Cobrando a conta
Morto de cansaço e fome, Vieira chegava em casa para o jantar quando seu filho lhe entregou um envelope com cara de quem cumpria uma missão importante: “Pai, a tia me pediu para entregar na sua mão. Quer que eu leve uma resposta até sexta-feira”. Era a cobrança de mensalidades escolares em atraso, em tom de ameaça, assinado pela diretora e pela tesoureira da escola. Vieira leu, engoliu seco e perdeu o apetite. Atrasaria qualquer conta a pagar — prestação do imóvel, do carro etc. —, menos a que pudesse causar constrangimento ao filho. Pior: não havia atraso algum. A transferência entre bancos via doc (documento de ordem de crédito) tinha sido criada no começo dos anos 80. Ele gostou da inovação e assim que recebia seus salários, transferia para a conta da escola o valor da fatura. Com o tempo escasso e dividido entre faculdade e trabalho, era a alternativa encontrada para não ter que se deslocar todo mês à secretaria do colégio. Vieira poderia ter sido mais eleg