quarta-feira, 9 de agosto de 2023

A cachorrada é grande!

Você deve ter visto na Internet a notícia de que um youtuber japonês, apelidado de "Toco", anda sacudindo as redes sociais após gastar mais de R$ 70 mil numa fantasia hiper-realista de cachorro da raça border collie. O perfil "Eu queria ser um animal", criado em abril do ano passado, já conta com cerca de 32 mil inscritos e 12 milhões de visualizações.

 

Foto: Reprodução/Youtube


O "animal" aparece em vídeos passeando pela calçada, rolando no chão, brincando no quintal ou lambendo uma tigela. Ainda não aprendeu a, de quatro, levantar a pata traseira e molhar os postes que encontra pelo caminho, mas, imagino, uma hora chegará lá.  

 

“Eu morro e não vejo tudo!”, diria minha tia. Que, aliás, ficou livre de ver esta! Já se foi o tempo em que a expressão “vida de cachorro” significava uma existência cheia de problemas. Hoje, muito pior é vida de vascaíno. 


Aos poucos, o cão foi ocupando um lugar de destaque entre os humanos e já figura em segundo lugar na escala afetiva familiar, só perdendo para bebês recém-nascidos. De famílias ricas ou remediadas, bem entendido!

 

Tornou-se comum o cão se humanizar e o homem virar cachorro, se bem que existem muito mais exemplos do segundo caso, sobretudo no mundo empresarial. Quem nunca foi vítima de uma cachorrada que rosne ou atire a primeira pedra!

 

Noto cada vez mais características tipicamente humanas nos cachorros, embora ainda lhes falte andarem armados, matando-se uns aos outros. Ultimamente, aliás, já são avaliados até pelo seu aspecto psicológico. Algumas corporações militares, inclusive, apressam a aposentadoria dos farejadores mais velhos. Deveriam despachar também certos membros da tropa chegados a uma cachorrada.



Renatinho “Perna Curta”, um galego cheio de lorotas que morou no meu bairro nos anos 1970, contava que ensinou seu pastor alemão a, toda semana, buscar O Pasquim na banca da esquina. Um dia, o bicho rosnou, latiu, bateu patas, cravou as unhas no tapete e não foi. Quis deixar claro, segundo ele, que a partir dali só faria cocô e xixi sobre folhas de Fatos e Fotos ou Manchete. Achei um exagero, mas...

 

Com a gradual troca de casas por apartamentos, a educação canina tornou-se imperativa por causa de regras estabelecidas nos condomínios. Afinal, cachorro de apartamento (atenção: não me reporto àquele morador que você acaba de lembrar!) necessita ir à rua todos os dias, marcar território. Bem, é possível que o vizinho ou até mesmo o síndico também tenha de passear umas duas vezes por dia.  


A mãe de Renatinho, voltando ao galego a que me referi, teria comentado na manicure que o pastor alemão de seu filho era até educado demais. Costumava abocanhar só a folha de “classificados” do Jornal de Alagoas e se trancar no banheiro. Vai ver procurava anúncio de uma cadela de programa que assegurasse absoluta discrição desde a primeira farejada no bocal da arenga.


Bem, a última grande cachorrada de que tive notícia aconteceu há poucos meses, após a pandemia de coronavírus. No Brasil, o abandono de animais domésticos cresceu 70%, segundo a AMPARA Animal, uma organização que ajuda às ONGs e aos protetores independentes da causa. Bichos que antes tinham comida, abrigo, saúde e segurança, agora passam fome, medo e sofrem maus-tratos nas ruas de todo o país.


Pra botar ordem na bagunça, um conhecido deputado federal está colhendo assinaturas para apresentar um projeto de lei que obriga o registro de todos os bichos urbanos e proíbe a permanência em áreas sensíveis como bares, cinemas, hotéis, igrejas, órgãos públicos, praças de alimentação, praias e supermercados. Claro, uma nova estatal será criada para tocar o assunto – outra frente facilitadora da velha prática do “toma-lá-dá-cá”.

 

Vai começar pelas 100 principais cidades, onde se pretende exercer uma rigorosa fiscalização. Bicho que for encontrado sem coleira nem documento será preso por vadiagem. E, você sabe, a vadiagem por aqui já passou dos limites – tem gente graúda, inclusive, se sustentando de “vaquinhas digitais” e correlatos. 

 

Caninos e felinos de rua que forem apreendidos ficarão detidos por três dias. Se não aparecerem os donos, serão abatidos e exportados para o Oriente, sobretudo as regiões de Guangxi, Guizhou e Cantão, e em áreas do nordeste chinês, onde vive uma grande população da etnia coreana. 


No caso de bovinos, caprinos, ovinos e galináceos, o prazo de espera dos donos será de apenas 24 horas. A partir daí, a lei facultará a imediata ressocialização dos presos, mas sob a forma de guisados e sopas para os moradores de rua de nossa Pátria amada.

 

Agora falando sério, alguém precisa lembrar ao youtuber japonês que seu dinheiro pode ter destinação bem mais decente, pois 15 pessoas ainda morrem de fome pelo mundo afora a cada minuto. Do Afeganistão ao Zimbábue.

28 comentários:

  1. Hoje o mundo tá de cabeça para baixo,onde os animais tem mais regalias do que o ser humando.Crianças e idosos abandonados e animais sendo tratados feito gente.A minha cultura é pouca,para digerir essa mudança de comportamento.

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    1. Bem a propósito, o grande poeta Jessier Quirino, ao ler a crônica de hoje, lembrou um caso singular envolvendo essa relação entre seres humanos e animais:
      “Uma moça, aqui em João Pessoa, apegou-se a uma galinha, e passeava com ela na cestinha aramada da bicicleta.
      Virou o xodó da praia.
      Um dia, a empregada matou a galinha e serviu no almoço pra toda família.
      A moça, abalada, deixou de comer galinha, que é uma das delícias da natureza.
      Perguntada como ela resistia a uma panela de galinha bem temperada, bem torrada, e bem servida, ela respondeu:
      - Quando não resisto ao cheiro e tô me acabando de fome, eu boto a farofa, o feijão, e, com uma colher bem grande, pego somente a delícia da graxa.”

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  2. Aforamente os tutores de Quincas Borba e Baleia ninguém tratou tão bem sobre cachorros, seo Hayton.
    Abraços do Antonio Sobrinho

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    1. Gostei do “aforamente”, lembrei do personagem de Dias Gomes !

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    2. KKK. No meio em que vivo são comuns esses "neologismos"

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  3. Bom Dia... Neste mundo de fome e de desperdícios, muitas "anormalidades" podem ser vistas... Ainda bem que os caninos estão "evoluindo", a ponto de domarem seus tutores, impondo suas regras e se tornando os verdeiros "donos da casa" (ou do apartamento)... Hoje já se tem ótimos planos de saúde e de lazer para eles e, não duvido, haverá o dia em que será criado o ministério da previdência canina...
    Mas, apesar de tudo (ou não), nossos amigos caninos são excelentes terapeutas para os humanos domados...

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  4. Nada contra os pets… mas estão exagerando. A saúde pública em Brasília não é excelente, não alcança a todos. Mas tem hospital publicar para cachorros. Em São Paulo um deputado já se elegeu umas três vezes com a bandeira e votos caninos. Se pelo menos os donos catassem os és tenentões deles já estava bom…

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  5. Acredito que, enquanto os humanos tratarem os animais com carinho e responsabilidade existirá uma ponta de esperança. Não estaremos de todo perdidos nesse universo de ambições e egoismo.

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  6. Já dizia Eduardo Dusek na década de 1980: "Troque seu cachorro por uma criança pobre." Dedé Dwight

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  7. A que ponto chegamos: muitos "cachorros" com mais regalias do que a gente.
    Nunca entrei fundo na questão, mas minha esposa e minha cunhada têm verdadeiro pavor de cães e gatos. Querem ver o "cão", mas não querem ser cheiradas por cachorros ou ronronadas por felinos.
    Estávamos, outro dia, em restaurante. O pet cheiroso de uma madame se soltou do colo e veio se esfregar, adivinha na perna de quem? Acho que de tão humanizados, não conhecem mais nem os postes.
    Para que a cachorrada não ganhasse volume de dentadas, colocamos o rabo entre as pernas e saímos de mansinho.

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  8. Uau!! Uau!! Que viagem! Apesar dessa realidade e suas inversões, a vida de cachorro tem melhorado. Amamos a nossa Cookie e procuramos estar cada um no seu lugar. Às vezes, nem tanto. Kkk
    Marina.

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  9. Admiro os bichinhos e quem gosta e cuida deles. Na maioria dos casos, me encanta mesmo. E, na maioria dos casos, gosto de interagir com os bichinhos.
    Eu sei que isso é delicado, mas fico encafifado quando vejo alguns donos que consideram mesmo que os bichos são como gente.

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  10. “Eu não sou cachorro, não
    Pra viver tão humilhado
    Eu não sou cachorro, não
    Para ser tão desprezado”

    Como diria o saudoso Waldick Soriano
    Ou...
    I'm not dog no
    For live so humble
    I'm not dog no

    Com diria Falcão

    Já foi o tempo que essas canções faziam algum sentido. Pois pasmem, hoje em dia já tem gente querendo virar cachorro!
    Eu só acredito vendo. Eu vendo ainda sim não acredito!

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  11. Pegando carona com Stoney, talvez a canção de Waldick Soriano tivesse que mudar a letra, hoje, pra: “eu não sou humano, não, pra viver tão humilhado”.
    Da mesma forma, o belíssimo filme do sueco Lasse Halstrom talvez tivesse que mudar o título de Minha Vida de Cachorro pra algo na linha de Não Aguento Mais Ser Gente!
    Uma frase do belo texto do Hayton me chamou a atenção: “Quem nunca foi vítima de uma cachorrada que rosne ou atire a primeira pedra!”
    Como gosto de provocações, pergunto a todos nós, que certamente já fomos vítimas de alguma cachorrada: em algum momento algum de nós foi o autor da tal cachorrada? Ou nessa analogia só existem vítimas e nenhum autor do crime?

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  12. Meu irmão, me perdoe andar na contra mão,
    Mas prefiro a companhia dos meus felinos a de vários ditos seres humanos.

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  13. Hahahahahaha
    Agora, sim, é capaz de o rabo balançar o cachorro!

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  14. Acho melhor não falarmos mais “que cachorrada” para certas atitudes “humanas”, pois os caninos não devem estar gostando nada disso! 😂😂😂

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  15. Tá. Os felinos não tem reações idiotas.

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  16. Tenho muito apreço pelos caninos, embora já façam 8 anos que nos despedimos do que conosco habitava, e desde então resolvemos não substituí-lo por outro. Somente quem conviveu com algum consegue descrever, fielmente, a inter-relação que se controi. Entretanto, nem de longe consigo entender certas extravagâncias que vemos e ouvimos falar, a exemplo da registrada na crônica.

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  17. Texto, como sempre, de primeira qualidade. Aborda, com clareza, reflexão sobre assuntos importantes de nossa Sociedade. Que mundo é este?

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  18. Quando morei em JUNDIAÍ SP discutia-se a criação de uma Secretaria de Bem Estar Animal…rsrsrs… pensei com meus botões… resolveram todos os problemas da cidade, não há nenhum mendigo…estamos na Suécia.. rsrsrs

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  19. De cachorros e cachorradas.
    Ainda morando no Mato Grosso tomei conhecimento de que um colega de trabalho havia terminado o relacionamento com sua jovem e bela namorada.
    Para conquistá-la, presenteou-a com um desses cachorros pequeninos, o típico cachorro de madame. Pagou caro pelo mimo. E foi amor à primeira vista. Dele por ela e dela pelo cachorro. Mas, em casos de amor "comprado", como pareceu ser esse o caso, somente os diamantes é que são eternos, o relacionamento acabou.
    Ele não se conformou. Exigiu o cachorro de volta. Ela, que passou a amar o cachorro, entrou em depressão e não queria devolvê-lo. Uma baita confusão.
    O pai dela interveio. Comprou do cachorro que presenteou sua filha com um cachorro o cachorro que outrora ele havia presenteado.
    O humano, meio cachorrão, virou gerente de um banco bem conhecido de todos.
    Não sei se houve alguma cachorrada nisso. Nem se continua a fazer cachorradas.

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  20. Maria de Jesus A. Rocha10 de agosto de 2023 às 23:32

    Ter um animalzinho de estimação, é uma verdadeira terapia.😺🐶🐭
    Eu tenho dois cães, ( Michelle da raça Fox Paulistinha e Jack, Pastor Alemão.
    São dóceis, amigos, companheiros...
    ( Só com os donos).
    É uma cachorrada!
    Amo meus bichinhos! 💞😻

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  21. Já em curso projeto para a criação de duas estatais: a CachorroBras e a JavaliBras, esta última, proposta pela amante Gleisi Hoffmann , como o nome sugere, para controlar a praga de Javalis

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  22. Primeiramente, vida triste é a de vascaino. Seja lá qual for o assunto, sempre existirá uma vaga pra se falar da tristeza que cerca a matilha... apanhando igual. Quanto ao japonês, acho que irá acabar cobrando pela franquia. O que vai ter de gente querendo se tornar farejador, afinal irá cheirar de graça. Já para o amparo dos desabrigados, está aí um excelente nicho pra politico.

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  23. Os pets são serem hunaninhos. Acho criminoso abandoná-los. Mas gente é diferente. Não se fere, não se engorda e não se mata.

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  24. Hayton, cachorro é cachorro e gente é gente.
    Mas às vezes a gente confunde, né?
    Vai saber …

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  25. Acho que meu espírito precisa evoluir p gostar mais de cachorrinhos e gatos. Tb sou da turma que vê exageros.

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