Sementes de tangerina
Vinha de longe o hábito de cochilar depois do almoço na varanda do apartamento, deitado numa rede com uma camiseta sobre o rosto, a ouvir o barulho das ondas do mar e, ultimamente, de motores e buzinas na rua, apesar do apelo das autoridades sanitárias para que as pessoas ficassem em casa. Havia uma explicação para o pitstop rotineiro no começo da tarde: todo dia acordava bem cedinho, por volta das cinco. Esperava o sol nascer a flanar na internet em sites de notícias, fazendo anotações ou a garimpar imagens nos álbuns digitais da família. O único barulho que lhe deixava numa aflição inexplicável — coisa de outras encarnações, diriam os especialistas no assunto — era o “flap! flap!” do helicóptero da PM a sobrevoar os quarteirões do bairro, dando apoio às viaturas no asfalto que garantiam a tranquilidade dos donos de hotéis, bares e restaurantes da orla, fechados por conta do turbilhão virótico. Naquele começo de tarde, sua mulher levaria pelo menos meia hora no banhei