Lobão, Carnaval e Cinzas
Apareceu lá em casa em outubro de 1995. Meus filhos haviam convencido o avô, Seu Terto, a "financiar" a compra de um filhote poodle. Na loja, franciscanamente optaram pelo mais quieto e frágil da ninhada. “...Já foi nascendo com cara de fome e eu não tinha nem nome para lhe dar...”, diria Chico Buarque. Mas nada que amor, carinho, vacina e ração de boa qualidade não pudesse resolver.
Quando passamos a morar em Pernambuco, em 1996, a cada duas semanas levávamos Lobão - homenagem ao vilão de “Os Três Porquinhos”, de Walt Disney - para a Praia de Ipioca, em Alagoas, onde filhos e sobrinhos o desafiavam simulando afogamento, ao que aquele magricela corajoso reagia nadando contra a maré até “resgatar” todos os seus “amigos”.
Na véspera do Carnaval de 2001 já estávamos no Planalto Central, depois de breve temporada na Bahia, quando Magdala, minha mulher, tanto insistiu que embarcamos para Recife(PE) para assistir ao “Galo da Madrugada”, que prometia arrastar um milhão de foliões pelas pontes e ruas da cidade no dia seguinte, sábado de Zé Pereira.
Deixamos Lobão em um canil no Lago Norte até a quarta-feira de Cinzas, quando voltaríamos, mas fomos obrigados a retornar às pressas no domingo, após a notícia de que ele havia desaparecido. Da hora que pousamos em Brasília até a terça-feira de Carnaval, vasculhamos cada pedaço daquela região a sua procura, mas sem sucesso. Como último recurso, resolvemos distribuir cartazes e faixas do tipo “procura-se” no raio de 10 km do local de onde sumira.
Na tarde de terça-feira veio o telefonema do canil nos avisando de que ele fora encontrado, ainda no sábado, por um garoto que se divertia com um jet ski no Lago Paranoá. Lobão bem que tentou atravessar aquele "oceano nada pacífico" no rumo da Asa Sul, onde morávamos. Muito debilitado, com todas as articulações lesionadas pelo esforço feito, com infecção intestinal, permaneceu horas a fio debaixo de uma cama onde residia o garoto que o abrigou, praticamente sem alimentar-se, até ouvir alguém chamá-lo pelo nome familiar aos seus ouvidos, descrito nos cartazes e faixas.
De volta para casa, recuperou-se rapidamente. E a notícia da aventura correu pela Super Quadra Sul 114, na manhã de quinta-feira pós-Carnaval, onde um intrépido Lobão cuidava de remarcar seu território a cada poste que encontrava pela frente. Logo, viu-se apelidado pelos porteiros e zeladores do prédio de “Gustavo Borges”, nadador olímpico brasileiro medalha de prata nos 100 metros livres nas Olimpíadas Barcelona 1992 e nos 200 metros livres em Atlanta 1996, que participou de quatro Olimpíadas.
Vitima de edema agudo de pulmão, decorrência de uma gastroenterocolite bacteriana, o velho e destemido Lobão - que já vinha recebendo cuidados especiais na condição de cardiopata e nefropata - tombou no Verão de 2013, aos 18 anos de idade. Foi sepultado com "honras militares e salva de tiros" no quintal de nossa casa, no Jardim Botânico, em Brasília, onde viveu seus últimos dias.
Eu sabia que desagradava algumas pessoas naquele tempo, mas juro que estava sendo absolutamente justo e sincero quando afirmava: “... quanto mais conheço o ser humano, mais admiro Lobão!”. Ele nunca foi ingrato, dissimulado, grosseiro ou desleal conosco. Mostrava-se sempre agradecido pelo carinho que recebia, era fiel, solidário e transparente. Um ser do bem, que tornou inesquecível o Carnaval de 2001 e, anos depois, deu o tom acinzentado definitivo, da cor de seu pelo, à “Síndrome do Ninho Vazio” que se instalava em nossa casa.
Eu sabia que desagradava algumas pessoas naquele tempo, mas juro que estava sendo absolutamente justo e sincero quando afirmava: “... quanto mais conheço o ser humano, mais admiro Lobão!”. Ele nunca foi ingrato, dissimulado, grosseiro ou desleal conosco. Mostrava-se sempre agradecido pelo carinho que recebia, era fiel, solidário e transparente. Um ser do bem, que tornou inesquecível o Carnaval de 2001 e, anos depois, deu o tom acinzentado definitivo, da cor de seu pelo, à “Síndrome do Ninho Vazio” que se instalava em nossa casa.
Grande Lobão....
ResponderExcluirEsse foi o Lobão! Querido de todos.
ResponderExcluirmuito legal a crônica. Lembrei que uma vez te pedi opinião sobre um colega nosso e tu me respondeu: "não entrego meu cachorro pra ele cuidar", kkk
ResponderExcluirHahahahahahaha aposto que sei quem era
ExcluirPois é... Lobão não merecia! 😂
ExcluirLobão, o priminho da Tiffany 😄
ResponderExcluirAcredito os animais são muito especias,como exemplo Lobão.
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirEu tive a grande honra de conhecer esta fantástico animal. Parabéns!!!
ResponderExcluirFiel escudeiro.
ResponderExcluirFiquei apaixonado pelo Lobão!
ResponderExcluirExcelente! Este Lobão, deveria ser exemplo para muitos.
ResponderExcluirQue delícia de texto. Nunca tive grandes paixões por felinos, respeita e gostava para agradar os meus filhos. Eles sim, sempre foram aoaixados e nunca faltou um bom cachorro na minha casa.
ResponderExcluirMinha filha e Neta não podem criar mais, porque moram em apartamento, mas criam um lindo casal de gatos.
Fora isso, tenho certeza que fez muito mais pelo Brasil do que qualquer outro homônimo fê-lo. Lindo texto.
ResponderExcluirOs homônimos de Lobão que conheço não valem o que o gato enterra... 😂
ExcluirEssa história do Lobão nadador, eu vivenciei de perto. Até promessa pra encontrá-lo foi feita ao Santo Protetor dos animais.
ResponderExcluirO "Lobão lembra-me o "Tarzan", fiel,lépido e fagueiro cão da minha infância, sempre pronto a defender-me.
ResponderExcluirParabéns Hayton! Sua crônica fez-me recordar os velhos tempos primaveris.
O comentário acima é de Orlando Salvador de Lima. Desculpem a falha. Parece-me que devo cadastrar-se. Sou neófito no assunto.
ExcluirCadastrar-me? Vou tentar.
ExcluirPelo visto existe Lobão do bem, o que se foi, e outro(s). A vida é assim. Aprsar do Carnaval, sempre vai ter a quarta-feira de cinzas...
ResponderExcluirVelho Lobão. Sempre que estou em Ipitanga, recordo de como ele se “achava “ dono do pedaço além de todas peripécias. Faltou pouco pra saber falar....
ResponderExcluirLembrei também equidistância em que ele se instalava “tomando conta” de todos nós, nas proximidades do coqueiro. Queria ter todos sob seu ângulo de visão. Era o rei do pedaço.
ExcluirLobão ou Oscar. Cães. Talvez Racionais!!! Entre tantos homens irracionais. Nossos insubstituíveis servos. Que passam fome por nossa ausência. O q temos de especial p cativar a eles. E eles de encantar a nós. O mágico amor recíproco, existe. É feito de gesto, de olhar, de carinho, afeto, sem culpa, sem cobranças. Nessa troca, inexiste a moeda. Puro amor.
ResponderExcluirLobão ou Oscar. Cães. Talvez Racionais!!! Entre tantos homens irracionais. Nossos insubstituíveis servos. Que passam fome por nossa ausência. O q temos de especial p cativar a eles. E eles de encantar a nós. O mágico amor recíproco, existe. É feito de gesto, de olhar, de carinho, afeto, sem culpa, sem cobranças. Nessa troca, inexiste a moeda. Puro amor.
ResponderExcluirPor isso, meu velho amigo, que dizem que errar é humano, mas perdoar é coisa desses seres do bem.
ExcluirRealmente, os cães são os melhores amigos do homem e, nem sempre a amizade do homem é confiável, mesmo para com o próprio ser humano.Grande crônica. PARABÉNS!!!
ResponderExcluirQuase chorei de saudades do Lobão... 😥
ResponderExcluirQuase chorei de tantas saudades do Lobão
ResponderExcluirÉ verdade Hayton, me parece que a experiência de Deus com os animais deu bem mais certo do que a com os seres humanos.
ResponderExcluirGrande Hayton, Lembrei do meu Guga. Boa leitura. Parabéns. Ligabue
ResponderExcluirVoltei a me lembrar dos bons tempos na praia de Ipioca onde nos divertíamos muito e sempre na presença do fiel escudeiro Lobão. Parabéns amigo! Tens uma memória privilegiada. Abs,
ResponderExcluirBelíssimo texto. Tia Cristina, disse que havia lido, achou que era "minha cara" e que eu deveria lê-lo (sou uma apaixonada por cachorros e sempre sofro com as suas partidas). Esses bichinhos marcam nossas vidas de maneira inesquecível. Parabéns pelas belas palavras.😘😘
ResponderExcluirHayton, eu criei só um cãozinho, por causa de meus filhos, quando crianças, mas apesar de gostar de animais, eu me apego demais. E perdemos esse cãozinho, f~emea por sinal, as crianças colocaram o nome de "Sasha", kk...e depois dessa perda, não tive mais coragem, dói muito a perda deles. São amigos racionais mesmo, muito mais do quer os humanos irracionais, como citou seu amigo. Um abraço
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