiridos e promovendo campanha pela privatização. Hoje tudo isso são apenas lembranças. Mas o mundo muda e nas voltas que o mundo dá chegamos a novos começos que nos exigem resiliência. Nelza Martins
ResponderExcluirMuita nostalgia amigo, verdade que o progresso tem seu lado bom, mas o preço é alto para quem já foi despejado da casa 7 e está agora na casa 8, na penúltima casa da rua 0, querendo alcançar a última casa 9. Roberto é uma luz, assim como Pelé, que jamais se apagará.
ResponderExcluirExcelente crônica
Abraço
Valdery Pai
Emocionante!! Tantas lembranças!! " São tantas emoções "...
ResponderExcluirAs bancas de revistas e as livrarias eram verdadeiros paraísos para mim, na infância as primeiras (porque na minha pequena cidade não tinha uma livraria) e ambas na juventude, quando comecei a frequentar centros maiores. A "Livro 7" era meu lugar preferido quando morei na capital pernambucana e sempre que ali retornava tempos depois.
ResponderExcluirInfelizmente, como tão bem descrito pelo autor, pouco a pouco temos que nos acostumar em apenas reviver na memória, algo que um dia foi tão tangível e significativo para nós. Fnac, Cultura, Travessa, Nobel, Saraiva, entre outros, são exemplos de lugares que agora moram em nossas recordações.
Coincidentemente, estou lendo atualmente o romance "A polícia da memória ", da autora japonesa Yoko Ogawa, que narra a história de uma ilha vigiada por uma "polícia secreta" que busca e elimina vestígios de lembranças e onde uma escritora tenta manter intactos resquícios de histórias.
Como Roberto já cantarolou tempos atrás que "as jovens tardes de domingo foram velhos tempos, belos dias", resta, portanto, para nós, seguirmos em frente, socializando esses tempos mágicos que tivemos oportunidade de vivenciarmos.
"...O que foi felicidade, nós mata agora de saudade. Velhos tempos...belos dias". Uma lágrima caiu aqui no celular.
ResponderExcluirTambém sinto falta dos jornais e revistas impressos. No caminho para o BB, logo já na calçada da agência centro do BB em BH, havia uma banca antiga... O dono até tinha amizade conosco da agência. Eu comprava lá, jornais, revistas, figurinhas... Pena que tudo passou. Comprei um Kindle.... E confesso... não me acostumo a ler livros no kindle... sinto falta do cheiro do papel, de folhear o livro, de marcar as páginas... de adormecer com o livro ao colo....
ResponderExcluirÉ só nostalgia ,HAYTON . SAUDADES !!Lena .❤️
ResponderExcluirNossa bolha geracional é muito boa, veja só essas lembranças! Sábado era dia de ir à banca e comprar todos os jornalões, Pasquim e revistas e alimentar a alma, e o corpo com uma feijoada regada a cerveja.
ResponderExcluirSeguimos nos adaptando ao tempo!
Abração,
Gradim.
Amei a crônica, mas me deixou nostálgica. É duro cair na realidade - perversa -
ExcluirNo início da década de 1970, quando meu Pai trabalhava no Banco da Bahia em Irecê, eu ficava em uma "banca de revistas", trabalhando sem nada receber, somente pelo prazer da leitura. Lia mais revistas em quadrinhos, já que em casa tinha O Cruzeiro, Realidade, Manchete e Seleções Reader's Digest. Que o sol ilumine as mentes para que a cultura e a leitura sejam incentivadas. Como entender que na Finlândia a quantidade de bibliotecas supera em muito o Brasil?
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ResponderExcluirPensemos: se, naquele fim dos anos 1960, Caetano perguntava “quem lê tanta notícia?” (num tempo em que só tínhamos jornal para ler notícia), imagine hoje com 9.999 “fontes de informações”…
Ó tempos!
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Um detalhe legal da letra: Caetano deixou uma ambiguidade proposital ao falar do “Sol”. Que se refere ao astro-rei, mas também a um jornal que tinha o nome de Sol (e a então namorada dele trabalhava lá). Ele é mestre na ambiguidade proposital.
Não sabia desta particularidade, Marcelo! Fui pesquisar e descobri que, realmente, O Sol foi um jornal carioca que circulou entre setembro de 1967 e janeiro de 1968. Surgiu como um suplemento cultural do Jornal dos Sports, e dois meses depois, passou a circular de forma independente. Reunia na sua redação cerca de 30 jovens formados nas faculdades de jornalismo, uma novidade no Brasil da época.
ExcluirCom uma linguagem inovadora, influenciada pelo movimento da contracultura, influenciou diversos veículos da mídia alternativa que surgiram nos anos seguintes, como O Pasquim.
Bom dia! Pois é, meu amigo, nós seres analógicos perdemos na velocidade digital nossas referências e memórias! Como diria o pessoal do Clube da Esquina, só nos resta viver... sol de primavera! Abraço
ResponderExcluirAinda sou assinante de jornal local, a Gazeta de Alagoas, digital e em papel, nos finais de semana.
ResponderExcluirLevei um susto, outro dia, ao receber visita e o "leitor" visitante indagar:
- Ainda existe jornal desse jeito? Ainda tem quem leia isso?
Só faltou me chamar de jurássico.
Sem querer entrar no mérito do gosto, pois cada um tem o seu, com toda desgraça, é melhor a substituição de Roberto Carlos por Fábio Jr, do que por um Pablo Vitar qualquer.
Não te preocupes. Este ano, quem sabe, Fábio Jr. Nos próximos, é bom não duvidar, algumas Pablos.
ExcluirParabéns Hayton! Você nos remete a tempos maravilhosos, quantas saudades… Ir na banca de revista, folhear, sentir o cheiro(como adoro o cheiro de livros e revistas), escolher qual levar, pois nem sempre o “dindin” dava pra levar tudo que a gente queria. Sem contar que não adiantava essa agonia de querer a próxima edição, pois tínhamos que esperar mesmo, e quando voltávamos, seja na semana seguinte, mês seguinte, não importava, tava lá nossa revista nos esperando (apesar de que muitas vezes se não tivéssemos uma amizade com o jornaleiro, ficávamos sem aquele exemplar! Sei que as mudanças fazem parte de nossas vidas, mas que deixam saudades, isso deixam…
ResponderExcluirPois é amigo, a realidade da própria vida em que como semente é preciso morrer para reflorir, assim é a existência.
ResponderExcluirMe impreciona hoje a pobreza das músicas, a descaracterização do ambiente lúdico que eram as bancas de revistas, hoje apropriadas em grandes livrarias frias e quase inacessíveis aos populares.
Viagemos ao futuro explorando o que a I.A. produzirá...
Disse tudo. Parabéns!
ResponderExcluirComo dizia um amigo, depois que inventaram a debulhadeira de milho, eu não duvido de mais nada... inventaram a Internet. Aí tudo foi pro beleléu. A velocidade tomou conta de tudo, até do romantismo de antigamente. Que pena. Comportamentos jamais serão iguais. O nosso mundo de antigamente já parece invenção nossa para os jovens. Perdemos tudo.
ResponderExcluirVivemos um tempo de empacotar fumaça. As décadas de 70 e 80 foram maravilhosas para as artes. Os anos de chumbo pareciam nos impulsionar para além das imaginações musicais e da arte de uma forma geral. Cresci ouvindo Gonzagão num serviço de auto falante à voz da cidade, localizado num poste bem em frente à minha casa. A qualidade musical era tão boa, que isso serviu para a minha formação ao longo da vida. Nos anos 80 lançaram o Rock Rio. Freddy Mercury, Ney Matogrosso, AC/DC, Gilberto Gil, Rod Stewart e tantas outros astros que marcaram gerações. Hoje, o Rock Rio é um festivalzinho de quinta onde cachorro rosna, tentando morder o próprio rabo. Que tristeza amigo. Um dia fomos felizes. Gilton Della Cella.
ResponderExcluirNo caldo cultural de hoje, temos que saber procurar aquilo que nos apetece e estar abertos a saborear novidades.
ResponderExcluirAlguém falou da Pablo Vittar. Confesso que tenho dificuldade de gostar daquele estilo musical, mas admiro a coragem dela e a competência de ocupar seu espaço e ser a voz de muitos oprimidos por um mundo conservador e preconceituoso. Leia-se pretos, pobres e diversos.
Como já disse Belchior, "o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo, e precisamos, TODOS, rejuvenescer "
“A verdadeira liberdade consiste em poder saborear lembranças” (Hayton Rocha). Acabo de ler sua crônica “O sol sai da cena” de um fôlego só, dolorido, apertando um coração sofrido. Meus médicos não cansam de ameaçar que não posso ter grandes emoções. Como não ter grandes emoções se o seu texto de hoje é pura ternura, emoção misturada com melancolia, ansiedade misturada com tristeza, resiliência derrotada pela desilusão! Enquanto tento dar a palavra à minha solidariedade ao que nunca pode ser solidário, como a dor da perda do amor eterno, sinto a violência da realização de que o que passou passou. Talvez a ilusão de que o passado não existe não passe da constatação de que, em realidade, o passado, este sim, existe, porque não depende de matéria, nem de tempo, nem de espaço para sua misteriosa e sublime materialização. Que crônica extraordinária, meu querido amigo. Você já pode passear pelos jardins suspensos da genialidade criativa brasileira por onde tateiam as mentes mais privilegiadas do nosso País. Crônica ma-ra-vi-lho-sa! Parabéns.
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ResponderExcluirA crônica desta quarta-feira despertou lembranças muito especiais. Na década de 60, em Santo Antônio de Jesus, a dona da banca de jornais da esquina (curiosamente, muitas bancas ficavam em esquinas!) falava: "seu Abbehusen, olha aqui o seu Pasquim!" Duas décadas depois, em Salvador, Ceará - o "cara" era cearense - me gritava enquanto eu passava: baiano, chegou a sua revista (ele guardava pra mim os exemplares da Manchete). Tempos bons!
Destaco hoje, do seu texto: "...como quem apaga as luzes de um salão vazio."
Que beleza. Tenho lembrança boa das bancas de revista e aqueles gibis maravilhosos que colecionávamos
ResponderExcluirObrigado, Hayton..
Memórias afetivas. Revista Playboy? Rsrsrs
ResponderExcluirSou saudosista e a crônica de hoje buliu mais ainda comigo porque as bancas de revistas ocupam um lugar muito especial na minha coletânea de memórias afetivas.
ResponderExcluirPelos comentários, muitos sentem essa mesma saudade em relação às “mini-livrarias”. Que sensação boa aquelas aquisições. Desejar que as horas voassem para chegar em casa e ler tudo - devagar, para não acabar logo.
Outro dia, vi a seguinte frase, de um escritor inglês: “ Se as coisas não parecem ser tão boas hoje quanto foram um dia, elas também não eram tão boas então quanto agora parecem ter sido”.
(C. H. Sisson). Ela me fez pensar, como boa saudosista que sou. Será que não foram realmente tão boas assim?
Lembranças impagáveis!
ResponderExcluirNão tenho a graça de me filiar à legião de fãs do RC, mas sou órfão do Pasquim e da Placar.
Também sinto um ar de decadência ao entrar numa “banca de revista” hoje.
As mudanças ocorrem a "galope". Mal aprendemos a digitar textos no celular e já se fala em inteligência artificial que resolve "tudo". Nessa esteira temos tantas inovações que nada nos surpreende. Quando começou a se falar de impressoras "3D", as pessoas imaginavam algo impresso no papel e, hoje, constroem-se casas, órteses, próteses e, possivelmente, daqui a pouco tempo, veículos... Vários profissionais terão que rever seus conhecimentos e sua experiência prática, pois logo, muitos terão suas profissões extintas e substituídas pelas máquinas. Acredito que os escritores, os poetas e os músicos bons, sempre terão lugar para encantar a alma das pessoas...
ResponderExcluirSua crônica, me fez lembrar de um caso de uma certa pessoa que comprou uma revista playboy para ler uma entrevista, e quando procurou a danada da revista só encontrou a tal entrevista, o resto tinha ido para o lixo, rsrs
ResponderExcluirTambém faço parte dos fãs(como se dizia nos tempos idos) de R.Carlos e das bancas de revistas. No entanto, como o tempo não para, aderi a leitura digital : comprei um Kindle por sugestão do meu filho. Para minha própria surpresa, hoje prefiro os e-books aos livros físicos.
ResponderExcluirPrezado Amigo Cronista Hayton
ResponderExcluirKenneth Goldsmith é um poeta e crítico americano, professor na Universidade da Pensilvânia. Divulgador e praticante do conceito literário de “escrita não criativa”, o polêmico escritor diz que já existe muita coisa escrita no mundo.
Prega Goldsmith que devemos parar de “criar” novos textos e aproveitar o amplo e magnífico acervo de textos já escritos acumulados pela humanidade, e reconstruí-los de outra forma e em outro gênero.
A partir dessa provocação, construí um “poema não criativo” escolhendo frases desta sua crônica deliciosa.
TEMP(L)OS VIBRANTES
"As bancas sobreviventes, que já foram farmácias da alma
O cheiro de papel e tinta deu lugar ao aroma de frituras
O que um dia alimentou nossa imaginação, agora luta para sobreviver
Num cenário de plástico e fumaça
O Sol que antes iluminava as bancas e nossas vidas
Agora se esconde atrás de telas frias."
Só você mesmo, meu genial Artur Roman, para criar algo tão bonito em cima de um texto simples, como deve ser toda crônica.
ExcluirA singularidade que faz essa crônica me tocar tanto é que sou, decididamente, um ser analógico.
ResponderExcluirAté sei utilizar o mundo digital, afinal não há mais possibilidade de sobrevivência sem acessá-lo, mas recuso-me sistematicamente a evoluir em seu aprendizado.
Assim, busco sempre algo em papel pra matar minha saudade.
Vou fazer um pequeno "atalho" aqui pra registrar minha surpresa e alegria - gargalhei gostosamente - com o comentário de nossa querida amiga Perpétua. Dá pra imaginar o personagem a quem ela se refere...
A respeito da revelação de Perpétua, é o que sempre digo: Deus me poupe das figuras amigas que das inimigas me livro eu! 😅
ExcluirCaro Hayton, além de uma qualidade ímpar, sua crônica nos traz uma reflexão bastante profunda sobre para aonde vamos, sem saudosismo, simplesmente, mas com o compromisso de construirmos algo de bom em busca da melhoria do mundo. Evidente de nossas vidas, antes de virar a página. Vamos que vamooooos.
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