O velho, o menino e o livro

Não sei o que se passava pela cabeça da criança que parou, olhou e me escutou dedicar a seus pais um exemplar do livro Só Eu Sei, quando do  lançamento em Brasília, sexta-feira, 17.

Imagem: Débora Marinho
Talvez imagine que sou um escritor de verdade, capaz de escrever fábulas daquelas que ouviu de seus pais antes de dormir e que agora lê para o irmão caçula.

Para uma criança, fábulas são muito mais do que a verdade. Não porque contam que fantasmas, bruxas e monstros existem, mas porque mostram que eles podem ser vencidos.

Não sei o que se passava por sua cabeça ao ver o título do livro: Só Eu Sei. A gente nunca sabe de tudo nessa vida. Por isso mesmo, nem deve levá-la tão a sério. 


Na sua inocente curiosidade, talvez já pense como Bertrand Russel (1872 – 1970), para quem havia “dois motivos para ler um livro: um, é o prazer em lê-lo; o outro, a possibilidade de melhorá-lo".

Mas sei o que se passou por minha cabeça ao ver aquela imagem pela primeira vez. Tenho um amigo que diz que escritor e fotógrafo se utilizam das mesmas ferramentas, mas enquanto um descreve uma cena com meia dúzia de palavras o outro descreve meia dúzia de cenas com uma imagem.

A imagem que abre este texto, quem sabe, revela o possível nascimento de um escritor de verdade. Nada é tão nosso quanto nossos sonhos de criança. "O que é um adulto? Uma criança de idade", dizia Simone de Beauvoir (1908  1986).


Se for assim, só eu sei como me fará bem contribuir para que Rafael – neto de meu irmão Agostinho e filho de meu sobrinho-afilhado Michel – ame livros acima de todas as coisas. 


"Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante", dizia Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1986). A imagem de Rafael me dá a ilusão de que aquele pode ser um pouco mais útil.



Comentários

  1. O que pensou o menino pode ser uma dúvida, seu gesto é um fato não corriqueiro. Uma certeza eu tenho quem receber o presente ficará gratificado, principalmente depois da leitura.

    ResponderExcluir
  2. que bonitinho, a imagem com ele à mesa traduz bem o texto. Ou seria o contrário?

    ResponderExcluir
  3. Que cena linda, a beleza de um olhar de admiração de uma criança!

    ResponderExcluir
  4. Belo registro!
    Uma história dentro da história...

    ResponderExcluir
  5. O seu sorriso para ele e o olhar atento dele para você traduzem numa palavra”carinho”.

    ResponderExcluir
  6. Conter um enredo é o que diferencia uma Fotografia de um mundo lotado de imagens. Ou como disse Paulinho da Viola: “ As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”.

    ResponderExcluir
  7. A foto que dá título à crônica ficou muito bem enquadrada ou a crônica que justifica a foto ficou muito bem contextualizada? Tal qual a dúvida de um antigo biscoito Tostines, que lançava a questão do "vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais", as duas questões são verdadeiras e criam um ciclo virtuoso. Mais um belo texto. E dele surgiu-me a dúvida: teremos duas publicações semanais, às quartas e aos domingos ou hoje foi uma extra?
    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em princípio, um post por semana, para poupar a paciência de meus amigos e amigas. Mas às vezes bate à vontade de fazer um registro pontual sobre algo ou alguém e um domingo chuvoso ajuda...

      Excluir
  8. Bom dia Hayton! Estou ansiosa para ler o livro do grande escritor que, na realidade, nasceu há sessenta anos e agora está se revelando. Parabéns e um grande abraço. CRISTINA

    ResponderExcluir
  9. Agostinho Torres da Rocha Filho26 de janeiro de 2020 às 11:26

    Belo texto!!! Talvez o "nosso" neto esteja pensando: bancário não, mas um escritor admirado pelos amantes das letras eu gostaria de ser, no futuro. Feliz da criança que pode sonhar espelhado no exemplo de seus pais e avós. Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  10. Crônica curta e certeira, meu caro Hayton. Abraço do Sidney.

    ResponderExcluir
  11. Lindas imagens estas, em especial a que abriu o texto. Com certeza eu tenho muita fé nas atitudes de uma criança; acho-as bem verdadeiras. E essa recíproca entre o grande escritor Hayton e a criança, é de uma profundidade incrível! E acredite, primo, eu tenho certeza de que qualquer hora dessas, você vai desejar escrever para crianças, e com certeza vai fluir muito bem, até porque na família tem muita criança. Parabéns mais uma vez pelo texto lindo e profundo. Sejam sempre bem vindas suas crônicas. Um forte abraço grande escritor sim. Saiba que o leitor é o maior termômetro de um escritor, saiba disso.

    ResponderExcluir
  12. Quando ainda não tinha domínio das letras, minha mãe lia para mim regularmente. Eram livros que levavam a viajar... num roteiro que continuo até hoje. Ler faz bem!

    ResponderExcluir
  13. Você é imbatível, até porque o imponderável conspira a seu favor.
    Num momento singular como o lançamento de um livro surge um episódio tão inusitado quanto marcante que lhe inspira a criar mais uma belíssima crônica.
    Imagino o que passou ali em sua cabeça, a emoção que lhe sacudiu. Inimaginável é o quanto marcará o garoto, após adulto e por toda a vida.
    Parabéns é muito pouco pra você, há que ser inventado algo mais, vou aguardar.

    ResponderExcluir
  14. Rumunar é preciso, a foto leva a ilações mil.
    Bravo!

    ResponderExcluir
  15. Plantar livros, a melhor semente para um futuro melhor. Continue semeando.

    ResponderExcluir
  16. Sabe, meu amigo, as fábulas só mudam de idade... umas fazem as crianças sonharem, outras fazem com que o adulto pense, relembre, sonhe, afinal passou... umas remetem ao futuro, outras ao passado. O Rafael já nasceu com pedigree.

    ResponderExcluir
  17. Cena bacana com o garoto à frente a admirar o nosso escritor. Quem sabe o autor não está inspirando o garoto a entrar no mundo dos livros, seja lendo ou escrevendo!?

    ResponderExcluir
  18. Parabéns à Débora Marinho, escritora. Em vez de caneta, máquina fotográfica na mão.
    Lindo texto

    ResponderExcluir
  19. Que texto mais lindo! Me lembrou minha infância mergulhadas em livros!! Parabéns!

    ResponderExcluir
  20. Será mais um escritor na família ?

    ResponderExcluir
  21. Ja vi em várias ocasiões adultos ocuparem lugar como essa crianca, ao escutar o "escritor", quando exercia a função de "líder" da equipe. Esse é o Hayton!!!

    ResponderExcluir
  22. O próprio Jesus, ao indicar o valor das crianças, disse "deixai os meninos e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus." Porque eles acreditam, eles confiam, eles aprendem.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Que chato, não?!

Perfume raro

Abacaxi de ponta-cabeça