Para o resto da vida

Tudo começou em maio de 1974, aos 16 anos de idade, como menor aprendiz para serviços gerais do Banco do Brasil em Maceió(AL). O que mais queria naquele instante era ser bancário como fora o pai e poder ir ao cinema, tomar sorvete com a namorada, comprar camisas, cuecas, Placar, O Pasquim e cigarros Hollywood, sem pedir dinheiro à mãe.

Gostava de vestir o uniforme azul com a logomarca da empresa no peito e caminhar pelas ruas do bairro onde morava até o ponto do ônibus que o levaria ao centro da cidade. No trabalho, fazia de tudo um pouco, com curiosidade e prazer, desde arquivar títulos e fichas gráficas, organizar filas, fotocopiar contratos, até distribuir documentos entre os diversos setores instalados nos treze andares do prédio da Rua Senador Mendonça nº 120. E ainda lhe pagariam 327,00 cruzeiros todo dia 20, quase um salário mínimo (Cr$ 376,80, à época). Para Shakespeare, "...são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular".
Em um final de tarde, sem nenhuma pendência sobre a mesa, assoviava sossegado Wave, de Tom Jobim, quando recebeu de um colega mais velho sua primeira lição corporativa: “Meu filho... quem assovia no trabalho é cortador de cana. Se você não tiver nada pra fazer, pegue algumas folhas de papel e escreva alguma coisa, beba um cafezinho, vá ao banheiro, mas assoviar na hora do trabalho, nunca!”.
Ainda no primeiro mês recebeu sua segunda lição quando um certo administrador lhe determinou: “vá ali na farmácia e compre esses remédios; depois, passe no Bar do Chopp e me traga duas carteiras de Carlton”. Inocente, respondeu da forma como costumava falar com seus colegas de escola: “ã-hã”. O chefão, que naquele momento recebia algumas pessoas a quem talvez precisasse demonstrar poder e força sobre os reles mortais, retrucou soberano: “ã-hã, não... responda: sim, senhor!”
A terceira lição veio quando ouviu seu chefe elogiando um velho colega investigador de cadastro e perito de balanços que, na semana anterior, fora ao cinema e, ao tentar estacionar, por descuido bateu seu carro noutro, parado. Procurou então pelo dono na área e, não o encontrando, deixou um bilhete preso ao limpador de pára-brisas: “Perdão, amigo, por bater em seu carro. Meu nome é... e aguardo seu contato (telefone...) para providenciar o reparo”.
Como ninguém o procurou, na semana seguinte dirigiu-se ao Detran (anotara a placa) e conseguiu identificar o dono que, ainda chateado com o ocorrido, foi direto ao ponto: “O sr. acha que eu seria idiota para acreditar naquele bilhete?” O velho colega, a ética em pessoa, sacou seu talão de cheques e ponderou: “Perdão de novo, meu amigo, mas se não pagar pelo prejuízo que lhe causei, não vou sossegar. Quanto lhe custou o conserto da porta?"
Na véspera do Natal de 1975, ao retornar para casa após seu último dia de trabalho como menor aprendiz, recapitulava sentado à janela do ônibus as múltiplas lições que havia recebido durante um ano e dez meses, desde a dica recebida sobre o assovio inocente de "...vou te contar/os olhos já não podem ver/coisas que só o coração pode entender..."
Tinha agora olhos e ouvidos para ver e escutar apenas o que melhor lhe convinha, sem nunca demonstrar tudo o que a cabeça sabia ou o coração sentia. Era finalmente o que chamam de adulto, essa mistura de sonhos, medos e ressentimentos em que as crianças se transformam para o resto da vida.
Tudo começou em maio de 1974, aos 16 anos de idade, como menor aprendiz para serviços gerais do Banco do Brasil em Maceió(AL). O que mais queria naquele instante era ser bancário como fora o pai e poder ir ao cinema, tomar sorvete com a namorada, comprar camisas, cuecas, Placar, O Pasquim e cigarros Hollywood, sem pedir dinheiro à mãe.

Gostava de vestir o uniforme azul com a logomarca da empresa no peito e caminhar pelas ruas do bairro onde morava até o ponto do ônibus que o levaria ao centro da cidade. No trabalho, fazia de tudo um pouco, com curiosidade e prazer, desde arquivar títulos e fichas gráficas, organizar filas, fotocopiar contratos, até distribuir documentos entre os diversos setores instalados nos treze andares do prédio da Rua Senador Mendonça nº 120. E ainda lhe pagariam 327,00 cruzeiros todo dia 20, quase um salário mínimo (Cr$ 376,80, à época). Para Shakespeare, "...são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular".
Em um final de tarde, sem nenhuma pendência sobre a mesa, assoviava sossegado Wave, de Tom Jobim, quando recebeu de um colega mais velho sua primeira lição corporativa: “Meu filho... quem assovia no trabalho é cortador de cana. Se você não tiver nada pra fazer, pegue algumas folhas de papel e escreva alguma coisa, beba um cafezinho, vá ao banheiro, mas assoviar na hora do trabalho, nunca!”.
Ainda no primeiro mês recebeu sua segunda lição quando um certo administrador lhe determinou: “vá ali na farmácia e compre esses remédios; depois, passe no Bar do Chopp e me traga duas carteiras de Carlton”. Inocente, respondeu da forma como costumava falar com seus colegas de escola: “ã-hã”. O chefão, que naquele momento recebia algumas pessoas a quem talvez precisasse demonstrar poder e força sobre os reles mortais, retrucou soberano: “ã-hã, não... responda: sim, senhor!”
A terceira lição veio quando ouviu seu chefe elogiando um velho colega investigador de cadastro e perito de balanços que, na semana anterior, fora ao cinema e, ao tentar estacionar, por descuido bateu seu carro noutro, parado. Procurou então pelo dono na área e, não o encontrando, deixou um bilhete preso ao limpador de pára-brisas: “Perdão, amigo, por bater em seu carro. Meu nome é... e aguardo seu contato (telefone...) para providenciar o reparo”.
Como ninguém o procurou, na semana seguinte dirigiu-se ao Detran (anotara a placa) e conseguiu identificar o dono que, ainda chateado com o ocorrido, foi direto ao ponto: “O sr. acha que eu seria idiota para acreditar naquele bilhete?” O velho colega, a ética em pessoa, sacou seu talão de cheques e ponderou: “Perdão de novo, meu amigo, mas se não pagar pelo prejuízo que lhe causei, não vou sossegar. Quanto lhe custou o conserto da porta?"
Na véspera do Natal de 1975, ao retornar para casa após seu último dia de trabalho como menor aprendiz, recapitulava sentado à janela do ônibus as múltiplas lições que havia recebido durante um ano e dez meses, desde a dica recebida sobre o assovio inocente de "...vou te contar/os olhos já não podem ver/coisas que só o coração pode entender..."
Tinha agora olhos e ouvidos para ver e escutar apenas o que melhor lhe convinha, sem nunca demonstrar tudo o que a cabeça sabia ou o coração sentia. Era finalmente o que chamam de adulto, essa mistura de sonhos, medos e ressentimentos em que as crianças se transformam para o resto da vida.
Crônica fantástica. São os detalhes que faz a diferença em nossas vidas. Muito orgulho da sua história, de você!
ResponderExcluirQue espetáculo!!!!!
ResponderExcluirA gente viaja com suas histórias. Seu talento em descrever suas memórias, é simplesmente FANTASTICO!!!!
Ótimo!
ResponderExcluirDescreve o quanto importante, necessário, o objetivo na vida e o convívio na formação da pessoa.
PARABÉNS!!!
Ótimo!
ResponderExcluirHistória de Vida. Aonde fica demonstrado a importância e o valor do objetivo, do Convívio na coonstrucao e formação das Pessoas.
PARABÉNS!
Excelente crônica. Parodiando Goethe, poderíamos intitulá-la "Os anos de aprendizado do jovem Hayton Jurema". Forte abraço do Sidney.
ResponderExcluirMaravilha! Que memória! Eu me lembro de muita coisa mas não com detalhes como você. Parabéns!
ResponderExcluirFantástico, aprendizado para a vida toda! Muito importante suas crônicas para qualquer pessoas que queira vê-las como exemplos.
ResponderExcluirBela crônica.
ResponderExcluirAbraços,
Marcos Tadeu
Oi
ResponderExcluirAdorei
ResponderExcluirTive a honra de trabalhar com Hayton em duas oportunidades: primeiro, ele como Superintendente em Alagoas e, outra, ele como Superintendente de Governo. Em ambas as oportunidades pude aprender muito com seu estilo de gestão corretíssimo e um exemplo de liderança. Contribuiu muito para o fortalecimento dessa respeitada Casa bicentenária.
ResponderExcluirE eu, Emília, que, por ele, fui nomeado em Itaiba (PE), Canhotinho (PE), Gerad na Centro Salvador (BA) e Gerente Geral na Setor Público Natal (RN). Pude aprender muito com a forma de gestão dele e, dentro do possível, apliquei todos os ensinamentos. Principalmente três mandamentos recomendados no fechamento do Programa Novos Gestores: fechar o balancete com Deus, todos os dias; 2) Mostrar tudo aquilo que seu maior adversário possa ver,e; 3) Respeite seu próximo, como a si mesmo. Obrigado, grande Líder.
ExcluirAmigos que numa pequena participação especial tornam-se protagonistas de nossa história de vida. A maior lição da linda leitura, pra mim, é seu cuidado em guardar as boas lições e deixar o vento apagar as outras
ResponderExcluirQue delícia ler lembranças descritas de um jeito tão leve ... com sabedoria ....e que nos provocam reflexões sobre como as vivências do dia a dia nos formam e transformam !! Lições para a vida toda !!!
ResponderExcluirAbraço . Marília
ResponderExcluirExcelente. Exemplos de humildade, observador perspicaz da natureza humana, vontade de vencer, amor ao trabalho. Características que levariam o cronista, anos mais tarde, a ser um vencedor no Banco do Brasil e na vida. Parabéns por mais um belíssimo texto, Hayton.
ResponderExcluirNem sei se ser vencedor é haver chegado onde cheguei, meu amigo. Mas sei que lutei até agora - e continuo lutando - para ser feliz e fazer felizes as pessoas com as quais convivo, do jeito que aprendi com as lições que recebi.
ExcluirÓtimo!!!!!
ResponderExcluirCrônica fantástica! Uma verdadeira lição de vida!
ResponderExcluirMais uma vez parabéns!!!
Me identifico com tua história, Hayton. As várias lições obtidas desde o tempo em que exerci esta função no BB, no meu caso a de Menor Auxiliar de Serviços Gerais, até os dias atuais foram muito relevantes para meu crescimento pessoal e profissional. Complementaria citando o convívio amistoso das famílias nas dependências de nossas AABBs, onde firmei a grande maioria das amizades que mantenho até hoje!
ResponderExcluirPois é, Jezrel, quando a gente menos espera chegam os netos, como se nos dissessem que a vida continua. É bom que tenhamos boas histórias para lhes contar de um tempo em que éramos apenas filhos e netos, como eles.
ExcluirLições para a vida!!! 👏
ResponderExcluirParabéns por mais uma bela crônica, Haylton! Relato de uma era em que o bb recebia adolescentes e os transformava nos seus futuros dirigentes, que cresciam com raizes e amavam a Casa!
ResponderExcluirCoisas que não vejo mais!
Tiberio
Pois é, Tiba, como disse a respeito de outro comentário sobre a crônica, nem sei se ser vencedor é haver chegado onde cheguei. Mas sei que fiz força até agora - e continuo fazendo - para ser feliz e fazer felizes as pessoas com as quais convivi, do jeitão que aprendi com as lições que recebi ao longo da vida.
ExcluirHayton,
ResponderExcluirVocê já se transformou em im memorialista de mão cheia. Parabéns!
Excelente texto, Hayton!
ResponderExcluirAssim como são os outros.
Grande abraço.
Linda crônica! A aprendizado para vida.
ResponderExcluirÉ sempre uma boa surpresa ler os seus textos! Otimo!
ResponderExcluirMeu caro Hayton,
ResponderExcluirSe talento tivesse, e cineasta/roteirista fosse, não me escaparia a satisfação de compartilhar seus textos em 3D - sensorialmente uma das formas mais autênticas de mostrar a real dimensão de sua abençoada arte.
Para os que se encantam com o calor da proximidade da presença física, ainda há o espaço do tablado...
Parabéns!!!
Muito obrigado, Roberto, pela gentileza de seu comentário, mas cinema e teatro são coisas bem maiores do que minhas crônicas - sem falsa modéstia. Talvez com mais chão...
ExcluirSou Roberto Ferreira.
ResponderExcluirQue belas lembranças, Jurema! Show!
ResponderExcluirLendo esse texto, lembrei de como sonhava em ser MASG. Tinha uma inveja boa do meu primo e de alguns amigos que desfilavam pela cidade de Bom Jesus-PI com suas fardas azul. Mas, como não podia ser contratado pelo BB como menor, já que na agência trabalhavam duas irmãs e um cunhado, restou-me aguardar a seleção externa de 1987, quando estava com 19 anos, para realizar o sonho de entrar no BB.
Definitivamente, sua veia literária está pródiga em frutos.
ResponderExcluirMas vou me permitir observar. Na
primeira lição você deve ter invertido o sinal, já que jamais teria sido insensível e pouco polido como o rapaz que o advertiu. E na segunda, o caso é bem pior, de autoritarismo, uso indevido da autoridade para fins pessoais (proibido na CIC Disciplina) e falta de habilidade para lidar com um jovem em formação.
Desculpe aí!
Grande abraço!
Desculpa coisa nenhuma! Você tem razão. Mas quando olhamos a história pelo retrovisor costumamos enxergar coisas que, à época, nos passavam despercebidas. Somos todos meio cegos em relação ao passado e ao futuro. Muitas vezes até em relação ao presente. Abração, Diniz!
ExcluirGrandes crônicas,uma sempre melhor que a outra. Lições de vida para quem lê.
ResponderExcluirAmigo Hayton, Excelente crônica. Gostei.
ResponderExcluirUma linda história e belo exemplo a ser seguido!! Um orgulho para todos nós!!!
ResponderExcluirParabéns, Hayton!
ResponderExcluirÉ voltar no tempo e recordar boas lembranças. Foi realmente um momento de nossas vidas em que aprendemos muito com os nossos mestres, funcionários do Banco e com a própria instituição.
Abraços,
André Rizzo
Amigo Hayton, o seu texto nos faz relembrar os melhores momentos que vivemos nessa grande instituição, da qual nos orgulhamos em ter passado grande parte de nossas vidas. Obrigado!
ResponderExcluirOpa...essa de não cantar no trabalho deve tersido cousa de meu pai Romildo. Rs. Parabéns por ser um vencedor!
ResponderExcluirCaro Hayton, suas crônicas nos trazem á memória as lições de vida que realmente carregaremos para o resto da vida, sim. Muitas vezes, pequeninas coisas, nos fazem grandes. E o melhor disso, é saber ouvir os mais velhos, ou os nossos superiores. E pelo visto, você fez muito bem. Abraços
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