FÓSSEIS DO PRESENTE
Hayton Rocha
Fiquei pensativo, outro dia, com a notícia de que fotos, moedas e um exemplar amarelado de A Tribuna de Santos foram encontrados dentro de uma cápsula do tempo, enterrada em 1921 no quartel de Quitaúna, em Osasco. Um presente do passado para o futuro, lacrado diante de presidentes, marechais e engenheiros militares. Cento e quatro anos depois, um capitão de 33 anos abriu a caixa e encontrou, além do cheiro de mofo, a sensação de folhear a alma de um país que ainda engatinhava no século XX.
Imagino o susto das autoridades de 1921 se pudessem bisbilhotar 2025: caixas de supermercado sem humanos, carros que andam sozinhos, gente pedindo comida com um clique no celular e, mesmo assim, brigando nas redes sociais para provar quem é mais patriota. Aposto que voltariam correndo para carruagens puxadas a cavalo, cuidando dos bolsos para não perder as moedas de réis.
A cápsula trazia jornais noticiando a Primeira Guerra, tumultos na Câmara, crises em Portugal e a visita de um ministro da Guerra a Santos. Um século depois, só mudaram nomes, bigodes e trajes: seguimos colecionando crises e guerras, com a pontualidade das queimadas no Cerrado.
Então me pego especulando: o que eu deixaria para ser encontrado daqui a 104 anos?
Talvez um pendrive — só para arrancar gargalhadas de quem, em 2129, já terá hologramas na retina. Ou uma carteira de couro, para que arqueólogos do futuro se perguntem por que precisávamos de plástico com chip para pagar o cafezinho. Ou um controle remoto, esse fóssil de sofá, lembrança de um tempo em que a humanidade travava batalhas épicas contra almofadas em busca de outro pedaço de plástico com pilhas.
Quem sabe uma barra de chocolate? Mas aí seria crueldade: se os especialistas de hoje estiverem certos, em 2030 já teremos entrado na era da escassez de cacau. Imagino a cena: um tataraneto guloso abrindo o embrulho e se perguntando se aquele pó marrom era doce ou apenas mais uma pegadinha dos antepassados.
Enquanto um descendente lambe o papel vazio, outros herdarão o silêncio da caligrafia — essa que já foi arte de freiras com palmatórias e de contadores nos livros-caixa, hoje sobrevive em convites de casamento. As chaves metálicas, que tilintavam como sinos de liberdade, deram lugar a digitais e senhas. Senhas que também caminham para a extinção, substituídas por olhos e rostos escaneados.
E os shoppings? Esses santuários do consumo logo virarão policlínicas, escritórios de coworking e playgrounds para idosos. O caixa de fast-food, antes malabarista de bandeja e troco, já foi trocado por telas de toque que nunca oferecem o brinde de um sorriso.
Até a embreagem, madrasta dos motoristas iniciantes que fazia o carro se engasgar na ladeira, entrou em contagem regressiva. Veículos automáticos prometem enterrar de vez a marcha manual — e, com ela, a desculpa de que o carro “morreu” justamente na hora de levar a namorada para casa às dez da noite.
Talvez eu devesse enterrar também um caderno com recortes de discussões nas redes sociais: gente batendo boca como no recreio da escola, cada um convencido de que a bola de verdade é a sua. Material perfeito para que historiadores concluam que a Terceira Guerra Mundial não aconteceu por falta de munição, mas por excesso de verborragia e falta de respeito à opinião alheia.
Deixaria ainda um celular com 1234 aplicativos inúteis, para que em 2129 descubram que já fomos escravos de alarmes e notificações — e que até para beber água era preciso um deles nos avisar.
Ou uma máscara de pano, daquelas de 2020, prova de que já vivemos tempos em que um vírus obrigou bilhões a se esconder atrás de um pedaço de tecido — enquanto muitos juravam que o fim da farra estava próximo.
No fundo, qualquer cápsula do tempo é uma confissão: a de que somos frágeis, passageiros, mas teimosos em deixar marcas. Uma foto esmaecida, uma cédula de vinte reais, uma manchete sobre a perda, na mesma semana, do traço de Jaguar e da pena de Luis Fernando Verissimo — tudo serve para gritar ao futuro: “estivemos aqui!”.
E talvez seja isso o que mais inquieta. Não importa se deixaremos uma máscara ou uma barra de chocolate: o que atravessa séculos não é o objeto, mas a mania de querer ser lembrado. Mania tão humana quanto inútil — já que a vida, essa gozadora incorrigível, passa os séculos apagando, com prazer, as nossas pegadas.
Precisa e reflexiva a crônica dessa quarta. O que gostaríamos de deixar em uma cápsula do tempo, para ser aberta em pouco mais de um século?
ResponderExcluirDiante da desumanidade em que se encontra a humanidade, certamente haveria na cápsula milhares de pedidos de "socorro", obviamente em vão, mas como uma forma de desabafo final.
Embora tenhamos a sensação que o tempo hoje em dia passe mais rápido que outrora, também somos tomados pela desesperança de que o amanhã está cada vez mais comprometido com as cinzas da inexistência humana nesse planeta.
Torçamos para que as poucas carruagens da esperança não percam o encanto e voltem a ser abóboras.
Talvez tudo que pusermos não tenha o significado que imaginamos. Irá depender muito de quem abrir a cápsula. Em 100 anos, com a atual evolução da tecnologia, nem saberão o que cada coisa significa. Afinal, quisemos abrirá a cápsula ainda não é nem projeto de gente. Mas seria muito divertido poder presenciar.
ResponderExcluirExcesso de verborragia e falta de respeito à opinião alheia. Talvez, esses sejam os defeitos que nos identificarão no futuro. Sim, e talvez sejam eles a desencadear a guerra que estará noticiada no jornal da próxima cápsula do tempo.
ResponderExcluirEu deixaria uma estrofe/De cunho emocional/Outra citando as belezas/Que que hsvia no Pantanal/E a terceira falando/Do meu Sertão sem igual.
ResponderExcluirBom dia Caríssimo Parahyba 🤝.
ResponderExcluirDifícil de dizer o que esconderia n’uma cápsula do tempo.
Talvez deixasse um vidrinho muito pequeno, com tampa hermeticamente lacrada, contendo uma dúzia de lágrimas de saudade do extraordinário tempo em que vivi.
Fraterno amplexo 🫶
Quem sabe uma crônica do Hayton, como prova de que algum rastro de inteligência existia em 2025.
ResponderExcluirQue beleza de crônica, onde passado, presente e futuro se embaralham com os avanços da tecnologia e da humanidade.
ResponderExcluirDe forma poetica e cheia de humor nos brinda com uma profunda reflexão sobre o Dr Tempo.
Simbora, viajar na capsul3do Tempo deixando nosso legado, pois como você disse, nobre Hayton: "*No fundo, qualquer cápsula do tempo é uma confissão: a de que somos frágeis, passageiros, mas teimosos em deixar marcas."*, então vamos curtir a vida e ser feliz pois o Dr Tempo não volta mais.
Que texto sensacional sobre a brevidade humana, que precisa deixar seus legados. Cuja cultura é o maior dele. Registros, rabiscos, um canteiro, uma caneca de um encontro da turma, ou ums simples camiseta, daquela que nos apaixonamos por ela, falam sobre deixar pedaços de nós nas veredas do tempo.
ResponderExcluirCerto é que, daqui a 104 anos, não vão acreditar no que se passou nestes nossos tempos.
ResponderExcluirBoa Hayton! Uma ótima provocação, justo na semana em que vi uma reflexão da Denise Fraga sobre a “urgência de viver” que vem quando pensamos seriamente que a morte é inevitável.
ResponderExcluirPra não ficar sem uma resposta, eu deixaria uma foto de uma reunião de família com várias pessoas na sala, cada uma navegando nas suas redes digitais.
Fico na dúvida se uma foto em papel ou digital num pen drive.
Pensei em deixar uma placa contendo os Dez Mandamentos, mas fiquei imaginando a dificuldade que seria para decifra-la.
ResponderExcluirPelo andar da carruagem, já que em nosso tempo existe mais preocupação em acumular riquezas do que com os semelhantes e a natureza, deixaria um exemplar da Bíblia e sementes do bem. Se continuar tudo errado, os do futuro terão como replantar uma nova esperança para um mundo melhor.
ResponderExcluirE quem estará lá, daqui a 104 anos, para lembrar quem foram os 10 caras mais ricos do mundo, aqueles da lista da Forbes, e que sempre estão querendo ser o primeiro da tal lista, à qualquer custo e quaisquer sacrifícios. Os sacrifícios dos outros, por óbvio.
Excluir.
Serão lembrados, penso eu, aqueles que se destacaram pelo que foram e não pelo que tinham ou acumularam.
Haverá quem abra essa cápsula, daqui a 104 anos?
ResponderExcluirBela crônica, parabéns!
Caríssimo Hayton.
ResponderExcluirEstá crônica é um exercício de inteligência que usa a cápsula do tempo como gancho perfeito.
Você foi muito feliz ao mostrar que a evolução tecnológica (carros autônomos, celular) apenas mascara a estagnação moral humana.
A crítica mais lúcida é a de que a gente continua brigando por nada, como se a internet fosse só um palco maior para a nossa verborragia e falta de respeito.
A lista de objetos a serem enterrados — do controle remoto (fóssil de sofá) à embreagem — é um humor ácido sobre a nossa dependência descartável.
Sensacional tratar a cápsula do tempo como um ato de vaidade humana, a nossa teimosia em gritar "estivemos aqui!" . Todavia, de forma sóbria e fatalista, você conclui que a Vida é quem tem o prazer de apagar todas as nossas pegadas.
Seu texto é uma crítica elegante e cética à nossa mania de querer ser lembrado.
Izaias Araujo
Batidas na porta da frente. É o tempo...
ResponderExcluirEu colocaria uma letra de uma canção de Milton Nascimento, para que vissem o que existia além do sertanejo universitário
ResponderExcluirQuando tudo estiver na nuvem, eu também já estarei lá, encapsulado na eternidade.
ResponderExcluirQue crônica instigante, Hayton. Talvez o verdadeiro legado não esteja apenas em informar a vida de hoje, mas em semear o que poderá florescer amanhã.
ResponderExcluirSe fosse possível guardar na cápsula o perdão, a compreensão, a tolerância, o amor ou até mesmo um abraço...
Quem sabe assim poderíamos mudar a essência do viver e essas " sementes " com poder transformador, floresceriam em memórias permanentes
Pensei que deixaria um livro. Os arqueólogos e cientistas da época ficariam intrigados sobre aquele objeto e tentariam decifrar como hoje tentam decifrar hieróglifos. Afinal, o que é e para que serve essas folhas de papel “que tem muita letra”? Se hoje já tem gente que nem se dá ao trabalho de investigar e passam longe de um livro, o que será daqui a 104 anos?
ResponderExcluirExcelente crônica para uma reflexão sobre a finitude e a transitoriedade de tudo
ResponderExcluirQue viagem no tempo, olhando para o retrovisor, imaginando o futuro. Lembrei da música de Toquinho, "o futuro é uma aeronave que não podemos pilotar". As mudanças, estas sim, serão constantes em nossas vidas. E o que deixar de legado?, como quero ser lembrado.....?
ResponderExcluirVamos que vamooooos
Bela e inquietante reflexão sobre a máquina do tempo. Eu já fico assustado, e com medo, só de pensar em o que vem por aí “pra semana”, cê imagina “par’o ano” ou “par’o mês” — ou, cem vezes pior, “par’o século”. Qualquer coisa que se deixar na tal cápsula do tempo — uma carta, um livro, um comprimido de Viagra, um penico ou um “aifone” — será uma assombração. Vai, Curíntia! 🥸😜
ResponderExcluirO cronista, como quem não quer nada, nos desafia a pensar sobre do que temos saudades e no tipo de saudades que gostaríamos de deixar.
ResponderExcluirNa reflexão, percebemos que coisas inúteis vão desaparecendo. Mas que, ao jogar fora a água suja da bacia, também corremos o risco de descartar a essência do que nos fez feliz. Ou poderia ter feito, se não estivéssemos tão distraídos.
Hoje, hoje mesmo, eu colocaria na cápsula doses de vodka sem metanol !
Colocaria a inteligência de Hayton dentro da cápsula. Para saber que existe um Homem integro nesta terra que Deus criou.
ResponderExcluirÉ parece que cada um quer deixar sua ‘marca’ para a Posteridade.
ExcluirHá um século o tempo trotava, hoje dispara e no futuro vai voar. Só nós que seguimos tropeçando, tentando acompanhar com a desculpa do relógio atrasado.
ResponderExcluirHayton Jurema da Rocha
ResponderExcluirFez a boa previsão
Botou na cápsula do tempo
Material de montão
Para que em breve futuro
Não fique tudo escuro
Para a nova geração.
Acho que nada do que poderíamos deixar faria muito sucesso no futuro.
ResponderExcluirTalvez o mais eficiente fosse esconder o material e mostrar o intangível, não como exemplo, mas alerta.
A questão está justamente nesse desejo de cada um querer "deixar sua marca"... Na velocidade em que tempo e os inventos avançam, qualquer objeto que hoje está "bombando" modernidade, pouco significará daqui a um século. Talvez, um diálogo escrito, no WhatsApp, fosse mais interessante para mostrar como nos comunicamos hoje, incluindo as abreviaturas costumeiras para não escrever muito... É possível que até lá tenhamos "códigos universais" que permitirão o entendimento em qualquer idioma... Ou, quem sabe, deixar uma amostra do ar que respiramos hoje ou da água, ainda disponível em abundância...
ResponderExcluirHoje vc me deixou pensativa. O que eu gostaria de deixar numa cápsula do tempo? Vou descobrir algo.
ResponderExcluirNa luta contra a finitude, em um passado remoto, os humanos construíam pirâmides, faziam sarcófagos. Depois, construíram palácios e monumentos para eternizarem suas memórias. As cápsulas do tempo requerem menos recursos e são úteis para os historiadores, são mais condizentes com a sustentabilidade tão propagada em nossos tempos.
ResponderExcluirA crônica é uma verdadeira arqueologia antecipada: ela transforma objetos banais de hoje em fósseis do amanhã, com aquele humor que, ao mesmo tempo, diverte e cutuca.
ResponderExcluirSe eu fosse colaborar com essa cápsula do tempo, acho que colocaria cinco itens:
Um carregador de celular com fio — só para provocar risadas no futuro, quando talvez a energia elétrica seja gerada, a partir da luz solar, em minúsculas placas espalhadas por todos os lugares e objetos. Sua transmissão sendo feita pelo ar, sem necessidade de grandes investimentos, e a armazenagem podendo ser feita em nanobaterias num prédio inteiro ou, até mesmo, num relógio. E este relógio sendo e fazendo tudo. Até marcando as horas.
Um boleto bancário impresso — para que arqueólogos do século XXII tentem decifrar o enigma de como sobrevivíamos a vencimentos no dia 5 e juros no dia 6. Mais difícil que o enigma da esfinge.
Um saquinho de salgadinho industrializado — não pelo alimento em si, mas pelo exagero de ar dentro dele, lembrança dos mestres em vender "vazio" disfarçado de produto.
Um vidrinho desses de "água milagrosa" — não para promoverem curas das novas doenças, que provavelmente surgirão, mas para mostrar como se vendiam ilusões em forma de fé.
Um "santinho" impresso de propaganda política — para demonstrar como era possível transformar pessoas comuns em inatingíveis "idolos de pés de barro" e, até, para que eles tentem evitar os mesmos erros. Sei que é utopia. Mas, vai que dá certo...
Mais do que relíquias, seriam testemunhos de uma época em que sofríamos e até sorríamos, mas sabíamos improvisar soluções tortas para problemas novos.
Afinal, a cápsula é menos sobre objetos e mais sobre a vontade teimosa de sussurrar ao futuro: “olha, de um jeito certo ou errado, nós já passamos por aqui”.
Fica cada vez mais difícil, principalmente pra um desilustrado como eu, opinar, emitir crítica a textos tão ricos e até surpreendentes como são os seus.
ResponderExcluirHoje prefiro me louvar em um comentário de um anônimo aí acima - sim, ele foi feliz.
Então, quem tentar fazer um resumo das coisas marcantes de nosso tempo, em um cápsula, dela deveria constar, sem dúvida, essa crônica.
E mais, pra estupefar nossos "descendentes" - as aspas são necessárias - precisaria constar ali que o cronista não foi um profissional, passou a fazer isso por diletantismo, após décadas brilhando como executivo de empresa.
Com certeza provocará reflexão pelos viventes de então.
O texto abre a perspectiva para uma reflexão profunda sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade, a partir da descoberta de uma cápsula enterrada há mais de um século. Parabéns ao autor e aos leitores que estão elaborando verdadeiros tratados sob a forma de comentários.
ResponderExcluirQuerido Hayton,
ResponderExcluirEsta sua crônica me pegou desprevenida e, num alvoroço, me fez pensar em tantas coisas para deixar , mas, como sempre, me fez refletir e, no final, num surto de lucidez, me veio a pergunta: Será necessário deixar coisas para ser lembrado? É algo tão presunçoso. Quem se lembrará de nós, senão aqueles a quem deixamos um pouco de nós, naquilo a que chamamos de legado?
Descobri, há menos de uma década, uma árvore genealógica da minha família materna, com uma linhagem de quase 5 séculos, iniciada por uma portuguesa chamada Branca Dias (aquela que inspirou a personagem de Dias Gomes, no Santo Inquérito). Judeus sefarditas originários da península ibérica que se instalaram no Cariri cearense. Como fui criada muito próxima da minha avó materna, falecida em 1993, conhecia um pouco da história daqueles que viveram na década de 20, numa vila chamada Campos de Canindé. Em 2019, quase cem anos depois, tomei conhecimento de parte desta minha família que ainda por lá vivia. Em 2023 fui conhecê-los e gostei tanto que retornei agora em 2025.
Foi como desenterrar essa cápsula do tempo, porque era um resgate das minhas raízes. Um tipo de reconexão com a minha tão saudosa e importante avó. Eu me sentia como a honrar um passado que me deu a vida, minha origem e que me fez eu.
Foi uma experiência espetacular, desfrutei da festa de São Roque, quando todos os descendentes vivos daquele povo se deslocam de todos os cantos para lá . Eu era um elo perdido daquele povo, uma gente que eu nunca tinha visto antes, mas que me recebia com acolhimento familiar. Me senti pertencente e abraçada por minha avó através deles.
Portanto, acho que eu não enterraria nada material numa cápsula, porque essa coisa se estraga e se transforma em outra coisa que não honra o que já foi. O tempo escancara o quanto perecível é a matéria.
Meu bisavô era um celeiro famoso no início do século 20, guardar enterrado um dos seus artefatos, como uma cela ou um gibão, não seria suficiente para resgatar sua memória, mas as histórias que ouvi sobre ele, aí sim, me encheram de alegria e de saudade por alguém que nem tive o prazer de conhecer.
Por tudo isso, considero a escrita, a contação de histórias, a música, as artes como fazem os griôs africanos responsáveis por preservar e transmitir a memória, os costumes, os mitos e as genealogias de seu povo através da tradição oral e, se possível registrada, a melhor forma de honrar o passado,
O afeto, o amor, o cuidar, os valores é o que de melhor podemos deixar de nós.
Arre égua, seu Hayton! Não sei o porquê de ter demorado tanto de ler esta crônica exemplar! Não sei mesmo rsrsrs; talvez os afazeres me tenham proporcionado esta indelicadeza com vamicê, como falam meus irmãos sertanejos da Natuba dos Kiriris, com quem proseio sempre e, por fidelidade, guardo a tradição linguística do lugar, afinal de lá brotei nesse mundo de meu Deus.
ResponderExcluirNão escondo, nada me ocorre, de mais sério, que possa mandar para o século XXIII. Mas, tomando a brincadeira, num sábado como este em que celebramos São Francisco de Assis e pedindo a Ele socorro para nos proteger do momento que estamos a experimentar, arriscaria embrulhar um CD do grande ídolo Manoel Gomes, unicamente com a sua extraordinária música Caneta Azul. Tenho, por certo, que nossos descendentes hão de saber a que estiveram submetidos nossos pobres ouvidos, ou, quem sabe, fazer com que ela seja a parada dos sucessos nos streamings lá existentes.
Voltando à normalidade, parabenizo sua crônica e chamo à reflexão todos seus leitores, e, de lambuza, o mundo inteiro.[quanta pretensão a minha, mas factível, convenhamos]
Oremos a São Francisco
tonhodopaiaia.org
Uma cápsula do tempo aberta daqui a 100 anos não encontrará nada de novo além do ferramental, claro. A exemplo dessa cápsula aí, vai ter guerra, crise em algum país, briga por interesses no congresso e o trajeto da visita de algum ridículo tirano à peble.
ResponderExcluirCorrigindo: "plebe"
ResponderExcluirFico satisfeito em saber que ainda permaneço em cima da terra e debaixo do sol. O mundo esquisito em que vivemos com seres clamando por ETs e rezando para pneus deveria ser documentado para o futuro, a fim de mostrar aos viventes do porvir, que a partir de 2018, as portas do hospício chamado Brasil foram abertas e que nem precisa guardar lembranças desse momento numa cápsula do tempo, pois as evidências do sanatório geral estão presentes no convívio em nossas casas e nos ambientes de trabalho. Que Deus nos proteja desse futuro obscuro.
ResponderExcluirTexto maravilhoso, Hayton. Parabéns!
Marco Aurélio, 121 d.C, já afirmava: "Tantos que eram heróis, e os que os enterraram, não existem mais. Tudo é igual que já não se tenha visto "
ResponderExcluirAcho que seria interessante colocar esta crônica na cápsula do tempo.
ResponderExcluirCrônica intrigante. Esse assunto chamado tempo me desafia fortemente. Penso que esses objetos que diziam do que fomos em 1921, quando comparados com o que somos hoje, nos causa uma certa inveja gostosa. Bem diferente do que seria o cenário ao inverso. Esse mesmo, porém novo mundo tem uma rapidez tamanha, que torna-se um obstáculo quase intransponível deixarmos uma "cápsula do tempo" para daqui a cem anos. Teríamos que enterrar uma - ou duas - a cada dia. Nossa memória está ficando mesmo "sem memória", com o perdão do trocadilho.
ResponderExcluirQuando for a nossa vez de partirmos para outra dimensão, é certo que muitos irão lembrar por algum tempo, da nossa estadia por aqui, e, depois de mais algum tempo - esse mesmo. O tempo - não seremos mais nem um retrato na parede. Nessa "cápsula do tempo" é melhor deixarmos o rastro de nossas atitudes, exemplos, amores e dissabores.
Esse assunto é bastante intrigante.
Bela Crônica.
Abração!!!
Mário Nelson.