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Será bem mais simples

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O mundo inteiro ainda bate cabeça procurando um remédio eficaz para acabar de vez com a covid-19 – quando a vacina não resolve –, mas li outro dia que uma descoberta de pesquisadores brasileiros pode mudar o cenário.  O pessoal da Unesp de Araraquara, São Paulo, revelou à comunidade científica internacional que o veneno da cobra jararacuçu, muito comum em nossas florestas, contém uma molécula com ação antiviral capaz de inibir em 75% a capacidade de multiplicação do coronavírus, dando tempo ao organismo infectado de criar anticorpos e neutralizar o avanço da doença. O estudo é promissor, já está sendo testado em humanos e tudo leva a crer que o peptídeo é seguro mesmo em concentrações elevadas. Além disso, é fácil de ser sintetizado, o que simplificará a produção em larga escala.   Já existem outras moléculas encontradas em venenos e secreções animais em remédios para tratar doenças humanas. Do veneno da cobra jararaca, por exemplo, vem o  Captopril , droga para tratamento da hiperten

O peso do argumento

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Tá legal, eu aceito o argumento – diria o mais elegante e gentil dos poetas –, é a alma de nossos negócios! Sim, as reuniões de trabalho têm o seu valor, ninguém pode negar. Se bem que boa parte delas não passa de perda de tempo ou de ganho de escaramuças e úlceras.    Depois que me aposentei, mesmo com agenda livre para esses “animados” encontros – reuniões de condomínio, por exemplo –, sou daqueles que optam por engolir o que for decidido pelos vizinhos a ter que participar. Antes, culpava a fadiga de encarar uma terceira jornada de trabalho no fim do dia; hoje, percebo que o sinal continua fechado.     É difícil juntar meia dúzia de pessoas e fazer as coisas acontecerem de forma rápida e objetiva, mesmo no mundo virtual tão em voga ultimamente. Tem gente que fala demais (ou nada fala), dá palpites em tudo, abre conversa paralela. Tem quem coloca defeito naquilo que diverge um milímetro de sua opinião. Tem até gente distraída que nem sabe o que faz ali.    Aqui se encaixa bem o “nada

Não volto mais!

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Quase dois anos depois, nem todo mundo quer largar o  home office  e voltar ao trabalho presencial, como pretendem algumas empresas que se aproveitam do avanço da vacinação contra a covid-19 para esquentar as turbinas nesse sentido.    Conheço quem foi morar longe para ganhar qualidade de vida e se deu muito bem. Outros, atolados numa mistura de ansiedade,  fake news  e pânico, com ou sem tarja preta adotaram filho, cachorro, gato, papagaio, coruja etc.   Sim, teve quem adotou até coruja. Talvez porque seja ave adaptada a viver na escuridão com sua cabeçona, rosto achatado, bico forte e curvado, além de olhos enormes e profundos. Mexe com o imaginário daqueles que só conseguem trabalhar sob o olhar de um chefe para chamar de seu.   Tirando as grávidas, que não querem (nem devem) voltar à labuta presencial, o empregador tem o direito de exigir a volta as suas instalações. E se algum empregado insistir em querer trabalhar em casa, pode ser demitido por descumprir norma interna.    Mas qu

O profeta

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Antigamente, éramos um país subdesenvolvido e atrasado. Fomos promovidos a emergente – embora volta e meia me venha a impressão de que se trata de um eufemismo modernoso para designar a mesma coisa – e continuamos atrasados.  Nosso atraso é muito mais que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura.  Temos pouco ou nenhum espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por governantes. Que coisa mais desgraciosa e primitiva, esse festival de fanf

Fez parte do show

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No livro  “Cazuza – Só as mães são felizes”,  Lucinha Araújo contou que Caetano Veloso subiu ao palco do  Canecão , no Rio de Janeiro, em junho de 1983, no lançamento do disco “ Uns ”, e começou a cantar  'Todo amor que houver nessa vida' . – Essa música é de nosso filho – ela comentou com o marido, sentado a seu lado. – Você tá louca? – indagou o pai. No final, Caetano elogiou Cazuza, dizendo que se tratava do “melhor poeta de sua geração”. Seis meses antes, ficara impressionado ao assistir à apresentação dele liderando o grupo  Barão Vermelho, no Circo Voador .   Caetano (na plateia) assiste ao Barão Vermelho Quase três décadas depois, eu e Magdala, minha mulher, fomos ao Rio assistir a um show no teatro  Vivo Rio . Logo após o evento, fui abordado por uma amiga: – Tem uma pessoa que quer te conhecer – me disse Naná. – Tudo bem. Vamos lá? – respondi, curioso.   Naná Karabachian é uma empresária responsável pela criação e direção artística de diversos projetos musicais realiz

Minha mãe deve gostar

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Dia desses ela me ligou com a voz de quem estava prestes a chorar: – Meu filho, você viu? – O quê, mãe? – Ele morreu... E agora, o que vai ser de Glória?   Lamentava a morte do ator Tarcísio Meira, aos 85 anos, vítima da Covid-19. Sua mulher, a atriz Glória Menezes, também fora internada com a doença, mas teve sintomas leves. O casal já havia sido vacinado, porém a situação do marido agravou-se porque, além de cardiopata, sofria de enfisema e insuficiência renal.   Minha mãe é daquelas que não conseguem separar a realidade da ficção quando se trata de telenovelas. Se fosse possível, de máscara e devidamente lambuzada de álcool em gel, levaria pessoalmente seu abraço à família enlutada.    Lembrei-me dela no bairro da Gruta, em Maceió, há 45 anos, assistindo ao último capítulo da novela  Pecado Capital , da TV Globo. O taxista Carlão (Francisco Cuoco) tentava livrar-se de uma mala de dinheiro – deixada em seu carro, havia meses, por assaltantes em fuga – nas obras do metrô para, em segu

O benefício da dúvida

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Nunca tive o sono leve. Pelo contrário, trabalhando duro desde moço, batia na cama e só acordava no dia seguinte. Hoje, aos 86 anos, acordo ainda no breu pensando no que me resta por fazer. Velho não deve perder tempo.   Aprendi que a morte não chega na velhice. Vem em prestações. Morri um pouco quando fiquei viúvo pela primeira vez, aos 50 anos e, pela segunda, aos 70. Minhas ex-mulheres partiram cedo, levando pedaços de mim.    O que sobrou seguiu em frente. Mas já não faço planos para daqui a um, dois anos. Se alguém  me convida para viajar no próximo verão, disfarço ou invento uma desculpa qualquer e me pergunto: vai dar?    Não sou de me queixar de nada, a não ser ter que aturar certas figuras públicas no último estágio evolutivo da imbecilidade humana. Uso meu tempo lendo bons livros, escrevendo memórias, ouvindo músicas, vendo futebol e telejornais.    Antes da pandemia, costumava me reunir bem cedo com uns caras divertidos e desocupados como eu, das cinco às sete, no que chamam

Anjos do bem-estar

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– Meu filho, corte esse cabelo... Você tá parecendo um mascate! – O que é isso? – perguntei. – É aquele vendedor ambulante que oferece bugigangas de porta em porta, como o Ariovaldo – personagem de Gianfrancesco Guarnieri em “Meu Pé de Laranja Lima”, telenovela exibida no começo dos anos 70 pela extinta TV Tupi .   Deu-se assim meu primeiro contato com Dr. Casado, chefe do serviço médico da agência do Banco do Brasil , em Maceió.  No horário comercial, o ambulatório atendia não só aos funcionários em suas pequenas queixas (resfriado, dor de cabeça, de barriga etc.), como também a familiares que precisassem de avaliação clínica ou serviços de enfermagem.   Ele e outros pelo País afora foram precursores do chamado médico de família no âmbito corporativo. Tinham o papel de evitar que as pessoas faltassem ao trabalho por uma tolice qualquer ou por conta de consultas, exames e procedimentos que pudessem trazer mais riscos do que benefícios.    O tom paternal, a confiança que inspirava e o p

Por acaso, aconteceu

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Cansado e morto de sono naquela manhã de sábado, 24 de abril de 1982, mesmo assim acabei convencido por minha mulher a não desistir da prova interna de ascensão profissional ao nível médio da carreira administrativa do banco em que trabalhava.  Cogitei também não fazer a prova   porque, se fosse aprovado, teria que assumir as novas funções no interior de Alagoas. Não havia vagas nas agências da capital, onde também estudava.   Na noite anterior, tinha socorrido uma amiga e vizinha nossa, por volta das 22 h, que sofrera as dores de seu primeiro parto. O marido costumava escapulir, com destino ignorado, nas noites mornas (ou tórridas, sei lá!) de sexta-feira.   Por ser médica, nossa vizinha sabia que o parto normal seria o melhor para si e para os gêmeos que se apressaram, porque, além de a recuperação ser mais rápida, o risco de infecção seria menor. Haveria menos sangramento, menos dores, permitindo-lhe cuidar logo das crianças.  No entanto, concluiu-se que uma cesariana seria a opção