Roteiro de viagem
Existem cartilhas e cartilhas. Umas surgem nos primeiros anos de nossas vidas, a revelar-nos os segredos da arte de ler, escrever, somar, multiplicar e dividir. Outras, como Roteiro de Viagem, nascem bem mais tarde. São como frascos de vivências a cruzarem o nosso caminho. É preciso estar atento para não perder a chance de descobri-los, admirá-los e, mais que tudo, beber de uma fonte de reflexões que traduzem a essência do mundo corporativo.
Era uma cartilha simples que eu gostaria de ter recebido de meu pai ou de meu sogro lá pelos idos de 1977, quando retomei minha carreira no Banco do Brasil após o período como menor estagiário para serviços gerais. Não que trouxesse algo inovador ou o segredo definitivo da arte do bem-estar pessoal e profissional, mas porque continha em suas páginas o testemunho sábio de gente que estava escrevendo com tintas de paixão a história de uma instituição bicentenária.
Corria julho de 2005. A rede de agências vinculada à superintendência do Distrito Federal possuía 70% de seu quadro (2.300 funcionários) com menos de quatro anos de experiência, a lidar com consumidores cada vez mais exigentes, detalhistas e instruídos sobre seus direitos. Havia uma explicação para tantos jovens: a elevada rotatividade decorrente do fato de a sede da direção geral do banco ser em Brasília e preencher suas vagas “pescando” na rede.
Para acelerar a maturidade daquela molecada e auxiliá-la a conhecer melhor o caldo de cultura de que era feita a organização, inspirei-me numa experiência realizada no Paraná três anos antes, por iniciativa de Vanderlei Engels, do centro de formação regional liderado pela saudosa Marlene Viero (Kuki): disseminar conselhos de pessoas que haviam escrito a história da empresa naquele estado.
Claro que cada um tinha seu jeito próprio de lidar com o trabalho e não havia uma pedra filosofal ou uma fórmula mágica para alguém ser bem-sucedido profissionalmente. Decidi então entrevistar e, no passo seguinte, coligir respostas para duas perguntas simples, feitas a meia centena de dirigentes e técnicos da empresa:
1. O que foi determinante para que você pudesse construir uma carreira vitoriosa?
2. Que conselho daria para que um novo funcionário consiga construir uma carreira bem-sucedida?
1. O que foi determinante para que você pudesse construir uma carreira vitoriosa?
2. Que conselho daria para que um novo funcionário consiga construir uma carreira bem-sucedida?
Antônio Sérgio Riede, na época gerente executivo na diretoria de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental, disse: “(...) É importante ter coragem para divergir e sabedoria para entender que a divergência de ideias não significa rejeição às pessoas — e isso vale nos dois sentidos, de você e para você... Nunca ‘terceirize’ a culpa quando há espaço para você fazer alguma coisa... Não tenha vergonha de ensinar, nem falsa modéstia. Nunca se confunda com seu cargo quando ele for importante. Nunca se esconda na sua função quando ela for de subordinação... Enfim, esteja sempre presente. Participe, arrisque-se, peça desculpas quando necessário, reformule ideias e propostas quando julgar sinceramente que é o mais recomendado. Peça ajuda, ofereça-se para trabalhar. E, se conseguir a mágica, faça isso com humildade e altivez. Depois, se conseguir a fórmula, me conte!”
Já Francicarlos da Silva Diniz, então analista sênior na diretoria de Reestruturação de Ativos Operacionais, recomendou: “(...) Busque a especialização. Embora seja importante ter uma visão geral de como funciona o banco, é impossível dominar todos os assuntos. É preciso ser um ‘papa’ naquilo que você faz no dia-a-dia. No restante, ser ‘bispo’ já basta... Estude. Questione. Leia muito. Não leia apenas as instruções internas: isso é básico. Leia jornais, revistas e livros especializados na área em que você atua... E nunca deixe de perguntar: ‘Em que posso ajudar?’ “(...)”
Izabela Campos Alcântara Lemos, naquele momento diretora de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental lembrou: "(...) é preciso aprender sempre, com o outro, estudando, lendo muito. Saber ouvir, cultivar relacionamentos duradouros... é preciso ligar-se nos movimentos e direcionamentos que a empresa aponta para, com sensibilidade, identificar e aproveitar as oportunidades que aparecerem. E elas sempre aparecem! "(...)"
Izabela Campos Alcântara Lemos, naquele momento diretora de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental lembrou: "(...) é preciso aprender sempre, com o outro, estudando, lendo muito. Saber ouvir, cultivar relacionamentos duradouros... é preciso ligar-se nos movimentos e direcionamentos que a empresa aponta para, com sensibilidade, identificar e aproveitar as oportunidades que aparecerem. E elas sempre aparecem! "(...)"
Para José Marcelo Torres Batista, na época assessor pleno na diretoria de Marketing e Comunicação, havia alguns pressupostos a serem observados: “(...) Tenham um pouco de cada coisa da maneira de ser, de agir e de olhar o mundo. Tenham vontade de aprender, humildade para perguntar, solidariedade para ensinar e paciência para esperar as oportunidades, pois a vida é como um rio em seu curso natural... Mirem-se nos exemplos daqueles que vencem por méritos próprios, por competência e com ética. Questionem sem destruir. Elogiem sem bajular... Não trabalhem apenas pelo dinheiro. Procurem fazer aquilo que gosta e goste de fazê-lo. O reconhecimento e a recompensa virão em consequência (...)”
O então vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, José Maria Rabelo, ponderou: “(...) Fiz sempre o exercício crítico da autoestima. Estive sempre convencido de que deveria e poderia ter orgulho de meu trabalho... Para você chegar lá, acredite tanto na empresa quanto em si próprio. Não coloque seu futuro na dependência exclusiva de atos ou pensamentos de outras pessoas. Negocie e construa seu caminho. Esteja atento para aprender o que fazer e o que não fazer. Não dissocie a formação acadêmica do investimento profissional. Não perca a oportunidade de fazer o melhor que puder, sempre... Lembre-se de que seu supermercado e a escola das crianças dependem do fruto do seu trabalho. Se por uma questão pessoal esta última parte não for verdadeira, aja como se fosse! Um dia ela certamente será. “(...)”
Renê Sanda, naquele momento gerente adjunto no BB New York Branch, orientou: “(...) Sigam sempre o ‘Princípio de Occam’, que diz que não devemos fazer mais suposições para resolver um problema do que as estritamente necessárias. Você vai notar que na maioria das vezes não existe solução que atenda aos interesses de todos, mas você será mais produtivo e eficiente se aprender a focar no problema principal, entender as principais restrições e relevar as questões ‘cosméticas’ (...)"
Juntei outros 30 depoimentos de colegas com uma história a contar que ajudasse aqueles marinheiros de primeira viagem a construírem seu próprio roteiro e aprumarem as velas do barco, na expectativa de acelerar a maturidade coletiva de jovens com as mais diferentes origens.
Juntei outros 30 depoimentos de colegas com uma história a contar que ajudasse aqueles marinheiros de primeira viagem a construírem seu próprio roteiro e aprumarem as velas do barco, na expectativa de acelerar a maturidade coletiva de jovens com as mais diferentes origens.
É difícil, agora, avaliar o impacto de uma obra tão pequena como uma cartilha dessas sobre seu público-alvo. Nem sei se foi lida por um quarto ou metade dos navegantes que apenas começavam a viagem, mas posso falar do bem que ela me fez, àquela altura com 28 anos navegando em mares ora agitados, ora calmos. Sempre acreditei na magia e no poder dessas histórias contadas de geração para geração.
Aprendi que o bom da viagem — com ou sem lanterna a iluminar os momentos de escuridão — nunca é onde estamos, mas para onde nos movemos. É saber navegar algumas vezes na direção do vento e outras contra ele, mas navegar sempre. Não se deixar à deriva nem ancorar antes ou depois da hora. Tem dado certo até agora.
Guardo um exemplar da cartilha, até hoje! Garanto que foi útil trabalhar a temática nela impressa junto ao meu time (e p/ mim também). Ferramenta simples, grande inspiração!
ResponderExcluirCom o formato dado por cada um dos entrevistados, conceitos da Administração Científica e da Teoria das Relações Humanas estavam lá. Quem leu a aplicou partiu com vantagem na competição.
ResponderExcluirRecebi um exemplar mais tarde quando o Hayton chegou na Super Governo DF. Li todos os depoimentos. Todos muito bons. Chamou-me a atenção o do Marcelo Torres... excelente fórmula
ResponderExcluirExcelente texto amigo! Tive o privilégio de conviver com você aqui em Pernambuco e o diferencial, minha CARTILHA, foram os ensinamentos e atitudes emanados por sua pessoa. Procuro sempre repassá-los para os mais jovens na empresa onde trabalho. Eterna gratidão
ResponderExcluirEstá cartilha, para quem leu e usou, foi, com certeza, uma boa orientação, bússola da vida profissional. Nas quartas, temos sempre a oportunidade de rever a réplica desta cartilha, ao lê suas crônicas, refletindo sobre seus impactos na vida.
ResponderExcluirMuito bom. Como consigo uma cartilha ?
ResponderExcluirGuardei apenas um exemplar, que já se encontra bem velhinho. Vou digitalizar para não perdê-lo de vez.
ExcluirÓtima iniciativa, natural para alguém com sua liderança.
ResponderExcluirFiquei muito honrado em participar.
Parabéns pelo resgate!
Faltou a um desses colaboradores dizer que é preciso, no Brasil, ao contrario9de países anglo-saxões, construir uma firme rede de relacionamentos, a tal da network. Aqui, não basta ser capaz, inovador, líder coaching e outros que tais. Sem o QI da tal network será mais difícil, se não impossível.
ResponderExcluirÓtimas orientações. Achou importante destacar a importância de uma sólida rede de relacionamentos .A tal da network.
ResponderExcluirDepois que nos aposentamos, Marcão, a rede que nos interessa mesmo é de algodão, de preferência num alpendre bem ventilado, com um bom livro nas mãos enquanto o sono não chega.
ExcluirHahahaha
ExcluirTambém tenho, ainda, meu exenplar. Sempre tive a sorte de está ligado ao Hayton. Fui nomeado em Itaúna PE, Canhotimho PE, Gerente Adjunto na Centro Salvador BA e Setor Público Natal RN. Sempre fui observador e tentei aprender tudo que podia com esse líder Nato. Gratidão Hayton.
ResponderExcluirItaiba PE. Correção.
ResponderExcluirMatéria muito boa. Gostaria de receber um exemplar.
ResponderExcluirComo já disse lá em cima, Galego, o único que tenho deverá ser digitalizado, sob pena de desaparecer daqui a pouco, vítima de velhice.
ExcluirQue maravilha! Descobri a origem do sucesso da minha carreira ( que a considero vitoriosa e brilhante): pratiquei alguns dos conselhos durante a minha trajetória, mesmo sem te-los recebidos. Com certeza teria sido melhor ainda se tivesse conhecimento àquela época. Quando tiver digitalizado me mande ok?
ResponderExcluirA iniciativa foi espetacular e o resultado, com certeza absoluta, formidável. Mas em termos de referência, certa vez disse a alguns amigos, novos de banco, que a nossa experiência, por estarmos há mais tempo trabalhando, teria de servir como se fosse um farol. Até onde a luz chegasse era onde os levaríamos. A partir dali era a vez deles tomarem as decisões, se o clarão lhes serviu de base.
ResponderExcluirGrandes ensinamentos, não apenas para a carreira profissional, mas para a vida.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue iniciativa legal! Um belo exemplo de como uma boa ideia não precisa ser mirabolante para render bons frutos e deixar um valoroso legado. Como diria Da Vinci, a simplicidade é o último estágio da sofisticação.
ResponderExcluir👋👋👋👋👋
ResponderExcluirLembro dessa cartilha! Eu que mandei imprimir.
ResponderExcluirFicou muito legal mesmo! Ainda tenho meu exemplar guardado.
Hayton, fiquei curiosa sobre essa cartilha tão desejada por todos que sabiam da sua importância. Parabéns mais uma vez pelo excelente texto. Pelo que entendi, você seguiu mais esta Cartilha da vida. Um abraço
ResponderExcluirHayton, embora a cartilha seja de 2005, me impressionou o quanto os ensinamentos de nossos colegas são atuais e se adaptam totalmente à realidade vivenciada hoje em muitas empresas. Infelizmente, à época, não tive acesso a essa "cartilha". Certamente, teria me ajudado a encurtar ou evitar alguns caminhos. Este é um belo exemplo de como iniciativas simples podem ter resultados inspiradores. Você acha que se digitalizar seria possível disponibilizá-la por e-mail? Gostaria muito de ler e divulgar aos meus colegas de trabalho! Estou certa de que os ajudará bastante!
ResponderExcluirParabéns pelo riquíssimo conteúdo e também, pela beleza da capa.
ResponderExcluirHayton, você nunca vai se aposentar....kkkk.
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