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Narizes

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Seja arrebitado, de batata ou feito gancho, o nariz é o epicentro do rosto humano. Seu formato depende da genética, mas, a rigor, trata-se de uma adaptação aos odores e ao clima das diferentes regiões do Planeta, segundo um estudo recente, publicado por uma revista científica vinculada à Biblioteca Pública de Ciência dos Estados Unidos (a  PLOS Genetics ).   Pesquisadores se debruçaram sobre uma gama de tamanhos, analisando a largura das narinas, a distância entre elas, a altura, o comprimento etc., e concluíram que as diferenças entre os formatos poderiam ter sido acumuladas ao longo do tempo, além da seleção natural (os mais aptos sobrevivem, reproduzem-se e repassam suas características aos descendentes).   “Nariz, ai, meu nariz/ Como falam mal deste nasal, que é tão normal...”, cantava o inesquecível Juca Chaves, que sabia como ninguém se aproveitar de seu “bandeirante” – o primeiro a chegar nos cantos, segundo ele. Aliás, o de Juca precedeu a fama de outros célebres, como os de PC

O olhar de Marieta

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Um olhar nunca é só um olhar. Possui mistérios e sutilezas que apenas outro olhar (até de um inocente curioso como eu; mais curioso do que inocente, alguém diria!) pode ver. Existem flagrantes que dispensam legendas. Falam por si sós.   Foto: Reprodução  Este olhar, não tenho dúvida, traduz na justa medida a admiração, o amor, o carinho, a cumplicidade e o cuidado na escolha de alguém com quem partilhar planos, prantos e pratos.   O dramaturgo Aderbal Freire-Filho, que fez por merecê-lo de Marieta Severo, deixou este plano na última quarta-feira, aos 82 anos.  Ela desabafou sobre como reagiu após vê-lo sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, em 2020. “Foi mais do que sofrido, foi inacreditável”, disse em entrevista a um site de notícias.   “É uma consciência da precariedade da vida que tomou conta da minha. Por mais que a gente saiba dela na teoria, quando ela se apresenta, muda tudo. Estávamos em Nogueira, na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, com as minhas netas

Figurinhas repetidas

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Carnaval de 2058. Apago minha 100ª velinha e ainda me sinto disposto, tesão de seminarista, trabalhando e mentindo como nunca. Apenas uma dorzinha aqui na coluna lombar, fruto das travessuras com minha velha (lá vou eu criar problema, gratuitamente!) parceira de chuva, suor e sucos.   Não sei onde estava com a cabeça, por volta de 2024, quando voltei a trabalhar na mesma empresa onde passei uma primeira etapa de mais de quatro décadas ouvindo dizer que seria privatizada porque muda de rumo a cada quatro anos, sujeita-se a ingerência política, a regras da concorrência pública, não remunera tão bem seus funcionários, essas coisas.   Talvez tenha sido a curiosidade de experimentar tecnologias transformadoras como a Inteligência Artificial, que se impôs em definitivo sobre as relações humanas e de mercado. O metaverso, aliás,  após uma aposta pesada de grandes corporações como centro de inovação e consumo, já se tornou arcaico, obsoleto. A vida como ela acontece, sempre.   Imagem: Dedé Dwi

A cachorrada é grande!

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Você deve ter visto na Internet a notícia de  que um  youtuber  japonês, apelidado de "Toco", anda sacudindo as redes sociais após gastar mais de R$ 70 mil numa fantasia hiper-realista de cachorro da raça  border collie.  O perfil "Eu queria ser um animal", criado em abril do ano passado, já conta com cerca de 32 mil inscritos e 12 milhões de visualizações.   Foto: Reprodução/Youtube O "animal" aparece em vídeos passeando pela calçada, rolando no chão, brincando no quintal ou lambendo uma tigela. Ainda não aprendeu a, de quatro, levantar a pata traseira e molhar os postes que encontra pelo caminho, mas, imagino, uma hora chegará lá.     “Eu morro e não vejo tudo!”, diria minha tia. Que, aliás, ficou livre de ver esta! Já se foi o tempo em que a expressão “vida de cachorro” significava uma existência cheia de problemas.  Hoje, muito pior é vida de vascaíno.  Aos poucos, o cão foi ocupando um lugar de destaque entre os humanos e já figura em segundo lugar na

Melhor assim

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“Tanto tempo depois, que coisa boa ver vocês dois ainda caminhando de mãos dadas!” – disse uma amiga de minha mulher, contemporânea escolar no começo dos anos 1970, ao cruzar conosco no calçadão da praia de Ponta Verde, próximo ao Marco dos Corais, em Maceió. Achando pouco, completou: “É coisa pra mais de 100 anos!”. E a julgar pelo riso enigmático de minha mulher, gostou da forma pela qual somos percebidos.   Ah, essas criaturas misteriosas e sensíveis! Tudo em nome do sexto sentido, da emoção! Não sabe a amiga dela que, antes de “coisa boa”, mãos dadas aqui tem a ver com diminuir o risco de uma queda precipitar o desfecho da caminhada, via concussão cerebral, fratura de bacia, cotovelos ou tornozelos de seminovos com as articulações desgastadas pela malvadeza do tempo, "tambor de todos os ritmos", como diz o poeta. Sem falar dos males crônicos, objeto de interesses conflitantes entre o plano de saúde, o fundo de pensão e a indústria farmacêutica.   Tudo bem, pode ser ilusór

Não custa tentar

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Meu avô deve pensar que está em baixa na memória afetiva dos netos porque um deles passou o dedo em sua testa e brincou: “Vô, de Uber, dá 10 reais do cocuruto à ponta do seu nariz!”. E outro completou: “Vô é legal, mas mija de hora em hora!”.   Foto:  Poliedro / Divulgação (Facebook) Em meio à algazarra, imaginei o troco (com delicadeza, claro!): “Pois é... Tomara que um dia vocês também cheguem lá e escutem isso de seus netinhos...”. Creio que evitou polemizar para não parecer intolerante, agourando os ramos noviços de sua própria árvore genealógica.    Pensei em abraçá-lo e pedir que relevasse os gracejos de meus primos. Chega uma hora em que até a expansão desenfreada do desmatamento capilar, a próstata crescida e a velhice devem ser encaradas como conquistas. Mas me contive: ele nunca gostou dessa coisa de abraços (e beijos) em público, nem com minha avó.   Deveria haver um distintivo para compensar os avós contra os infortúnios a que estão sujeitos. Sei lá, uma tatuagem entre as s

Por isso tô aqui!

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Correu o mundo, semana passada, a notícia de que a madre superiora Teresa Agnes Gerlach, encarregada do Mosteiro Carmelita da Santíssima Trindade em Arlington, no Texas, Estados Unidos, foi acusada de enviar mensagens de texto com conteúdo sexual a um sacerdote, identificado como padre Philip Johnson.   Embora tenha confessado o envio das mensagens, ela alegou que nunca houve intimidade física entre eles. Demonstrando remorso durante uma audiência na diocese, Teresa disse que o vacilo foi motivado pelo amor que nutre pelo padre. "Eu cometi um erro terrível. Não estava em meu juízo perfeito. Até uma freira pode cair"   Por coincidência, isso me fez recordar de outro padre Johnson (deve estar bem velhinho!), um missionário canadense que viveu no Brasil em meados do século passado, que me matou a curiosidade sobre algumas hipóteses para o nome da missa celebrada na véspera de Natal. A mais aceita pela fé católica, segundo ele, diz que um galo teria cantado à meia-noite do dia do

Divinas tetas

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Numa época em que se recorria muito a falas estereotipadas,  o humorista Max Nunes afirmou que “o casamento é como a pessoa que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca”. E o cartunista, escritor e dramaturgo Millôr Fernandes completou: “se, de vez em quando, o leite azeda por aí, não tenho nada com isso; a vaca não é minha. Escolham melhor na próxima vez”.    Mais tarde, o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor contradisse seus velhos amigos. “Para todos os homens que perguntam ‘por que comprar a vaca se você pode beber o leite de graça?’, aqui está a novidade: hoje em dia, 80% das mulheres são contra o casamento e sabem por quê? Porque perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma linguiça!”.  Reprodução/Redes Sociais Sobre vacas, aliás, você sabia que uma startup gaúcha (a  CowMed ) conseguiu decodificar, com Inteligência Artificial (IA), o que elas falam, pensam, querem ou sentem? Uma coleira tecnológica que interpreta o comportamento bovino foi apresen

Basta um copo d'água

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Tudo bem, era o delegado de uma cidadezinha do interior, mas, antes de tudo, meu velho amigo havia décadas. Porém foi inflexível naquela tarde: – De jeito nenhum! Tu entende de banco. Deixa que cuido de meu trabalho. – Ele vai morrer à míngua, velho! – Sei o que tô fazendo, não te mete…   Enquanto ele conversava ao telefone, eu circulara pela delegacia e dei de cara com um bêbado deitado numa cela, nu cintura acima, cheirando a chuva, suor, cerveja e vômito, a implorar num fiapo de voz: “… Um copo d’água pelo amor de Deus! Tô me acabando de sede!” Fotografia: Dedé Dwight   Tive pena. Preso na noite anterior, num comício na praça da Matriz, ameaçara o prefeito com uma peixeira. “Porte de arma branca e tentativa de homicídio”, segundo o boletim da ocorrência.   O prefeito defendera no palanque a candidatura de seu vice à sucessão municipal, enaltecendo supostas virtudes: “É pai de família decente, trabalhador, honesto, comprometido com os verdadeiros cidadãos...”   Nisso, um pacato cidad

Casa de farinha

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Famintos e com sede, chegávamos à zona rural de Colinas, no oeste maranhense, logo depois do São João de 1967. Ali moravam meus avós paternos, Mãe Sussu e Pai "Simente" , alcunha poética para um agricultor de subsistência ou simplificação de "Nascimento", sobrenome português de origem religiosa emprestado a cristãos nascidos em 25 de dezembro.     Mais de meio século adiante, é difícil imaginar como uma família (pais e sete filhos) viajou numa  Rural Willys,  sem cintos de segurança nem  airbags,  por mais de 1.300 km de estradas esburacadas, na lama ou na poeira, a partir do sertão paraibano. Jornada, inclusive, com desfecho épico: a légua final, escorregadia e enladeirada, se deu sobre uma tropa de jumentos.

   Como esquecer do fim de tarde em que Pai Simente, sentado na porta de casa, ao lado de uma escarradeira, quase infarta por minha causa? Tio Marcelino, que preparava fogos de artifício, deixara próximo da janela algumas tabocas (gomos de bambu cheios de pól